"EL
RINCON DE LOS TROVADORES"
Presenta desde Brasil a :
"ENZO CARLO BARROCO"
su obra:
"TREZE POEMAS"
HECATOMBE
LAVOURA GRAMATICAL
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-
Poetas são engarrafadores de
nuvens.
-
Dino Segre Pitigrilli (1893-1975) poeta italiano
2003
-
O homem, em seus mais belos sonhos,
jamais pode achar nada melhor do que a natureza.
Alfhonse
de Lamartine (1790 –1869) poeta, historiador e político francês
Os vôos
rasantes das avezinhas brancas
ignoram a física,
ignoram
Einstein;
só o vento
tem amigas tão ternas.
O chão é
pouco provável;
a vida se
aproxima de nós,
todas as árvores
estão iluminadas.
Folhas de
estanho, tarde de abril.
Imensíssimos
e belos
os vôos
rasantes das avezinhas brancas.
-
Este tempo, esta taça, esta terra
são teus:
Conquista-os
e escuta como nasce a aurora.
- Pablo Neruda (1904-1973) poeta chileno
O canto
noturnal das almas livres
ecoa sobre os
muros concebidos
pelas mãos
decrépitas de anjos,
anjos
negligentes, imprecisos...
Por ora um
silêncio aterrador
no deserto lúgubre
da rua
varre os lábios
cálidos das horas.
Esta solidão
que insinua
a frágil
madrugada que se segue;
estrada
ladeada de reclamos
-
o canto noturnal das almas livres.
O tempo se
apressa, corre a noite
desapercebida
dos mistérios
que nem mesmo
nós, sequer, notamos.
-
A geografia é filtrada pelo olhar;
o que importa é a paisagem interior.
-
Emmanuel Finkel (1962 – cineasta polonês
As pontes metálicas
se mostram cênicas
sob um sol
veemente,
suspensas, sólidas,
arquitetônicas;
subaquáticas
sombras geométricas.
Corpos
delgados
sustentados
por músculos cilíndricos;
paisagens
maciças, gargantas pétreas,
pentagramas
únicos sobre as águas.
Pássaros
vergados contra um céu translúcido.
Violentas forças.
Sob um sol
veemente
as pontes metálicas
se mostram cênicas.
-
A vida é um sonho vão que a vida
leva. Cheias de dores, tristemente mansas.
-
Vinícius de Moraes (1913- 1980) poeta, compositor e cantor fluminense
Corroído
tempo moroso
indiferente
descrente
macérrimo
os olhos
perdidos no vago do dia
a alegria que
se fora ontem
flores na
lapela suja
mãos aduncas
desejos
passados
a morte é
uma silenciosa
companheira
a morte é
uma improvável luz grená.
-
Perguntas porque meus versos
choram
em vez de sorrir...
é
que eles são universos
que
estão quase a se extinguir.
- Luís Murat (1861-1920) poeta, jornalista
e político fluminense
A tarde flui
lentamente,
nuvens com
morosidade,
desassossego
somente
no azul da
minha saudade.
Meu poema
inconseqüente
jamais dirá
a verdade.
O tempo passa
inclemente
deixando,
apenas, saudade.
Só falo o
que vem na mente,
vou morrer, só
não sei quando
mas enquanto
for o meu verso
essa viva luz
derramando
nesta nau
inconsistente
serei uma ave
cantando...
-
Cada um ao nascer traz sua dose de amor, mas os empregos, o dinheiro,
tudo isso nos resseca o solo do coração.
- Vladimir
Maiakovski (1893-1930) poeta e dramaturgo russo
Poderás não
dar a merecida atenção,
que a tua
pressa é maior,
aos dias que
o silêncio te reserva;
a indelével
ferocidade das pessoas.
Por todos os
meios
o povo se
desloca para um determinado fim;
o dinheiro
move os teus miolos,
todos os
movimentos gotejam suor.
É, meu caríssimo
amigo,
movimenta-te
o mais que puderes,
quem poderá
te salvar da miséria
tem uma úlcera
pútrida sob a língua.
- Pastora de nuvens,
com a face deserta,
( Pastores da terra, tereis um salário,
sigo atrás de formas
com feitios falsos,
e andará por bailes vosso coração.
queimando vigílias na
planície eterna
Dormireis um dia como pedras suaves.
que gira debaixo dos
meus pés descalços.
Eu, não).
- Cecília
Meireles (1901-1964) poeta e cronista fluminense
A longa luz
de Cecília, luz de um século,
a beleza de
seu rosto grave;
sua cadeira
feita de nuvens
em sua sala
de azul e poemas.
As lindas mãos de Cecília
sobre a mesa
de pinho
criando
paisagens
e
enternecendo os anjos.
Cecília
canta o seu verso vário;
e este dia
que se vai no tempo
eterniza-a
nos que aqui
estão.
Ave, Cecília!
Ave, seus olhos de infinito!
