Gosto de ti, ó
chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que
ninguém entende!
Da tua cantilena se
desprende
Um sonho de magia
e de pecados.
Dos teus pálidos
dedos delicados
Uma alada canção
palpita e ascende,
Frases que a nossa
boca não aprende,
Murmúrios por
caminhos
desolados.
Pelo meu rosto
branco, sempre frio,
Fazes passar o
lúgubre arrepio
Das sensações
estranhas,
dolorosas…
Talvez um dia
entenda o teu
mistério…
Quando, inerte, na
paz do cemitério,
O meu corpo matar
a fome às rosas!
Que nos morresse nos braços!
Florbela Espanca
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