Sindicato Agrícola de Câmara de Lobos
Os sindicatos agrícolas eram associação locais,
fundadas por agricultores e indivíduos que exerciam profissões
correlativas à agricultura e tinham por fim principal, estudar,
defender e promover tudo quanto importava aos interesses agrícolas
locais e aos particulares dos associados. Portanto, estas organizações
contrariamente ao que a sua denominação, poderá querer dizer, não eram
mais do que o correspondente às cooperativas de hoje.
As normas para a sua criação e funcionamento, são
primeiramente expressas através da carta de lei de 3 de Abril de 1896,
publicada no Diário do Governo nº 77, de 8 de Abril de 1896, sendo,
contudo depois, ao longo dos anos, alvo de novas regulamentações, até
que acabariam por serem extintos.
Na sequência dessa legislação, surgiriam no concelho de
Câmara de Lobos, dois importantes sindicatos, o Sindicato Agrícola
Estreitense, na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos e o Sindicato
Agrícola do concelho de Câmara de Lobos, na freguesia de Câmara de
Lobos, este último fundado, em 1927, com a finalidade de captar e
transportar até ao concelho e freguesias limítrofes, água que se
estava perdendo no norte da ilha.
É do conhecimento geral, que a água
foi elemento primordial no desenvolvimento da Madeira. Desde os
primórdios da colonização procurou-se aproveitá-la como elemento
fundamental da vida dos que para aqui vieram fixar-se. Além do mais, a
cultura dos terrenos, tinha na água, o principal factor de sucesso.
Sem ela não era possível fertilizá-los de modo a produzirem os bens
necessários à subsistência dos moradores. E, desde logo, o
aproveitamento da água, ofereceu, aos que dela precisavam,
dificuldades várias, algumas das quais, quase insuperáveis. O meio
orográfico madeirense apresentava-se como um obstáculo sério às
pretensões dos que desejavam canalizar as águas perdidas existentes na
ilha, especialmente, na vertente norte, onde elas abundavam em
contrate com a sua escassez, na vertente sul.
Por outro lado
- outro contraste - os terrenos desta última eram mais propícios ao
desenvolvimento da agricultura. Perante estes dois pólos antagónicos,
os habitantes tiveram de lançar mão da sua iniciativa para vencer
todos os obstáculos, de forma a disporem da tão cobiçada água. Ela, no
entanto, outro contraste também apresentava. No mesmo passo em que
nascia nas zonas mais altas, proporcionando um melhor aproveitamento,
surgia em lugares tão inacessíveis, que quase desencorajava os mais
afoitos ou animosos.
Mas, desta
luta, e como não podia deixar de ser, venceu o Homem. E a ideia do
aproveitamento da água permaneceu através dos tempos, ou melhor
dizendo, dos séculos, chegando até aos nossos dias. É que, embora
muita água já tivesse sido aproveitada, ainda existiam terrenos mal
explorados e carecidos da linfa fertilizadora, com relevo para os
situados a oeste do Funchal, abrangendo uma vasta faixa que se
estendia até aos confins do concelho da Calheta.
Mas, qualquer
iniciativa deste género, esbarrava sempre com um óbice traduzido na
longa distância donde era necessário transportá-la até chegar aos
terrenos sequiosos.
A
constituição
do sindicato
No desejo de irrigar as terras das freguesias de Câmara de Lobos,
Estreito de Câmara de Lobos e Quinta Grande e ainda de algumas da do
Campanário, viria a constituir-se na sede do concelho camaralobense,
uma entidade com este propósito. Deste modo, no dia 23 de Setembro de
1927, no cartório notarial de Câmara de Lobos, era outorgada a
escritura criando o Sindicato Agrícola de Câmara de Lobos, com sede do
sítio das Preces, desta freguesia
.
Os seus estatutos viriam a ser aprovados por alvará de 10 de Outubro
de 1927, passado por despacho ministerial do dia 8 do mesmo mês e
publicado no Diário do Governo nº 231, II Série, de 13 seguinte.
