O processo astrológico de manifestação da Gnose.
A Astrologia tem conexões muito interessantes com a Gnose. Segundo algumas tradições antigas, existem 36 Arcontes, ou Regentes, 3 para cada signo, ou seja 1 para cada decanato. Esses Arcontes são os seres que nos prendem a esse mundo e nos impedem de voltar ao Pleroma, o local de origem do homem, segundo o mito gnóstico da criação. Acima deles estaria Abraxas, além da prisão astrológica. Abraxas teria sido primordialmente um dos Arcontes, mas que se voltou a Sofia, abandonando Saclas, o demiurgo, ou o criador invejoso do Gênesis.
A Astrologia é essencialmente um processo de terceira via de recepção da Gnose. Mas funciona de forma diferente de outros processos ditos gnósticos. Com o estudo e a vivência do processo astrológico, o indivíduo começa a criar novos níveis de consciência, de forma que começa a compreender o funcionamento e a sincronicidade do universo.
A melhor forma de explicar isso é ir ao encontro do que realmente é a Astrologia. A Astrologia é o estudo dos ciclos, única e tão somente. Através da compreensão dos ciclos, o homem entra em harmonia com eles, na busca da sincronia com o Cosmos. Mas esse processo não é fácil, ou simples. Pelo contrário, é doloroso e demorado, dependendo de certos fatores. O homem se torna consciente desses ciclos, parte integrante e ativa deles. Percebe que como está fundamentalmente ligado a sua manifestação e quão dependente do movimento de todo o universo ele é.
A Alquimia é filha da Astrologia, pois as duas agem de forma semelhante. A Alquimia é fundamentalmente inseparável da Astrologia. E na Alquimia existe muito conhecimento que complementa a Astrologia e que até mesmo ajuda a explicá-la.
O processo de revelação astrológico é alquímico, pois a matéria bruta é trabalhada sutilmente até se tornar ouro. A medida que o alquimista trabalha a Astrologia e tenta compreendê-la, a Astrologia trabalha o alquimista, de forma a que ele possa compreendê-la. Portanto, o astrólogo deve procurar compreender a Alquimia e seus processos inevitavelmente. A Alquimia é essencialmente uma aplicação prática da Astrologia. E a Astrologia é um processo prático, real, mágico e ritualístico. É essencial que o operador (ou seja, aquele que opera nesse processo, que toma parte dele, que é transformado por ele) tenha a consciência que um processo astrológico é sem dúvida nenhuma um processo dinâmico de transformação do indivíduo, de procura e de comprometimento. Quanto maior o comprometimento com o estudo da astrologia, maior a vivência do operador, maior a compreensão das suas dimensões, mais integrado ele se torna e mais transformado ele se torna pelos movimentos do cosmos. Até um ponto onde a ele é permitida a manipulação da natureza, pela total compreensão de como funcionam todos os processos cósmicos aos quais ele está atado.
Quanto mais nos integramos e compreendemos os ciclos, mais habilidade temos em perceber a linguagem astrológica. A observação dos ciclos externos nos leva a perceber os ciclos internos e vice-versa. Essa afirmação está em conformidade com o dito hermético "o que está em cima é semelhante a aquilo que está embaixo, e aquilo que está embaixo é semelhante a aquilo que está em cima". Aquele que não compreende sua interação com os ciclos é incapaz de compreender a astrologia. Uma vez o operador estando ciente do processo que vive, começa a compreender e constituir um novo conhecimento astrológico. Ou seja, a recepção do conhecimento astrológico é fruto da interação do operador com o processo, no sentido de fatos que ocorrem com ele, tanto internamente ao nível da psique, como externamente, do ponto de vista da sua relação com o meio em que vive e interage.
Aleister Crowley em sua obra-prima, "Magick in Theory and Practice", ao se referir a Astrologia, criou mais uma de suas conhecidas provocações. Dizia ele que não existem dois astrólogos que concordem em algum principio básico da Astrologia. Mesmo os profissionais do assunto são ignorantes do tema. Essa afirmação é essencialmente verdadeira e explicá-la dentro do contexto do processo de vivência astrológica ? Tentar uma explicação acaba por indicar um interessante conceito de como se manifesta o processo de recepção da Gnose, através da transformação imposta ao homem e decodificada pela Astrologia.
