"O LAMEIRÃO"

 

ACTO ÚNICO

 

(O  Cenário representa  a rua duma Aldeia, com várias casas antigas, salpicadas com uma ou outra mais moderna. Lá ao fundo, avistam-se campos granjeados, alternando com algumas manchas florestais. Ouvem-se de quando em vez chocalhos, mugidos de vacas, balidos de ovelhas e até  o coaxar de ralos e rãs, no meio ainda dum trinado ou outro de rouxinóis ).

 

CENA I

 

TIO CATINGA e ZÉ AZEVEDO

 

TIO CATINGA:  Ouve cá, ó ZÉ AZEVEDO, tu naquele teu terreno no Lameirão, não me tornes lá a passar de...

 

ZÉ AZEVEDO:  E não posso?!...Então o senhor, não me deve lá caminho?!...

 

TIO CATINGA: Mau...mau...só te estou a querer dizer que passaste lá com o tractor, e...

 

ZÉ AZEVEDO: E não posso. É isso que quer dizer?

 

TIO CATINGA: É...é que não podes mesmo.

 

ZÉ AZEVEDO: Não posso?!...Ó Tio  Catinga, por amor de Deus, então eu toda a vida lá passei, como é que não posso passar agora?!

 

TIO CATINGA: Não podes não senhor. Toda a vida lá passaste mas foi a pé ou de carro de bois...é esse o caminho que te lá devo, de carro de bois ou a pé. Pergunta a quem quiseres.

 

ZÉ AZEVEDO: Com seiscentos diabos! Valha-me Deus e as Almas do Purgatório, ó TIO CATINGA, então carro de bois  e tractor não é a mesma coisa? Oh...mas esta?!

 

TIO CATINGA: A mesma coisa?! Tu deves ter é os parafusos desafinados, rapaz...carro de bois é carro de bois, agora tractor é tractor.

 

ZÉ AZEVEDO:  E não é a mesma coisa? Por amorde Deus, TIO CATINGA! Que mais prejuízo pode dar um tractor, que um carro de bois? Parece impossível. Olhe que até nem sei quem dará mais prejuízo...o carro de bois sempre são duas pessoas, uma à frente e outra a trás, oito patas de animais e  duas rodas!

 

TIO CATINGA: E o tractor?

 

ZÉ AZEVEDO:  Quatro rodas, TIO CATINGA!

 

TIO CATINGA:  E o atrelado seis. Seis rodas a pisar todo o meu terreno, eu sou burro ou quê?

 

ZÉ AZEVEDO: Sejam seis rodas, TIO CATINGA, mas mesmo assim duvido que o tractor cause mais prejuizo.Passa, mas passa uma vez só...ao passo que o carro de bois, se for a acarretar estrume por exemplo, tem que lá ir várias vezes...repare como fica a terra.

 

TIO CATINGA: Não me importo. Que seja a última vez que lá passas! Passas a pé ou de carro de bois, tractor...nem penses nisso.

 

ZÉ AZEVEDO: Está enganado! Tenho-lhe muito respeito, mas perco-lho, passar hei-de lá passar sempre, carro de  bois e tractor é a mesma coisa, quer o senhor entenda ou não.

 

TIO CATINGA: Pois então toma cuidado. Tenta lá passar outra vez...podes ir dar uma volta até aos anjinhos...não te atrevas a experimentar!

 

ZÉ AZEVEDO:  Francamente, TIO CATINGA, o senhor é bem remeloso!

 

TIO CATINGA:  Remeloso, eu? E tu? Um ladrão do que é dos outros.

 

ZÉ AZEVEDO:  Ladrão, eu? Porventura já roubei alguma coisa a alguém, seu sem-vergonha?!

 

TIO CATINGA: Basta! Já nem te enxergo. Sai-me mas é da frente, desgraçado, senão furo-te é ainda os olhos.

 

ZÉ AZEVEDO: Caroço há muito, mas é na garganta. Olhe que não me mete medo...não me encha cá o saco, senão até o sangue lhe bebo, seu desgraçado.

 

TIO CATINGA: Estafermo de homem!

 

ZÉ AZEVEDO:  Estafermo é você.

 

TIO CATINGA:  És tu.

 

ZÉ AZEVEDO:  É você.

 

TIO CATINGA:   És tu, seu burro.

 

ZÉ AZEVEDO: Burro é você, seu animal!

 

TIO CATINGA: Animal és tu.

 

ZÉ AZEVEDO: É você.

 

TIO CATINGA: És tu.

 

ZÉ AZEVEDO: É você! É você!

 

TIO CATINGA: Tu! Tu! Mil vezes TU!...

