UM FIM DE SEMANA
Saí do Afonso Pena contrariado, Curitiba nublada, sempre, quatro dias aqui, fim de semana no meio... entrei no carro da companhia, me deixou no Hotel Presidente, no quarto joguei minha maleta em cima da cama, estremeci, quarto de hotel um horror.
Sexta, sábado na obra, enchi o saco de meus engenheiros, os da Petrobras encheram o meu, meu saco eu o arrastava há muito pelos céus, estradas, cidades do Brasil.
No bar do hotel pedi um uísque, nenhuma dona... –onde estão as marafas? perguntei ao barman... – o gerente não deixa...– quiuspariu!...pedi outra dose.
Entrei no Matterhorn, estava lotado, ouvi alguém chamar, Gustavo abanava seus braços, sentei - me á sua frente...–por que não me ligou?...–e tu fica o fim de semana aqui?...o garçom se aproximou, pedi um fondue...– vou a Poa de manhã...comemos em silêncio, esvaziamos duas garrafas de vinho...– é por conta da compania - falou ao pagar a despesa, saímos, entramos num carro zero...– tá faturando!- falei...– comprei dum pilantra, paguei o dobro, ajudou quebrar o galho, tu sabes com quem, trocamos um terreno do figurinha por um apé que vale cinco vezes mais, agora a obra vai dar lucro...– tu é um efdepe mesmo...– e tu uma freira num puteiro, falando nisso vamos pro Quatro Bicos...
Casa cheia, pedi uma cerveja no bar, Gustavo sumido com uma polaca de dar dó, uma garota sentou ao meu lado...– paga uma?...pedi mais duas...– cadé a morena?...–qual?...– droga! a única daqui, tu sabe!...a mulher ajeitou a bunda no stool...– pirou, tá internada, a velha mandou ela trepar com o aleijado, aquele que faz ponto na esquina da Deodoro com a Rio Branco...a cerveja ficou choca na minha boca...– tu conhece ele? sem pernas, o traseiro um calo só de tanto ficar no carrinho, as mãos solas de sapato de tanto empurrar no chão, fede a mijo, a merda...dose pra elefante...faltou pouco para eu devolver a cerveja, bílis queimou minha garganta...–tentamos dar banho nele, berrou, gritou que nem condenado, desistimos, a velha pegou a grana e pronto, o colocamos em cima da garota, aí tu já viu...deu a louca nela depois, jogou o aleijado pela janela, vomitou, mijou e cagou o quarto todo, levaram ela amarrada...me paga mais uma?...fiz um sinal para o cara do bar...– obrigado! tu nem sabe da melhor, encontraram ele descascando a banana, queria mais...a mulher começou a rir, eu ainda não conseguira me desfazer da bílis, pedi um uísque...–tá livre? perguntei sem querer...–não, bem...ela aproximou se rosto, falou baixo...– –manja aquele polacão lá no canto com o saco de pano? vem uma vez por mês ele vem lá de Toledo, traz uma galinha, faz aquilo com o bicho, não com a gente mas exige... sabe né? fazer aquilo com o dedo, hoje é minha vez...droga, onde estava o sacana do Gustavo?...–atè que dava pra guentar se não fosse o sangue...ela suspirou...–amanhã tem galinha pro almoço, eu gosto mais de cabrito...tu sabe que apareceu um piá aqui, não mais dezesseis aninhos e trouxe um, o bicho berrava tanto! esses polacos são doidos, e tem mais...paguei a despesa, saí.
Pensamento no amanhã, domingo...como faz falta praia, droga de cidade chocha essa Curitiba...por que não estou em Salvador, Recife, Fortaleza? aqui fecha tudo...ir a Sta. Felicidade almoçar? nem pensar, gordos e gordas num banquete pantagruélico, um nojo, galinha...nunca mais, nunca...o amargo voltou à boca, adormeci.
