Por Andres Martín Passaro
   

Jorge Luis Borges e Peter Eisenman
Narrativa e arquitetura

 

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O trabalho pretende fazer uma análise comparativa entre a obra do escritor Jorge Luis Borges e do arquiteto Peter Eisenman. Para isto foram escolhidas: "La casa de Asterión" que nada mais é que um conto do livro "El Aleph" de Borges , e "Guardiola House" , uma casa do arquiteto Eisenman.
F Deconstruction F. Deconstruction
Guardiola House

A idéia do trabalho é encontrar uma analogia entre ambas produções, idéia que surgiu a partir da leitura da crítica aos trabalhos de Peter Eisenman, onde se verificou uma similitude entre o pensamento deste arquiteto com o do escritor.

Desta maneira se procurou fazer uma leitura dos contos de Borges em vários livros buscando uma analogia com o trabalho e o pensamento de Eisenman. Após passar por vários textos do tipo "labirínticos ou abissais" (como observou Otilia Arantes ) chegamos a "La Casa de Asterión" dentro do livro "El Aleph".

Os projetos da década de 80' tem sempre uma forte chamada ao textual, tanto Eisenman como qualquer um que trabalha dentro destes parámetros precisam necessariamente iniciar as suas elucubrações a partir da escrita, e encontraram na literatura do absurdo, em alguns textos teóricos de autores Pos-Estruturalistas e até em textos escritos por eles mesmos uma fonte inesgotável de recursos para aplicá-los tanto ao ensino da arquitetura como as suas obras. Montaner sobre o asunto diz que tanto Bernard Tschumi, como John Hejduk (os quais classifica ao igual que Eisenman dentro da corrente da Nova Abstração Formal) propunham aos seus estudantes a criação de espaços a partir da leitura de Jorge Luis Borges, Marcel Proust, Thomas Hardy e outros.
David Harvey analisa mais a fundo esta questão ou mudança de comportamento na literatura;

"O romance pós-moderno,(...) caracteriza-se pela passagem de um dominante 'epistemológico' a um 'ontológico'. (...) isto (...) quer dizer uma passagem do tipo de perspectivismo que permitia ao modernista uma melhor apreensão do sentido de uma realidade complexa, mas mesmo assim singular à ênfase em questões sobre como realidades radicalmente diferentes podem coexistir, colidir e se interpenetrar. Em consequência, a fronteira entre ficção e ficção científica sofreu uma real dissolução, enquanto as personagens pós-modernas com frequencia parecem confusas acerca do mundo em que estão e de como deveriam agir com relação a ele. A própria redução do problema da perspectiva à autobiografia, segundo uma personagem de Borges, é entrar no Labirinto: "Quem era eu? O eu de hoje estupefato; o de ontem, esquecido; o de amanhã imprevisivel...? Os pontos de interrogação dizem todo."


Um exemplo disto é o texto explicativo do Museu de Artes para a Universidade de Long Beach, California de 1986, onde a idéia central de Eisenman parte da própria imaginação deste, baseado num filme de George Orwell, onde imagina na obra dele três tempos diferentes: o primeiro é em 1849, quando da corrida pelo ouro, o segundo é o de 1949, quando da creação do Campus, o terceiro e o mais insólito é em 2049, quando o campus é redescoberto arqueologicamente por uma outra cultura, a qual vai tentar a partir das ruinas determinar o tipo de cultura em que viviamos. O resultado de estes três tempos continua abordando principalmente a idéia da fragmentação, dos traços, e agora da idéia de representação da ruina. A excavação artificial, como Eisenman próprio determinou não é outra coisa que uma imaginação fertil feita a partir de textos literarios que são Não-Narrativos, Atemporais, Ahistóricos, Atópicos, Atonais, e outros A que pudessem Aparcer.
Assim para Harvey

