Quebrada do Cabo
Girão
Desmoronamento de rochas da costa no sítio do Rancho, junto ao Cabo
Girão verificado no dia 4 de Março de 1930
e que viria a ceifar a
vida a quase duas dezenas de pessoas.
Nesse fatídico dia, devido a
uma grande quebrada verificada na costa marítima, próxima do cabo
Girão e que terá entrado pelo mar dentro numa extensão de cerca de
200 a 300 metros, gerar-se-ia, devido à deslocação súbita das águas,
uma gigantesca onda que invadiu a praia e foz da ribeira do Vigário,
levando no seu percurso tudo o que encontrou pela frente,
nomeadamente várias das mulheres que na altura lavavam roupas e os
seus filhos que nas proximidades brincavam.
De acordo com
a imprensa da época, na praia, nessa altura, encontravam-se cerca de
50 pessoas realizando diversas actividades: Numa espécie de lagoa,
mulheres do povo procediam à lavagem de roupa; perto delas, em
diferentes pontos, seus filhos, que como de costume as acompanhavam,
brincavam; alguns homens, entre os quais pescadores, trabalhavam no
aparelhamento de duas canoas que deveriam seguir
para a pesca, outros cultivavam umas pequenas leiras de terra ali
existentes ([13]).
Foram os
pescadores presentes na praia bem como outros dois que se
encontravam no Redondo, hoje largo da República, quem primeiro viram
o avanço da onda e logo deram o sinal de alerta gritando para que as
lavadeiras fugissem.
As pobres
mulheres, dominadas pelo pânico nem tempo tiveram de pensar o que
fazer, nem avaliar o perigo horrível que as ameaçava tão de perto.
Umas correram a agarrar os filhos e outras ainda tentaram salvar as
roupas que tinham estendidas a corar sobre os seixos.
O que se
passou não pode ser descrito, o vagalhão entrou pela foz da ribeira
arrastando todos quantos não tiveram tempo de pôr-se fora do seu
alcance. Quando a formidável onda desceu, ainda foram vistas entre
as espumas algumas mulheres e crianças por entre destroços vários
([14]).
A propósito
desta tragédia, a veia poética do povo fez eclodir versos, que
teriam a pretensão de a descrever e dos quais foi possível recolher
as seguintes quadras:
Meus
senhores este dístico
Foi uma
história verdadeira
Aconteceu
em Câmara de Lobos
Na nossa
linda Madeira
A quebrada
que caiu
Foi a do
Cabo Girão
Levando
muitos mortos
P'ra
capela da Conceição
Na ribeira
do Vigário
Mulheres,
que roupa lavavam
Surpreendidas pelo mar
Por Nossa
Senhora gritavam
A esta
grande tragédia
Na
terça-feira de Carnaval
Veio a
Câmara de Lobos
A
autoridade do Funchal
Quando
esta notícia chegou
Ao palácio
da fortaleza
Veio o
Governo Civil
Ver esta
grande tristeza
Câmara de
Lobos luto vestia
Como
símbolo das suas dores
No coração
ficou sempre o dia
Em que
perderam os seus amores
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