BG foi um dos
introdutores do bestialógico no Brasil
Bernardo
Guimarães – o jovem BG
– foi um dos introdutores do bestialógico (ou pantagruélico) no Brasil.
Os versos bestialógicos são destituídos de qualquer sentido, mas são bem
metrificados, são bem feitos.
Há
que diga que, da obra de BG, o que há de melhor não são seus romances nem a sua
poesia tida com séria, mas os seus bestialógicos. Há informação de que ele
fez muitos desses versos disparatados quando morou em São Paulo, para cursar
Direto nas Arcadas, mas a maioria dessa obra se perdeu – careceu de
publicação. Aliás, era uma produção tão doida e pornográfica que faria
arrepiar até os libertinos deste século 21 que ninguém naquela época, anos de
1800, chegou certamente a cogitar a sua publicação.
Nem
tudo obviamente era pornográfico, e esse é o caso da elogiada poesia de BG “Eu
vi pólos o gigante alado”.
Houve
também bestialógico em prosa. Foi uma "escola" artística que, no
século 20, teve influência na escultura e, com o nome de abstracionismo, na
pintura.
Almeida Nogueira assim define o gênero: "O bestialógico era um discurso em
prosa ou composição em versos de estilo empolado e com propositais absurdos,
engraçados pela extravagância. Por ampliação também se dava esse nome
qualificativo a quaisquer orações acadêmicas, por pouco que se ressentissem do
tom enfático que era peculiar a esse gênero. Cremos que o inventor do
bestialógico, ou, pelo menos, o seu introdutor na Academia de São Paulo foi
Bernardo Guimarães, que primava nesses torneios, improvisando em prosa ou em
verso os mais jocosos despropósitos".
A propósito de BG e o bestialógico, anota o "Correio da Manhã" de 8
de novembro de 1952: "Era, de resto, um estudante alegre, sempre pronto a
animar uma festa ou reunião. Tornara-se especialista num gênero poético então
muito em voga entre os estudantes: o bestialógico, que consistia em encarreirar
versos confusos e obtusos, com palavras pomposas, que soavam muito bem ao ouvido,
mas não queriam absolutamente dizer nada".
Armelim
Guimarães, escritor e neto de BG, escreve que "a república da rua da
Forca, residência em São Paulo de Bernardo, foi -- como não podia deixar de ser
-- o primeiro cenáculo do bestialógico. As sessões eram invariavelmente às
quartas-feiras. Fazia parte do rito um ágape, denominado pelo boêmio mineiro de
ceia escolástica, obrigatoriamente servido com animais roubados, destacando-se
frangos e leitões, abundantes nos quintais daqueles tempos".
Antônio Constantino apresenta outros detalhes: "Bernardo instituiu as
escolásticas, ceias regadas a vinho, nas quais, contudo, o conhaque e a pinga
eram também engolidos em boa quantidade. Exigia-se de cada conviva fazer um
bestialógico durante o regabofe, porém ninguém se equiparava, nisso, a
Bernardo, que os improvisava em versos".
BG
também produzia seus versos disparatados durante as aulas de Direito. Escreve
Armelim Guimarães: "Nas salas de aula, em vez de compenetrar-se dos temas do
Direito expendidos pelos mestres, ele observava a casaca demais folgada, o
cavanhaque mal cuidado, a camisa desabotoada, a calvície, os sestros e trejeitos
do lente, e não raro fazia correr, de mão em mão, em plena aula, um
gozadíssimo bestialógico em que se via satirizado o professor, versos que, às
vezes, perturbavam o geral aproveitamento da preleção, tal a hilaridade a custo
contida pela classe, enquanto o boêmio, comportadamente sério em seu banco,
apresentava atitudes graves e angelicais".
Prossegue Armelim: "O professor Prudêncio Geraldes Tavares da Veiga Cabral,
intolerante e avesso às brincadeiras da estudantada, descobriu uma denominação
mais consentânea para o bestialógico, a qual, além de bem mais a propósito,
era mais condizente com o nome de seu inventor: chamou ele de bernardices
aos pantagruélicos versos da nova "escola".
|