"Dada a evaporação de todo sentido de continuidade e memória histórica, e a rejeição de metanarrativas, o único papel que resta ao historiador, por exemplo, é tornar-se, como insistia Foucault, um arqueologo do passado, escavando seus vestigios como Borges o faz em sua ficção e colocando-os, lado a lado, no museu do conhecimento moderno"

ou no caso de Eisenman um por cima do outro.
Otilia Arantes falando da arquitetura de Peter Eisenman faz referencia especificamente à narrativa de Jorge Luis Borges quando diz "Como resultado -se é que se pode falar assim-, ao contrário de volumes fechados, uma arquitetura em abismo, labiríntica (na mesma época a nova crítica literária francesa reinventava Borges), espaços inconclusos, formas sem função, quando muito destinadas a provocar no observador um sentimento de estranheza." Esta questão da narrativa ou dos Não-Narrativos nos levou a fazer uma análise de uma obra de Borges no caso A Casa de Asterion para tentar entender esta relação. O conto de Borges foi escrito em 1949, e é anterior às teorías de Eisenman, as primeiras casas do arquiteto datam de de 1967 , juntamente com os seus primeiros escritos. No caso a análise foi feita a partir de três fatores: Tempo, Sujeito, e Espaço.

A casa de asterión

e a rainha deu a luz um filho que se chamou Asterión
APOLODORO: Biblioteca, III, I.


Sei que me acusam de soberba, e talvez de misantropia, e talvez de loucura. Tais acusações (que eu castigarei no devido tempo) são irrisórias. É verdade que não saio de casa, mas também é verdade que as suas portas cujo número é infinito ) estão abertas dia e noite aos homens e também aos animais. Que entre quem quiser. Não encontrará pompas femininas nem o bizarro aparato dos palácios, mas sim a quietude e a solidão. Por isso mesmo, encontrará uma casa como não há outra na face da terra. (Mentem os que declaram existir uma parecida no Egito). Até meus detratores admitem que não há um só móvel na casa. Outra afirmação ridícula é que eu, Asterión seja um prisioneiro. Repetirei que não há uma porta fechada, acrescentarei que não existe uma fechadura? Mesmo porque num entardecer pisei a rua, se voltei antes da noite, foi pelo temor que me infundiram os rostos da plebe, rostos descoloridos e iguais, como a mão aberta. O sol já se tinha posto, mas o desvalido pranto de um menino e as preces rudes do povo disseram que me haviam reconhecido. O povo orava, fugia, se prosternava; alguns se encarapitavam no estilobato do templo das Tochas, outros juntavam pedras. Algum deles, creio, se ocultou no mar. Não é em vão que uma rainha foi minha mãe; não posso confundir-me com o vulgo, ainda que o queira minha modéstia.
O fato é que sou único. Não me interessa o que um homem possa transmitir a outros homens; como filósofo, penso que nada é comunicável pela arte da escrita. As enfadonhas e triviais minúcias não encontram espaço em meu espírito, capacitado para o grande; jamais guardei a diferença entre uma letra e outra. Certa impaciência generosa não consentiu que eu aprendesse a ler. Às vezes o deploro, porque as noites e os dias são longos.
Claro que não me faltam distrações. Como o carneiro que vai investir, corro pelas galerias de pedra até cair no chão, estonteado. Oculto-me à sombra de uma cisterna ou à volta dum corredor e divirto-me com que me busquem. Há terraços donde me deixo cair, até ensangüentar-me. A qualquer hora posso fazer que estou dormindo, com os olhos cerrados e a respiração contida. (Às vezes durmo realmente, às vezes já é outra a cor do dia quando abro os olhos) Mas, de todos os brinquedos, o que prefiro é o do outro Asterión. Finjo que ele vem visitar-me e que eu lhe mostro a casa. Com grandes reverências lhe digo: Agora voltamos à encruzilhada anterior ou Agora desembocamos em outro pátio ou Bem dizia eu que te agradaria o pequeno canal ou Agora vais ver uma cisterna que se encheu de areia ou Já vais ver como o porão se bifurca. Às vezes me engano e rimo-nos os dois amavelmente.
Não tenho pensado apenas nesses brinquedos; tenho também meditado sobre a casa. Todas as partes da casa existem muitas vezes, qualquer lugar é outro lugar. Não há uma cisterna, um pátio, um bebedouro, um pesebre; são quatorze [são infinitos] os pesebres, bebedouros, pátios, cisternas. A casa é do tamanho do mundo; ou melhor , é o mundo. Todavia, de tanto andar por pátios com uma cisterna e poeirentas galerias de pedra cinza alcancei a rua e vi o templo das Tochas e o mar. Não entendi isso até uma visão noturna me revelar que também são quatorze [infinitos] os mares e os templos. Tudo existe muitas vezes, quatorze vezes, mas duas coisas há no mundo que parecem existir uma só vez: em cima o intrincado sol; em baixo, Asterión. Talvez eu tenha criado as estrêlas e o sol e a enorme casa, mas já não me lembro.
A cada nove anos, entram na casa nove homens para que eu os liberte de todo mal. Ouço seus passos ou sua voz no fundo das galerias de pedra e corro alegremente a buscá-los. A cerimônia dura poucos minutos. Um após outro caem sem que eu ensangrente as mãos. Onde caíram, ficam, e os cadáveres ajudam a distinguir uma galeria das outras. Ignoro quem sejam, mas sei que um deles, na hora da morte, profetizou que um dia vai chegar meu redentor. Desde então a solidão não me magoa, porque sei que meu redentor vive e que por fim se levantará do pó. Se meu ouvido alcançasse todos os rumores do mundo, eu perceberia seus passos. Oxalá me leve para um lugar com menos galerias e menos portas. Como será meu redentor? - me pergunto. Será um touro ou um homem? Será talvez um touro com cara de homem? Ou será como eu?