 

(E saem de cena, abandonando o palco)

 

 

CENA II

COSME e TIO CATINGA

 

COSME: Têm a mania que são ricos e vendo bem, até o são, o Lameirão...aquilo é um mundo, grande como tudo e quase que se esfolavam um ao outro...e tudo por causa dum caminho. Ora que mais fará passar um tractor ou um carro de bois?!Ganância...só ganância. Mas eu cá me aproveitarei...sim porque cá o COSME, não dorme não senhor. O importante...é ter "Cuca"e sobretudo ter fé nomeu Santo Protector:   S.Tiago! E, em S.Tiago...pinta o bago! (Benzendo-se) Valha-me S.Tiago, para me ajudar a beber uns copos de     um e de outro...Ó meu rico S.Tiago...contigo bebo e não pago! Que me importa a mim...lá se é carro ou tractor? Que se esfolem! O importante...é que uns copitos  venham dum lado e não faltem do outro, que é o mesmo que dizer, que cantem cá na goela do COSME...de resto cá estaremos!!É que o COSME não é burro! O velho Catinga deve estar por aí a aparecer.É preciso ter paciência!(Cantarolando) Trá-lá-lá-lá-lá...Trá-lá-lá-lá-lá...

 

TIO CATINGA:    Sai-me da frente, seu meio-homem. Olha, que se não cresceste...é porque não mereceste.

 

COSME:  (À parte) Ora cá temos o primeiro  " pato".Ora viva, TIO CATINGA, bons olhos o vejam. Que dizia Exª? Certamente que me toma, como um humilde amigo sincero de Senhoria!

 

TIO CATINGA: Eh...afasta-te de mim, meio diabo, que nem para diabo inteiro serves.Olha que lá diz o velho ditado...« Homem pequenino...velhaco ou dançarino...» e tu, COSME, de dança, não pescas  bóia!

 

COSME: Por acaso não, TIO CATINGA...mas só que não percebo, porque está hoje tão arreliado?

 

TIO CATINGA: Não sabes?! Então não é, que aquele malandro do ZÉ AZEVEDO  se dá ao descaramento de me passar agora no Lameirão, imagina tu, de tractor?!...

 

COSME:     De...de tractor?! Mas ele não anda bom da cabeça.

 

TIO CATINGA:   De tractor...sim senhor, quando aquilo é só para passar de carro de bois ou a pé.

 

COSME:    Tem, o TIO CATINGA toda a razão...de carro de bois ou a pé e nada mais...tem razão. (À  parte)  Ai...valha-me S.Tiago...que já me está a cheirar a vinho!

 

TIO CATINGA: Ora ainda bem que dou com um homem que me entende. Um homem inteligente...

 

COSME: (À parte) Ai...santinho da minha alma...força...força, está a correr bem.

 

TIO CATINGA: És um homem verdadeiramente inteligente, COSME! Pois então, que culpa tenho eu, diz-me lá, COSME, com estas modernices? Que culpa tenho eu que os carros de bois sejam  agora cada vez mais raros?  Se devo caminho de carro de bois...é de carro de bois! Ou se não...que se lixem... que passem à pata, e é se querem!

 

COSME: É claro...é claro! E mais que claro é que o TIO CATINGA tem toda a razão...tem carradas de razão...carro de bois é carro de bois, tractor é     tractor! (À parte) Ah...meu rico S.Tiago... contigo bebo e não pago e este  está  quase no papo!

 

TIO CATINGA: E diz lá ele, que o tractor  dá tanto ou menos prejuízo até que o carro de bois...ele há cada animal!

 

COSME:  Quem, TIO CATINGA?

 

TIO CATINGA: Bolas, COSME...és burro ou quê?

 

COSME: Sim...sim...TIO CATINGA esse...essse tipo é um ignorante.

TIO CATINGA: Ignorante?! É mas é burro como uma porta, esse ZÉ AZEVEDO. Teve a lata de me dizer que o carro de  bois, que até dá mais prejuizo, porque são só dois animais a pisar a terra.

 

COSME: Dois animais ou quatro, TIO CATINGA?!

 

TIO CATINGA: Pareces imbecil ou quê? Então já viste carros de bois de quatro animais? Tu não andas  bom do miolo, COSME!

 

COSME: (À parte) Ai, meu rico vinhinho...que me estás a saber a vinagre...ai meu S.Tiago  valei-me nesta aflição! Oh...TIO CATINGA, então dois homens e dois bois, não são quatro animais?

 

TIO CATINGA: Estafermo...então Homem e Boi é a mesma coisa? Seu...ai valha-me, Deus...desaparece-me, COSME duma figa...vai, põe-te ao fresco, antes que eu perca a paciência!

 

COSME: Ó TIO CATINGA...desculpe lá a impressão, mas eu cá por mim, sempre ouvi dizer, que os homens eram também animais...só que racionais.

 

TIO CATINGA: Mas aqui essas filosofias baratas não importam...o que importa é que os bois pisam com quatro patas cada um...

 

COSME:  Ao todo oito patas...quatro e quatro oito...

 

TIO CATINGA: Ao passo que os homens...

 

COSME: Com duas patas cada um!...Ao todo doze patas.

 

TIO CATINGA:  (Irritado) Pronto, pés ou patas...ao todo uma dúzia. E agora mais duas rodas a pisarem a terra...

 

COSME: Pronto, TIO CATINGA,  doze patas e duas rodas, faz--se de conta que é um carro de bois com três  bois...dois homens é igual a um boi!

 

TIO CATINGA:  Que raio de Matemática, tu me arranjaste! Olhem que uma destas! Mas pronto! E agora vamos analisar, o tractor...

