Casou-se
em 1891 com Elisa da Silva Guimarães, filha de Joaquim
Caetano da Silva Guimarães, ministro do Supremo Tribunal Federal, e sobrinha do
escritor Bernardo Guimarães. Ainda em 1891, foi nomeado
engenheiro [da então província] de Minas Gerais e iniciou duradoura
colaboração científica com publicações do Rio de Janeiro. Em 1894, assumiu o
cargo de consultor técnico do secretário de Agricultura, Comércio e Obras
Públicas de Minas Gerais, Francisco Sá.
Eleito deputado federal na legenda do Partido Republicano Mineiro (PRM) para a
legislatura de 1897-1899, logo destacou-se na Câmara por seu conhecimento dos
problemas nacionais, especialmente os ligados à engenharia e à mineração.
Defendeu a redução das tarifas alfandegárias, manifestou-se sobre a questão de
fronteiras com a Guiana Francesa e se opôs à transferência da Escola de Minas
para Barbacena (MG).
Tendo ficado contra o presidente da
República, Prudente de Morais, na cisão do Partido Republicano Federal, não
conseguiu a reeleição para a Câmara no pleito de 1900 por lhe faltar o apoio dos
grupos oligárquicos que, na época, controlavam as eleições no país.
Depois de trabalhar algum tempo na mineração de
manganês e de realizar uma viagem à Europa, Calógeras retornou ao país e, em
1903, publicou As minas do Brasil e sua legislação, obra que lhe valeu
projeção nacional. No livro, defendia a tese que mais tarde apresentou na Câmara
e foi transformada na Lei Calógeras: propunha que se estabelecesse uma distinção
entre a propriedade do solo e a do subsolo, assegurando ao governo o direito de
desapropriar o subsolo para explorá-lo.
Retornou à Câmara ainda em 1903, eleito pelo
Distrito de Ouro Preto na legenda do PRM, e em pouco tempo adquiriu a reputação de
uma das figuras mais expressivas do Congresso. Reeleito sucessivamente em 1906, 1909
e 1912, manteve-se no Parlamento até 1914, participando com destaque do debate de
todas as principais questões nacionais da época.
Pronunciou-se sobre a valorização do café, a caixa
de conversão, a reforma tributária, a política de transportes, a consolidação
das fronteiras, a generalização de instrução pública de nível primário e,
naturalmente, a mineração. Apresentou o projeto transformado na Lei Calógeras e,
a convite do barão do Rio Branco, integrou a delegação brasileira à III
Conferência Pan-Americana, realizada no Rio de Janeiro em 1906. Interveio na
questão do condomínio da lagoa Mirim, na fronteira entre Brasil e Uruguai, e da
livre navegação no rio Jaguarão (RS). Em 1908, discursou na Câmara sobre o
reaparelhamento bélico. Participou da IV Conferência Pan-Americana, realizada em
Buenos Aires (1910), e ainda nesse período converteu-se ao catolicismo,
manifestando-se em debates parlamentares contra o divórcio e a favor da
instalação de uma representação diplomática permanente junto ao
Vaticano.
Em seu último mandato fez cerrada oposição ao
governo do marechal Hermes da Fonseca, e colaborou com a revista Defesa Nacional,
dirigida pelo grupo dos "jovens turcos", oficiais que haviam estagiado
no Exército alemão e pretendiam modernizar as forças armadas brasileiras. Eram
conhecidos assim em alusão ao movimento nacionalista que atuava no processo de
modernização da Turquia na mesma época.
No Ministério da
Agricultura, Indústria & Comércio
Ao assumir o governo federal (15/11/1914), [o
presidente] Wenceslau Brás aceitou a sugestão de militares ligados aos
"jovens turcos" e nomeou Calógeras para a pasta da Agricultura,
Indústria e Comércio. Em sua gestão, que durou apenas até julho do ano seguinte,
o novo titular promoveu a reorganização de todos os departamentos do ministério,
fixou as bases do crédito agrícola, aplicou a lei de sua autoria na
regulamentação da propriedade das minas e estudou o uso do álcool como substituto
da gasolina, em virtude de problemas de abastecimento causados pela Primeira Guerra
Mundial. Baixou ainda decretos reorganizando os serviços de veterinária e de
inspeção de defesa agrícola.