A verdade é que cada astrólogo apenas consegue ver o seu próprio mapa. O que ele vê no mapa de outrém é apenas uma projeção da compreensão que ele tem do processo todo sobre ele mesmo. Ou seja, um astrólogo apenas interpreta um tema a partir do que ele conhece de Astrologia, vindo unicamente de sua vivência individual e da percepção que ele tem dos ciclos que o afligem, ou daqueles que o cercam e que ele está preparado para poder enxergar. Essa visão é extremamente limitada e coercitiva. Muitos irão dizer que o astrólogo aprende com outros e assim compartilham suas vivências. Mas isso é incorreto, pois cada um irá compreender a partir do grau de percepção que ele próprio tem do processo a que vive.
Essa limitação se deve ao fato de que quanto mais ele tiver resolvido as energias de seu mapa, mais condição ele tem de compreender o processo da astrologia. E isso é possível apenas através do reconhecimento de um processo essencialmente e fundamentalmente prático. Através da percepção e interação com as energias cósmicas, da forma como elas se manifestam no meio em que o operador vive, e dos humores e disposições criadas dentro dele próprio e naqueles que o cercam, é que ele pode verdadeiramente decodificar a energia que forma um emaranhado em sua volta.
Esse processo de decodificação do conhecimento astrológico é uma forma de Zotherianismo, pois o conhecimento e a experiência vem de Kether para baixo. O operador é transformado pela energia que provém de Kether, ou Mezla. Uma vez que seja transformado, ou melhor, mais resolva a si e a seu tema, mais alto é elevado dentro da Árvore da Vida. E quanto mais ele se eleva, mais próximo de Kether ele chega. E quanto mais alto está na Árvore, mais conhecimento astrológico ele recebe. Ao mesmo tempo, o operador é colocado em contato com seres que lhe transmitem o conhecimento e o encaminham a mais e mais vivências nesse sentido, de provocar manifestações e acontecimentos que o induzam a perceber mais rápida e corretamente o sentido oculto das energias com as quais interage. Dessa forma, quanto melhor o operador servir de veiculo para esses contatos, mais preparado e aberto ele está para a recepção e percepção adequada do que nele vive e transforma.
O processo de recebimento da Gnose pela astrologia é portanto uma via dupla. Quanto menos resistente às mudanças impostas pelo movimento dos astros, ou melhor, pela dança cósmica da qual ele faz parte, mais o operador compreende o processo ao qual ele está ligado. E com mais energias toma contato, abre mais canais para a comunicação de seres que tem como missão a transmissão do conhecimento.
Como ocorre esse processo todo ? Como realizar essas mudanças em si mesmo ? Para compreender melhor, temos de analisar o ego. Esse demônio chamado ego é na verdade e tão somente, uma proteção. Aliás, essa é a função dos demônios, guardar. Ele protege a pessoa que está em Malkhut ou abaixo, fazendo uma cortina, ou véu, para que as energias violentas que estão acima não queimem seus olhos. O ego é excelente para quem não está preparado para a subida. Mas é péssimo para quem quer se preparar, ou sair do lugar. Tão temeroso de ajudar o indivíduo e medroso de desaparecer, ele distorce a energia planetária e cria terríveis conflitos contra a vontade do operador.
O ego tem 7 máscaras. São 7 energias primordiais que fazem a composição da personalidade do indivíduo. Os sete véus tem correspondência com os 7 planetas clássicos e básicos da Astrologia. Quanto menor a distorção dessas energias, mais "resolvida" é a pessoa e menos em conflito com o mapa radical ela está. Menos problemas de distorção da máscara primordial do ego, com a atual, menos problemas em um transito de planetas lentos.
