A
levada da Castanheira
A levada da
Castanheira é uma das levadas da freguesia de Câmara de Lobos. Ainda
que não se saiba o ano da sua construção, nem quem terá sido o seu
construtor, ela já existia em 1863, sendo na altura os seus giros de
29 dias.
Para além da sua denominação de
Castanheira, esta levada surge também como levada da Fonte de Álvaro
Figueira, numa referência directa à nascente que constitui a sua
origem; como levada da Fontal Figueira (),
reflectindo não só a nascente onde tem a sua origem, mas também a
erosão da expressão Fonte de Álvaro Figueira e, ainda, como levada dos
Quintais, denominação de uma importante zona que irrigava e situada no
centro da vila de Câmara de Lobos.
Relativamente ao epíteto de
Álvaro Figueira dado à nascente e levada, o Elucidário Madeirense
()
refere que um dos povoadores da Madeira se terá chamado de Álvaro
Figueira e que teria tido terras de sesmaria em Câmara de Lobos, facto
que poderá explicar a denominação da fonte onde tem origem a levada e,
eventualmente, ainda que, no campo da especulação, permitir levantar
hipóteses sobre o seu ou seus construtores.
A origem da
levada
A levada da Castanheira recebe
água de uma bela fonte ao Oeste da dita ribeira [ribeira do
Estevão ou da Ribeira da Caixa] e rega de a Água de Alto até aos
terrenos que circundam a vila da sobredita freguesia [Câmara de
Lobos] em extensão de meia milha ().
Corresponde a
bela fonte à Fonte de Álvaro Figueira, popularmente também
conhecida por Fontal Figueira e situada não na margem Oeste mas na
margem Leste da ribeira em causa, numa zona pertencente ao sítio da
Quinta do Leme, ainda que situada quase que na transição entre este
sítio e o de Pico e Salões. Para além da nascente que, de forma
predominante, alimenta a levada da Castanheira, a fonte de Álvaro
Figueira engloba também outras nascentes situadas no local e que
apesar de possuírem menor débito não deixam de contribuírem, para
alimentarem a levada da Castanheira, para irrigarem alguns terrenos
próximos e ainda para irrigarem os inhames, uma propriedade anexa à
fonte de Álvaro Figueira e plantada a inhame. Esta plantação,
propriedade da Comissão da levada, era anualmente dada de arrendamento
a vários colonos.
O percurso
da levada
Ainda que
tomando a sua água na Fonte de Álvaro Figueira, situada na margem
Leste da ribeira, a levada da Castanheira ou de Álvaro Figueira, tem
início um pouco mais abaixo da fonte, na margem Oeste da ribeira,
captando no leito desta, a água que para ela brota a Fonte de Álvaro
Figueira.
Depois de um percurso de várias
dezenas de metros, para sul, ao longo da margem Oeste da ribeira, onde
na propriedade conhecida por quinta do Serrado, servia de força motriz
a três ou quatro moinhos, a levada acabava por, no lugar da Fonte da
Rocha, atravessar a ribeira, através de uma ponte aí existente e
passar para a sua margem Leste, não sem antes alimentar um outro
moinho ().
Chegada à margem Leste da ribeira,
a levada dirigir-se-ia para o centro da vila, passando atrás dos
actuais paços do concelho ()
e depois teria um percurso coincidente com a margem norte da actual
rua Dr. João Abel de Freitas, admitindo-se que, até ao primeiro
quartel do século XX, pudesse atingir ainda parte do sítio do Espírito
Santo.
No centro da
vila de Câmara de Lobos, para além de irrigar uma importante área
agrícola, conhecida por Quintais ou também por Levada, a sua água,
segundo a tradição, seria ainda utilizada por dois engenhos então
existentes na rua da Carreira.
Para além do centro da vila de
Câmara de Lobos, a levada da Castanheira também irrigava, um lugar
denominado de Água de Alto, no sítio da Quinta do Leme ().