Foram sócios
fundadores: Dr. João Artur Soares Henriques, José de Barros Júnior,
João Ricardo Ferreira César, Manuel Baptista Pereira, António Nunes
Pereira, João Gomes Henriques, Manuel Soares de Abreu, João de Abreu,
Francisco João Gomes, João Fernandes, Francisco Rodrigues Dinis,
Carlos Assunção Dantas, Manuel João de Andrade, Manuel Rodrigues, João
Gonçalves Lopes, João Gonçalves dos Remédios, Bento Gonçalves, João
Pereira Camacho, José Gonçalves de Barros, Luís Gonçalves Pinto da
Silva, Cândido Augusto da Silva, José Gonçalves Telo e João Guilherme
Figueira.
Os
objectivos
do sindicato
De acordo com a
alínea a) do artigo quarto dos seus estatutos, o Sindicato Agrícola
tinha por fim estudar e promover melhoramentos agrícolas, defender os
interesses dos seus associados e especialmente pedir ao Governo, nos
termos do Decreto com força de Lei, nº 5887 de 10 de Maio de 1919, a
concessão de aproveitamento de águas públicas que se encontrassem
abandonadas no interior da ilha da Madeira e que pudessem ser
canalizadas e utilizadas na rega de terrenos compreendidos na área do
concelho de Câmara de Lobos e das freguesias limítrofes.
A primeira
reunião de
sócios
Reunidos, pela
primeira vez, em assembleia geral, no dia 6 de Novembro de 1927, na
sala de sessões da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, os sócios do
Sindicato Agrícola, num total de 66, deliberaram: pedir ao governo o
aproveitamento, por concessão, das águas do Seixal e Fontes da
Hortelã, das ribeiras da Malhada, do Inferno e da Partilha; nomear
Manuel Cardoso de Sá, director da Escola de Comércio, seu procurador
em Lisboa; a atribuição de um voto de louvor e de agradecimento a
Tiago Maria Ricardo e a Mário Fortes, respectivamente, subdirector da
Caixa Geral de Crédito Agrícola e chefe de divisão da Hidráulica
Agrícola, pela sua intervenção no despacho ministerial de aprovação
dos estatutos, e autorizar a direcção a efectuar a recolha de fundos
indispensáveis para fazer face às despesas inerentes aos pedidos de
concessão de águas, estudos e construção da respectiva conduta.
Os corpos
gerentes
Nesta reunião,
para além de ser salientado o papel do Dr. João Artur Soares Henriques
como alma da constituição do Sindicato, foi ainda eleita a sua
direcção e que ficaria assim constituída: Dr. João Artur Soares
Henriques (presidente), António Nunes Pereira (vice-presidente), José
de Barros Júnior (secretário), João Ricardo Ferreira César
(tesoureiro) e Manuel Baptista Pereira (vogal).
Eleitos
anualmente, os corpos directivos do sindicato não sofreram, ao longo
dos anos grandes alterações na sua composição e dois dos seus
elementos, o Dr. Artur Soares Henriques e João Ricardo Ferreira César,
viriam a ter uma presença permanente em todos eles. Em relação aos
restantes elementos, e de uma forma sintética, poderemos dizer que em
1931 Manuel Baptista Pereira troca de cargo com António Nunes Pereira.
Em 1932, este assume a vice-presidência da direcção, enquanto José de
Barros Júnior ocupa o cargo de vogal e Manuel Baptista Pereira, o de
secretário. Em 1933, Francisco Firmino Henriques é eleito
vice-presidente, António Nunes Pereira passa a vogal e José de Barros
Júnior, sai. Em 1936 Eduardo Soares Gonçalves Henriques e Carlos
Fernandes Dantas, substituem Manuel Baptista Pereira e António Nunes
Pereira, nos cargos de secretário e de vogal. Em 1938, José António
Nunes toma o lugar de Eduardo Gonçalves Henriques. Em 1939, Francisco
José Henriques substitui Eduardo Gonçalves Henriques, como secretário.
O projecto
de
Construção
da levada
Por despacho do
Ministro do Comércio e Comunicações, datado de 27 de Julho de 1928, o
sindicato é autorizado a proceder aos estudos conducentes à elaboração
do projecto definitivo do aproveitamento das águas das ribeiras do
Seixal, Fontes da Hortelã, Inferno, Malhada e Partilha, exigências
necessárias à concessão definitiva de tais águas públicas. Na sua
reunião do dia 7 de Outubro de 1928, a Direcção do Sindicato aprovou
os termos do contrato a estabelecer com o respectivo técnico e
submete-os à apreciação da assembleia geral, o que acontece no dia 4
de Novembro.
