MÚSICAS PARA O ITEM GLOBALIZAÇÃO

 

CÉREBRO ELETRÔNICO (G. Gil)

 

O cérebro eletrônico faz tudo

Faz quase tudo

Faz quase tudo

Mas ele é mudo

 

O cérebro eletrônico comanda,

Manda e desmanda

Ele é quem manda

Mas ele não anda

 

Só eu posso pensar

Se Deus existe

Só eu

Só eu posso chorar

Quando estou triste

Só eu

Eu cá com meus botões

De carne e osso

Eu falo e ouço. Hum

Eu penso e posso

Eu posso decidir

Se vivo ou morro por que

Porque sou vivo

Vivo prá cachorro e sei

Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro

No meu caminho inevitável para a morte

 

Porque sou vivo

Sou muito vivo e sei

Que a morte é nosso impulso primitivo e sei

Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro

Com seus botões de ferro e seus

Olhos de vidro

 

PELA INTERNET(Gilberto Gil)

 

Criar meu web site

Fazer minha home-page

Com quantos gigabytes

Se faz uma jangada

Um barco que veleje

 

Que veleje nesse infomar

Que aproveite a vazante da infomaré

Que leve um oriki do meu velho orixá

Ao porto de um disquete de um micro em Taipé

 

Um barco que veleje nesse infomar

Que aproveite a vazante da infomaré

Que leve meu e-mail até Calcutá

Depois de um hot-link

Num site de Helsinque

Para abastecer

 

Eu quero entrar na rede

Promover um debate

Juntar via Internet

Um grupo de tietes de connecticut

 

De Connecticut acessar

O chefe da Macmilicia de Milão

Um hacker mafioso acaba de soltar

Um vírus prá atacar programas no Japão

 

Eu quero entrar na rede prá contactar

Os lares o Nepal, os bares do Gabão

Que o chefe da poolícia carioca avis apelo celular

Que lá na praça Onze tem um vídeopôquer para se jogar

 

Poema de José Paulo Paes

 

a torneira seca

(mas pior: a falta

de sede)

 

a luz apagada

(mas pior: o gosto

do escuro)

 

a porta fechada

(mas pior: a chave

por dentro).

 

RODA VIVA (Chico Buarque)

 

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estacou de repente

Ou foi o mundo então que cresceu

A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega o destino prá lá

Roda mundo, roda-gigante

Rodamoinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

 

A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir

Na volta do barco é que sente

O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva

A mais linda roseira que há

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a roseira prá lá

Roda mundo (etc.)

 

A roda da saia, a mulata

não quer mais rodar, não senhor

Não posso fazer serenata

A roda de samba acabou

A gente toma a iniciativa.

Viola na rua, a cantar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a viola prá lá

Roda mundo (etc.)

 

O samba, a viola, a roseira,

Um dia a fogueira queimou

Foi tudo ilusão passageira

Que a brisa primeira levou

No peito a saudade cativa

Faz força pro tempo parar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a saudade prá lá . Roda mundo (etc.)