E o sol da manhã rebrilhou na espada de bronze. Já não restava qualquer vestígio de sangue.
- Acreditarás, Ariadna? - disse Teseu -. O minotauro apenas se defendeu.

Análise do Conto

O sujeito borgiano

A primeira impressão que temos logo depois de ler o conto é que fomos enganados. Pelo menos no desenvolver da história, porque o ASTERIÓN era nada menos que o famoso MINOTAURO, quem nos foi apresentado na sua verdadeira identidade unicamente nas quatro (4) últimas palavras do conto. Esta situação nos demonstra o total desinteresse pelo sujeito (pelo menos o verdadeiro), já que sendo um personagem muito conhecido, Borges poderia tirar mais proveito disto, mas parece que "o sujeito" , "o oficial" não interessa, ele é, na realidade, negado até a última instância. Borges inventa deste modo um novo personagem, "o outro" , do qual nós não temos as referências suficientes para poder identificar a verdadeira história que está sendo narrada.
Um outro personagem que é distorcido é Teseu, que é apresentado como o redentor de Asterión, ou em outras palavras, o salvador do Minotauro. Isto é no mínimo um paradoxo, porque se imaginamos um redentor, sem dúvida que é o salvador de Asterión, mas nunca o assassino dele. Desta maneira Borges trabalha o seu conto com uma ausência do sujeito real, para fazê-lo com a presença do fictício.

O tempo borgiano

A ausência de sujeito real é acompanhada de uma ausência de tempo real. Não podemos esquecer que esta lenda do Minotauro tem mais de dois mil anos, e aconteceu na antiguidade clássica, da qual nenhuma referência é dada. Borges nega essa antiguidade clássica utilizando todas as artimanhas possíveis para não identificá-la, negando assim o tempo real em que aconteceu a lenda.
Um outro maneirismo, para confundir a noção temporal, é utilizado nos tempos verbais da narrativa. O conto, curiosamente começa sendo narrado no presente pelo Asterión, e ainda acaba sendo narrado também no presente pelo Teseu, o que nos dá a impressão que a temporalidade da história é deixada de lado em favor da importância exata de cada momento da narração. Assim se cria uma outra história, a história paralela, com um novo tempo que não pode ser muito bem identificado, porque é contado no presente, aconteceu no passado, mas é verdade que poderia muito bem se tratar da história de um Blade Runner num futuro longínquo.

O espaço borgiano

Um outro aspecto interessante do conto é o espaço, onde a não-referência continua sendo a fórmula. Uma clara intenção de Borges é o simulacro. Ele simula a casa de Asterión quando na realidade se trata de seu próprio labirinto. Sem dúvida que a intenção aqui continua sendo a de nos confundir, intenção que se verifica em várias outras partes do conto. Desta maneira Borges muda e falsifica a verdadeira identidade dos objetos. Um labirinto nunca poderia ser confundido com uma casa.
Com as portas utiliza a mesma receita, dizendo que elas permanecem abertas dia e noite e que ainda estas não possuem fechaduras, quando na realidade estas fechaduras não existem porque tampouco as ditas portas existem. No labirinto há sim entradas e saídas, mas não portas.
Asterión conta que todos os lugares estão muitas vezes, que são infinitos, situação que nos confunde porque nos faz pensar em outra dimensão da realidade, já que no nosso mundo todo é mensurável. Também diz que qualquer lugar é um outro lugar, o que nos dá a idéia ou que todos os lugares são iguais, ou bem que não há lugares a serem reconhecidos ou identificados.
Podemos ver assim que a estrutura do conto de Borges se encaixa perfeitamente com as idéias fragmentadas da Diferença de Derrida, Superposições de Tempo, de História e de Lugares, como assim também a desvalorização do sujeito como intérprete de qualquer situação.

