Brazilian Stock Market Report

Relatório do Mercado Acionário Brasileiro

No. 26 - 25/01/1998

Paulo Romero Zanconato Pinto

SEÇÕES DESTA EDIÇÃO


OS ÍNDICES DO MERCADO ACIONÁRIO

Na tentativa de retratar o comportamento médio dos preços das ações e servir de parâmetro para identificação das tendências gerais de um mercado, foram desenvolvidos os índices do mercado acionário, que hoje, são considerados como autênticos termômetros das expectativas pelos investidores em relação ao futuro desempenho da economia.

A Dow Jones & Co., fundada em 1882 por Charles Henry Dow e Edward Jones com a finalidade de divulgar cotações de ações e notícias econômicas do mercado de New York, lançou 3 de julho de 1884 o primeiro índice do mercado acionário divulgado no Custumer's Afternoon Letter, um boletim de notícias de duas páginas. Charles H. Dow fez um lista de 11 ações, somou suas cotações de fechamento e dividiu o total por 11 e produziu a média aritmética do mercado que mais tarde se tornaria parte da linguagem das finanças mundiais.

O pioneiro índice do mercado acionário de New York não primou pela metodologia de construção, nem poderia ser diferente, pois a cem anos não se dispunha nem de maquinas mecânicas de cálculos, sendo o cômputo dos primeiros índices realizados à mão pelo próprio Dow.

Quase 12 anos após da primeira divulgação, em 26 de maio de 1896, foi criada uma média específica para ações emitidas por empresas industriais, o verdadeiro Dow-Jones Industrial Average (DJIA) que hoje constitui o principal e mais popular índice de ações em todo o mundo. A única correção introduzida na metodologia foi em virtude dos splits que foram ocorrendo com as ações selecionadas. Foi então introduzido um multiplicador para anular o efeito da variação brusca de preços provocada por estes splits.

Podem ser apontadas várias críticas à metodologia do DJIA, mas devemos reconhecer que qualquer alteração na forma pela qual este índice é computado comprometeria sua continuidade centenária. Além das críticas sobre a representatividade do índice devido a sua composição, que desde 1920 está limitado a 30 companhias, com critérios subjetivos de inclusão ou exclusão, acaba existindo um tipo de ponderação questionável em função da magnitude das cotações das ações e não de critérios com o liquidez ou negociabilidade.

Em busca de uma melhor representação da atividade econômica dos EUA através de uma amostra mais ampla de ações, da composição setorial da economia e da ponderação pelo valor de mercado das empresas componentes da amostra foi criado, em 1923, o segundo índice de mercado da história pela agência de notícias e análise a Standard & Poor's. Em 1/7/1976 foi estruturado o S&P500.

Mais recentemente foi lançado o New York Stock Exchange Composite Index NYSE (28/05/1964) que inclui todas as ações negociadas nesta que é a mais importante e tradicional bolsa de valores do mundo. No índice NYSE as ações são ponderadas de acordo com os respectivos valores de mercado das empresas emissoras.

Em 4/9/1973 foi introduzido o AMEX pela American Stock Exchange.

O Índice NIKKEI-225 foi implantado na Bolsa de Valores de Tokyo em 16/5/1946 e foi substituido pelo índice TOPIX em 1969. Em 1975 o jornal Nikon Keizai Shimbun adquiriu os direitos para o cálculo e divulgação do NIKKEY-DOW Jones Average que foi mais tarde rebatizado de Nikkei Stock Average. A metodologia do índice NIKKEI é semelhante ao DJIA, ou seja reflete a média aritimética das variações de preços das ações que compoem sua carteira. Como sabemos, essa média acaba por ponderar as ações pelos preços o que não encontra nenhuma justificativa lógica. De qualquer o NIKKEI tem a seu favor sua composição mais variada (225 ações), incomparavelmente maior que seu congênere americano o DJIA (com apenas 30 ações em sua carteira).

O Financial Times Index (FT-30) é o mais antigo índice do mercado londrino cuja a base 100 é de 1/7/1935. Em 3/1/1984 foi lançado o FT-SE 100, índice também desenvolvido pelo Financial Times e pela Bolsa de Valores de Londres. O novo índice tem base 1000 e corresponde a média geométrica dos preços de um conjunto de 100 ações de maior capitalização entre as mais de 2000 ações registradas nessa bolsa.

