AVALIAÇÃO DA CRISE
A grande abertura dos mercados financeiros mundiais aos investimentos globalizados, elemento essencial aos modelos econômicos adotados pela maioria do países emergentes, começa a demonstrar a sua vulnerabilidade.
Graças ao prolongado período de estabilidade e crescimento econômico vivido em todo o mundo, os capitais alocados em investimentos de risco aumentaram consideravelmente. Com isto, muitas instituições financeiras se tornaram grandes potências financeiras, com o controle de imensos volumes financeiros e o um poder econômico maior que muitas nações. Como a grande maioria destas instituições (corretoras, administradoras, bancos, etc.) trabalham com operações alavancadas em derivativos e futuros de ativos financeiros, com o objetivo de atingir performances e rentabilidades cada vez mais atrativas e lucros com crescimento exponencial, acabaram se tornado ameaças à própria estabilidade que os motivaram.
Quando as oportunidades de lucros parecem estar exauridas ou quando a realidade se mostra aquém das expectativas, surgem os momentos de incerteza e uma inexorável correção acontece. Dependendo do grau de alavancagem das posições liquidadas, dos volumes financeiros envolvidos e do impacto que estes movimentos de capitais provoquem na economia dos países alvos, uma crise pode acabar se instalando.
Esta última crise é certamente mais grave que as anteriores (México e Tailândia), tanto por sua abrangência global, quanto pelos efeitos diretos sobre o Brasil.
A combinação de uma séries de fatos poderão agravar ainda mais a situação, tornando ainda imprevisível a sua duração e gravidade.
Entre eles podemos citar:
Para conter o ataque especulativo, o nosso governo adotou o aumento dos juros como medida de emergência. Já planeja também uma série de medidas fiscais e cortes orçamentários para tentar reverter as expectativas de déficit e voltar a atrair investimentos.
É claro que a volta dos investimentos dependem de uma séries de fatores. O prazo dos investimentos e a confiança dos investidores é diretamente proporcional a consistência e a durabilidade das medidas adotadas pelos países, na solução de seus problemas estruturais. Por isso, não podemos acreditar num retorno rápido dos investimentos, antes que os efeitos das medidas que serão adotadas se mostrem duradouros e eficazes.
Já é público que o governo está preparando um conjunto de medidas com o objetivo de reequilibrar as contas públicas e melhorar a nossa balança comercial.
É desejável que o aumento de impostos não sejam a única alternativa objetiva que o governo ofereça a sociedade para atingir o equilíbrio de suas contas. Cortes excessivos em investimentos sociais e estratégicos, combinados com uma política recessiva, podem minar ainda mais a popularidade do governo, reduzindo suas chances para a reeleição e não trazendo qualquer aumento na credibilidade do país no exterior.
Já se fala na demissão de 55.000 servidores, cortes de até R$2Bi para 1997 e de até R$10Bi para 1998, aumento do impopular CPMF de 0,2% para 0,25%, aumento de impostos sobre produtos supérfluos, corte de subsídios, entre outros.
Como foi observado nesta última sexta-feira, quando o BC vendeu quase $1Bi para manter o câmbio no topo da banda, torna-se desprezível uma economia mensal de R$2Bi.
Considerando que o país gasta por mês quase $1Bi de suas reservas com o déficit da balança comercial, estas medidas deveriam ser combinadas com alguma medida também no cambio. Por tudo isso muitos analistas consideram inevitável uma desvalorização do Real em torno de 5% a 10%.
É questionável os efeitos de uma reajuste cambial sobre a inflação, desde que combinado com um aumento substancial nos juros. Os efeitos deste ajuste seriam mais positivos que negativos.
Com o Real desvalorizado:
PS: Pergunte a qualquer um se prefere
o seu emprego ou uma alta da inflação ?
O momento é propício. Se o câmbio já estivesse ajustado não teríamos uma ferramenta tão apropriada para usar agora . Se o momento passar será tarde demais.