 

COSME: O tractor...são duas rodas à frente e duas a trás...aqui não há enganos!

 

TIO CATINGA: És mesmo abelhudo...quatro rodas não, , seis! São seis rodas, então o atrelado, não conta, COSME?

 

COSME:  Ah...pois o atrelado...já me esquecia...Pronto, já está, ao todo seis rodas.

 

TIO CATINGA: Ora aí é que está...aí é que está  toda a questão.

 

COSME:  Que questão, TIO CATINGA?

 

TIO CATINGA: A questão, homem do diabo de  saber o que pisa mais a terra, se seis rodas...

 

COSME: Já percebi...ou duas rodas e doze patas?

 

TIO CATINGA: (Mais contente.) Ora, até que enfim! Já lá chegaste!..E agora diz-me lá tu, o que pisa mais a  terra, uma coisa ou outra?

 

COSME: Ora deixe-me cá ver...duas rodas e doze patas, ou seis rodas e nenhuma pata! (À parte) Ai...valei-me nesta hora difícil, meu rico S.Tiago, a sede é cada vez maior...e não vejo jeitos de beber. Duas rodas e doze patas...ou seis rodas e nenhuma pata?!...Nenhuma pata?!Já sei. Descobri!..

 

TIO CATINGA: Descobriste? Descobriste o quê?

 

COSME: O TIO CATINGA tem razão...é que o tractor também tem patas!

 

TIO CATINGA: Eh...chega para lá, tu estás mesmo avariado da cabeça!

 

 

COSME: Então, o tractor não tem um condutor?

 

TIO CATINGA:        Bem lá isso tem...mas que eu saiba não vai a pé, vai sentado em cima do tractor!

 

COSME: Mas pisa à mesma...TIO CATINGA, diga-me cá, o que pisa mais a terra, uma bicicleta à mão ou com  alguém em cima?

 

TIO CATINGA: Está bom de ver que com alguém em cima pisa mais...os pneus até por vezes  chegam a rebentar com o peso!

 

COSME: Ora aí é que está...então o condutor também pisa a terra...mesmo que vá em cima do tractor! Então ...daí, o senhor tem toda a razão...é que assim um tractor já são seis rodas e duas patas. E daí que, com respeito ao ZÉ AZEVEDO, a razão é todinha sua...não tenha dúvidas! E além disso...

 

TIO CATINGA:  Além disso, quê, COSME?

COSME: O TIO CATINGA, já reparou, que as rodas do carro de bois são muito mais estreitas, que as do tractor?!

 

TIO CATINGA: Lá isso é verdade, e daí?

 

COSME: Ó TIO CATINGA, então o senhor, uma pessoa tão inteligente, ainda não reparou, que se as rodas do tractor são mais largas, maior quantidade de terra pisam!

 

TIO CATINGA: Nunca tinha pensado nisso!

 

COSME: Aquilo a passar no seu terreno...é quase um Cilindro das estradas a calcar e a pisar a sua rica terrinha, TIO CATINGA!

 

TIO CATINGA:        Ah...grande COSME...eu  sabia que eras inteligente, mas não tanto. Se os do Governo sabem dessa esperteza,  ainda te levam para lá! (À parte) E olha que para fazeres tanto como alguns deles!...Mereces uma nota, rapaz...toma lá, dois Euros, vai beber um garrafão, que bem o ganhaste!

 

COSME: (À parte) Eu não dizia, que este estava mesmo no papo?!...Mas ainda falta o outro.(Olhando o Céu) E  tu,  meu S.Tiago, é como digo, Contigo bebo...e não pago! Agora podes ficar por aí descansado, ou então...olha dá mais uma empinadela na cabaça, mas anda a pé como eu...se fores  por aí nalguma nave celeste...vê se apanhas a Brigada Celestial e se bufas ao balão!...

 

 

 

 

CENA III

 

 TIA BRAZELINA e AMÉLIA.

 

 

 

TIA BRAZELINA: Estamos perdidas AMÉLIA...os nossos maridos não se entendem.

 

AMÉLIA: Ai, que desgraça, TIA BRAZELINA, soube agora mesmo que o TIO CATINGA e o meu ZÉ AZEVEDO, que discutiram muito...que até se maltrataram.

 

TIA BRAZELINA: Pois foi , AMÉLIA...nós tão amigas que somos e eles nesta pouca vergonha! Segundo me contaram, quase que se esfolavam um ao outro.

 

AMÉLIA: E tudo por causa dum maldito dum caminho...ora que mais fará passar  no Lameirão, de carro de bois, ou de tractor?!

 

TIA BRAZELINA: E mesmo que haja diferença, que importa isso mulher? A terra, ninguém a leva...fartos fossem todos de terra, que por vezes só causa confusão.

 

AMÉLIA: E não vale a pena, TIA BRAZELINA, depois de mortos, sete palmos de terra, chegam para toda a gente!...não sei para que tanta ganância.

 

TIA BRAZELINA:  Pois é AMÉLIA, pois é...mas nós temos que fazer alguma coisa...temos, temos.