Finalmente temos o Índice BOVESPA da Bolsa de Valores de São Paulo que começou a ser computado em 2 de janeiro de 1968 tendo sido estabelecido o valor base 100 para sua carteira teórica. Devido as elevadas taxas de inflação que caracterizaram a economia brasileira entre 1968 e 1994 foram cortados 11 zeros desde a sua implantação.

O IBOVESPA tem a NEGOCIABILIDADE como conceito central na metodologia de construção e manutenção de sua carteira. O índice de negociabilidade (NEG) é definido pela fórmula:

NEG = RAIZ [ ( n / N ) * ( v / V ) ]

Onde:

n = Número de negócios (mercado a vista) com a ação no período de 12 meses
N = Número total de negócios da bolsa no mercado a vista no período de 12 meses
v = Volume (em moeda local) dos negócios com a ação no mercado a vista em 12 m.
V = Volume total ( em moeda local ) realizados na bolsa ( a vista ) em 12 meses

Assim os critérios metodológicos de construção e manutenção da carteira teórica do IBOVESPA são:

  1. Participam da carteira teórica do Índice BOVESPA as ações de maior negociabilidade nos últimos 12 meses e que, em conjunto, representem pelo menos 80% da soma dos índices de negociabilidade apurados para todas as ações negociadas no mercado a vista nos pregões deste período na Bolsa de Valores de São Paulo.
  2. Exige-se que cada ação selecionada pelo critério 1 tenha participado de pelo menos 80% dos pregões no período considerado e que seu volume de negócios no mercado a vista ( em moeda local ) corresponda a mais de 0,1% do volume total de negociações no mercado a vista da BOVESPA no mesmo período.
  3. A Constituição teórica do índice é refeita a cada quatro meses no primeiro dia útil de cada quadrimestre do ano, com a finalidade de atualizar a representatividade da amostra. Nestas atualizações, não há perda de continuidade, pois tudo se passa como se a carteira antiga fosse realizada no dia da mudança e os recursos apurados investidos na nova carteira. Na abertura do pregão do dia da mudança, evidentemente, as carteiras antiga e nova tem o mesmo valor.
  4. As ações componentes da carteira do índice têm suas participações estabelecidas pelos respectivos índices de negociabilidade. A participação percentual do investimento em determinada ação, em relação ao valor total da carteira, é dada diretamente pela relação percentual entre a negociabilidade da ação e o total das negociabilidades das ações selecionadas para participar da carteira. Em resumo a carteira do índice é ponderada pelo índice de negociabilidade das ações componentes. A conseqüência imediata deste critério é que o índice só manifesta qualquer alteração no mercado que se manifestem em prazos relativamente longos (12 meses).
  5. As quantidades teóricas de cada ação componente vão se alterando à medida que elas geram bonificações, splits, distribuição de dividendos ou direitos de subscrição. Tudo isso sem afetar o valor total da carteira. Garantindo que apenas as flutuações das cotações decorrentes das variações de oferta e procura das ações afetarão o valor do índice.

Os critérios metodológicos envolvem ainda uma equação para o cálculo do preço das ações ex-direitos que é a seguinte:

Pex = ( Pcom + s * S - D) / ( 1+ b + s )

Onde:

Pex = Preço estimado da ação "ex-direitos".
Pcom = Preço de mercado da ação "com-direito".
s = Taxa percentual de aumento do capital por subscrição.
S = Preço de subscrição por ação em moeda local.
D = Montante dos dividendos distribuidos por ação, em moeda local.
b = Taxa percentual de bonificação ou split.

A metodologia do IBOVESPA foi baseada no Índice da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, desenvolvido pelo Prof. Mário Henrique Simonsen no ínicio da década de 60. Em 1966 o economista Luiz Sérgio Coelho de Sampaio, concebeu e implantou várias anterações no antigo índice da BVRJ, tornando variável o número de ações componentes da carteira. Em janeiro de 1967 inicia-se a séria do IBV da BVRJ cuja a metodologia foi adotada pela BOVESPA na implantação de seu índice. A partir de 1968 as demais bolsas brasileiras passaram a adotar a mesma metodologia para seus respetivos índices.

Hoje, com sua longa série histórica, o IBOVESPA se tornou uma espécie de Dow-Jones brasileiro, sendo respeitado por sua metodologia historicamente consistente.