Isso se dá a partir de brechas criadas por Yesod, deixando a luz de Tiferet passar. Nesse ponto, o processo passa a ser mágico, mesmo que o operador não tenha consciência disso. A forma dessa passagem é a quebra das 7 máscaras do ego ou do véu de Paroketh, ou mais simplesmente faz-se um re-arranjo. Dessa forma o operador aprende a melhor usar seu radical, através de uma recomposição da energia desse mapa. Esse é o processo alquímico da Astrologia. Lentamente, com a vivência e percepção, com a procura da Pedra Filosofal, o alquimista trabalha a si mesmo, até encontrar a Prima Matéria.
Um radical não é absoluto. Para cada planeta, em determinado grau no mapa, com determinados aspectos, existem várias formas das energias emanadas por ele se manifestarem. Inconscientemente, utilizamos essas energias da forma que queremos, de forma a maximizar sua influência ou não. Isso pode até criar relações destoantes no operador. Nesse caso, como um radical não é absoluto, ele pode ser manipulado, para que ativemos partes benéficas ou obscuras dele mesmo. Segundo essa teoria podemos ativar Vênus no mapa, ou desligá-la. Isso pode acontecer involuntariamente ou não.
A grande questão é: como utilizar melhor todas as possibilidades do mapa, e desfazer eventuais conflitos ali estampados, uma vez que o indivíduo não sabe utilizar a energia planetária corretamente. E mais: como harmonizar essas energias ? Deve ser criado um buraco no ego, para que as energias primordiais do mapa radical passem novamente e criem um novo composto egóico.
Existe uma ilusão a respeito do ego. Práticas orientais exigem e afirmam que devemos aniquilar ao ego. Errado. Ele é a nossa proteção, enquanto estamos aqui debaixo do véu de Paroketh. Podemos ao contrário, submeter o ego à nossa vontade.
Encaro o ego como sendo uma parte da anatomia humana: como se fosse um braço. Digamos que determinadas escolas dizem que o braço é supérfluo. Podemos deixá-lo de lado, utilizá-lo de uma forma que seja útil ou simplesmente cortá-lo fora. Considero a aniquilação do ego como sendo uma forma de auto-mutilação, como decepar um braço com um machado sem anestesia. Isso já vem expresso no Livro da Lei.
Para fazer esse re-arranjo do ego, podemos utilizar espada, cálice, rituais em grupo, sozinhos e etc. Ou, o cerimonial que temos a mão.
No momento em que o operador vence as energias destoantes que ele mesmo CRIOU para seu mapa, parte para a libertação das energias astrológicas. Depois desse processo, pára de projetar o seu radical ao interpretar o de outros, pois ele venceu à prisão a que foi imposto no nascimento e pode enxergar o processo de fora. Apenas aquele que não é vítima do campo energético da astrologia é que pode compreendê-la totalmente, pois não está limitado por seus grilhões.
Os trânsitos tem a função de regular as energias planetárias no radical, de forma a alinhar esse planeta, ou signo, ou casa com o projeto que havia na hora do nascimento, ou do ciclo em que vive. Irei designar signo, casa ou planeta, como objetos. Um trânsito pode dar outra qualidade, ou forma de expressão ao objeto com o intuito de alinhá-lo com o projeto de vida. Ou melhor, a adaptação dos ciclos pela vida da pessoa, algo muito bem expresso nas progressões. Essa é a maneira natural de correção das energias mal aproveitadas ou destoantes do mapa.