A Casa

O sujeito eisenmaniano

A leitura do sujeito poderia ser começada a partir da negação deste. Poderíamos dizer que não existe uma contemplação de diferentes culturas. No caso da casa, temos que considerar que é uma casa à beira-mar em Cadiz (local de cultura portuária muito forte). Também não tem a preocupação de um "homem tipo"como o tinham os preceitos do movimento moderno. Eisenman não está interessado com a ergonometria, nem com a funcionalidade dos seus espaços, o que implica em não estar preocupado com o homem como sujeito.
O que interessa para ele é o valor autônomo dos objetos, e não o sujeito. Para Montaner , Eisenman herda do Pós-estruturalismo o anti-humanismo, e cita uma frase de Claude Lévi-Strauss que ilustra este pensamento: "O mundo começou sem o homem e acabará sem ele", definindo a condição efêmera do homem. Desta maneira, sendo o homem um simples passageiro deste mundo, para que se preocupar com ele? O objetivo da sua obra é a obra em si, e não o sujeito. Desta maneira, Eisenman, ao igual que Borges, nega o sujeito, o verdadeiro, propondo espaços cuja única razão de ser são os próprios espaços, suas formas e os seus desenvolvimentos.
Não sendo mais o homem o centro do universo, Eisenman ataca a noção de centralidade: pode ser muito bem observada a idéia labiríntica "dos caminhos que se bifurcam " e que negam o centro. Desta maneira, se explica o partido da casa em forma de L porque o "éle" não representa em nenhum aspecto a centralidade, tão depreciada por Eisenman.
O trabalho de Eisenman ataca as formas tradicionais de ocupação do espaço pelo homem. Assim ele se preocupa em diferenciar-se desta maneira de ocupação tradicional. Em uma das suas casas ele coloca uma coluna no meio de um dormitório, e diz à este respeito: " tendo uma coluna no meio do quarto de maneira que não se pode aí colocar uma cama, certamente atacará a noção de como você ocupa um quarto". Ora, esta visão anti-humanista sem dúvida põe em jogo o verdadeiro papel do homem como intérprete da obra, igual ao conto de Borges, onde esses personagens não são os personagens tradicionais, e sim "os outros". Desta maneira Eisenman está à procura desses outros, para assim fazer uma nova maneira de interpretação dos espaços.


O tempo eisenmaniano

Ao contrário de Borges aqui fica muito mais difícil fazer uma leitura temporal da obra. Podemos dizer que ela não tem intenção de representar um tempo, no sentido de uma antiguidade clássica. Podemos dizer que existe uma intenção de atemporalidade, no sentido de não referenciar a sua arquitetura com as obras históricas. Para Eisenman a arquitetura vale por si mesma, pelo que ela é, e não pelo que ela quer representar.
Desta maneira detectamos essa atemporalidade, de não querer ser passado. Para ele a história é uma simulação de eternidade , porém sem preocupação com o presente nem com o futuro. Assim, pode ser observada uma negação da história, porque ele não utiliza uma linguagem histórica, nem de arquétipos, nem de estudos tipológicos, e nem sequer dos fundamentos da arquitetura moderna, situação que o enquadraria dentro de uma arquitetura de vanguarda inovativa. Isto não quer dizer que ele desconheça a história, muito pelo contrário. Ao igual que Borges, Eisenman se utiliza dela muito bem para poder elaborar a sua própria história. Neste sentido a história não lhe serve. Os símbolos e códigos estabelecidos são rejeitados, e ele reinventa os próprios.

