Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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BG foi um dos introdutores do bestialógico no Brasil

Bernardo Guimarães – o jovem BG  – foi um dos introdutores do bestialógico (ou pantagruélico) no Brasil. Os versos bestialógicos são destituídos de qualquer sentido, mas são bem metrificados, são bem feitos.

Há que diga que, da obra de BG, o que há de melhor não são seus romances nem a sua poesia tida com séria, mas os seus bestialógicos. Há informação de que ele fez muitos desses versos disparatados quando morou em São Paulo, para cursar Direto nas Arcadas, mas a maioria dessa obra se perdeu – careceu de publicação. Aliás, era uma produção tão doida e pornográfica que faria arrepiar até os libertinos deste século 21 que ninguém naquela época, anos de 1800, chegou certamente a cogitar a sua publicação.    

Nem tudo obviamente era pornográfico, e esse é o caso da elogiada poesia de BG “Eu vi pólos o gigante alado”.

Houve também bestialógico em prosa. Foi uma "escola" artística que, no século 20, teve influência na escultura e, com o nome de abstracionismo, na pintura.

Almeida Nogueira assim define o gênero: "O bestialógico era um discurso em prosa ou composição em versos de estilo empolado e com propositais absurdos, engraçados pela extravagância. Por ampliação também se dava esse nome qualificativo a quaisquer orações acadêmicas, por pouco que se ressentissem do tom enfático que era peculiar a esse gênero. Cremos que o inventor do bestialógico, ou, pelo menos, o seu introdutor na Academia de São Paulo foi Bernardo Guimarães, que primava nesses torneios, improvisando em prosa ou em verso os mais jocosos despropósitos".

A propósito de BG e o bestialógico, anota o "Correio da Manhã" de 8 de novembro de 1952: "Era, de resto, um estudante alegre, sempre pronto a animar uma festa ou reunião. Tornara-se especialista num gênero poético então muito em voga entre os estudantes: o bestialógico, que consistia em encarreirar versos confusos e obtusos, com palavras pomposas, que soavam muito bem ao ouvido, mas não queriam absolutamente dizer nada".

Armelim Guimarães, escritor e neto de BG, escreve que "a república da rua da Forca, residência em São Paulo de Bernardo, foi -- como não podia deixar de ser -- o primeiro cenáculo do bestialógico. As sessões eram invariavelmente às quartas-feiras. Fazia parte do rito um ágape, denominado pelo boêmio mineiro de ceia escolástica, obrigatoriamente servido com animais roubados, destacando-se frangos e leitões, abundantes nos quintais daqueles tempos".

Antônio Constantino apresenta outros detalhes: "Bernardo instituiu as escolásticas, ceias regadas a vinho, nas quais, contudo, o conhaque e a pinga eram também engolidos em boa quantidade. Exigia-se de cada conviva fazer um bestialógico durante o regabofe, porém ninguém se equiparava, nisso, a Bernardo, que os improvisava em versos".

BG também produzia seus versos disparatados durante as aulas de Direito. Escreve Armelim Guimarães: "Nas salas de aula, em vez de compenetrar-se dos temas do Direito expendidos pelos mestres, ele observava a casaca demais folgada, o cavanhaque mal cuidado, a camisa desabotoada, a calvície, os sestros e trejeitos do lente, e não raro fazia correr, de mão em mão, em plena aula, um gozadíssimo bestialógico em que se via satirizado o professor, versos que, às vezes, perturbavam o geral aproveitamento da preleção, tal a hilaridade a custo contida pela classe, enquanto o boêmio, comportadamente sério em seu banco, apresentava atitudes graves e angelicais".

Prossegue Armelim: "O professor Prudêncio Geraldes Tavares da Veiga Cabral, intolerante e avesso às brincadeiras da estudantada, descobriu uma denominação mais consentânea para o bestialógico, a qual, além de bem mais a propósito, era mais condizente com o nome de seu inventor: chamou ele de bernardices aos pantagruélicos versos da nova "escola".