Um trânsito é doloroso a medida em que o operador tem mais resistência ao permanecer apegado à forma como a energia do objeto está distorcida. A maneira como a realização do trânsito se dá pode ser muito explicada através de três Arcanos do Livro de Thoth (ou mais precisamente, três Tarots, uma vez que um Arcano, ou melhor, um Atu representa uma Zona de Poder ou Tarot). Dependendo da forma como o operador é dominado à energia destoante de seu radical, melhor expresso pelo Atu XV, ou Diabo, o trânsito vai operar como o Atu XIII, A Morte, ou o Atu XIV, A Temperança. Parto do principio de que nenhuma energia de um objeto está sempre harmônica. Um trânsito é sempre necessário, e todos os seres humanos tem sua existência planejada para serem influenciados por eles. Um trânsito será doloroso, a medida que o operador é dominado pela energia do objeto, ou seja, preso às energias do Arcano XV. A verdade é que todos temos que nos apegar às energias astrológicas, de forma a melhor assimilarmos o que elas tem a dizer, ou manifestar. Portanto, o apego a determinada expressão astrológica é um fato que pode ser involuntário. Isso pode ser melhor compreendido ao citarmos o que significa a Grande Noite de Pã. Se o operador tem mais resistência ao processo iniciado pelo trânsito (um trânsito nem sempre trás uma mudança, mas sempre uma nova perspectiva), ele viverá o processo do Arcano XIII, A Morte, a mudança radical, a qual ele nunca pode resistir, pois as conseqüências são funestas. Caso contrário, o operador acaba por viver um processo do Arcano XIV, ou seja, a mudança é alquímica. Entretanto, as energias contidas no processo do Arcano XIII são salutares também dependendo do processo do trânsito. Isso pode ser sentido principalmente em trânsitos de Saturno e Plutão.
A Grande Noite de Pã corresponde cabalisticamente a tudo aquilo que está abaixo de Binnah, ou melhor, ao Tempo e Espaço. Em termos orientais, a Grande Noite de Pã corresponde a Maya que simplesmente é a manifestação da divindade.
O intuito final desse processo é a manifestação do Atu XVI, A Torre, ou seja, segundo o sistema de Crowley, a manifestação do orgasmo e todas suas decorrências. A aplicação de uma energia poderosa para um efeito de crescimento de consciência. Ou melhor, o despertar da Kundalini.
A explicação para todo esse processo é que o operador evolui ciclicamente. Ele passa de um ciclo que expressa seu nível de consciência, para outro ciclo, que expressa outro nível de consciência. A análise desse ciclo é a forma de determinar como ele está aproveitando o ciclo, ou testar seu nível de percepção do que processo que vive.
Isso se dá por que existem três formas de manifestação de um objeto. Existe o objeto no espaço, ou seja, um planeta existe fisicamente no céu. Existe o objeto no macrocosmo, ou melhor, ele existe em algum local fora do espaço físico, em algum local onde não conseguimos acessar logicamente. Júpiter seria uma entidade independente, que teria seus desígnios cósmicos expressos através da Astrologia, por exemplo. E existe o objeto microcosmico, ou interior. Cada um de nós tem um Júpiter interno, que se move em sincronicidade com o astro Júpiter, que reflete a vontade do Júpiter cósmico. Esses três Júpiteres estão sincronizados apenas. Nesse caso, a influencia gravitacional planetária não faz sentido. Mas não podemos desprezar o caso da Lua, que movimenta mares. Nesse caso, existem 2 influências da Lua no ser humano. Uma é a da gravidade, outra da Lua cósmica. A gravidade é incapaz de mover a Lua interior e, portanto, é incapaz de colaborar com o processo de libertação imposta pela Lua. Um grande problema temos aí criado, ou seja, como separar a influência gravitacional de um planeta de sua influência cósmica.
Vejamos um exemplo desse conceito: Quando o Saturno em trânsito entra no retorno, ele entra em contato com o Saturno interno. E CORRIGE a ação do Saturno interno, criando uma certa estrutura. Depois, o Saturno em trânsito vai testar essa nova estrutura na quadratura que ele faz com o interno, ou natal. Caso haja algum desvio, ele vai desprender uma energia para corrigir a discrepância, no mesmo grau da discrepância. Um Saturno não harmonizado com o Saturno interior leva ao Saturno em transito a agir. Ou o operador resolve por si mesmo suas discreparias, ou elas serão resolvidas pelo trânsito. Não há escapatória.