 

AMÉLIA: Temos e temos mesmo. É urgente deitar água na fervura.

 

TIA BRAZELINA: Sim, mas como? -pergunto eu. Cá pelo meu lado, o meu TIO CATINGA, por mal é terrível...e se eu lhe digo alguma coisa, manda-me logo calar "o Forno"-      como ele diz. Mulheres - resmunga ele - é  na cozinha!

 

AMÉLIA: E o meu ZÉ AZEVEDO, na mesma...por bem dá até o sangue dos braços, mas aquilo por mal...é o diabo em pessoa. Diabo de homem, que ninguém o verga, nem uma unha negra!

 

TIA BRAZELINA:  Nós temos que arranjar uma solução. Mas...qual?

 

AMÉLIA: Pois é...mas como?

 

TIA BRAZELINA: E então o meu  Catinga, que ultimamente, não quer ouvir ninguém. Ainda a única pessoa lá de casa  a quem ele liga é à neta...à minha SARINHA, é maluco pela rapariga!

                                     

AMÉLIA: Então é quase como o meu homem lá em casa com a minha FATINHA! Tem um amor à filha, que se pela todo. Não sei se foi por já vir um bocado tarde, ou o que foi...o certo é que ela lá em casa é quem dá os dias santos ...os irmãos, até às vezes lhe dizem:"Lá vem a menina da mama, ai...não me toques, que me desafinas."

 

TIA BRAZELINA: Pois é...a tua filha e a minha neta, até se dão muitíssimo bem. Andam sempre juntas...e até te queria  dizer mais, AMÉLIA, às vezes quando elas vão juntas lá para casa, eu até me arreganho toda de as ouvir a conversar...no meu tempo, não era nada disto, AMÉLIA, como os tempos mudaram!

 

AMÉLIA: E quando a sua neta vai lá para casa? É na mesma, TIA BRAZELINA e cá pela minha parte, eu quero-lhes a ambas...olhe, como que fossem as duas minhas filhas. E então ultimamente a minha FATINHA é o  diabo...já nem come nada, sem que a SARINHA também se sente à mesa a comer. Mas...eu até gosto, quero -lhes a ambas, como se fossem  as duas minhas filhas,  acredite, TIA BRAZELINA.

 

TIA BRAZELINA: Acredito, mulher de Nosso Senhor...acredito. O pior...

 

AMÉLIA: O pior quê, TIA BRAZELINA?

 

TIA BRAZELINA: Oxalá que isso não  aconteça...porque senão...

 

AMÉLIA: O TIA BRAZELINA, por amor deDeus explique-se... já me está quase faltar o ar!

 

TIA BRAZELINA: O pior...o pior é isso mesmo, é que eu temo pela minha neta e pela tua filha!

 

AMÉLIA: Credo, TIA BRAZELINA, explique-se duma vez, rasgue a saia  toda...que eu já sinto a cabeça a  andar à roda.

 

TIA BRAZELINA: Sabes, AMÉLIA, temo que...com isto que está a acontecer entre o teu homem e o meu, tanto tu como eu,  não possamos continuar a conversar e a sermos amigas, como sempre fomos. E, o pior é quanto às meninas, ou seja quanto à tua filha e à minha neta...se calhar, até vão ser proibidas de andarem juntas...

 

AMÉLIA: Lá isso é verdade...e eu que ainda não tinha pensado nisso a sério! O meu Zé de certeza, que não se vai meter muito nesses assuntos...mas sei lá? Por mal...é muito capaz disso e de muito mais, isso é!

 

TIA BRAZELINA: E cá pelo meu  Catinga...mete-se e mete-se mesmo. Repara que, logo após a discussão com o  teu homem, dirigiu-se à Escola e foi direitinho à professora..."não queria mais a neta ao pé da tua filha, nem na sala, nem no recreio!".

 

AMÉLIA: Safado de homem, mas ele julga  por lá, que  a minha FATINHA tem piolhos ou quê?

 

TIA BRAZELINA: Mas que queres, mulher, são os fígados dele que já são assim! E são cá duma raça!

 

AMÉLIA: Mas a minha FATINHA, não me disse nada disso.

 

TIA BRAZELINA: Não to disse, porque nem o sabe.A conversa, não foi à frente dos alunos. E não sabe, também porque...porque a professora deu ao meu Catinga, cá uma "descalçadela"!

 

AMÉLIA: Ai sim...então conte lá, TIA BRAZELINA.Que lhe disse ela?

 

TIA BRAZELINA:      Disse-lhe de caras que não lhe fazia isso. Que não separava não senhor a SARINHA da Fatinha...a Escola não tinha nada a ver com as discussões entre eles os dois.As crianças estavam juntas e haviam de continuar juntas, não era por esse motivo, que as crianças seriam separadas...e disse-lhe mais, que se o assunto era só aquele, que não lhe roubasse mais tempo...que a deixasse trabalhar à vontade, que não roubasse mais tempo às crianças!                                  

 

AMÉLIA:  Abençoada mulher! Isso para o TIO CATINGA...foi uma bofetada!

