Ares, o deus da guerra.


Ares (Marte), o deus da guerra e da violência. Senhor da luta inconseqüente, da destruição e da vitória do instinto. Brutal e semeador da discórdia e desentendimento entre os homens e deuses. Essa energia também é de sentido material, o desejo pela posse, como se expressou na Idade Média, na Idade das Trevas e da guerra. Como toda divindade antiga, esteve ligado a terra, sendo anteriormente considerado uma entidade protetora da vida campestre, da agricultura e do pastoreio. Originalmente, entretanto, seria outro tipo de divindade, um deus menino, o dançarino perfeito, o viril amante de mulheres divinas. Teria sido educado por Priapo, filho de Dionisio e Afrodite, nascido com um falo descomunal e por isso abandonado por sua mãe, por temer ser ridicularizada pelos deuses. Dessa forma, Ares estaria ligado a fecundidade, virilidade e a agricultura. Priapo tinha o poder de desviar o mau-olhado das colheitas, sendo o protetor dos pomares e dos jardins. Era participante do cortejo de Dionisio. Ares mostra assim, alguma relação com o tipo de energia advinda de Dionisio (Baco), o deus do vinho e da embriagues. Sendo o senhor do instinto, da força de agressão, das energias bestiais e sexuais que afloram no ser humano, forças essas tendo por Dionisio o manifestador no homem. Senard liga o nome Ares ao étimo Are, que em grego significa violência e cólera. Ara exprime o conceito de destruição e vingança. A raiz sânscrita MAR forma o nome da divindade védica Marut, que dominava os furacões e o fogo sagrado, em coincidência com o Marte romano, primitivamente o deus das tempestades, invocado para proteger sua plantações do granizo, chuva forte, neve, etc. Um nome anterior de Ares teria sido Ara, maldição . Seu culto seria originário da Trácia, cujo povo era considerado pelos gregos, como bárbaro, rude e inculto. Ares teria sido filho de Zeus e Hera. Existem versões que dizem que ele teria sido filho somente de Hera, enciumada por Zeus ter sido pai de Athena sem sua participação. Entretanto, essa origem também é atribuída a Tifão, o monstro terrível, que quase destronou Zeus e a Hefestos (Vulcano) o deus do fogo. Mas é pertinente perceber que os dois deuses que comandam a guerra seria filhos do casal de reis do Céu e da Terra, cada um gerando um tipo de energia diferente. Zeus, pai de Athena, prudente e justo; Ares, filho de Hera, colérico e violento. Era desprezado pelos próprios deuses olímpicos. Durante as batalhas, os gregos preferiam invocar Athena, deusa da sabedoria e da estratégia militar, inspiradora dos atos heróicos. Os gregos sempre se notabilizavam na guerra pelo uso da estratégia. Admiravam a guerra bem combatida e abominavam o uso de energia inutilmente. Isso ficou claro quando venceram os Persas, que eram em muito maior número. Os romanos vieram a se identificar e absorver as virtudes guerreiras dos gregos, assim como sua complexa religião. Entretanto, o deus masculino da guerra era colérico e assassino, versado na agressividade incontida e sem motivo. A pura manifestação do instinto contra a lógica, a carnificina, a morte sem sentido ou honra. Os deuses na luta escolhiam um lado, protegiam seus heróis. Ares, entretanto, golpeava ao acaso, não tinha heróis ou protegidos, lutava contra os dois lados da batalha. Sempre em um carro puxado por quatro cavalos, entrava na luta como qualquer outro mortal. Com uma couraça, escudo e capacete, acompanhado de seus filhos Deimos (Medo) e Fobos (Terror). Essa agressividade e instinto desenfreados levaram Ares a raramente vencer as lutas que empreendia. Na guerra de Tróia, quando lutava ao lado de Heitor, ao se defrontar com Athena, que defendia os gregos, a insultou e arremessou sua espada contra a égide da deusa. Athena afastou-se e lançou uma pedra, atingindo-o no pescoço. Ares caiu e suas armas se espalharam