Cronos cai...

Correu Hipérion até o topo do Monte Otris. Lá estava Cronos em traje de guerra segurando a terrível foice e observando a guerra que se desenrolava por toda Hélade. Hipérion iluminou a noite e o semblante teso e forte do irmão. O Tempo permaneceu imóvel e tenso como de costume. Hipérion o fitou com pesar.
- Está acabado. Não duraremos mais um dia nessa guerra insana - disse o Titã da Luz.
Cronos permaneceu imóvel. Hipérion sentiu sua dor.
- Seremos esquecidos ? Tudo o que fizemos ? Terá sido em vão ?
Como que distanciado do mundo, o Pai Tempo olhou para o irmão. Longe das armas e cansado da luta, o abraçou.
- Não ! Não poderemos ser esquecidos. Sinto que uma nova ordem virá, mas nosso mundo nunca poderá ser esquecido. Não tema por si, nem por sua mulher e filhos. É a mim que o Destino chama. Minha época já se passou. Mas suas glórias nunca poderão ser esquecidas. Será de linhagem longa, seus filhos serão de glória. Não existe vida sem Luz.
Hipérion ainda se perguntava como que um irmão mais novo podia demonstrar tanta força e passividade quanto ao terrível futuro que se prenunciava.
- Ao Tempo caberá o Tártaro sombrio e distante. Só é assim porque uma nova ordem virá. Mas eu sou um Titã e sou imortal, como todos nós - ressoou Cronos ao vento e som da batalha.
- Ao Tempo caberá o Tártaro sombrio e distante. Só é assim porque uma nova ordem virá. Mas eu sou um Titã e sou imortal, como todos nós - ressoou Cronos ao vento e som da batalha.
- Vê ? Caro irmão ? Está será a lembrança de nosso reino e magnifico rei ! Todas as noites, todos os seres que pisam no chão de Gaia olharão para o céu e verão Cronos a cruzar o firmamento. E o chamarão de planeta. E será uma luz a iluminar o caminho e alma de tudo que nasce. Terá a minha Luz, a precisão do Tempo e a Memória Universal. E poder nenhum poderá tirá-lo de lá.
Sorriu Cronos e bradou:
- Que assim seja até o fim dos tempos !
Assim, com lágrimas nos olhos, Hipérion se lançou a batalha com fúria e paixão.
Ainda solitário e fixo, Cronos chamou o corvo. E disse ao corvo:
- Vai ! Leva a foice. Dê à minha Grande Mãe. Que seja guardada e só usada por justos e heróis e por mim, quando, se um dia, puder sair do Tártaro.
E o corvo obedeceu...
E Cronos pegou a espada e o escudo. E inspirou o sopro da guerra. E chorou...
O choro comoveu ao Caos. Então, vívido a frente do rei, o Caos e Eros se manifestaram.
Vai Titã ! Sua raça ainda viverá ! Eu, o Caos prometo. Voltará no final das Eras e será rei novamente. Adormecerá no profundo do Érebo e esperará pela sua hora.
Eros sorriu para Cronos e mostrou o futuro das Eras.
E Cronos correu para a batalha aliviado. Uma batalha que durou cem anos, pois o Tempo fez que durasse o quanto ele quisesse, pois ele era o senhor das horas.
E todos os deuses e titãs caíram, menos Cronos e Zeus. Cronos olhou para o filho que nunca ficava exausto. Sorriu e jogou a espada e o escudo para longe. E disse:
- Venha ! Leve meu reinado ! Faça sua nova ordem ! Tem a minha benção ! Tome seu lugar que é de direito !
E Zeus correu para golpear o pai. Sem trégua e sem amor. Mas, quase que como encantamento, Cronos desapareceu. Zeus procurou-o desesperado pela Hélade, sem descanso, até que o Caos apareceu a sua frente e proclamou:
- Pare ! Agora é rei do universo ! Seu pai se foi e voltará. Esteja pronto, pois ele vem com ar de vitória. Esteja pronto, pois ele é o senhor da Era final.
Embora enfurecido, Zeus se conformou. Procurou em vão pela invejada foice, mas não a achou. E uma nova Era se fez proclamada.

by Frater Cronos