A Castração de Urano
Fez-se dia. Pacientemente, Cronos esperou juntamente com Gaia a vinda de Urano. E Eros agiu... Não tardou e o poderoso Céu se aproximou de Gaia, como que se lançando a tudo. Na pureza do amor e no desejo de Gaia.
Quando Urano, em sua sede de união, avistou Gaia, que se colocava a sua disposição, copulou com ela, com furor e desejo. Cronos saltou a sua frente e, calado e preciso, sem ódio ou rancor, golpeou o pai. O aço da foice, feito da matéria da própria Gaia, agiu com sua força de criação e de destruição, castrando Urano.
Bradou o Céu e se contorceu de dor. Sua força de interagir no mundo e no universo se esvaía como sua fertilidade. Cronos fora certeiro, compreendera de onde vinha a força de seu pai, compreendera que ele era uma ferramenta da criação e geração... Da geração inconseqüente e livre. Assim, o Tempo limitava a ação pura e criadora do Caos, em prol da organização de Eros.
Os testículos de Urano voaram no espaço, indo cair no Oceano. Ali surgiu uma espuma, de onde surgiu Afrodite (nascida da espuma) sobre uma concha. Os Ventos levaram-na para a ilha de Citera e depois para Chipre. Onde as Horas acolheram-na e adornaram-na com belas vestes e jóias. Nascia a deusa do amor e da beleza. A criação da vida agora não seria mais apenas pelo desejo e impulso, mas sim pelo amor.
O sangue de Urano, que jorrou profusamente pelo espaço, caiu na Terra e a fecundou mais uma vez, gerando três terríveis seres, com asas e cabelos emaranhados de serpentes: as Erínias. Alecto, Tisífone e Megera. Furiosas, se voltaram contra Cronos, dizendo: "Maldito seja, viveremos para vingar o grande Urano, o qual mutilou. Não nos esquecerá até que o tenhamos vencido ! Será rei, mas será destronado, assim predizemos... Terá o mesmo vil destino que seu pai. Um filho o vencerá e vencerá pelo fogo e armas."
Calado, Cronos observou os terríveis seres. Agora sabia da vontade do Destino. Nascera para organizar o Universo, mas não teria futuro em sua obra.
Mas Cronos era implacável. Sabia de sua missão e seguiu em frente em sua obra. Expulsou Urano e o confinou para sempre no firmamento, longe de Gaia e de todos, condenado a sempre ver mas nunca interferir.