Igreja de Andrães...

que fizeram do seu património?!

Por: Eduardo Ribeiro Alves

 

A cerca de légua e meia de Vila Real, situa-se a Igreja matriz de Andrães, um edifício que outrora guardava no seu interior importante e valioso património: imagens de tinta carcomida mas duma rara beleza, altares adornados duma talha barroca lindíssima, exibindo figuras bíblicas rendilhadas de espigas de trigo e uvas, um altar-mor de sonho, onde o dourado aumentava de beleza à medida que os olhos se aproximavam do sacrário. Por vezes observámos as zeladoras da igreja, agarradas durante horas ao ferro a carvão, passando e engomando os paninhos e as toalhas do altar e sobretudo os diversos paramentos. Estes faziam o nosso encanto, pela sua diversidade e beleza. Cada qual era o mais bonito, mas pela nossa parte, não gostámos mesmo nada de ver uns todos pretos ainda que bordados a ouro...eram para os funerais!

Na velha sacristia, em pesadas cómodas, guardava-se diverso material: opas, cálices, píxides, cruzes, estolas, lamparinas, lanternas, jarros de flores, etc. Ao lado no chão, havia mesmo uma caixa de madeira mais pequena, que continha no seu interior uma caveira, que muitas pessoas beijavam fervorosamente, dizendo que tinha sido dum importante servo  de Deus...

Apesar deste riquíssimo património, o edifício ameaçava ruína e havia que urgentemente resolver o problema. Corriam os meados dos anos 60 e a freguesia mudou de pároco. Falava-se então que se ia construir uma igreja novinha em folha, para onde seria transportado todo o recheio da actual.

Infelizmente algumas famílias tradicionais opuseram-se à construção da nova igreja e moveram influências para que se optasse pela reparação da antiga. Talvez fosse essa umas das razões que levou o novo pároco a deixar a paróquia, sendo substituído por outro, que fez logo a vontade aos mais fortes. E foi assim que se  reconstruiu  a velha igreja. Mas o pior estava ainda para vir.

O recheio antigo, talha, imagens, lanternas, paramentos, cruzes, caixas de madeira, guiões, estandartes, tudo desapareceu! Em seu lugar estavam  uns altares ditos “modernos” e um edifício completamente esvaziado de identidade. O soalho antigo de madeira fora substituído por mosaicos de feio gosto, que ia até mesmo à capela-mor, onde antes estavam grandes lajes de granito antigas numeradas! As pias da água benta, bem como a pia baptismal onde durante dezenas de anos foram baptizados todos os paroquianos dos vários Lugares da freguesia, simplesmente também desapareceram! O mesmo aconteceu ao tecto em arco de madeira, pintada com lindos frescos. Conta-se mesmo, que ao reparar as paredes, apareceu por baixo da cal branca uma linda colecção de azulejos antiquíssimos e de rara beleza. Até eles foram vítimas desta enorme violação cultural; vendidos não se sabe a quem, foram retirados do local um a um debaixo de rigorosa marcação e numeração.

E ao visitarmos outras igrejas similares, como por exemplo a de Provesende ou  a de Constantim, no meio duma oração fortuita, vem-nos sempre à mente este pensamento perturbador: o património da antiga igreja de Andrães, é um dos mistérios que ainda hoje continua por desvendar. O que fizeram dele?

 

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