pelo chão. Segundo versões, nesse episódio, Ares media mais de setessentos pés e gritou como nove ou dez mil homens, e ficou estendido, sem nenhum tipo de dignidade. Ao Héracles (Hércules) matar Cicno, um dos filhos do deus, este desafio-o para a luta. Aproveitando-se de um descuido do adversário, o herói feri-o gravemente na coxa. Furioso, Ares retirou-se para o Olimpo para se curar. Nem mesmo Zeus simpatizava com o intempestivo deus da guerra. Considerava-o odioso e amante das discussões. Da discórdia (Éris com quem teve um filho), das rivalidades e do conflito. Ares fere e é ferido. Ele é também um símbolo da morte e ressurreição. Da regeneração. Na batalha ele representa o inimigo, a força do outro, aquele que deve ser superado. Ele também tem um aspecto de virilidade e energia sexual pura, energia não controlada. Nunca teve muito sucesso em seus amores, sempre a perseguir as deusas, ninfas e mortais. Quando era rejeitado, as violentava brutalmente. Ares se assemelha a energia da Kundalini, aquela que irrompe, que está adormecida. Energia pura e sem controle. O amor de Ares e Afrodite talvez seja o mais conhecido da mitologia grega. Dessa união surgiram Eros (Cupido) segundo versões , Harmonia, Deimos e Fobos. O instinto da agressividade se une com o amor. Os princípios masculinos e femininos em sua forma mais manifesta. O amor instintivo, sem controle, que é oculto de Hefestos (Vulcano), marido de Afrodite. Ares, aqui se torna o senhor do erotismo, da expressão da virilidade e da liberdade de Afrodite, que se casara contra a vontade com Hefestos, o coxo e feio deus do fogo e ferreiro dos deuses, o provável regente do laborioso signo de Virgem. O amor estaria preso e restrito a laboriosidade, a aquele que luta e consegue, por habilidade e méritos. Entretanto, o amor, personificado pela inconstante e volúvel Afrodite, não pode ficar preso ou ser controlado. E foi através do instintivo e imprevisível Ares que ele tomou as asas de sua liberdade. Após tentar e conseguir seduzi-la, Ares começa a encontrá-la as escondidas e amando-a precisamente no leito nupcial. Porém, Hélios (Sol), vê e conta tudo ao ferreiro divino. Encolerizado, Hefestos começa a trabalhar em sua vingança, batendo com seus potentes tenazes a confeccionar uma teia invisível do mais forte metal. Essa teia foi colocada em seu leito, sem que Ares ou Afrodite desconfiassem. Ares nada percebe, pois é o instinto, aquele que age sem pensar ou mediar. Fingindo-se partir para Lemnos, o casal se une novamente. Avisado por Hélios mais uma vez, o deus do fogo ativa sua armadilha e aprisiona os amantes em sua teia. Então Hefestos chama aos deuses e coloca Afrodite e Ares ao escárnio e humilhação. Apenas Possêidon se coloca a favor dos amantes e pede que Hefestos os solte. Afrodite se retira e Ares ruma para a Trácia, como exílio e punição. Mais uma vez os gregos querem demonstrar seu desagrado quando ao instinto e as atitudes impensadas. Esse terrível Ares não encontra lugar entre os romanos. Seu espírito guerreiro e patriarcal acabam por eleger o masculino deus da guerra como sua principal divindade. Athena é identificada com Minerva e toma seu lugar como deusa da sabedoria, em detrimento da guerra. Era considerado o pai de Romulo e Remo, os míticos gêmeos fundadores de Roma. Como era primordialmente um deus das tempestades e com a evolução da sociedade romana, para guerreira e conquistadora, com sua agressividade já contida nas intempéries, o transformaram no deus da guerra. Marte era o protetor das lutas, das conquistas e da guerra romana. Para tudo era consultado, nada era feito sem o consentimento do deus. Suas festas e santuários eram diversos. Acreditava-se em seu poder purificador, como o das tempestades. Ares/Marte é também Geburah, na Cabala. É o oposto a Chesed/Júpiter. Enquanto Chesed representa misericórdia, bondade e construção da forma através amor e atração, Geburah representa a energia oposta de destruição e dilaceramento. Geburah está sob Binah/Saturno, no pilar da severidade da árvore. Ele corresponde ao regulador, ao juiz e policial do espírito e do universo. Vejamos seus atributos segundo Dion Fortune:

Essa relação demonstra a proximidade tão grande de Geburah com o greco-romano Ares/Marte e até com o védico Marut. O Destruidor, o Rei Guerreiro, A Capacidade de Julgamento, O Clarificador, O Eliminador do Inútil. Geburah seria a espada punitiva da Criação, aquele que regula pela mão forte, a cólera, a forma sendo mantida pela força. Como Chesed é uma energia de amor e filantropia, a energia da Criação enamada por Kether que é dada para o cosmo com alegria e compaixão, pode criar desvios e abusos. Geburah vem para regular e patrulhar qualquer disfunção. A manifestação da bondade, em contraposição a belicosidade, gera condições para a manifestação de Tipheret, o Sol interior, conforme o caminho da espada flamejante. Enquanto Chesed constrói, Geburah destrói. Geburah seria uma espécie de Shiva, em contraposição ao Bramam/Chesed. Suas lições podem ser insuportáveis e devastadoras. Caso as Sephiroth não fossem consideradas sagradas, Geburah seria associado ao mal. Segundo Dion Fortune: "A grande fraqueza do Cristianismo está no fato de ele ignorar o ritmo." Principio hermético do ritmo. "Essa religião opõe D-us ao Diabo em vez de Vishnu e Shiva. Os seus dualismos são antagônicos em vez de equilibradores e, portanto, nunca podem produzir uma terceira opção funcional em que o poder esteja equilíbrio. O seu D-us permanece o mesmo ontem, hoje e sempre, e não evolui juntamente com sua criatura. Em vez disso, ele regala-se com um ato especial de criação e descansa sobre Seus Louros." Ainda Dion Fortune: "As iniciações do maléficos, Saturno, Marte e a enganosa Yesod lunar, são tão necessárias à evolução e ao desenvolvimento equilibrado da alma como o são os Mistérios da Crucificação atribuídos a Tipheret. É o ponto de vista unilateral do Cristianismo que causa a debilidade, sendo ele responsável por tudo que é patológico e mal são tanto em nossas vidas privadas como em nossa vida social. Mas não devemos esquecer igualmente que o Cristianismo chegou com um remédio para o mundo pagão que estava moribundo com suas próprias toxinas. Temos necessidade daquilo que o Cristianismo tem para dar; mas também, infelizmente, temos de ter em conta o que falta." "Que falta nos fazem as virtudes espartanas de Geburah nessa época de sentimentalismos e neuroses ! Quantas quedas não poderíamos se esse Cirurgião Celestial pudesse executar o corte limpo que tem chance de curar, evitando assim o compromisso fatal e a irresolução doentia, que é como uma ferida aberta e ameaçada de gangrena." Geburah tem uma energia muito mais próxima do Marte astrológico. Não apenas o deus da guerra, mas a agressividade e a força empregadas de forma a regular o indivíduo e o universo. Ares/Marte corresponde, como já foi extensamente dito, a agressividade sem controle, a fúria das tempestades, a energia sexual incontida. Ele deve ser absorvido e revertido para o uso conjuntamente com a vontade. A força instintiva, que existe em todos pode se voltar contra nós. Ele é um dos portadores do fogo, da fúria das chamas, dominado por Hefestos, aquele que domina o fogo. Ele é o fogo primordial, cuja vida seria sem sentido. Também é aquele que mata e abre os portais da morte. Como deus interior e Geburah, ele regula a severidade e controle. A energia instintiva e incontrolada de Ares/Marte deve ser transformada e absorvida, para que se torne Geburah. Ao vencermos os instintos, a energia positiva da guerra irrompe no ser e abre caminho para o Eu Espiritual, o Triângulo Superno (Kether, Binah e Chokmah).

 

by Frater Cronos