Que fazer para sair do retorno de Saturno, antes dele começar ? Acertar o Saturno interno, para que ele esteja em harmonia com o atual ciclo que o operador vive. Por isso que certos trânsitos não são percebidos e outros são funestos. Nesse caso, o operador já entrou em contato com o processo que o Atu XIV promove, já promoveu seu ingresso na sincronicidade de seu local no espaço. (Cabalisticamente falando, tudo está em um local no espaço, ou melhor na Árvore da Vida. Como reza aquela regra do ocultismo, nada existe se não estiver posicionado em algum local da Árvore.)
Um operador pode agir dentro do Saturno de outro operador. Pode descarregá-lo, fortificá-lo, distocê-lo e etc. Entretanto, para fazer isso, deve descarregar o próprio Saturno. Em magia, a energia nunca se cria, ela passa de um corpo para outro. E essa energia utilizada para atuar no planeta interno de outrém, deve sair de algum local.
No mapa radical está expressa uma prisão. O homem é servo das influencias astrológicas. Mas o que prende é também o que liberta. Uma vez utilizada a astrologia corretamente, ela serve como forma para o homem se afirmar sobre o Universo e reorganizar o Caos que existe dentro dele, o qual a astrologia tem como função manipular antes que o operador tenha consciência desse fato. Nesse momento, semelhante ao processo de Gnose mitológica, o homem substitui o planeta, tornando-se um planeta real.
Desse conceito podemos até chegar a perguntar se o Sol, a Lua, Mercúrio e os outros planetas já não foram seres como nós. Ou se ainda o são. Mas isso é querer por demasiado criar outra teogonia, ou mitologia.
Conforme já dito, existiriam 36 Arcontes ligados ao signos, um para cada decanato. E seguindo novamente ao mito gnóstico de determinadas correntes, existiriam 10 Aeones (cada tradição dá um número diferente, ou melhor, conforme Basilides, Valentiano e outros). O número 10 é sempre um número de expressão cabalística, como o número 12 de concepção astrológica. Vejamos, se existem 10 Aeones, cada um pode ser associado a uma Emanação da Árvore da Vida. E para 7 emanações, temos planetas associados. Conhecendo a função dos Aeones e ousando a associá-los a planetas, podemos dizer que os planetas (Aeones nessa comparação) são seres que nos libertam dos signos (ou Arcontes). Ou melhor, segundo essa concepção, os Signos e Casas seriam instrumentos de aprisionamento, e os planetas, de libertação. Isso pode ser também apenas uma divagação. No fundo quero demonstrar que o que prende, também liberta.
Existem formas de determinar se o operador está utilizando bem o ciclo, expresso por seu radical, trânsitos e progressões. Uma delas é intuição. O astrólogo concebe os processos que agem no indivíduo e percebe se ele usa bem ou não o ferramental astrológico a que é sujeito. Outras formas são através de oráculos. O mais preciso deles é o Tarot, pois, tem relação com a astrologia, expressa símbolos que refletem algo semelhante com a astrologia, ou seja, é uma expressão exterior de objetos que existem tanto no microcosmo, como no macrocosmo. Dessa feita, existem 2 tipo de tarólogos, os que usam o Tarot como ferramenta de libertação e divinação, e aqueles que usam o Tarot como ferramenta de adivinhação. Quanto mais apegados a processos externos, ou aqueles que não visam ligar o microcosmo com o macrocosmo, tanto tarólogos como astrólogos são incapazes de compreender a função real dos símbolos que estudam. Mas estudar apenas o símbolo é inútil e também míope, uma vez que esses processos são extremamente práticos, ou mágicos.
Portanto não existe tema ruim, mas existem aqueles que o utilizam mal. Todo mapa é cheio de possibilidades, por mais aspectos tensos que possa carregar, por mais planetas em mau estado cósmico e etc. Todo momento é mágico, cada instante, cada ato. Todo homem tem todas as possibilidades, desde que esteja atento para consegui-las e vontade para mover o Universo.
