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Rua Padre Manuel Carlos da Silva
A rua Padre Manuel Carlos da Silva, assim denominada por
deliberação camarária de 18 de Maio de 1995, situa-se na freguesia do
Estreito de Câmara de Lobos e dá acesso à igreja paroquial de Nossa
Senhora da Encarnação. Resultou do alargamento de um estreito caminho
só acessível a peões que passava junto ao local onde a igreja foi
construída.
Em 1966, com o início das obras de construção da igreja paroquial de
Nossa Senhora da Encarnação, a necessidade da sua acessibilidade a
automóvel passou a constituir um desejo de toda a sua população.
Não só havia que dotar a futura sede da paróquia com um acesso
digno, como também de tornar mais fácil o transporte dos materiais
necessários à sua construção. Com efeito, a igreja de Nossa Senhora
da Encarnação foi implantada num terreno servido unicamente por uma
estreita vereda que só permitia a circulação de peões, ficando o
acesso rodoviário, na altura constituído exclusivamente pelo caminho
velho do Covão, a cerca de 400 metros de distância.
Por
este facto, é natural que, desde cedo, fortes pressões fossem
exercidas junto dos responsáveis autárquicos, no sentido da construção
de uma estrada que ligasse a igreja ao caminho velho do Covão. A este
propósito, necessário se torna referir que, na altura, apesar de
projectada desde 1956, a estrada que hoje liga Câmara de Lobos à
igreja do Estreito, passando pelo Covão, terminava no limite entre a
Panasqueira e o Covão, não existindo por consequência, as actuais ruas
António Prócoro de Macedo Júnior e João Augusto de Ornelas.
A elaboração do projecto
Dando resposta aos desejos da população, a Câmara Municipal de Câmara
de Lobos, encarrega o engenheiro João Alberto da Silva Henriques de
elaborar o projecto de alargamento do caminho de acesso à igreja de
Nossa Senhora da Encarnação, caminho esse que, seguindo a vereda
existente, deveria ligar a igreja ao hoje denominado caminho velho do
Covão, na zona conhecida como venda do Ernesto.
Contudo,
em ofício presente na sessão camarária de 25 de Setembro de 1968, o
convite é declinado, motivo que leva a Câmara a convidar, em sua
substituição, o engenheiro Aires Pestana que também acabaria por não
o elaborar, desconhecendo-se no entanto as razões. Na sessão da CMCL
de 25 de Fevereiro de 1970, por proposta do presidente da Câmara é
deliberado encarregar o Eng. António Gonçalves Costa da elaboração
desse projecto, que o entrega concluído em Abril de 1970.
Ainda
que este projecto contemplasse a ligação da igreja ao hoje denominado
caminho velho do Covão, nele estava também já prevista a sua ligação
com o caminho Covão – Igreja do Estreito, na altura ainda em projecto,
e que hoje ostenta num dos seus troços o nome de António Prócoro de
Macedo e noutro o de João Augusto de Ornelas.
De acordo com a memória descritiva do projecto, com a construção deste
caminho de acesso à igreja de Nossa Senhora da Encarnação,
pretendia-se não só resolver o problema de acessibilidade à igreja,
criando, ao mesmo tempo uma infra-estrutura básica e
indispensável, por forma a permitir o desenvolvimento local.
Este arruamento teria as características de uma estrada municipal com
5,5 metros de largura, dos quais, 5 metros se destinariam à faixa de
rodagem e 0,5 a valeta, estendendo-se por um percurso de 395,3 metros
e orçaria em 563.100$00, dos quais 85.750$00 se destinariam a encargos
com expropriações.
Contudo, vários atrasos teriam ocorrido no início das obras e, com a
abertura da estrada Covão – Estreito, entretanto verificada, a
prioridade da ligação automóvel com a igreja de Nossa Senhora da
Encarnação passou a ser, não com o caminho velho do Covão, mas com
esta estrada, até porque a sua acessibilidade era melhor e a
extensão de caminho a alargar muito menor e consequentemente, menos
onerosa.