A
responsabilidade do projecto para a construção da levada que haveria
de transportar a água desde o norte da ilha da Madeira, até à parte
sul, nomeadamente às freguesias de Câmara de Lobos, Ribeira Brava,
Quinta Grande, Campanário e Estreito de Câmara de Lobos, foi entregue
ao condutor de obras públicas, e sócio do Sindicato, Francisco António
Soares Júnior.
Iniciados em Julho de 1929 os
trabalhos de campo, em Janeiro do ano seguinte já estavam concluídos e
era dada execução à parte mais importante, ou seja, a de confeccionar
o projecto geral de construção
[2].
Finalmente, no dia 23 de Maio de 1930, o projecto era entregue na
Administração Geral dos Serviços Hidráulicos, em Lisboa, para
apreciação
[3].
O projecto previa a construção de
um canal de cerca de 35 quilómetros de comprimento, com capacidade
para transportar
cerca de 1.412.649 metros cúbicos, ou seja cerca de 109 litros por
segundo, isto sem contar com as águas que o canal, em todo o seu
percurso, poderia aproveitar, quer pela intersecção de linhas de água,
quer pelas nascentes, que, por certo, se iriam descobrir na abertura
dos túneis.
A linha do canal da nova levada
teria a sua origem na bacia hidrográfica da Ribeira do Inferno, onde
seria feita a captação das diversas nascentes e minadouros e ao longo
do percurso haveria que fazer três túneis principais, inevitáveis
devido à orografia do terreno. O primeiro, chamado o de saída das
águas das ribeiras do Inferno, Malhada e Partilha, do lado norte e com
uma extensão de 450 metros. O segundo seria aberto através da serra da
Encumeada e com uma extensão de 180 metros, dando passagem ao canal do
norte para o sul, seguindo a levada depois pela encosta sul, costeando
as montanhas até ao sitio da Boca dos Corgos, na Serra de Água. O
terceiro túnel com inicio neste ponto, teria uma extensão de 2.073
metros até à sua saída na ribeira do Campanário, nas proximidades do
sitio dos Ferreiros. Contudo, em todo o trajecto haveria ainda que
abrir, em vários pontos, pequenos túneis, com comprimentos entre 30 e
95 metros a fim de reduzir a extensão da levada e, ao mesmo tempo,
também os seus custos
[4],[5].
Os custos e
financiamento
O custo total da obra ascenderia a
cerca de nove milhões de escudos e o Estado nos termos da lei
[6]
haveria de suportar cerca de 50% das despesas, podendo ainda emprestar
mais 25%, amortizável no prazo de 25 anos, ao juro anual de 3,6%. Ao
Sindicato Agrícola de Câmara de Lobos caberia a responsabilidade pelo
pagamento dos restantes 25% ou seja, cerca de dois milhões de escudos.
Ainda que o Sindicato não possuísse, na ocasião, tal quantia, contava,
naturalmente, com o apoio dos proprietários, que assim veriam os seus
terrenos valorizados e com o rendimento proveniente da venda de água
aos regantes e que se previa poder atingir, anualmente, 972.000$00,
verba que, para além de garantir o juro do capital empregado, pagaria
as despesas de conservação e administração do canal. Isto tudo com a
vantagem de os custos de água/hora baixarem de 425$00 para 225$00
[7].
De acordo com o seu responsável, o
rendimento de um alqueire de terra ou sejam 758,29
metros
quadrados, livres de todas as despesas de cultura que, na altura, era
de 100$00, passaria a render 1.150$00, portanto quase 12 vezes mais,
após concretizado o projecto de irrigação. O caudal de água previsto
iria irrigar cerca de 400 hectares de terra que rendendo 500.000$00,
poderiam vir a atingir mais de 6.000.000$00.
Para fazer
frente às despesas decorrentes com a actividade do sindicato e
construção da levada, os sócios assumiram, a quando da sua fundação, o
compromisso reunirem os meios financeiros necessários, tendo-se para o
efeito constituído em cabeças.
Estas
cabeças em número de 40, eram formadas por grupos de sócios ou por
sócios individualmente, e que para além das suas quotizações definidas
nos estatutos, se obrigavam, cada uma, a contribuir, em partes iguais,
para o suporte financeiro da obra.
