O enterrado vivo
É sempre no passado aquele orgasmo.
É sempre no presente aquele duplo,
É sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra,
É sempre no meu tédio aquela fúria.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato,
sempre no meu tédio aquele aceno,
sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe,
sempre dentro de mim meu inimigo.
É sempre no meu sempre a mesma ausência...
Carlos Drummond de Andrade
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