As obras de alargamento desta vereda terão sito
iniciadas a 31 de Maio de 1984
[i] e ficaram integradas no orçamento de uma das fases da
estrada Covão - Estreito, adjudicadas ao empreiteiro Cipriano da Cruz
e efectuadas sensivelmente na altura em que a estrada Covão -
Estreito, havia chegado às proximidades do local da actual
concordância entre as duas estradas.
De qualquer forma, a continuidade do projecto inicial, ou seja, da
ligação com o caminho velho do Covão, não ficaria esquecida, uma vez
que a 27 de Março de 1992 seria inaugurada, concretizando-se desta
forma aquele que foi o projecto elaborado no ano de 1970.
As principais Referências
Nesta rua, a mais importante referência é dada pela igreja paroquial
de Nossa Senhora da Encarnação.
Surgiu esta igreja na sequência da criação, a 24 de Novembro de
1960, da paróquia de Nossa Senhora da Encarnação, que teve como
primeiro pároco o padre Manuel Carlos da Silva e, por primeira sede,
ainda que provisória, a capela de Nossa Senhora da Encarnação. Para
além de ser privada e de se situar fora do centro do agregado que
constituía a paróquia, esta capela não possuía capacidade para
responder às necessidades de uma sede paroquial. Por esse facto,
desde logo se fizeram esforços no sentido de construir um novo templo
com a localização e capacidades adequadas às exigências paroquiais,
recaindo a escolha num lugar denominado de Pico, onde no dia 4 de
Setembro de 1966, num acto presidido por D. João António da Silva
Saraiva, teve lugar a cerimónia de lançamento da primeira pedra
[ii],[iii].
A benção da Igreja paroquial de Nossa Senhora da Encarnação viria a
ter lugar cerca de um ano depois, no dia 27 de Agosto de 1967, tendo
novamente presidido ao acto o Bispo D. João António da Silva Saraiva
[iv],[v].
Contudo, apesar de realizada a bênção, as obras de construção da
igreja não estavam concluídas e haveriam de continuar nos anos
seguintes.
Conforme
texto publicado num folheto distribuído à população, em Junho de 1968,
onde se dava conta do estado em que se encontrava o templo, referia-se
a propósito da capela mor que o altar era provisório e o pavimento,
degraus, parede e tecto estavam por acabar. Em relação à frente da
igreja referia-se que não tinha portas nem cantarias, fazendo-se o
acesso ao templo através de uma porta lateral, e que o adro, sob o
qual haveria de ficar o salão paroquial, ainda não havia sido
construído, o mesmo acontecendo com a torre da igreja e casa
paroquial.
Os anos entretanto foram passando e apesar de várias obras terem
tido lugar, nomeadamente no interior do templo, só a 10 de Outubro de
1995, é que seriam inauguradas as obras de arranjo do adro e
arredores, a construção do salão paroquial, sanitários e ainda de um
espaço destinado a um centro social paroquial
[vi], este já da iniciativa do actual pároco.
Na altura, estavam previstas uma remodelação do interior da igreja
paroquial, a construção de uma torre sineira, a edificação de uma casa
paroquial e a construção de salas para catequese, pretensões que com
excepção das salas de catequeses, continuam a aguardar melhores dias.
Centro Social e Paroquial da Encarnação
O Centro Social e Paroquial da Encarnação é uma instituição
particular de solidariedade social canonicamente erecta, da paróquia
da Encarnação, freguesia do Estreito de Câmara de Lobos. Os estatutos
foram aprovados a 20 de Janeiro de 1996, e tem por objectivo cultivar
a fraternidade cristã e a promoção e o desenvolvimento entre todos os
habitantes da paróquia com opção preferencial pelos mais pobres.
Proporciona este centro ainda espaços de encontro, entre os
paroquianos por forma a permitirem uma maior formação e melhoria da
sua qualidade de vida[vii].
O espaço onde o Centro Social se encontra instalado dispõe de uma área
de cerca de 200 metros quadrados onde funcionam um Centro de
Actividades de Tempos Livres (de 2ª a 5ª feira) e um centro de
convívio para idosos (6ª feira).
