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São Pedro
Padroeiro dos pescadores. Na freguesia de Câmara de Lobos, mais
propriamente na paróquia de São Sebastião, realizam-se a 29 de Junho
grandes festividades em sua honra, constituindo mesmo as mais
importantes festas religiosas ali realizadas.
Numa discrição de Joaquim Pestana publicada no Novo Almamach de
Lembranças Luso-Brazileiro, para o ano de 1876, pg. 129-130, a
procissão em sua honra ter-se-á iniciado ou reiniciado por volta de
1856 e fazia-se da seguinte forma: Na frente hiam quatro mancebos a
cavallo, vestidos á turca, levando cada um uma bandeira hasteada; em
seguida uma dança composta de dez ou doze homens, trajando fatos
exquisitos, sobresahindo uma carapuça, guarnecida de muitas fitas, que
cahiam pelas costas abaixo; depois a denominada barquinha, conduzida
por quatro homens robustos. O enfeite da barquinha, enfeite que ainda
hoje dura, consiste em pães de assucar, garrafas de vinho, ovos,
doces, fructas, flôres, etc. Apoz isto seguia-se uma rede levada por
doze pescadores, vestidos, diziam elles, á similhança dos Apostolos.
Atraz seguiam confrarias, santo e o pallio, rematando, como é uso, por
uma boa musica instrumental.
Ultimamente extinguiram os cavalleiros, a dança e a rede, ficando a
barquinha, que levam adiante da procissão.
A propósito da procissão em honra de São Pedro, em Câmara de Lobos, D.
Mariana Xavier Silva, publica sob o título de “O Demerarista” no
Diário de Notícias do Funchal, entre Março e Agosto de 1877, um
folhetim onde a dado possa refere:
Nunca em ano
algum no dizer dos velhos se fez procissão mais bonita: abriram o
préstito quatro rapazes dos mais bem postos, montados a cavalo e
vestidos à turca com sua calça encarnada muito larga, seu turbante
muito alto, que era um gosto ver e segurando cada um sua bandeira de
cores, que esvoaçam à brisa da tarde.
Logo após ia uma
dança em que tomaram parte mais de vinte homens, metade dos quais
vestidos de mulher e com fatos cada qual mais extravagantes, levando
todos uma carapuça ao uso na ilha, muito enfeitada de fitas e fores;
em seguida iam quatro raparigas vestidas à moda antiga da ilha e que
ainda hoje figura nas festas do Espírito Santo e a que chamam
«saloias».
Levavam o peito
cheio de jóias, o pescoço quase coberto pelos cordões de oiro, e as
carapuças artisticamente enfeitadas com fios de pérolas flores.
Quatro homens do mar, dos mais
valentes conduziam em seguida a barquinha que ia cheia de doces,
frutas, milhares de ramos de flores, muitos ovos, grande quantidade de
pães de açúcar, muitas garrafas de vinho, tudo disposto com a maior
arte.
Ao pé da barquinha iam os doze
apóstolos levando uma rede de pescar nova, e vestidos de modo a querer
imitar o trajo dos companheiros do Divino Mestre; seguiam depois as
irmandades, sendo a última confraria a do Santíssimo. A imagem de São
Pedro ostentava-se enfeitada com grande variedade de flores. Atrás da
imagem e antes do pálio, lá se via com a sua capa de seda nova e vara
de prata o nosso Manuel.
Ao lado do velho
pescador, que não sabia se havia de rir, se chorar e que passava de
uma para outra mão o círio, tão distraído caminhava a rever-se no
filho.
A música da
cidade, alegrava com seus harmoniosos sons aquela festa e de quando em
quando estalejavam os foguetes e ouviam-se os tiros dos pedreiros.
Finda a procissão, a barquinha foi
depositada no meio da igreja para quem a quisesse ver; e recolhida
depois pelo senhor vigário a quem pertence todos os anos
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Câmara
de Lobos
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Manuel
Pedro Freitas
Câmara de Lobos, sua gente, história e
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