 

TIA BRAZELINA:      Pior mulher...foi como uma facada.Nem almoçou direito, bufava que parecia um sapo. Mas ainda não é tudo...chegou a ameaçar a professora!

 

AMÉLIA: Como diz, Tia Brazelina, ameaçou a professora? Faltou-lhe ao respeito, foi?

 

TIA BRAZELINA:  Não, não lhe faltou bem ao respeito,  disse-lhe é que ia fazer queixa dela ao Inspector.

 

AMÉLIA: Coitada da professora...tão boazinha, ensina tão bem os alunos e levar assim uma destas!...

 

TIA BRAZELINA: Mas, não ficou sem resposta, o meu  Catinga!

 

AMÉLIA: Como, Tia Brazelina, então que mais aconteceu?

 

TIA BRAZELINA:      Imagina tu, que quando ele a ameaçou com o Inspector...ela pegou logo em papel e  caneta e  zás...escreveu... escreveu e no final vira-se para ele e diz-lhe: « Tome lá, aqui tem!  Está aí o nome, a morada e até o número do telefone do meu Inspector...vá lá, queixe-se à vontade!»

 

AMÉLIA: Essa dá para rir...então a mulher é de génio!

 

TIA BRAZELINA: Ela deve ser é descendente da Padeira de Aljubarrota, ou da Maria da Fonte. O dianho da mulher, tem mesmo garra! O  pior é que o deixou a ele pior do que as cobras...credo, mulher, nem queiras saber!... Mas o pior ainda...

 

AMÉLIA:  O pior ainda, quê, Tia Brazelina?

 

TIA BRAZELINA: O pior, é que agora em casa estou com medo, muito medo...

 

AMÉLIA: Medo? Medo de quê, Tia Brazelina?

 

TIA BRAZELINA: Medo que ele proíba a neta, de acompanhar mais com a tua filha!

 

AMÉLIA: Oh...coitadas das meninas!...morrem de desgosto.

 

TIA BRAZELINA:      Temos que fazer alguma coisa, AMÉLIA.

 

AMÉLIA: Sim, Tia Brazelina, temos que fazer alguma coisa e sem demora!

 

 

CENA IV

COSME e ZÉ AZEVEDO

 

 

COSME: Vamos lá a ver se a outra "cepa" aparece por aí! (Benzendo-se e olhando para o Céu.) Ó S.Tiago, meu rico santo protector...não falas? Então, que queres, S.Tiago...pinta o bago, contigo bebo e não pago! (Benzendo-se de novo e olhando o Céu)Não te esqueças...deve estar a aparecer por aí aquele "cepa"do ZÉ AZEVEDO...não te esqueças de dar para cá aquela ajudinha, que tu sabes. Com o Catinga há pouco...a coisa bem correu, estás de parabéns, agora,  vê lá, olha que este é mais difícil...Mas se tu ajudares, cai como os outros! Até  padre cá da freguesia há-de cair! Malandro, tanta missa, tanta esmola e cá para o COSME...nunca pagou nada!

 

ZÉ AZEVEDO: Que...que fazes por aqui, COSME?Coisa boa não há-de ser! Só te puxa o diabo para o mal, só vives de intriguices!

 

COSME: (Olhando o Céu) Ó meu santinho milagreiro, eu não to disse? venha daí a tal ajudinha, que este não está fácil! Oh...senhor ZÉ AZEVEDO, desculpe-me lá, nem  o tinha visto!

 

ZÉ AZEVEDO: Pois vai abrindo os olhos e sai-me do caminho, que estou mais cansado que tu...mas uma tarde inteirinha a trabalhar no duro...e tu aqui a roçares as calças na pedra do Adro.

 

COSME: Credo! Senhor ZÉ AZEVEDO, por quem me toma?Acredite que sou seu sincero amigo do coração! Ainda há pouco...

 

ZÉ AZEVEDO:  Ainda há pouco quê, COSME?

 

COSME:  Pronto...é para que o senhor saiba, ainda há pouco o TIO CATINGA estava para ali a falar do Lameirão e eu...

 

ZÉ AZEVEDO: E tu, quê, COSME?

 

COSME: Eu...eu defendi-o a si, senhor ZÉ AZEVEDO, defendi--o com unhas e dentes. Aquele Velhadas...não querer admitir que os tempos mudaram!...(Á parte) Ai, S.Tiago, oxalá que ele vá nesta!

 

ZÉ AZEVEDO: Bem...isso é verdade. O TIO CATINGA, nem é mau homem, mas é teimoso, que nem uma mula, acha que não devo passar no Lameirão de tractor...só de carro de bois!

 

COSME: Dianho de homem! Mas  o senhor Azevedo, não vá nessa! Ele, que tenha paciência, que mais fará, carro de bois ou tractor?Lá por antigamente não haver tractores, não se vai agora fazer obstáculo ao Progresso, não acha, senhor ZÉ AZEVEDO?

 

ZÉ AZEVEDO:  Santas palavras, COSME...

 

COSME: (À parte e olhando os Céu.)Eh...S.Tiago, esconde--te, que este parece estar a ver-te!