Situando-se este lugar na margem Leste da ribeira, a água chegava até
lá, mediante uma derivação da levada da Castanheira, com início junto
à ponte do Serrado.
Os corpos
gerentes
A existência de
um livro de actas da sua Comissão Administrativa com início em 1944,
bem como de um livro de registo de receitas e despesas, com início no
mesmo ano, permite-nos saber que, em 1944 era seu presidente João
Policarpo Pereira, seu tesoureiro, João de Sousa, seu secretário,
Francisco Firmino Henriques e seus vogais Luís Soares de Sousa e José
de Sousa.
Em 1946, em
virtude da morte de Francisco Firmino Henriques, passa a ocupar o
lugar de tesoureiro, João Figueira, cargo onde se mantém até 1952,
altura em que, a seu pedido, é substituído por João Soares Araújo de
Sousa, herdeiro do heréu Luís Soares de Sousa. Em 1956, por morte de
João Soares Araújo de Sousa, sucede-lhe como tesoureiro, seu filho,
Orlando Soares de Sousa.
Em 1961, altura
em que tem lugar o último registo no livro de actas, mantinha-se à
frente da Comissão João Policarpo Pereira e, como responsável pela
presidência, Orlando Soares de Sousa, que assegura até 1974, o registo
de todas as despesas e receitas.
Os custos da
água
Em 1944, a
levada da Castanheira possuía um levadeiro a quem pagava 250$00 por
ano e possuía dois tipos de água: a água de renda, que nessa altura
importava em 300$00 por dia e a água de propriedade, também chamada de
terral de água, pela qual os heréus não pagavam nada, sendo esta uma
água inerente à propriedade e a ela associada sempre que era alvo de
transacção.
Naturalmente
que os preços tanto da água de propriedade, como da água de renda
variavam consoante as despesas inerentes à manutenção da levada. Desta
forma assiste-se a valores da água de propriedade que vão de zero a
25$00 por hora e da água de renda que chega a atingir os 600$00 por
dia e que de certa forma tinham a ver com as despesas anualmente
previstas.
Apesar de, contrariamente a outras
importantes levadas de Câmara de Lobos, esta não ter sido absorvida
pelos Serviços Hidráulicos, em 1954 a fonte de Álvaro Figueira,
esteve prestes a servir de abastecimento de água potável à vila de
Câmara de Lobos. Contudo, problemas relacionados com a oposição dos
heréus da levada, com a qualidade e caudal da água e ainda problemas
de natureza técnica viriam a fazer com que fosse preterida em favor da
fonte Serrão (,
,
,
).
A extinção
da Comissão
Em 1974, a
Comissão da levada acabaria por se extinguir, como forma organizada,
situação que não inviabilizaria, no entanto, a continuação do
funcionamento da levada. Ainda que seja difícil de precisar os motivos
desta crise, não será de excluir as consequências da revolta militar
de 25 de Abril de 1974, sobre a agricultura e nomeadamente no
relacionamento entre senhorios e caseiros e, também a utilização de
muitos dos terrenos irrigados pela levada, para a construção,
principalmente no centro da hoje cidade de Câmara de Lobos.
A plantação
de inhame
A propriedade
de inhame que a Comissão da levada possuía junto às nascentes e que a
par da água de renda, constituía uma das suas receitas, nunca viria,
contudo a ser alienada, encontrando-se hoje na posse daqueles que, ao
tempo da extinção da Comissão, eram seus colonos ou arrendatários.
Relativamente
a esta propriedade e, como curiosidade, refira-se que, actualmente ela
mantém-se plantada a inhame e, apesar de ser pouco extensa, possui um
número de colonos que poderá ultrapassar os 30, muitos deles
detentores de menos do que 10 metros quadrados de plantação. Em meados
do século XX, nos dias que antecediam a Semana Santa, época em que era
hábito comer este tubérculo, não era raro verem-se no local quatro ou
cinco dezenas de pessoas, constituídos por colonos e seus familiares,
umas a arrancarem o inhame e outras a lavarem-no na ribeira anexa.
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