Crio assim uma nova percepção para a magia utilizando algo da definição de Crowley, ou seja, a magia é a alteração de processos internos do homem, através da vontade, com o intuito de religar o microcosmos com o microcosmos. Ou melhor, nos tornarmos unos com a verdadeira energia da astrologia, passarmos a frente dos planetas, sermos maiores que eles. Nesse processo podemos utilizar a astrologia ou outras linguagem para a expressão de uma realidade que precisa e está sendo sempre modificada, através da experiência do operador dentro de um determinado ciclo.
Dessa forma, toda unanimidade dentro do que seja a astrologia e seus símbolos, é burra. Pois o operador é incapaz de perceber o que realmente É o símbolo astrológico, visto que ainda está sendo transformado por ele. O astrólogo é incapaz de compreender a astrologia enquanto ainda estiver sendo influenciado por ela, pois cada objeto (ou seja, planeta, casa, signo e outros) ainda não se revelou completamente para ele.
Evidentemente, que utilizando outras formas de processos, como a Cabala, o Tarot, o Voudoum, a Gnose, podemos perceber melhor onde pisamos, pois todos são visões diferentes do mesmo todo. Utilizar apenas a astrologia nesse caso é viver um processo míope. Evidentemente, a astrologia é um processo poderoso de percepção dos processos aos quais o indivíduo vive. Pessoalmente, acho que a dedicação exclusiva à astrologia é auto-limitação, mas o verdadeiro astrólogo, ou seja, aquele que realmente vive e domina o processo, apenas pela astrologia, tem uma habilidade fora do comum, para compreender o Universo com apenas uma linguagem.
Para um indivíduo se dizer Astrólogo, verdadeiramente, ele deve ter intimidade com esse processo, ou ele é simplesmente um estudante de astrologia. Ou seja, vale o mesmo que para que alguém possa ser chamado de Mago. Mago é um título. Somente quem realmente domina o processo mágico e chegou a compreensão de si mesmo e do Cosmos, com a magia, pode ser chamado de Mago, caso contrario é um simples magista.
E o que dizer de Crowley, ao afirmar que astrólogos divergem em conceitos fundamentais da astrologia ? A verdade é que Crowley tinha em suas mãos um ferramental muito poderoso para realizar esse mesmo processo. Ele acabou por não incluir a Astrologia dentro de sua Magick, pois a Astrologia que ele aprendeu ainda era por ele considerada como uma forma de divinação. O texto onde ele cita a Astrologia é o capítulo XVIII do Magick, um capítulo dedicado à processos divinatórios, e muito provavelmente foi com esse olhar que ele a estudou. Todavia, as tentativas de integrar a Astrologia para a psicologia é uma forma de voltá-la para o ocultismo, embora pareça um afastamento. A psicologia atual é uma expressão dos processos alquímicos e herméticos, todos ramos do ocultismo. As teorias de Jung são profundamente ocultistas. Freud procurou no mito a expressão daquilo que observava.
A integração da Astrologia com a psicologia acaba por criar uma espécie de feedback, retroalimentando a Astrologia com novos conceitos, tirados de outras formas de observar o homem, com experiências práticas. Ou seja, esse casamento é uma forma crescimento mútuo dos dois. E corresponde a uma evolução da astrologia. Entretanto, muitos astrólogos se esquecem que a Astrologia é apenas um ramo daquilo que concebemos como Ocultismo.
Por Ocultismo podemos conceituar um grande repositório de conhecimento que só é acessado e passível de compreensão por aqueles que o procuram e a ele se dedicam. Por Ocultismo concebemos aquele conhecimento que é velado a aqueles que não estão em um ciclo de desenvolvimento adequado para perceberem a sua utilidade. E o Ocultismo é aquele conjunto de conhecimentos que se revela aos poucos, a medida que o homem evolui sua compreensão. No final, a Astrologia está compreendida nele, pois é assim que ela se manifesta.
A verdade é que o Ocultismo é apenas uma preparação, um corpo de conhecimentos que vai servir por base para a criação sistema de magia do próprio Mago, o sistema que só ele poderá utilizar, pois o caminho a seguir é único.