O espaço eisenmaniano

Sem dúvida que todo o conteúdo da casa pode ser encontrado a partir da decomposição formal desta, (lembremos que Montaner chama a corrente de Eisenman de "Nova Abstração Formal").
A primeira impressão que temos ao observar a maquete da casa (e que é característica de toda a obra dele) é de uma total instabilidade da construção, simulando desafiar a lei de gravitação universal. Desta maneira, Eisenman nega as leis básicas da natureza. Esta idéia de desafio vai acompanhada, de acordo com ele, de uma mudança do paradigma mecânico para o eletrônico. Para ele, antigamente a arquitetura deveria parecer estável, mas hoje, com o domínio da natureza pelo homem, e o domínio do paradigma eletrônico, esta simulação de estabilidade não tem mais sentido . Seguindo esta linha de pensamento, podemos observar no corte da casa um sistema estrutural completamente diferente dos sistemas convencionais (coluna, viga, laje), apresentando assim uma solução muito ousada, sem as referências habituais do projeto.
Sobre o lugar, a idéia de Asterión que "qualquer lugar é um outro lugar", se repete aqui e na maioria dos desenhos de Eisenman, nunca existindo a preocupação da representação do lugar. Assim,observamos em todas as ocasiões o desenho dos objetos isolados, indicando no máximo, os limites do terreno. Isto vai de acordo com o pensamento de Eisenman voltado à uma mudança de paradigma, sobre uma nova visão do mundo.
Ele expõe que na antiguidade clássica, "os Romanos", assim como qualquer povo, tinham interesse em marcar "o lugar" e que essa marca (ou lugar) os situava frente à natureza selvagem. Mas atualmente esta visão do mundo não tem mais sentido. A natureza está hoje dominada pelo homem, porque o mundo está completamente marcado de lugares. Assim ele não vê mais razão na preocupação com lugar, propondo então o não-lugar.
Um outro pressuposto que utiliza Asterión é que são "infinitos os pesebres, bebedouros, pátios, cisternas". Isto se repete na obra de Peter Eisenman (especialmente nas casas), ou melhor, nos desenhos abstratos do tipo "metamorfoses", onde estes uma vez que começam, não acabam com uma lógica de produto terminado, mas sim em uma parada arbitrária nesse processo de metamorfoses infinitas. Os espaços são quase que incompreensíveis para a mente humana. Podemos observar isto nas plantas, fachadas e perspectivas, onde este jogo de infinitos, de espaços incompreensíveis, de labirintos, e de cortes que parecem plantas e vice-versa, nos determina uma nova maneira de compreensão do espaço.
Ao igual que Borges, quando este desvenda no final do conto a verdadeira identidade, e com isto nos obriga a voltar ao desenvolvimento do conto, Eisenman também utiliza este recurso em sua obra: começamos pelo seu desenvolvimento (metamorfoses), lêmos os cortes, as plantas, e só quando vemos a obra construída (ou a maquete neste caso) é que temos noção da proposta. Porém o real sentido é compreensível unicamente quando voltamos ao entendimento do processo, da mesma maneira que no conto.

Conclusões

A leitura do texto e das obras, e a interpretação destes, nos dá uma sensação de ausências. Ausência de sujeito real, de tempo real, e de espaço real, parecendo que tudo não passa de uma ficção ou uma simulação. Estes elementos são negados na sua verdadeira concepção. Tanto Borges como Eisenman dão à eles um novo significado, elaborando assim uma outra história diferente da que nós conhecemos. "A história paralela", com um sujeito diferente, um tempo diferente e um espaço diferente, e que ninguém a não ser eles próprios, conceberam. Este tipo de leitura coloca conto e obra como uma situação imaginária dos autores: a casa de Asterión é vista como uma cidade, uma cidade que limita externamente com o Templo das Tochás e com os mares, e internamente com o infinito, e o incompreensível. As obras de Eisenman são vistas como a concretização dessa cidade imaginária, mas uma concretização também textual.
Esta situação nos dá a idéia de uma negação dos fatos reconhecíveis, o que nos leva, no caso de Borges, à uma releitura do texto quando a verdadeira identidade dos personagens é descoberta no final. Isto origina um interesse maior no desenvolvimento da narrativa e uma reinterpretação desta. Seria bem diferente se o conto acabasse da seguinte maneira: "nem acreditarás - disse o redentor - Asterión nem sequer se defendeu". Este caso sem dúvida não nos levaria a essa releitura do texto, o que também ocorre com os desenhos de Eisenman. Pelos desenhos se chega ao produto final, e quando se descobre o produto final, se mostra imprenscindível uma releitura dos desenhos "conceituais" originadores deste.

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