Como contrapartida, cada uma destas
cabeças disporiam de determinado número de horas de água para
rega gratuitas, distribuídas entre os seus membros em conformidade com
a sua quota. Assim, um sócio que individualmente representasse uma
cabeça, contribuindo dessa forma com a totalidade da importância
que lhe cabia da sua parte, disporia por inteiro do número de horas
que lhe fosse distribuído, segundo o rateio relativo à sua parte; a
totalidade das horas de água da cabeça representada por um dado
número de sócios agregados seria distribuída pelos respectivos sócios
constituintes, numa percentagem idêntica à da sua contribuição para a
respectiva cabeça
[8].
As
dificuldades
da
iniciativa
Contudo, se a
vertente financeira do projecto do sindicato se propôs concretizar não
era fácil, a burocracia com ao longo dos anos se teve de defrontar,
não lhe ficou atrás.
Ainda que em Janeiro de 1932, a
Junta dos Hidráulicos Agrícolas, tivesse dado o seu parecer favorável
para a construção da levada, bem como à concessão do apoio estatal a
este tipo de obras, o que fazia prever para breve a concessão
definitiva das águas, e fosse assim possível, finalmente, dar início
aos trabalhos há tanto tempo aguardados, tal não viria a acontecer
[9].
Em 1936, o presidente da Assembleia Geral queixa-se, mesmo, das
dificuldades e da complicada burocracia à volta da legítima concessão
requerida pelo sindicato, nos termos das leis vigentes, o que
certamente também se terá reflectido numa certa desmobilização dos
sócios que nesta altura havia, sendo significativo o número daqueles
que já não pagavam as suas quotas. A este propósito chega mesmo a ser
criada uma comissão, com o fim de proceder a um levantamento dos
sócios faltosos dos seus deveres, afim de lhes aplicar as penas
previstas nos estatutos
[10].
Na assembleia
geral do dia 19 de Dezembro de 1936, é levantada a questão de serem as
deficiências do projecto e relatório elaborado pelo sindicato para a
captação e condução da água desde o norte da ilha, as razões que
estavam por detrás destes atrasos e nomeadamente, da atribuição do
subsídio e do devido empréstimo financeiro. Daí que, dada a
impossibilidade do sindicato efectuar por sua conta a obra em causa,
um dos sócios, propusesse que o sindicato requeresse ao governo que
estendesse aos arquipélagos da Madeira e Açores as vantagens que pela
lei, já estavam sendo concedidas pela Hidráulica Agrícola ao
continente e uma vez essa extensão feita, tentasse que o melhoramento
em questão fosse executado pelo Governo e se possível que fosse o
Sindicato indemnizado pelas despesas já feitas, ou então que, o
sindicato entrasse em negociações com a Comissão Administrativa da
Junta Geral do Distrito do Funchal, afim desta entidade tomar à sua
responsabilidade a execução do referido melhoramento e indemnizasse o
sindicato. Contudo, esta proposta, apesar de ter sido alvo da criação
de uma comissão para o seu estudo, não chegou a ir em frente. Em vez
disso, esta comissão também mandatada para o efeito, adquiriu, em nome
do sindicato dois terrenos na freguesia do Seixal, no montado da Rentroia, com suas nascentes, à firma Rocha Machado e Cª. do Funchal,
aquisição que mais tarde envolverá o sindicato num processo judicial,
em virtude de tal terreno se encontrar na situação de domínio público
e por esse facto não poder ser alvo de venda por particulares.
Entretanto informações,
provenientes de Lisboa, de que o processo de concessão das águas
parecia estar em bom andamento, continuavam a chegar periodicamente ao
sindicato sem que, no entanto, tal desejo se concretizasse
[11],[12],[13],[14].
Em Outubro de 1938, o projecto da concessão das águas já se encontrava
aprovado por todas as repartições do estado, por onde havia passado
para análise, faltando unicamente o despacho do Ministro do Comércio,
situação dependente de uma reunião de um engenheiro nomeado para vir à
Madeira estudar esse assunto
[15].
De sindicato
a
Associação
de regantes
Em 2 de Julho
de 1939, perante um ofício da Direcção Geral dos Serviços Agrícolas e
a obrigatoriedade de deliberar sobre a integração ou não dos
sindicatos agrícolas nos novos Grémios da Lavoura a serem criados em
cada concelho, os sócios do sindicato, numa altura em que parecia
estar para breve a autorização para que se iniciassem os trabalhos da
levada, deliberou a sua integração no Grémio da Lavoura do concelho de
Câmara de Lobos que se haveria de constituir.
