Levada de
Braz Gil de Faria
Também chamada das Preces, a levada
de Braz Gil de Faria ()
era, em 1863, tida como a mais antiga levada do concelho. Tratava-se
de uma levada de heréus e nasceria na ribeira do Estêvão, denominação
hoje caída em desuso, mas que corresponde à ribeira da Caixa. Irrigava
parte da freguesia de Câmara de Lobos e teria uma distância de cerca
de meia légua e pelo facto da ribeira donde era abastecida secar na
maior parte das vezes, a partir de Julho, a sua água era distribuída
em dois giros, de vinte e nove dias cada, podendo, ocasionalmente,
verificar-se um terceiro giro. No mês de Maio também se encontrava
privada de água, em virtude de novas culturas introduzidas no
Estreito, lhe retirarem a água.
Contudo,
havendo heréus desta levada que também o eram da do Estreito, muitas
vezes colmatavam os períodos de seca, fazendo chegar até ela, água
desta última levada, através da ribeira da Caixa. Com efeito, o
relatório elaborado em 1863 refere que nestes meses [de seca]
há heréus que têm água da levada do Estreito a conduzem à dita ribeira
[do Estêvão ou da Caixa] para vir por esta levada. Para
além da água da levada do Estreito, a levada de Braz Gil de Faria era
utilizada para a passagem de outras águas provenientes da freguesia do
Estreito, nomeadamente da levada do Jardim da Serra e da levada da
Serra e adquiridas por proprietários com terrenos em Câmara de Lobos e
situados na área da rede de distribuição da levada de Braz Gil de
Faria. Para o efeito, a água era lançada na ribeira, um pouco abaixo
do lugar do Damasqueiro, tal como acontecia com a água da levada do
Estreito, sendo depois captada mais para baixo e encaminhada através
da levada de Braz Gil de Faria.
Esta levada,
foi de heréus até aos anos 50, altura em que viria a ser incorporada
na levada do Norte.
A partir desta
altura a gestão da levada e da respectiva água passou para os Serviços
dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira, passando os antigos heréus
a dispor de um quantitativo de água, denominada de água de
propriedade, numa quantidade calculada tendo em conta parâmetros, como
o período de rega a que tinham direito, o caudal, os giros da antiga
levada, a que se associava um coeficiente de conversão, calculado a
partir do giro oficial de 23 dias da levada do Norte e respectivos
caudais e para a qual ficariam obrigados a pagar unicamente uma taxa
de exploração e conservação
Ainda que já
não seja uma levada de heréus, tal não impede que nela passem ainda
águas particulares provenientes de poços localizados junto à ribeira
da Caixa.
Apesar de por tradição se admitir
que esta seja a levada mais antiga de Câmara de Lobos, desconhece-se,
contudo tanto o seu construtor como o ano da sua construção, o que não
impede que sobre estes factos possamos tecer algumas considerações,
ainda que no campo das suposições ou da especulação. O facto de se
denominar de Braz Gil de Faria, leva-nos, a admitir que ela poderá ter
sido construída por alguém com este nome, ou pelo menos em determinado
momento lhe ter pertencido. E, na realidade, o Elucidário Madeirense
refere-se a um indivíduo de nome Braz Gil de Faria, que para além de
ser sido o introdutor do apelido Faria na Madeira ()
terá tido, terras de sesmaria em Câmara de Lobos, no sítio da Ribeira
da Caixa, o que permite ligá-lo a esta levada que, tendo origem na
Ribeira da Caixa, vai irrigar terrenos na sua margem e vertente
direita, onde se encontra o sítio das Preces, denominação porque
também era conhecida em 1863. O eng. Peter Clode, sobre este Braz Gil
de Faria, para além de confirmar os dados do Elucidário Madeirense,
acrescenta a data de 1600, como tendo sido a altura em que ele terá
recebido as referidas terras de sesmaria (),
desconhecendo-se se a levada já existia ou não.
Para além da
sua primitiva denominação de Braz Gil de Faria, hoje completamente
abandonada e de levada das Preces, é actualmente mais conhecida por
levada do Salão, o que tem a ver com a igual denominação de uma zona
situada nas proximidades da capela de Nossa Senhora das Preces, por
onde ela passa.
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