Semana do concelho é um evento anualmente realizado na sede do
concelho, com o objectivo de divulgar as suas actividades económicas
e culturais, tendo por palco a baia de Câmara de Lobos. A sua
primeira edição teve lugar no dia 5 de Julho de 1991 e, na altura,
foi denominada de 1ª Semana Gastronómica do Concelho de Câmara de
Lobos, sendo contudo alvo de alguma contestação pela forma como
havia sido organizado. Manuel Pedro Freitas chega mesmo a divulgar,
a este propósito, aos microfones da rádio Girão o seguinte texto:
Esta iniciativa, não sendo nova, pois é uma cópia mal feita daquilo
que outros concelhos já vêm fazendo desde há alguns anos, nem por
isso deixa de ser importante. Digo mal feita, porque apesar da
inovação que é a apresentação de algumas actividades comerciais
locais, não soube dar a qualidade necessária e a localização
privilegiado dos pavilhões ditos gastronómicos, nem cativar, nesta
iniciativa um número significativo de restaurantes.
Por outro lado, conforme qualquer pessoa se pode aperceber mediante
uma leitura das denominações dos vários pavilhões existentes, se a
semana é do concelho, só o é nos custos, pois em tudo o resto não
era mais do que uma semana da freguesia de Câmara de Lobos.
Terão os seus organizadores de admitir este facto e reconhecer o
erro em que caíram em pretenderem estender ao concelho uma coisa que
foi talhada e feita à medida dos interesses da freguesia de Câmara
de Lobos. Senão vejamos. Onde estavam os restaurantes do Estreito de
Câmara de Lobos, onde estavam os pavilhões de exposição das
actividades mais importantes do Estreito e da Quinta Grande?
Naturalmente que ninguém os viu.
É claro que segundo consta foram feitos convites a três restaurantes
do Estreito que o declinaram. No entanto a freguesia tem mais
restaurantes e que não foram convidados, mas que até poderiam
aceitar tal convite e se o fizessem, certamente que não
envergonhariam a freguesia de Câmara de Lobos. Ainda que, conforme
alguém escrevia no TRESLER publicado no Jornal da Madeira do dia 5,
não poder haver tanta riqueza gastronómica numa ilha tão pequena,
talvez surgisse algum prato com certas tradições na freguesia e que
não podendo ser propriamente inédito, fosse capaz de apresentar,
pelo menos, algumas características que a tradição popular lhe foi,
ao longo dos tempos, particularizando.
Mas para além de restaurantes, a freguesia do Estreito possui um
importante comércio e que certamente poderia haver interesse na sua
divulgação. Mesmo não tendo industrias transformadoras importantes e
por isso susceptíveis de, com a sua exposição, não se esperar
ampliação substancial do leque de clientes, a Câmara como entidade
organizadora e responsável pelo concelho deveria ter todo o
interesse fazê-los divulgar, não tanto para fins promocionais, mas
para, pelo menos, mostrar aquilo que temos, que fazemos e somos.
Se é verdade que houve recusa por parte dos restaurantes do Estreito
em participar neste certame, também é verdade que as condições
oferecidas justificavam tal comportamento, pois que, se para a
entidade organizadora o que contava era o número, para os
restaurantes importava manter o seu prestígio, a sua imagem e que,
ali perante tamanho número de eventuais clientes se colocava em
jogo. Por outro lado, um investimento e um certame como o que se
pretendia realizar não se pode organizar em cima do joelho nem muito
menos com arrogância. Não se pode dizer, e eu como estreitense que
sou não o admito, que vamos fazer uma semana gastronómica no
concelho, com dinheiro de todo o concelho, e esquecer de congregar
em torno desta iniciativa o máximo de pessoas possível,
representando não só as várias freguesias como o comércio. Esta
tarefa não é fácil e para se conseguir os objectivos pretendidos é
necessário ás vezes saber ser humilde, engolir sapos vivos, sapos
esses cuja deglutição não custa se tivermos em conta o interesse
público.
Desta forma alguma coisa falhou começando pela organização que, a
atestar pelas pessoas que compunham o "staff" que apresentou o
certame em conferência de imprensa e que esteve na inauguração, não
conseguiu congregar o apoio expresso de todas as freguesias que
fazem parte do concelho, bem como do seu mais importante comércio.
Num certame como este que se pretendia ter âmbito concelhio, não
ficaria mal também a presença do presidente da Junta de Freguesia da
Quinta Grande, do Estreito e do Curral das Freiras, bem como a
presença do presidente da Casa do Povo do Estreito. Talvez esteja a
ir de mais nas insinuações que faço mas, a verdade é que há
coincidências a mais e que fazem despoletar algumas interrogações
aos observadores minimamente atentos. Conseguiu a Câmara com esta
iniciativa fortalecer o espírito de união entre as várias freguesias
ou aprofundar o fosso que aqui e ali parece dar indícios de existir.