Contudo, esta
integração nunca se concretizará e, em vez dela, os sócios do
sindicato, são obrigados a se transformarem em Associação de Regantes
e Beneficiários do Concelho de Câmara de Lobos. Efectivamente, em
Setembro de 1939, o sindicato é informado da determinação do Ministro
da Agricultura, veiculada, por despacho de 4 de Setembro desse ano, no
sentido de ter de proceder a uma revisão dos seus estatutos, de forma
a harmonizá-los com os princípios estabelecidos no Decreto 29.653 de
16 de Maio de 1938, devendo também passar a denominar-se de Associação
de Regentes e Beneficiários de Câmara de Lobos.
Com este objectivo, os sócios do
sindicato, reunem-se no dia 30 de Junho de 1940, em assembleia geral
extraordinária, e aprovam por unanimidade o projecto dos novos
estatutos e denominação. Contudo, apesar de, conforme noticiou O
Jornal em 27 de Julho de 1940, terem os novos estatutos seguido
para Lisboa, afim de serem submetidos à aprovação superior, a situação
foi-se arrastando e, em Maio de 1943, ainda os novos estatutos não
haviam merecido aprovação superior, o que só ficaria esclarecida no
mês seguinte. Reunidos, em assembleia geral, no dia 20 de Junho, os
sócios, na sequência de directrizes entretanto recebidas da Direcção
Geral dos Serviços Agrícolas, deliberam sobre a transformação do
sindicato, já não em Associação de Regantes, mas em Cooperativa
Agrícola dos Campos de Regadio de Câmara de Lobos, conforme despacho
ministerial de 10 de Dezembro de 1941
[16].
A CAHM
assume
Iniciativa
do sindicato
Em 2 de Maio de
1943, os sócios do sindicato são colocados ao corrente da aprovação,
por parte do governo, de um relatório elaborado por uma missão técnica
que se havia deslocado à Madeira para tratar de assuntos
hidro-eléctricos e que iria ser encarregada uma entidade para dar
execução às respectivas obras e sensivelmente a partir desta data e
até 1947, o sindicato entrou num período de completa inactividade. O
sindicato havia afinal sido ultrapassado no objectivo porque durante
tantos anos havia lutado.
Efectivamente,
na sequência do estado elaborado essa missão técnica surgiria a
projecto da levada do norte, da autoria do arquitecto Amaro da Costa e
cuja execução estaria integralmente a cargo do governo.
A venda de
direitos
sobre ás
águas
No dia 3 de
Agosto de 1947, na sequência de um ofício remetido à Cooperativa pela
Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira (C.A.A.H.M.),
datado de 24 de Junho, realizou-se uma assembleia geral para informar
os sócios da intenção desta Comissão em comprar à Cooperativa todos os
direitos adquiridos sobre as águas e previstos no alvará de 12 de
Novembro de 1927, pagando simultaneamente, o projecto e algumas verbas
já adiantadas.
Após uma
contestação inicial, devido ao baixo valor atribuído ao projecto,
41.000$00, (valor oficial que não foi da responsabilidade da C.A.A.H.M.),
foi decidido dar plenos poderes ao presidente da Direcção, Dr. João
Artur Soares Henriques para assinar o acordo entre o Sindicato e a
C.A.A.H.M. para a cedência dos direitos que aquele detinha nas águas
concedidas.
Autorizado pela
assembleia geral, o presidente do Sindicato, Dr. João Artur Soares
Henriques, assinava, em 12 de Agosto de 1947, o acordo amigável entre
a associação que representava e a C.A.A.H.M., cedendo todos os
direitos adquiridos ao aproveitamento das águas das ribeiras do
Inferno, Malhada e Partilha, pela importância de 93.434$46. Este valor
apresentado pelo Sindicato, decorria da quantia de 86.434$46, onde
eram incluídos juros de cinco anos, à taxa de 5% e mais a dívida a
João Ricardo Ferreira César, no total de 7.000$00.
Este acordo foi
homologado pelo Ministro das Obras Públicas, em 12 de Setembro
seguinte, tendo o pagamento ao Sindicato tido lugar no dia 7 de
Novembro de 1947. Desse modo, terminava o Sindicato Agrícola de Câmara
de Lobos a sua pretensão de transportar águas do norte da ilha para
regadio de terrenos do sul.
