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As experiências da Leopoldina

Délio Araújo — Centro-Oeste n° 78 — 1°-Mai-1993

No CO-75/25, Jairo A. O. Mello brindou-nos com um artigo muito bom, sob o título Kitson-Meyer, Baldwin Geared e Shay — As experiências da The Leopoldina Railway Co. Ltd.

Ao focalizar a Shay, Jairo escreveu que a loco foi encostada no depósito de Cantagalo em 1949/Ago/4. Gostaria de complementar a história desta Shay.

Conheci a linha de Cantagalo lá por Janeiro de 1947.

A Shay já estava praticamente encostada. As Garratt 2-4-2+2-4-2, adquiridas pela Leopoldina no limiar da II Grande Guerra, haviam substituído a articulada fabricada pela Lima. A Shay ficava relegada a manobras e já não era utilizada no serviço de linha, a não ser em ocasiões esporádicas, e em viagens curtas.

A Shay foi enviada para o depósito de Nova Friburgo. Ao que me lembro e me falaram no depósito, nunca tracionou trens entre Cantagalo e Friburgo. Se o fez, foi esporadicamente.

A lentidão da Shay constituía um real embaraço prático.

A locomotiva ficou no depósito de Friburgo. Fazia o serviço de manobras na estação de passageiros e na de cargas — esta última, distante uns 2 km da primeira.

O pessoal do depósito sempre preferia, se possível, uma das 2-6-0 que faziam todo e qualquer serviço desde Teodoro de Oliveira, no alto da serra, até Friburgo e Cantagalo.

A Shay, além de lenta, era extremamente barulhenta, talvez devido a deficiências de manutenção.

Como o percurso entre Nova Friburgo e Nova Friburgo Cargas tinha os trilhos lançados bem no meio da R. Alberto Braune, uma das principais da cidade; da Pça. Getúlio Vargas, então a principal; e de outras ruas — e mesmo calçadas — , o horário dos trens dispunha que o percurso devia ser coberto em 8 minutos.

Ora, a Shay exigia 10 a 12 minutos.

Eu estudava no Colégio Anchieta. Pela manhã, lá pelas 8 ou 9h, lá ia a Shay estrondando sua tiragem sincopada de 3 cilindros, batendo sua braçagem e sacudindo sua transmissão com redução no aro das rodas.

O barulho era característico, e tão forte que a Shay quase não precisava apitar ou tocar o sino, ao atravessar pelo centro das ruas e calçadas, e pela Pça. Getúlio Vargas.

Já as 2-6-0 e as 2-4-2+2-4-2 que faziam o trem leiteiro, apitavam e bimbalhavam o sino por todo percurso, até saírem da praça. A passagem ruidosa da Shay excitava até os cachorros: — Passavam a latir com o barulho desusado.

Lá pelas 10h da manhã, ou pouco mais, chegava a Friburgo Cargas o misto vindo de Cantagalo. A Shay já havia manobrado. Pelas 11h, o misto partia para a estação de passageiros, seu ponto final. A Shay seguia-o, sempre barulhenta e vagarosa.

Certa vez, ao visitar o depósito de Friburgo — que se localizava na estação de passageiros — , perguntei por que a Shay fazia ou produzia, em certas idas a Friburgo Cargas, um barulho diferente. Sabe qual foi a resposta? É que, por vezes, ao invés de graxa passavam óleo grosso na transmissão! E era difícil regular e acertar os 3 cilindros.

A Shay manobrou, quando muito, por uns 2 anos. Realmente, era um desperdício manter a Aranha acesa 24h por dia, para manobrar por umas 3 horas, somente!

Eu a vi pela última vez, já apagada e silenciosa, no depósito. Disseram-me que esperavam que nunca mais precisassem daquele estorvo. Na visita seguinte, fui informado de que havia sido vendida para uma usina de açúcar da região de Campos, RJ.

Agora, 42 anos depois, o artigo do Jairo no CO me esclareceu que o destino foi a fábrica de cimento em Paraíso, perto de Itaperuna.

Em todo caso, fica uma observação: — Pelo que me lembro, a Shay não foi benquista. Até a chegada das Garrat 2-4-2+2-4-2, o pessoal do depósito de Cantagalo preferia as 0-4-2 T, que circulavam com muito maior rapidez entre Cantagalo e Portela.

Depois, até as minúsculas tanques — como eram apelidadas — foram substituídas pelas ágeis Garrat. Lembro-me de que ao menos uma das tanques ficou no depósito de Friburgo. Eu nunca a vi funcionando: — Esteve sempre apagada e relegada à aposentadoria definitiva. Não me recordo qual haja sido seu destino.

Agora, uma observação quanto à Baldwin Geared, ou Clímax.

O pessoal do depósito e das oficinas de Cachoeiras de Macacu apreciava as 0-6-0 da serra.

Nenhuma locomotiva, além das 0-6-0 da serra, funcionou a contento entre Cachoeiras e Boca do mato. Esse trecho, segundo velhos ferroviários que conheci há mais de 45 anos, devia ser operado por locomotivas comuns.

No entanto, o elevado esforço de tração das 0-6-0, e sua curta base rígida, as tornavam as rainhas do trecho desde quando, lá por 1883, a serra foi modificada: — O sistema Fell foi substituído pela simples aderência, e o trilho central ficou para a aplicação do freio especial, nas descidas.

A Baldwin fabricou as primeiras locomotivas da serra modificada e, desde então, tornou-se a fornecedora exclusiva da tração da serra, até a erradicação do trecho, já na década de 1960.

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