-
Acreditar em rosas é o que as faz
desabrocharem.
-
Anatole France (1844-1924) romancista francês
Creio
na luz que se apresenta consistente
e dá
contorno ao ocre beiral do meu telhado,
na
singularidade das brancas nuvens e na evidente
harmonia que
se vê por todo lado.
Creio no
verso que se ilumina grandioso,
estrela
nascida do meu entendimento,
no pássaro
que faz seu belíssimo pouso
no frágil
azul da tarde morna e/ou no vento.
Creio na paz
que há de manter-se incólume,
nos homens
probos, na face clara da verdade,
no que há de
mais belo, no que há de mais fausto.
Enfim, creio
na vida; simplesmente creio
que um dia há
de acabar esse período feio
de procela,
de agitação, de sobressalto...
-
E naqueles dias os homens buscarão a morte, e não a acharão; e desejarão
morrer, e a morte fugirá deles.
-
São João Evangelista (8 d.C. – 105 d.C) judeu palestino, um dos doze
apóstolos de Cristo, cronista bíblico, santo da Igreja Católica
-
Citado pelo apóstolo no livro Apocalipse
– Cap. 9 Vers. 6
Sinceramente,
sinceramente o que virá
depois destes
tempos pavorosos,
possa ser
outros tempos pavorosos,
a paisagem
coberta de fuligem.
Ou, quem,
sabe, virá depois de tudo
a morte dos
rios, dos igapós, dos animais;
meus dentes
frustes, minha boca fétida.
O ceticismo
impede-me à paz,
os olhos
vermelhos do futuro
põem-me às
mãos estes versos estúpidos;
nossos pés
queimarão sobre o inferno.
-
A alma é essa coisa que pergunta se a alma existe.
- Mário
Quintana (1906-1994) poeta, contista e jornalista gaúcho
Haja luz em
cada alma,
em cada boca
uma ternura constante;
é pedir
demais?
O céu nos
ilumina e nos cobre de azul
embora não
percebamos o mistério que nos cerca.
A voz
absoluta do vento em nossas almas
revela
paisagens inenarráveis,
belíssimos
lugares de ignotas distâncias.
Nossos passos
despreocupados e morosos
descem a rua
plena de ocaso.
A púrpura
luz dessas horas entardecidas
dá-nos magníficas
vestimentas;
sombras tempestivas se apóiam no vácuo.
-
Em todo reino animal eu não me lembro de família alguma, a não ser a
do homem, que se empregue constante e sistematicamente na própria destruição.
-
Thomas Jefferson (1743-1826) político e ex-presidente americano
Dá pena o desmatamento louco,
a ganância
imoral de quem derruba;
machados odiosos, motosserras ávidas...
Cedro, tauari, cuiarana, ucuúba.
A mão incauta dissemina a fome,
onde
um sol banal
mais e mais se esconde.
Dá pena a
boca vil e somítica
do homem, a
ignorância de quem derruba;
doidas
queimadas neste chão insalubre...
Puçu, mogno,
cunuri, matataúba.
Terra estéril,
seca voraz, onde
a lua já não
mais se esconde.
A aridez se
alastra, infecundas noites,
o cansaço
infame de quem derruba;
o horizonte
arde, céu de sangue e brasa...
Andiroba,
angelim, cumaru, tatajuba.
-
Porque o poema
ninguém sabe
como nasce, como
a vida o
engendra,
que pétala
entra em sua composição
que voz, que
latido de cão;
ninguém sabe.
- Ferreira Gullar (1930 – poeta maranhense
Vivo de plantar
artigos indefinidos
em frases
substantivadas;
suor
adverbial, monossilábico sol.
Enxadas verbais mondam palavras,
grãos sintáticos colorem o dia
desta lavra
infame.
Ervas metafóricas
crescem vorazes
sobre a
colheita superlativa.
Hipérboles
regam os grelos
desta plantação
morfológica.
Eitos
absolutos, parônimo canto;
Imensa lavoura gramatical.
-
Arranquem-me a ardente túnica
da
vida agitada e vã:
vejam, minha ambição única
é de ser lírio amanhã,
-
Augusto de Lima (1859-1934) poeta,
jornalista, jurista e político mineiro
Em dezembro não serei mais poeta
que busca as
estradas, os pássaros, o sol,
e não terei,
destarte,
a amaldiçoada
lira que carrego nos olhos.
Buscarei a
paz
fatal e
necessária
de um caminho
morto
que me levará
para sempre e inevitavelmente
ao lúgubre e
silencioso
azul do
anoitecer.
Enzo Carlo
Barrocco, por batismo, Efraim Manassés
Pinheiro (Tracuateua, 1960) poeta, contista e pesquisador literário paraense.
Notadamente poeta,
Enzo caminha por vários gêneros poéticos, desde a microtrova até o
soneto, passando pelo hai-kai, a trova e o poema livre. A poesia na sua mais
pura simplicidade. A poesia apenas e tão-somente.