No mesmo espaço funcionam ainda vários grupos e associações ligados à
vida da paróquia como sejam um Grupo de Cultura Popular, a Associação
Grupo de Jovens da Encarnação, Escuteiros e Cáritas.
O
centro social está também dotado de uma lavandaria onde são tratadas
as roupas de pessoas que pela sua idade ou impossibilidade não o podem
fazer pelos seus próprios meios. Na prestação deste serviço, dispõe o
Centro de uma carrinha destinada à recolha das roupas sujas e
posterior entrega destas roupas já lavadas e passadas a ferro.
Desenvolve ainda o Centro Social e Paroquial da Encarnação, desde Maio
de 1997, um projecto denominado de "Ser Criança", com o objectivo de
diagnosticar e colmatar algumas das carências e problemas das
crianças e suas famílias.
A homenagem ao padre Carlos
Na sua sessão de 18 de Maio de 1995, a Câmara Municipal de Câmara de
Lobos delibera atribuir o nome do padre Manuel Carlos da Silva ao
arruamento de acesso à igreja na sua extensão entre esta e a rua
António Prócoro de Macedo Júnior.
Ainda que, na acta de atribuição do nome do padre Manuel Carlos da
Silva a este arruamento, nada conste sobre os motivos que levaram os
responsáveis camarários a tal decisão, será de referir que foi ele
quem liderou todo o processo de edificação da igreja paroquial de
Nossa Senhora da Encarnação, obra que contrariamente às que os
políticos realizam, não se faz recorrendo aos cofres do estado ou
retirando verbas desta ou aquela rubrica orçamental, mas com grande
sacrifício e com grande esforço no sentido da angariação de meios e
mão de obra voluntária junto da população, muitas das vezes, também
carenciada.
Tal como acontece com alguns párocos que lutam mais pelo bem estar da
população das suas paróquias, do que muitos dos profissionais da
política, o padre Manuel Carlos da Silva, também não deixou por mãos
alheias os interesses dos seus paroquianos e para além da sua
persistência junto das autoridades camarárias no sentido do alagamento
da estrada de acesso à sua igreja, obra que infelizmente não chegou a
ver realizada, é digno salientar o conteúdo de uma exposição por si
subscrita e presente, em Setembro de 1970, numa das sessões da CMCL.
O retrato de uma época

Nesta
exposição, que tem o mérito de retratar um período ou época da vida da
população da paróquia de Nossa Senhora da Encarnação, o padre
Manuel Carlos da Silva, dirigindo-se ao presidente da Câmara
Municipal de Câmara de Lobos, refere que por mais de uma vez
desde que tomei posse da paróquia da Encarnação a 1 de Janeiro de
1961, tenho apresentado a V. Exa., as exigências de uma pobre
gente, que em número de umas 3.500 almas lamentam a sua desdita de
viver numa região, onde não há memória de um melhoramento público, a
não ser a sua igreja, que corre à sua custa [...]. Há três
anos, assisti a uma sessão da Câmara Municipal, onde V. Exa. expôs o
meu pedido, em benefício dos paroquianos, mas fiquei surpreendido,
por notar que os senhores vogais, só mostravam interesse pela Vila,
cabeça do concelho, como que a cabeça se tenha podido governar sem
auxílio dos pés. Portanto em nome do povo que me foi confiado por Sua
Exa. o Senhor Bispo, reclamo: fontenários de água potável, porque
nesta paróquia apenas há dois, dos quais se tem retirado "animalúscos"
em putrefacção e o resto, usam das águas que marginam os caminhos e
ribeiros. Reclamo que tenha V. Exa. um próximo entendimento com a
Administração da Direcção da Energia Eléctrica, para que se façam as
necessárias instalações. Reclamo o calcetamento do caminho entre
casais, no sítio dos Barreiros, próximo à casa de José Gonçalves
Simões. Reclamo que tenham realizáveis as aspirações dos habitantes
da Vargem que pedem o prolongamento do caminho para automóvel, do
Ribeiro Real a ligar ao da Estrela, como também transformar em
caminho, a vereda que passa junto à casa de Francisco Vieira e que
outro se abra, da venda de João Luís ao Pico, ambos com acesso à
igreja. Reclamo
em abono dos doentes, condutores de automóveis, comerciantes e
trabalhadores a urgente reparação do caminho insubstituível do Covão,
um dos sítios mais povoados da paróquia, para o que não basta
trabalho dos simples cantoneiros, mas requer um estudo dos
respectivos técnicos de acordo com a Excelentíssima Junta Geral,
visto por ali passarem águas de irrigação, tanto mais que em razão do
declive, do transbordo das águas e dos buracos que se abrem aqui e
além, os condutores de automóveis, recusam-se aceitar serviço para o
Covão, em prejuízo de todos. Reclamo que se faça o ramal projectado
do Covão para a Igreja sem prescindir
a reclamação anterior, de contrário seria uma utopia. Reclamo o
devido expediente na construção da estrada do Covão que apenas tocou
nesta paróquia, quando ela se destina ao Lombo de São João, para a
qual a Excelentíssima Câmara, já por três vezes recebeu
comparticipação do Estado.