No Ministério da
Fazenda
Em junho de 1915, substituiu interinamente o ministro
da Fazenda, Sabino Alves Barroso Júnior, impedido por motivo de doença. Após
acumular as duas pastas durante um mês, foi efetivado no Ministério da Fazenda,
onde encontrou uma situação precária, marcada pela carência de rendas para
cobrir as necessidades mais urgentes, uma grande dívida flutuante, a arrecadação
aduaneira reduzida a 1/3, a suspensão da cobrança de impostos até que se
resolvessem alguns protestos e reclamações, a paralisia dos transportes marítimos
e a existência de um segundo funding loan (consolidação dos empréstimos
brasileiros junto aos credores ingleses).
Além desses problemas, Calógeras enfrentou a
incúria administrativa e a corrupção, o que lhe valeu ataques publicados na
imprensa pelos beneficiários desse estado de coisas. Superando os obstáculos, o
novo ministro regularizou a dívida flutuante, reorganizou a Casa da Moeda e assumiu
a responsabilidade integral pelo funding, promovendo um acordo com os
credores estrangeiros que impediu seu controle sobre as alfândegas brasileiras. Ao
deixar a pasta, em setembro de 1917, recebeu da Casa Rothschild um documento
atestando que nunca as finanças brasileiras tinham se apresentado tão
florescentes.
Reconduzido à Câmara Federal em 1918, recebeu do
presidente eleito Francisco de Paula Rodrigues Alves a incumbência de elaborar um
relatório da situação do país, que viria a ser posteriormente publicado sob o
título de Problemas da administração. Em novembro desse ano, motivos de
saúde impediram a posse de Rodrigues Alves no seu segundo mandato à frente do
governo federal, assumindo então, por pouco tempo, o vice-presidente eleito Delfim
Moreira.
Com
o término da Primeira Guerra Mundial, realizou-se em Versalhes (França) a
Conferência de Paz. Calógeras integrou a delegação brasileira ao congresso,
presidida pelo senador Epitácio Pessoa. Entretanto, Epitácio foi eleito presidente
da República para completar o quadriênio, e retornou ao Brasil. Calógeras assumiu
a chefia da delegação e, após o encerramento do Congresso de Versalhes,
permaneceu ainda algum tempo na Europa, representando o Brasil em alguns encontros
internacionais e chefiando a missão comercial que esteve na Inglaterra em
1919.
No Ministério da
Guerra
Regressando ao Brasil, Calógeras
não retomou seu mandato parlamentar em virtude de
ter sido nomeado ministro da Guerra do governo de Epitácio Pessoa, tornando-se o
único civil a ocupar esse cargo na história republicana do país. Sua escolha foi
aprovada por um grande número de oficiais do Exército, que já lhe haviam prestado
homenagens quando de sua atuação nos outros ministérios. Também repercutira
favoravelmente um discurso que pronunciara na Câmara no ano anterior sobre a
situação das forças armadas.
Em sua
administração, iniciada em outubro de 1919, o
Exército brasileiro experimentou intensa modernização, expansão e
aperfeiçoamento em todos os setores, contando para
isso, a partir de 1920, com a assessoria da missão militar francesa chefiada pelo
general Maurice Gustave Gamelin, que teve profunda influência na reorganização do
Exército e na formação de oficiais de estado-maior.
Calógeras
promoveu a reforma da instrução dos quadros e da tropa, tornando-a mais técnica
com a criação de escolas para cada especialidade, entre elas a Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais. Além disso, baixou nova regulamentação para as
escolas de Estado-Maior, de Aviação, de Veterinária e para os colégios
militares. Instituiu também a instrução física obrigatória para todas as
armas.
Alterou ainda a divisão territorial militar e a
organização das divisões do Exército, reorganizando a Artilharia de Costa e
criando a Diretoria Geral de Intendência de Guerra.