Os efeitos desta crise vão continuar. Os seus reflexos já começam a atingir mais seriamente economias como a japonesa e a coreana. O grande volume de investimentos japoneses nos EUA e vice-vesa, nos leva a crer que as bolsas americanas não sairão ilesas.
O mercado norte americano, por seu tamanho e mecanismos de defesa, leva mais tempo para reagir aos reflexos sísmicos externos.
É previsível que os efeitos da crise, que se iniciou na Ásia, ainda continue trazendo problemas para todas a economias mundiais.
No curto prazo, os poucos mecanismos de defesa são na verdade detonadores de novas crise e acabam acirrando a competição pelo capital, realimentando as crises. Uma corrida por maiores taxas de juros ou moedas mais baratas pode nos levar a uma verdadeira crise deste modelo liberal. Algumas pessoas estão descobrindo agora que o capital não tem ética.
Como resultado desta crise, acreditamos que deverão ser criados novos mecanismos de defesas para as economias nacionais contra os ataques especulativos das novas potências econômicas mundiais, as instituições financeiras.
Entre as medidas que poderão ser tomadas neste sentidos sugerimos:
PROJEÇÕES TÉCNICAS
Considerando os movimentos dos preços das ações até agora, detectamos uma semelhança muito grande com os movimentos ocorridos nas crises anteriores.
Admitindo que as crises podem ter intensidades diferentes, consideramos possível que o IBVSP apresente o seguinte comportamento no curto prazo:
Para o Dow Jones prevemos uma progressiva realização de lucros até o nível de 7000 pontos.
Vamos aguardar os acontecimentos desta semana para novas projeções e indicações.
RECOMENDAÇÕES
Sem dúvida as atenções
do mundo estão voltadas para o Brasil. Nesta última
sexta-feira a ADR de Telebras foi o segundo papel mais negociado
na bolsa de NY. Por outro lado a nossa atenção está
voltada para o mundo. O agravamento da crise no mercado brasileiro
pode trazer efeitos negativos para todas as bolsas da América
Latina.
CURTO PRAZO (1 a 2 meses):
Consideramos que o mercado ainda poderá apresentar quedas ou fortes altas nos próximos dias em função das medidas que serão anunciadas pelo governo e dos movimentos do mercado internacional, principalmente o americano.
Apesar de ser possível uma futura mini-desvalorização do Real, não recomendamos qualquer tipo de investimentos em dólar. Consideramos que a reação a este tipo de medida será melhor aproveitada com investimentos no próprio mercado de ações.
Na próxima quarta-feira (12/11/97) o FED deverá anunciar sua política de juros o que poderá acalmar o mercado já que, acredita-se que o momento não é propício para aumentos nos juros. O mercado deverá continuar livre, promovendo sua auto-regulação para não agravar a situação das bolsas nos EUA.
O nosso mercado só voltará
a encontrar a confiança dos investidores quando reduzir
sua volatilidade e começa a apresentar movimentos mais
consistentes.
MÉDIO PRAZO (2 a 6 meses):
Os atuais níveis do mercado são sem dúvida muito atraentes para investimentos de médio prazo. Raramente o investidor pode encontrar as ações em níveis tão baixos e oferecendo por isso, um grande potencial de retorno. A clássica recomendação de comprar na baixa e vender na alta é a mais apropriada para os investidores mais pacientes.
Os principais indicadores técnicos
ainda estão vendidos no médio prazo, por isso recomendamos
muita cautela em qualquer antecipação de compras.
LONGO PRAZO (1 a 4 anos):
Os mercados mundiais deverão
encontrar um novo ponto de equilíbrio após todos
estes ajustes em juros e cambio. Acredita-se que os juros mundiais
poderão subir, o que poderá resultar num novo ciclo
recessivo. Os efeitos desta crise poderão ser sentidos
ainda por 1 ou 2 anos.
FIM.