Ventura Ledesma Abrantes foi uma daquelas raras figuras de patriota que
a uma causa dedicou toda a sua alma, quiçá, a sua própria
vida: a recuperação para Portugal da sua Olivença
natal.
Seu pai, barbeiro
na Vila de Olivença, era filho de uma
portuguesa, natural de Torre das Vargens, que emigrara para Espanha, casando
em Barcarrota (Província de Badajoz) e fixando-se mais tarde em
Olivença,
mas sem nunca abandonar a nostalgia da sua doce terra alentejana.
É, pois,
a avó paterna de Ventura Ledesma que instiga o idealismo irredentista
no espírito da família Abrantes.
Desde muito jovem
que Ventura Abrantes se habitua a frequentar as terras alentejanas da raia.
Contacta com as suas gentes, nutre amizades.
Pela sua posição
pró-portuguesa os Abrantes são malquistos pelas autoridades
oliventinas. Não se fazem esperar represálias e a família
toma a decisão de se deslocar definitivamente para Lisboa.
Uma vez na sua Pátria
de eleição, livre dos atropelos e dos vexames a que tinha
sido sujeito na sua própria terra, o seu espírito irrequieto
e voluntarioso condu-lo à fundação sucessiva de diversas
instituições beneméritas, de utilidade pública
e social.
É assim
que o seu nome aparece ligado à criação em 1912 da
Universidade Livre de Lisboa, obra de Reinaldo Ferreira.
Segue-se a Lutuosa
Nacional com sede no Porto. A ele, entre outros, se deve a abertura em
1931 da primeira Feira do Livro de Lisboa, para o que, certamente, não
seria alheio o facto de ele próprio ser o Presidente da Associação
da Classe de Livreiros de Portugal (embrião da actual A. P. E. L.).
Ainda na década
de 30 é nomeado representante de Portugal nas Exposições
Livreiras de Sevilha, Barcelona e Florença.
Abre na Rua do
Alecrim, 80-82 a Livraria Oliventina e a Casa Editora Ventura Abrantes,
estimulando uma das tertúlias mais animadas do cosmopolita Chiado
onde pontificavam Teófilo Braga, António Sardinha e Egas
Moniz. Edita obras de grande fôlego como o "In Memoriam" de Camilo
Castelo Branco, "A Vida e Obra de Júlio Dinis" e a "Vida Sexual"
ambos do seu amigo Prof. Doutor Egas Moniz ou o emblemático "Como
Perdemos Olivença" do Prof. Doutor Queiroz Veloso entre outras.
Visto como uma personalidade algo singular, culto e activo, Ventura Abrantes
viria ainda a ser admitido na selectiva Sociedade de Geografia de Lisboa,
publicando na sua conceituada revista alguns trabalhos científicos
sobre Olivença.
Sob a sua égide é fundada nesta Sociedade a Sub-secção de Estudos Históricos de Olivença. Além de publicista de mérito, colaborou assiduamente em jornais e revistas de Lisboa e Porto muitas vezes sob o pseudónimo de João Coelho. Mas, seria,
indubitavelmente, a sua paixão pela famigerada "Questão
de Olivença" que o levaria à fundação do
Grupo
dos Amigos de Olivença (15 de Agosto de 1938) juntamente com
o então Tenente Humberto Delgado, Amadeu Rodrigues Pires e Francisco
de Sousa Lamy.
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![]() Porta do Calvário Por trás situava-se a casa de Ventura Abrantes |
O seu portuguesismo era de tal forma arreigado que, intercedendo junto do Ministro da Justiça de então, Dr. Cavaleiro Ferreira, consegue que seja concedida pelo Estado Português a cidadania portuguesa a todos os Oliventinos que o solicitem, sendo-lhes para isso averbado no respectivo Bilhete de Identidade a menção de "Português de Olivença".
Ventura Ledesma
Abrantes faleceu na sua residência do Estoril, sita na Travessa de
Olivença em 12 de Junho de 1956. Tinha 73 anos de idade.
![]() Azulejo existente na sua
vivenda no Estoril
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