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Fez
grandes aquisições de material bélico moderno para as diversas armas e serviços,
incrementando a indústria militar nacional, sobretudo as fábricas instaladas em
Realengo, no Rio de Janeiro, e em Piquete
(SP). Construiu
103 estabelecimentos militares espalhados por todo o país, tomando cuidados
especiais com as instalações de serviços básicos nas casernas. No setor de
aviação, montou novas esquadrilhas, inclusive de aviões de caça.
Por influência direta da
missão francesa, surgiram em 1920 o Regulamento
Disciplinar do Exército (RDE) e o Regulamento Interno de Serviços Gerais (RISG).
Data também dessa época a formulação da primeira política de defesa nacional
abrangendo todos os aspectos de vida do país, desde a preparação militar
propriamente dita até o desenvolvimento de indústrias estratégicas, como a
siderurgia. Foi o desdobramento dessa concepção que levou à criação, em
1927, do Conselho de Defesa Nacional.
Ainda em
1920 o governo federal adquiriu a fazenda Quitaúna (SP), onde Calógeras
construiu um quartel-general que serviu de apoio à ampliação da força militar
estacionada nesse estado.
No final de sua gestão à
frente do Ministério da Guerra ocorreu o levante de 5 de julho de 1922, inaugurando
o ciclo de movimentos tenentistas que marcou a década. Pandiá Calógeras
participou diretamente dos acontecimentos que antecederam a revolta, bem como da
repressão ao levante. Foi ele que, a pedido do presidente Epitácio Pessoa, enviou em
1º de julho um aviso de repreensão ao marechal Hermes da Fonseca, presidente do
Clube Militar, por suas declarações contra a participação de tropas federais no
conflito entre forças políticas pernambucanas em
torno do resultado das eleições estaduais ali realizadas. A polêmica então
estabelecida entre o marechal e o governo levou à sua prisão e ao fechamento do
Clube Militar no dia 2 de julho, o que revoltou parcela ponderável da juventude
militar. Informado dos preparativos para uma revolta no forte de Copacabana, Calógeras
enviou o capitão José da Silva Barbosa, acompanhado pelo general Bonifácio Costa,
para substituir Euclides Hermes da Fonseca (filho de Hermes da Fonseca) no comando
dessa corporação. A prisão desses oficiais legalistas pela guarnição de
Copacabana configurou o início do levante, que envolveu também a Escola Militar e
algumas tropas da Vila Militar, no Rio de Janeiro, além do contingente estacionado em
Mato Grosso.
Em
todas essas frentes, a revolta foi rapidamente sufocada. Esperançosos de obter o
apoio dos oficiais da Vila Militar, os alunos da Escola Militar, chefiados pelo
coronel João Maria Xavier de Brito Júnior, começaram sua marcha sobre a cidade.
Recebidos a tiros pela guarnição, recuaram para Realengo, onde se renderam. Como
conseqüência, mais de quinhentos alunos foram expulsos da escola. Também em
Mato Grosso a rebelião foi logo dominada, com o deslocamento de tropas da Força
Pública de São Paulo, que obtiveram a rendição dos rebeldes.
No forte de Copacabana, a
revolta teve início em um ambiente de desilusão,
causado pela certeza de que não poderiam contar com o apoio dos companheiros de
conspiração. Apesar disso, os revoltosos atingiram o prédio do Ministério da
Guerra com tiros de canhão, o que alarmou as autoridades e levou à mudança do
quartel-general legalista para a guarnição do Corpo de Bombeiros situada do outro
lado da praça fronteiriça, o Campo de Santana. Em
6 de julho, o forte foi cercado e Pandiá Calógeras
começou a ameaçar seus ocupantes com um ataque por terra e mar, caso não se
rendessem. Diante da situação, o capitão Euclides Hermes liberou seus soldados e
oficiais para optarem, permanecendo no quartel apenas 28 voluntários dispostos a
lutar. Pouco depois, Euclides Hermes foi preso ao sair do forte para parlamentar com
Calógeras.
Sob o comando do tenente
Antônio Siqueira Campos, os revoltosos resolveram então abandonar o quartel e
continuar a luta marchando pela avenida Atlântica de encontro às forças
legalistas, desencadeando então o episódio conhecido como Os 18 do Forte, última
escaramuça da revolta de 1922, que resultou na morte de vários revoltosos e
ferimentos nos restantes.