Café da manhã, quase obrigação, passar o tempo, oito horas...cama de novo? sim...não...sim...não! céus, deslizo numa espiral desconstruída, desunida, estou deportado, sem ancoragem, eu, o imaginário, a paranóia ?estou um pouco morto, preso numa bruma, um ator penando num personagem na terceira pessoa, eu? não... você ! imagem num espelho, invertida, estou em outra parte em que não vivo...significa o que? fabricar um símbolo, sim, algo astucioso, um número, inteiro, fracionário, primo, indivisível, à esquerda da virgula, sim, sim, à esquerda, zero à esquerda...senti dificuldade de respirar, engoli um Lexotan, acendi um cigarro, sentei na beira da cama...sai dessa, passa pro outro lado da virgula, percorra o caminho, extenua - o, precisa manter a utopia de um sonho por mais insípido que seja, afinal é a sua obrigação... casou? disse sim ao algoz à sua frente! filhos, sim, sim, quero, mais um, mais, outro ! dinheiro todo o mês, vai trabalhar vagabundo ! sim, sim! sonho, como é tediosa sua narrativa...sacudi cabeça, bolas de gude chacoalharam, esperei elas se acomodarem, levantei - me, banho, roupas, saí, comprei jornais, revistas, ruas desertas, voltei pelo caminho mais longo, três cigarros a menos no maço, me joguei numa poltrona no hall do hotel, abri um jornal, parecia estar sem letras, o deixei deslizar até o chão, na recepção...– tem recado?...– não, doutor...nem Carmen, nem...que babaquice...o maridão me peitou no aeroporto, escapei pra dentro do Caravele, que sufoco...o relógio na portaria marcava uma hora... – doutor, deseja mais alguma coisa?...– o mulherio aos domingos?...–alguma preferência?...– loura peituda!...– se incomoda se for a que serve o doutor Gustavo?...–manda!
As batidas insistentes na porta me acordaram, no meu relógio cinco horas, deixei a lourona entrar, perfume empestou o quarto, ela pediu uma bebida, mostrei o frigobar, acendi um cigarro, dei uma olhada, peruca, lábios engrossados com batom, seios volumosos, pernas fortes, pé grande, nada de especial, daria pro gasto...– acabe a bebida! quanto?...paguei, ela foi ao banheiro, voltou, seios monumentais, calcinha asa delta, não quis tirá - la...– assim fico com mais tesão - falou...o rabo para cima, penetrei...voltou ao banheiro, retornou vestida, navalha na mão...– amor, grana, cartão, talonário, relógio, correntinha...minha cara abobalhada a fez rir...– depressinha, bem, se não te corto em fatias que nem salaminho...me senti sufocado como se sentisse odores de gasolina...–e a transa?...–o agradável com o útil - respondeu com riso exagerado...desejo, endureci...tarado!...ela montou numa cadeira, seios querendo pular pra fora, navalha descrevendo oitos no ar, meu membro entumecido apontava na direção da lâmina...– faz como Gustavo, me entregou tudo, diria a companhia que foi assalto, eles pagam o prejú, faz igual, xiii ! quer me comer de novo? com navalha e tudo? ...ela levantou - se , avançou, apanhei a cadeira, a desci nas costas dela, pisei no antebraço, apanhei a navalha, ela gemeu, levantou - se, rasguei sua calcinha, arranquei o esparadrapo, o penduricalho apareceu, cubri ele de porrada, o chutei pra fora.
Uma revista...liguei a TV, vozes me fariam companhia, catei guimba do cinzeiro, uma tragado, de volta ao cinzeiro, a televisão resmungava...frigobar, entornei o uísque, queimou o estômago, último cigarro, amassei a embalagem vazia...gosto ruim na boca, desisti do cigarro, a fumaça vindo cinzeiro me distraiu por instantes...onze horas e picos, gemi, desliguei a telé, cama...o odor de perfume barato não me incomodou...Deus, não me deixe sonhar com aqueles peitos, nem com...adormeci.