A extinção
do sindicato
Cerca de um ano
depois, no dia 9 de Maio de 1948, nova assembleia geral do Sindicato é
convocada. Desta vez para o dissolver, pois não se justificava
perpetuar a sua continuidade por os objectivos que tinham estado na
base da sua criação estarem ultrapassados e o Sindicato não ter mais
qualquer outra finalidade no campo para que fora constituído.
Deste modo, foi
nomeada uma comissão liquidatária composta pelo presidente da
assembleia geral e pelos presidente e tesoureiro da Direcção,
respectivamente, padre António Pinto da Silva, Dr. João Artur Soares
Henriques e João Ricardo Ferreira César. Ficou aprovado pelos sócios
presentes que pagas as dívidas, o saldo sobrante seria entregue à
Escola de Artes e Ofícios.
No dia 4 de Julho seguinte, foi
realizada a última assembleia geral do Sindicato para proceder ao
exame das contas apresentadas pela comissão liquidatária. Das
importâncias recebidas, deduzida a longa lista de pagamentos, restou
um saldo de 3.623$70, que foi entregue, como estava deliberado à
Escola, atrás citada.
Nesse dia 4 de
Julho de 1948, morreu definitivamente, o Sindicato Agrícola de Câmara
de Lobos, criado no velho sonho madeirense de aproveitar as águas do
norte da ilha para regar o sul.
Mas a ideia,
concretizada de outro modo, teve a sua realização.
Inauguração
da
levada do
norte
No dia 1 de Junho de 1952,
inaugurava-se a Levada do Norte, concretizando-se, assim, um velho
sonho das populações de Câmara de Lobos e que consistia na captação e
aproveitamento das águas do norte da ilha, ideia que já tinha
conduzido a, pelo menos duas tentativas anteriores, para a sua
concretização: uma feita em 1924, pela firma F. F. Ferraz e outra
protagonizada pelo Sindicato Agrícola de Câmara de Lobos
[17].
Em relação a
estas iniciativas não poderemos deixar de referir o papel, a todos os
títulos meritório, desempenhado pelo
Dr. João Artur Soares Henriques e
por João Ricardo Ferreira César.
Ainda
que em O Jornal de 31 de Janeiro de 1925, o seu correspondente em
Câmara de Lobos, refira que se havia fundado havia 2 meses um
sindicato agrícola e que com apenas duas reuniões já contava com
200 sócios, não se sabe se este sindicato teria alguma relação com
o sindicato agrícola de Câmara de Lobos ou não, uma vez que não
voltam a surgir quaisquer referências posteriores relativamente à
sua existência.
Diário da Madeira, Funchal, 27.05.1930.
O Jornal, Funchal, 04.01.1930.
O Jornal, Funchal, 14.01.1930
Lei das águas públicas, a que se refere o Decreto com força de Lei
nº 5787 de 10 de Maio de 1919
Diário da Madeira, Funchal, 27.05.1930
Livro de Actas da Assembleia Geral do Sindicato Agrícola do
Concelho de Câmara de Lobos, sessão do dia 24 Janeiro de 1932.
Livro de Actas da Assembleia Geral do Sindicato Agrícola do
concelho de Câmara de Lobos, sessão do dia 26 Janeiro de 1936.
Livro de Actas da Direcção do Sindicato Agrícola do concelho de
Câmara de Lobos, sessão do dia 3 Maio de 1936.
Livro de Actas da Assembleia Geral do Sindicato Agrícola do
concelho de Câmara de Lobos, sessão do dia 7 Agosto de 1937.
Livro de Actas da Direcção do Sindicato Agrícola do concelho de
Câmara de Lobos, sessão do dia 1 Maio de 1938.
Livro de Actas da Direcção do Sindicato Agrícola do concelho de
Câmara de Lobos, sessão do dia 5 Junho 1938
Livro de Actas da Direcção do Sindicato Agrícola do Concelho de
Câmara de Lobos, sessão do dia 2 Outubro de 1938.
Livro de Actas da Assembleia Geral do Sindicato Agrícola do
Concelho de Câmara de Lobos, sessão do dia 20 de Junho de 1943.
Jornal da Madeira, Funchal, 01.06.1952.
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