 

ZÉ AZEVEDO: O que mais me custa, COSME, é ele não entender, que assim ainda lucra mais. Senão responde-me lá, quantos carros de estrume, por exemplo, são precisos, para dar um tractor?

 

COSME: Sei, senhor ZÉ AZEVEDO, aí uns dois.

 

ZÉ AZEVEDO:  Estás tolo, COSME, diz antes aí uns quatro, ou mesmo cinco!

 

COSME:  ( À parte) Ai, meu S.Tiago, que o caldo estava meio entornado. Tem razão, senhor ZÉ AZEVEDO, aí uns quatro ou cinco, mas à vontadinha! E daí... 

ZÉ AZEVEDO: E daí?!... E daí que o tractor passa uma vez e está feito, enquanto que o carro de bois teria que  passar quatro ou cinco vezes, ou não será verdade?

 

COSME: Verdadinha, senhor ZÉ AZEVEDO...o tractor passa uma vez e Zás! terminou...ao passo que o carro de bois, Zás, Zás, Catrapaz, Catrapaz!...Mas o Velhadas do Catinga, não enxerga isso.É o que eu   sempre disse, senhor ZÉ AZEVEDO, o senhor tem carradas de razão.

 

ZÉ AZEVEDO:  Eu acho que sim, que até dou menos prejuízo ao vizinho, mas que queres?!

 

COSME: Ó senhor ZÉ AZEVEDO, mas há ainda outra coisa...(À parte) Ai...S.Tiago, agora é que o bago  pinta  duma vez, ou  então acabou-se!)

 

ZÉ AZEVEDO: Desembucha, homem, que outra coisa há?

 

COSME: É que...o senhor ZÉ AZEVEDO já reparou, que as rodas do carro de bois são muito mais estreitas, que as do tractor?

 

ZÉ AZEVEDO: Lá isso também é verdade, mas daí COSME?

 

COSME: Ó senhor ZÉ AZEVEDO, daí que as rodas do carro de bois pisam a terra mais fundo.As rodas enterram-se mais, o terreno fica cheio de regos fundos, enquanto que com o tractor, porque as rodas são  mais largas, a terra é pisada mais suavemente. O velho Catinga, até devia era dar graças a Deus,  por o senhor passar no Lameirão de tractor e não de carro de bois.

 

ZÉ AZEVEDO: Olha que, pensando bem...tens razão COSME. É uma grande verdade!

COSME: (À parte) Ai, meu S.Tiago...esta "cepa" está a pintar o bago...cheira-me a vinho! Portanto, senhor ZÉ AZEVEDO...

 

ZÉ AZEVEDO: Portanto, o quê, COSME?

 

COSME: Portanto o senhor ZÉ AZEVEDO, tem carradas de razão e aquele Velhadas do Catinga...que tenha paciência!

 

ZÉ AZEVEDO: Tens toda a razão, COSME, confesso que não te fazia tão esperto e inteligente.Essas das rodas dos  carros de bois, por serem mais estreitas, pisarem mais fundo a terra...está bem vista, sim senhor!

 

COSME: Mas é verdade, ou não, senhor ZÉ AZEVEDO?!

 

ZÉ AZEVEDO:Verdade, verdadinha! COSME, mereces tudo...toma lá dois Euros, para um garrafão de vinho inteirinho! Bem o mereces.

COSME: Oh...muito obrigado, senhor ZÉ AZEVEDO, facto não provo uma gotinha, já há muito tempo! ( À parte) Ah...bendito S.Tiago, desta vez o bago tornou a pintar e de que maneira!

 

 


CENA V

 

FATINHA e SARINHA e (mais tarde) TIO CATINGA, ZÉ AZEVEDO, TIA BRAZELINA e AMÉLIA

 

 

 

 

 FATINHA:  Estou muito triste, SARINHA, com tudo isto que acabas de me dizer...queres dizer, que não vamos poder ser mais amigas e de andarmos daqui para a frente juntas?!

 

SARINHA: É verdade, o meu avô berrou muito... muito com a minha avó e proibiu-me depois a mim, de brincar mais contigo.Isto tudo, porque o teu pai e o meu avô, discutiram muito por causa do caminho no Lameirão.

 

FATINHA:  (Choramingando) Mas eu sou muito tua amiga, SARINHA.

 

SARINHA: (Choramingando também) E agora...já não podemos ir brincar as duas!

 

FATINHA: Nem tu podes ir para minha casa, nem eu para a tua.

 

SARINHA e FATINHA: (Em uníssono) E tudo por causa do maldito Lameirão!

 

TIO CATINGA: (Aparecendo de repente) Eh, minha querida neta...que fazes tu por aqui? Quê?! Estiveste a chorar?!

 

(SARINHA e FATINHA continuam abraçadas e a chorar)

 

TIO CATINGA:  Eh...SARINHA, então tu já não falas ao Vôvô?!

 

SARINHA: Estou...estou muito triste Vôvô!

 

TIO CATINGA: Triste? Mas afinal quem está a fazer tão infeliz a minha querida netinha?!...Ai se eu sei quem é...estamos mal, muito mal mesmo.

 

SARINHA: És tu mesmo, Vôvô, és tu que me estás a tornar a menina mais triste do Mundo!