[...] Há mais, o péssimo estado dos caminhos da Fajã e da Fajã
das Galinhas, Castelejo, etc., etc. mas para melhor justificar-se
queira Senhor Presidente enviar um observador imparcial que
confirmará [...]
[viii].
O Padre Manuel Carlos da Silva
O padre Manuel Carlos da Silva era natural da freguesia da Ponta
Delgada, onde nasceu ao sítio dos Lameiros, a 4 de Novembro de
1904
[ix]. Era filho de Manuel Laurentino da Silva e de Maria da
Encarnação. Cursou no seminário Diocesano de 1926 a 1937. Ordenou-se
Presbítero a 18 de Setembro de 1937 e celebrou a sua primeira
missa, a 19 de Setembro de 1937, na freguesia da Ponta Delgada.
No dia 2 de Outubro de 1937
é nomeado Cura de Santo António, onde fez um grande trabalho de
apoio aos centros de catequese.
Em 31 de Dezembro de 1945 foi
nomeado 2º Cura de Câmara de Lobos e Capelão do Mosteiro de Nossa
Senhora da Piedade na Caldeira, freguesia de Câmara de Lobos.
A 8 de Junho de 1951 assumiu a
responsabilidade pela paróquia do Arco de São Jorge. No dia 3 de
Junho de 1957 é nomeado Cura do Estreito de Câmara de Lobos. No dia
31 de Dezembro de 1960 é nomeado pároco da recém criada paróquia de
Nossa Senhora da Encarnação, na freguesia do Estreito de Câmara de
Lobos, sendo ele, por esse facto, o seu primeiro pároco e aquele que
dá início à construção da respectiva igreja paroquial, e donde, por
motivos de saúde foi substituído, em finais de 1978, princípios de
1979.
Faleceu a 17 de Novembro de 1983, na freguesia do
Estreito de Câmara de Lobos, onde vivia ao sítio da Quinta de Santo
António
[x].
[i]
Dados recolhidos junto da população local
[ii]
Jornal da Madeira, 8 de Setembro de 1966.
[iii]
Acta da bênção do lançamento da primeira pedra da Igreja
Paroquial de Encarnação - Freguesia do Estreito de Câmara de
Lobos, presente no Arquivo Paroquial da Encarnação.
[iv]
Jornal da Madeira, Funchal, 27 de Agosto de 1967.
[v]
Jornal da Madeira, Funchal, 28 de Agosto de 1967.
[vi]
Jornal da Madeira, 3 de Setembro de 1995.
[vii]
Diário de Noticias, 25 de Dezembro de 1998.
[viii]
Livro de Vereações da Câmara Municipal de Câmara de Lobos. Acta
de 9 de Setembro de 1970.
[ix]
Data de nascimento correspondente à existente na Conservatória
do Registo Civil de São Vicente e no Bilhete de Identidade.
[x]
Jornal da Madeira, 18 de Novembro de 1983.
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