TORRE
BELA, Condessa de
A condessa
de Torre Bela, D. Filomena Gabriela Correia Henriques de Bettencourt
Atouguia Brandão de Noronha, nasceu a 18 de Março de 1839, em Belém
(Lisboa), tendo falecido, aos 86 anos de idade, no Funchal, no dia 9
de Agosto de 1925, no seu Palacete do Largo do Colégio. Inicialmente
sepultada no cemitério das Angústias, os seus restos mortais, viriam,
posteriormente a serem transladados para jazigo no cemitério de Câmara
de Lobos.
Era filha
única (uma sua irmã havia falecido aos 2 anos de idade) e herdeira dos segundos viscondes de Torre Bela, João Correia
Henriques de Noronha Brandão e D. Isabel Joaquina Correia de Atouguia
e Vasconcelos, filha herdeira do morgado João Manuel de Atouguia,
Governador do forte da Conceição, do Ilhéu. Era neta do primeiro
visconde de Torre Bela,
Fernando
José Correia Brandão Bettencourt de Noronha Henriques
[1]
e de D. Emília Henriqueta Pinto de Sousa Coutinho, dama da ordem de S.
João de Jerusalém, filha dos primeiros viscondes de Balsemão.
Descendia
em linha recta do célebre companheiro de Zarco, João Afonso Correia,
que instituiu o morgadio da Torre em Câmara de Lobos, com nobres
casas e engenhos e fundou para jazigo de família a capela do Espírito
Santo na igreja paroquial de Santa Maria do Calhau, que a cheia de
1803 arrastou para o mar.
Deste foi
filho António Correia, a quem os contemporâneos chamavam o Grande,
pela sua riqueza e liberalidade tendo gasto mais de 20.000
cruzados no serviço de El-rei, pelo que, em 1509, teve a renovação do
fôro, de fidalgo, que pertencia a seus maiores. Morreu com mais de cem
anos e foi sepultado na capela de S. Sebastião de Câmara de Lobos. Um
bisneto deste e herdeiro dos vários vínculos instituídos pelos seus
ascendentes, de nome António Correia de Bettencourt, que nasceu em
1601 e faleceu em 1670, foi quem edificou a ermida de N. S. da Boa
Hora na Quinta da Torre.
A Condessa
de Torre Bela, casou em St. John's Wood Westminster a 15 de Setembro
de 1857, com autorização régia, com Russell Manners Gordon, súbdito
britânico, que pelo seu casamento haveria de assumir o título de 3.º visconde e
mais tarde, por Decreto de 6 de Setembro de 1894, haveria de ser
elevado à grandeza do Reino como 1.º conde de Torre Bela. Russell Manners Gordo n
[2] nasceu na Quinta do Monte a 23 de Novembro de 1829.
Era filho de Diogo David Webster Gordon e de D. Teodósia Arabela
Pollock.
Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real e Comendador de
Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
Do casamento da Condessa de
Torre Bela com Russel Manners Gordon haveria:
1. Gabriela Maria Gordon Henriques de
Noronha (1861).
1.
Isabel Constância Gordon Henriques de Noronha (1863) cc Charles
van Beneden cc Joseph Gabriel Bolger.
1.
James Murray Kenmure Gordson Correia Henriques de Noronha, 4º visconde
da Torre Bela.
Na casa dos
Correias Henriques incorporaram-se vários morgados, entre os quais os
dos Brandões, padroeiros da igreja e hospício do Carmo e senhores da
capela da Alegria, em S. Roque, sendo considerada a mais rica, logo
depois da do Conde de Carvalhal. O seu solar do Funchal era na casa à
rua do Comércio, actual rua dos Ferreiros, que ainda hoje ostenta,
sobre a porta principal, as suas armas esculpidas em pedra. A condessa
de Torre Bela, residia o antigo solar de Henrique Henriques de
Noronha, grande genealogista e historiador madeirense, que a condessa
também representava e que fora completamente reedificado por seu
marido.
O título de
visconde de Torre Bela foi concedido pela primeira vez em 17 de
Dezembro de 1812, sendo sucessivamente renovado em 14 de Julho de
1823, na pessoa de João Correia Brandão Henriques de Noronha, a 11 de
Setembro de 1857, na pessoa da condessa de Torre Bela, D. Filomena
Gabriela Correia Henriques de Bettencourt Atouguia Brandão de Noronha,
e em 28 de Março de 1889, no seu filho Diogo Murry Kenmure Gordon
Correia Henriques.
Por
Decreto de 6 de Setembro de 1894, Russell Manners Gordon, marido de D.
Filomena Gabriela Correia Henriques de Bettencourt Atouguia Brandão
de Noronha viria a ser elevado à grandeza de conde, passando a 1.º
conde de Torre Bela e 3.º visconde pelo seu casamento.
Diogo Murry Kenmure Gordon Correia Henriques,
4.º visconde de Torre Bela, foi diplomata e faleceu
solteiro e sem descendência, motivo pelo qual, a representação desta
antiga casa viria a passar para o seu sobrinho, Dermot Bolger, filho
de sua Irmã D. Isabel Constança, sem que o título de visconde tivesse
sido revalidado.
Herdeira
dum nobilíssimo e muito prestigioso nome e senhora duma avultada
fortuna, a condessa de Torre Bela foi, em vida pela sua representação
social, uma primacial figura no meio madeirense. As suas festas, dum
cunho genuinamente aristocrático, ficaram tradicionais no meio
elegante, marcando-se a entrada no Palacete do Colégio, recheado de
preciosas jóias artísticas, como um verdadeiro grau de distinção. Por
ali passaram nos seus bailes, nos seus lanches, ou nos seus elegantes
chás, os mais categorizados nomes do meio e as mais representativas
figuras nacionais e estrangeiras que, no seu tempo, visitaram esta
ilha.
À sua
nobreza de linhagem correspondia uma vincada fidalguia pessoal, na
extrema delicadeza das maneiras e na prática dos seus elevados
sentimentos.
A sociedade madeirense ficou a dever à
condessa, vários actos de caridade e de assistência, um dos quais
seria a oferta da sua propriedade Quinta de S. Filipe para a
instalação da Escola de Artes e
Ofícios
[3].
Os Gordons eram de origem escocesa. Seu pai era David Webster
Gordon, que foi o primeiro desta ilustre família que veio para
esta ilha, tendo sido sócio da importante firma exportadora de
vinhos Cossart, Gordon & e C.º, tendo construído a Quinta do
Monte, que em 1925, pertencia à família Rocha Machado. Seu trisavô
era o célebre Lord Kenmure, que foi degolado na Torre de Londres
em 24 de Fevereiro de 1716 por ordem de Jorge I, por ser
partidário de James Stewar, pretendente à coroa de Inglaterra.
Eram seus tios, Murry Gordon, almirante da marinha inglesa e
Guilherme Gordon, coronel das Guardas da Rainha (Scots Fusilier
Gards) que foi ferido e ficou prisioneiro na batalha de Talavira
(Guerra Peninsular).
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