O parentesco dos
Guimarães
com os Guimaraens
Não há aula de Literatura, antologia
poética ou artigo literário em que se deixe de comentar que o poeta
simbolista Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) foi apaixonado por sua prima
Constança, filha do romancista Bernardo Guimarães, "a que se morreu silente
e fria".
A transcrição do soneto
"Hão de chorar por ela os cinamomos", à direita da tela,
corrige um erro no site da Academia
Brasileira de Letras, que registra os adjetivos "fulgente e fria" e
não "silente e fria".
(O lapso foi cometido a primeira vez pelo
arguto crítico M. Cavalcanti Proença e, embora ele próprio tenha se
corrigido em artigos posteriores, outros críticos e professores de
Literatura e mesmo a A.B.L. o copiaram... até no engano!)
Correções devem ser feitas. Mesmo porque o que a
maioria dos autores não sabe explicar é o grau de parentesco.
Eis o esclarecimento.
Entre as irmãs de Bernardo Guimarães, havia Maria
Fausta, que se casou jovem com João Inocêncio de Faria Alvim. Desse casamento
nasceu Francisca Alvim (conhecida por Chiquinha Alvim), que mais tarde iria se
casar com o comerciante Albino da Costa Guimarães (nascido no distrito de Braga,
em Portugal).
Chiquinha e Albino tiveram vários filhos, entre
eles Afonso Henriques da Costa Guimarães, ou Alphonsus, o grande poeta
simbolista.
Há, portanto, uma coincidência entre os
sobrenomes Guimarães.
Como sinal da estética Simbolista e, na
prática, para diferenciar os dois ramos da família, bem cedo Afonso
Henriques latinizou seu nome e sobrenome tornando-se Alphonsus de Guimaraens.
E como Alphonsus imortalizou-se com obras poéticas como Setenário das
Dores de Nossa Senhora, Kyriale, Pastoral aos Crentes da Amor e da
Morte.
A latinização do nome de Afonso
Henriques também permanece útil nos dias de hoje,
especialmente entre os estudiosos de Literatura e estudantes de Letras,
para distinguir o poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens
de seu primo, o romancista Afonso da Silva Guimarães (filho de
Bernardo Guimarães), autor do ótimo Os Borrachos, que se
assinava Silva Guimarães.
Afonso da Silva Guimarães (*Queluz de Minas, hoje Conselheiro Lafayette, MG,
30.04.1876 +Belo Horizonte, MG, 24.11.1955 era o 5º filho de Bernardo
Guimarães)
Logo, o simbolista Alphonsus de Guimaraens era
sobrinho-neto de Bernardo Guimarães, posto que era filho de uma sobrinha de BG,
Chiquinha Alvim.
A diferença de gerações ocorre porque Maria Fausta casou-se cedo (por volta dos
16 anos) e seu irmão Bernardo, bem tarde, com 42 anos de idade.
Constancinha morreu aos 17 anos, vítima de
tuberculose. Consta na crônica familiar que Alphonsus era apaixonado pela
prima.
Constança da Silva Guimarães nasceu em 11 de novembro de 1871 em Ouro Preto,
cidade onde também faleceu a 29 de dezembro de 1888.
Constancinha herdou de seu pai a verve humorística fina; a ironia e uma
construção coloquial das frases que torna seus escritos muito agradáveis de
serem lidos. Suas cartas a primas e amigas (especialmente à prima Elisa) revelam
um texto surpreendentemente desenvolvido para uma adolescente. Com a morte de
Constancinha, Alphonsus casou-se mais tarde com Zenaide.
Também é voz corrente nas histórias de família que a mãe do poeta
simbolista Alphonsus de Guimaraens, Chiquinha Alvim Guimaraens, era a mais
generosa das pessoas, tendo ajudado e socorrido materialmente,
em incontáveis ocasiões, a viúva e os órfãos de
Bernardo Guimarães, após a morte do romancista.
Bernardo Guimarães vivia na prática de seus escritos. Quando morreu, a família
dele ficou sem recursos, porque não havia na época Previdência Social ou leis
que garantissem aos herdeiros o recebimento de direitos autorais.
Descendentes e colaterais,
do livro "Bernardo Guimarães, o romancista da abolição", de José
Armelim.
O Olhar do Poeta , poema que
Alphonsus de Guimaraens escreveu sobre BG.
Memória da
família Guimaraens: Citava-se o bardo por dá lá aquela palha. De Nina de
Guimarães Horta. Folha de S. Paulo de 3 de março de 2001 |
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Hão
de Chorar por
Ela os Cinamomos...
Alphonsus de Guimaraens
Hão de chorar por ela os
cinamomos,
Murchando as flores ao tombar
do dia.
Dos laranjais hão de cair os
pomos,
Lembrando-se daquela que os
colhia.
As estrelas dirão — “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e
fria.. . ”
E pondo os olhos nela como
pomos,
Hão de chorar a irmã que
lhes sorria.
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há
de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de
rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul
ao vê-la,
Pensando
em mim: — “Por que não vieram juntos?”
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