Como se pode constatar, pela breve análise e comparação que realizamos, não há índices perfeitos e intocáveis, mas a tradição e a continuidade de suas metodologias são fatores determinantes de seu sucesso junto ao grande público investidor do mercado mundial, o que lhes confere notório e reconhecimento.


A TELEBRAS FORA DO IBOVESPA

Graças ao modelo de privatização que será adotado no setor de telecomunicações, onde a holding TELEBRAS será dividida em 3 novas holdings regionais, provavelmente veremos uma grande alteração na composição acionária do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Aproveitando a descrição da seção anterior, fica claro que, com a cisão da TELEBRAS, ficará inviabilizado o cálculo do índice de negociabilidade das novas holdings. Qualquer tipo de manipulação dos critérios metodológicos do IBOVESPA, para permitir o cálculo do índice de negociabilidade (no período de 12 meses) de papeis que estão surgindo no mercado poderá representar uma quebra de regras e uma séria perda de continuidade do índice. Por outro lado, termos uma mudança tão grande nos parâmetros de nosso mercado, retirando a estrela principal do índice, pode tornar o IBOVESPA pouco representativo das oscilações importantes que o mercado poderá sofre em função das privatizações do setor de telecomunicações, que só passariam a ser refletidas num prazo de 12 meses. Mesmo as subsidiárias perderiam suas participações no IBOVESPA, com uma única exceção que seria a TELESP. Esta última se converterá numa holding independente, com características semelhantes a estatal atual, possibilitando algum tipo de conversão. Cabe lembrar que, em todas as situações anteriores de cisão as empresas foram retiradas da composição da carteira teórica do IBOVESPA.


DUVIDAS SOBRE A PRIVATIZAÇÃO

A preocupação dos administradores de carteiras e acionistas minoritários, posicionados em ações da TELEBRAS e suas subsidiárias, está aumentando com a indefinição de alguns detalhes do processo de privatização do setor de telecomunicações:

  1. Com a fusão das empresas estaduais, por que valor e como serão convertidas as suas ações nas respectivas ações das 3 novas holdings regionais ? Pelo valor de mercado, pelo valor patrimonial ou por uma média ? Em qualquer dos casos parece haver uma perda em função de que uma parte das empresas, que já tem suas ações negociadas em bolsa, estão com seus valores de mercado acima de seus valores patrimoniais. Por outro lado, um outro conjunto de estatuais não tem suas ações cotadas no mercado.
  2. Para os grandes investidores: Como proteger suas grandes carteiras concentradas em TEL4 se o IBOVESPA e por sua vez o INDICE FUTURO, que serve de hedge para suas posições, deixarem de ter correlação com a TELEBRAS, quando esta for excluída da carteira teórica destes índices ?
  3. Qual será o papel da EMBRATEL após sua privatização ? Terá exclusividade na comercialização das ligações internacionais e interestaduais ?
  4. Qual o preço mínimo de venda, que será proposto pelo governo, para cada holding.
  5. Serão resolvidas todas as pendências judiciais antes do meado de 1998 para viabilizar estas privatizações antes do final do atual governo ?


RECOMENDAÇÕES:
  1. O agravamento dos escândalos envolvendo de Bill Clinton, a crise com o Iraque, os resultados pouco entusiasmantes das empresas americanas, os efeitos de longo prazo decorrente da crise cambial mundial poderão ser fatores que poderão confirmar os sinais de baixa nas bolsas americanas. Os efeitos destas quedas poderão ser muito grandes no mercado brasileiro.
  2. Os fatos ocorridos na semana passada envolvendo a divulgação dos resultados da TELEBRAS foram muito negativos. A forma como estes resultados chegaram ao público e as trocas de valores acabaram retirando todo o charme dos resultados apresentados.
  3. Percebe-se uma nítida migração das carteiras de TEL4 para uma posição em TLS4 em virtude das incertezas a respeito do futuro das ações da holding.
  4. Espera-se na próxima AGE da Telebras, que deverá ocorrer possivelmente ainda em janeiro, para definir a distribuição de dividendos, uma decisão sobre os recibos TEL5 que deverão ser convertidos, sem mais adiamentos, para TEL4
  5. Recomendamos uma especial atenção para os seguintes papeis:

Que poderão ser bastante interessantes se o mercado permanecer estável ou em alta e não se confirmando qualquer movimento baixista no mercado americano.


FIM.

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