 

TIO CATINGA: Credo, SARINHA...conta-me lá isso tudo direitinho.Eu? Sou eu, que te estou a tornar infeliz?!

 

SARINHA: Sim tu mesmo...tu não me deixas brincar com a minha melhor amiga!...Não me deixas brincar com aqui com a  FATINHA!

 

TIO CATINGA: (Ríspido e altivo) Tens outras amigas além da FATINHA. Então tu não sabes que o pai da FATINHA, me quer obrigar a deixá-lo passar de tractor no Lameirão?! Grande sacana...mas, nunca! Que se contente em passar de carro de bois, ou então a pé.

 

FATINHA: Carros de bois? Que é isso de carro de bois? Cá pela minha parte, nunca vi nenhum.

 

SARINHA: Agora já são cada vez mais raros...modernamente, estão cada vez a desaparecerem mais e a darem lugar aos tractores, como o do teu pai, FATINHA.

 

TIO CATINGA:  Pois o teu pai, falando de tractores, que o guise com batatas e o coma...passar no Lameirão, é que não passa.

 

SARINHA e FATINHA:    (Em uníssono) Maldito Lameirão!

 

TIO CATINGA: Parece que gostas mais da tua amiga, que de mim, SARINHA.

 

SARINHA: Gosto muito de ti, Vôvô, mas também gosto muito aqui da minha amiga, que culpa tenho eu?! Fica sabendo, que é com ela que brinco na escola, em casa, no recreio, às vezes até como eu em casa dela, outras vezes ele na nossa, Vôvô...como não hei-de ser amiga da FATINHA, diz-me lá só?!

 

TIO CATINGA:  Está bem! Está bem! Mas o Lameirão...é o  Lameirão.

 

SARINHA e  FATINHA:   (Em uníssono) Maldito Lameirão!

 

ZÉ AZEVEDO:  (Chegando nesse mesmo momento) Maldito Lameirão! Sim senhor, também acho!

 

FATINHA:  Olá, paizinho, estás mesmo bem? (Corre a beijá-lo)

 

SARINHA: (Vai beijá-lo também) Olá, senhor José Azevedo, passou mesmo bem?!

 

TIO CATINGA: Parece impossível, SARINHA, ires beijar esse homem, depois de saberes que anda tão de mal, aqui com o teu avô!...devias era ter vergonha, SARINHA.

 

SARINHA:  Anda de mal contigo, mas não anda comigo. Já sabes que ele é o pai da minha melhor amiga: aqui da FATINHA!

 

FATINHA: E a SARINHA também é a minha melhor amiga.

 

SARINHA: (Para TIO CATINGA) Porque não fazeis as pazes, Vôvô? Era tão bom!

 

FATINHA: Oh...papá, anda lá, dá uma ajuda, faz  as pazes com o TIO CATINGA.


ZÉ AZEVEDO: Cá por mim...tudo bem. Só que para ir granjear o Lameirão...não posso ir de helicóptero, TIO CATINGA, tenho que passar pelo seu e como modernamente, os carros de bois já pouco ou nada existem, estão mas é cada vez mais a ser substituídos por tractores... tem que se convencer a deixar-me passar no Lameirão...carro de bois e tractor é a mesma coisa.

 

TIO CATINGA: Nem pensar nisso...o que é pau é pau, o que é pedra é pedra.Carro de bois é carro de bois,  tractor é tractor. E tu, já sabes, só passas no Lameirão, de carro de bois, ou então passa a pé.

 

ZÉ AZEVEDO:    Parece impossível!

 

SARINHA e FATINHA:    (Em uníssono) Maldito Lameirão!

 

TIO CATINGA:  Está dito...ainda há pouco o  COSME, me dava a razão.

 

ZÉ AZEVEDO : O quê o COSME deu-lhe a razão a si?! Ainda há menos de meia hora, estive a conversar com ele e me disse, que quem tinha a razão toda era eu! E disse-me mais, juro-lhe por Deus, que você era um "Velhadas", que não queria ver que os tempos mudaram! Até lhe dei dois Euros...confesso.

 

TIO CATINGA: E eu...outros quinhentos. Aquele patife...bem digo eu, que a ruindade não o deixou crescer...Ainda ontem em conversa comigo, me deu carradas  de razão, que era muito diferente tractor e carro de bois...que tu não tinhas razão nenhuma e que eu é que estava certo. Então, segundo dizes, foi-te depois dar a razão a ti?

 

ZÉ AZEVEDO: Juro-lhe, pela sorte da minha filha.

TIO CATINGA: Esse patife...velhaco, sem-vergonha. Ouve dum lado, ouve do outro, engraxa um engraxa outro e mama à custa dos dois...Deixa lá que me hás-de levar cá umas bengaladas!

 

ZÉ AZEVEDO: E para quê, TIO CATINGA, para pagar ouro por borra? Deixe-o lá. É um homem que não vale nada e então a esses é conhecê-los e deixá-los.

 

TIO CATINGA: És bom homem, ZÉ AZEVEDO, Deus te conserve essa bondade!...mas com respeito ao Lameirão...