Depois
de 1922
Com o fim do mandato de
Epitácio Pessoa (15/11/1922), Calógeras deixou o
ministério e se afastou da política por discordar da eleição de Artur Bernardes
para a presidência da República. Entre 1923 e 1929, presidiu a Companhia Nacional
de Artefatos de Cobre (Conac), desenvolvendo também grande atividade intelectual
como jornalista, conferencista e escritor. Nesse período, publicou A política
exterior do Império, em três volumes,
considerada sua obra mais importante como historiador e, em
1930, Formação histórica do Brasil. Em
1928, foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia.
Quando das eleições
presidenciais de março de 1930, apoiou Getúlio Vargas, candidato da Aliança
Liberal, coligação interpartidária de oposição. Com a vitória do situacionista
Júlio Prestes, as forças oposicionistas aceleraram os preparativos para uma
revolta armada que, deflagrada em 3 de outubro, foi vitoriosa ao cabo de 21 dias de luta. Convidado, Calógeras
recusou-se a participar da junta governativa que exerceu o poder até a formação, em
3 de novembro, do Governo Provisório, chefiado por Vargas. Esse governo nomeou-o em
1931 relator do projeto sobre legislação de minas nas comissões legislativas
então instituídas e membro da Comissão de Estudos Financeiros e Econômicos dos
Estados e Municípios. No mesmo ano, a convite do governo mineiro, estudou a reforma
do sistema tributário desse estado.
Em
1932 tornou-se presidente da Liga Eleitoral Católica e manifestou simpatias pela
Revolução Constitucionalista, deflagrada em São
Paulo para exigir a imediata reconstitucionalização do país e a devolução da
autonomia estadual. Mesmo derrotada, a revolução teve influência na convocação
de eleições para a Assembléia Nacional Constituite em
1933. Nesse pleito, concorrendo em Minas Gerais na
legenda do Partido Progressista (PP), Calógeras
obteve a maior votação até aí alcançada no Brasil por um candidato a deputado.
Pouco depois, seu nome foi incluído na lista apresentada por líderes mineiros a
Vargas para que este escolhesse o interventor que substituiria o governador
Olegário Maciel, recém-falecido, na chefia do Executivo estadual. A escolha do
chefe do Governo Provisório recaiu, entretanto, sobre Benedito
Valadares.
Pouco depois, em
21 de abril de 1934, Pandiá Calógeras
faleceu em Petrópolis (RJ), na vigência de
seu mandato constituinte.
Foi patrono da cadeira nº 7 e membro correspondente no exterior da Academia Carioca
de Letras. Além de inúmeros discursos, relatórios e artigos, publicou obras sobre
diferentes temas, nas áreas de sociologia, história, finanças, indústria,
administração, engenharia, política e pedagogia, entre as quais As minas do
Brasil e sua legislação (3v., 1904-1905), La politique monétaire du
Brésil (1910), Os jesuítas e o ensino (1911), Novos rumos
econômicos (1912), Rio Branco e a política exterior (1916), A
política exterior do Império (3v., 1927-1933), A união brasileira (1927),
A Ordem de São Bento e a civilização (1927), Problemas de governo
(1928), Formação histórica do Brasil (1930), Conceito cristão do
trabalho (1932), Problemas de administração (1933), Estudos
históricos e políticos (Res nostra) (2ª ed., 1936), O marquês de
Barbacena (1936), Ascensões d'alma (uma página íntima), As
relações exteriores do Brasil e A Lei de Minas.
Deixou vários inéditos,
entre os quais Diário da Conferência de Paz, um ensaio sobre a eucaristia,
e um trabalho de caráter íntimo chamado Méditations.
Muitos artigos e livros foram
escritos sobre a vida de Pandiá Calógeras, entre
os quais o de de E.M de Castro e Silva, À margem do ministério Calógeras,
a coletânea Pandiá Calógeras na
opinião de seus contemporâneos (1934), o de
Antônio Gontijo de Carvalho, Calógeras (1935)
e o de Luís Pinto, Pandiá Calógeras (1955).
Robert
Pechman (historiador) |