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A LENDA DE S. JORGE E O DRAGÃO
O culto deste santo parece ter sido introduzido em Portugal pelos cruzados ingleses que auxiliaram D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa, em 1147. Mas só mais tarde, segundo se crê no reinado de Afonso IV, se passou a usar a invocacão de S. Jorge como grito de guerra contra os inimigos, em substituição ou a par com o brado de "Santiago".
É bem conhecido o facto de Nuno Álvares Pereira ser profundo devoto deste mártir, tanto que é sabido ter mandado pintar na sua bandeira a figura do santo. E também D. João I tinha especial devoção por S. Jorge que, como se sabe, foi tido como factor religioso da vitória em Aljubarrota.
Pouco se sabe, historicamente, da vida deste santo. Diz-se que nasceu na Capadócia, de uma ilustre família, distinta não só pela nobreza mas ainda pelo zêlo com que professava e defendia a religião cristã. Pela sua valentia, cultura e aprumo, ganhou muito novo os favores do imperador Deocleciano, que o nomeou mestre-de-campo.
Quando o imperador decretou a perseguição aos cristãos, Jorge, que, apesar dos seus vinte anos, pertencia, por direito próprio do cargo que detinha, ao Conselho de Estado, fez-lhe sentir quanta injustiça havia naquela situação. O outro, espantado com esta inesperada oposição por parte do jovem general, mandou-o supliciar. Contudo, milagrosamente, a roda de agudas pontas que deveria retalhar-lhe o corpo deixou-o incólume, como se nada se tivesse passado. Mas, depois de muitas vicissitudes e perseguições, Jorge acabou por ser decapitado no dia 23 de Abril do ano de 290, segundo uns, ou 303, de acordo com outros.
Foi a tradição medieval que acrescentou a estes dados a história da morte do dragão.
Havia em Silene, cidade da Líbia - diz essa tradição -, um terrível dragão, ao qual o povo oferecia, todos os dias, duas ovelhas. Certa vez, porém, foi necessário oferecer-lhe um sacrifício humano que melhor o apaziguasse, e foi escolhida, à sorte, a filha única do Rei.
Jorge apareceu na cidade no momento em que iam imolar a criança e imediatamente se ofereceu para a libertar e livrar a cidade do monstro.
Montou a cavalo e investiu contra o dragão, ferindo-o com a lança. Em seguida, ordenou à menina que tirasse o cinto e o lançasse ao pescoço do monstro, a fim de o conduzir à cidade.
Uma vez ali chegados, ele montado no seu cavalo branco, ela levando o dragão por aquela trela improvisada, Jorge obrigou os habitantes a prometerem receber o baptismo e matou o dragão. Impressionados com o prodígio, o Rei e o povo de Silene fizeram-se cristãos, mas, pouco tempo depois, Jorge era martirizado.
Os habitantes de S. Jorge, perto de Aljubarrota, em Portugal, transpuseram a tradição do mártir do Oriente para a sua terra e contam do modo que se segue a história do dragão.
Num local hoje impossível de precisar, tinha S. Jorge, como oficial romano, o seu aquartelamento. Costumava mandar os soldados darem de beber aos cavalos à "Fonte dos Vales", situada num leito do ribeiro da Mata, mais ou menos a leste da capela que mais tarde lhe dedicaram.
Acontecia, porém, que no momento em que os cavalos se dessedentavam, surgia do interior da fonte um enorme dragão, que, urrando temivelmente, acabava por os devorar a todos.
Pouco a pouco, os sobreviventes destas carnificinas recusavam voltar à fonte habitada pelo dragão, com medo de também eles serem devorados. As suas queixas chegaram aos ouvidos do general, que montou no seu cavalo e se dirigiu à "Fonte dos Vales". Deixou o cavalo beber, para fazer sair o monstro, e assim que a fera arremeteu cravou-lhe "um ferro" nas goelas e matou-a.
Deste modo explica a tradição dos povos da região de Aljubarrota a imagem medieval de S. Jorge que guardam na capelinha local, que representa o dragão debaixo das patas do cavalo do santo.
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