 

ZÉ AZEVEDO:  O TIO CATINGA, bem sabe que...

 

SARINHA:   Oh Vôvô, não digam que vão continuar a discutir?!

 

FATINHA: Pois, ainda há pouco estavam ambos a conversar tão bem! Eu até estava a dizer à SARINHA, que não ia haver mais problemas, e que vocês, finalmente se iriam entender.

 

SARINHA: Nós até estávamos para aqui as duas a combinar uma coisa, que, se vocês os dois a aceitassem...seria o fim desta guerra toda.

 

TIO CATINGA:       Metam-se na vossaa vida, crianças, corram, brinquem, não se metam em assuntos dos adultos, porque não sabem o que custa a vida...olhem que isto está mau...é preciso rapá-lo!...

 

SARINHA: Oh...Vôvô...és sempre o mesmo! Mas porque não ouves primeiro a nossa ideia?! (Choraminga)

 

TIO CATINGA: Pronto, pronto, vamos lá a ver então qual era a ideia, da minha querida neta e da sua amiguinha...pronto falem lá.

 

SARINHA: (Limpando os olhos)...

 

TIO CATINGA: Então falam ou não?!

 

SARINHA:  (Para FATINHA) Conta-lhes tu, FATINHA.

 

ZÉ AZEVEDO: Pronto, fala lá então filha, qual é a vossa ideia, afinal, também queria saber.

 

FATINHA:  Aqui só havia uma solução...

 

TIO CATINGA: Sim...qual?

 

ZÉ AZEVEDO: Fala, filha, não tenhas medo.

 

SARINHA:  Coragem, minha boa amiga!

 

FATINHA: Pronto...(À parte) que Deus me ajude! Semeavam o Lameirão, tanto o Tio  Catinga como o meu pai, os  dois ao mesmo tempo.

 

TIO CATINGA:       E daí?

 

FATINHA: Daí,  que o TIO CATINGA ajudava o meu pai e o meu pai ajudava-o a si.Era tudo muito mais simples e até muito mais rápido. Era mais alegre e ficava tudo muito melhor.

 

SARINHA: E eu e a minha amiga FATINHA, ficávamos muito felizes e íamos também ajudar.

 

FATINHA:Íamos todos no tractor do meu pai, iam as duas famílias juntas, semeámos juntos, no final comíamos a merenda juntos...e sempre muito alegres todos.

 

TIO CATINGA: Estas crianças de agora têm cada uma...mas pensando bem, a ideia até nem era má...de facto  granjeava-se mais fácil!

 

ZÉ AZEVEDO:  Ó TIO CATINGA, as duas  sortes não eram irmãs?

 

TIO CATINGA: Eram, em tempos as duas sortes eram uma só, mas o que queres dizer com isso?

 

ZÉ AZEVEDO: É que assim a minha é tão grande como a sua...quase que podíamos era arrancar os marcos  e...seguir a ideia cá das raparigas.

 

TIO CATINGA: Mas assim...

 

ZÉ AZEVEDO: Nem o senhor sabia onde era seu, nem eu onde era meu! Mas que importava? O senhor tem metade do terreno todo e eu a outra metade...Semeávamos a meias, regávamos, em fim despesas tudo a meias e no final...colheitas, tudo a meias na mesma.

 

TIO CATINGA: (Pensativo) Olha que a ideia até nem é má...mesmo as colheitas podíamos vendê-las a meias, sempre se fazia melhor negócio.

 

ZÉ AZEVEDO: E mais, TIO CATINGA, com as duas sortes juntas, já dava para pedir à União Europeia, um  subsídio para nos modernizarmos...ao menos pôr rega automática, em todo o Lameirão...isso então é que havia de ser!

 

TIO CATINGA: Bem lá isso era! (Para as duas crianças) Convencestes-me, venha daí um abração para o Vôvô.

 

(SARINHA abraça-o. E FATINHA também)

  

SARINHA e FATINHA:    (Em Uníssono) Viva o Lameirão! Viva o Lameirão!

 

TIO CATINGA:  E as nossas mulheres lá em casa...será que estarão de acordo?

 

AMÉLIA e TIA BRAZELINA: (Aparecendo de repente) Vivam! Vivam os homens mais inteligentes do Mundo.

 

SARINHA e e FATINHA: Viva o Lameirão!

 

TIO CATINGA: Estáveis a ouvir a nossa conversa...almas do diabo! Vá a gente confiar em mulheres.

 

AMÉLIA: Não leve a mal, TIO CATINGA, estávamos com medo, eu e a sua mulher, que vocês se zangassem...e pelo sim pelo não, estávamos de olho alerta, para darmos uma ajudinha, para fazerem as pazes.

 

ZÉ AZEVEDO: Mas não fez falta e tudo isto...devido a estes dois anjos. (Apontando para as crianças) Que Deus vos abençoe, minhas filhas.

 

SARINHA e FATINHA:    Viva o Lameirão!

 

TIO CATINGA:  Sabes um coisa, ZÉ AZEVEDO, estou cá a pensar, que cá para a nossa aldeia, que grande coisa seria, se o  nosso exemplo fosse seguido pelos outros agricultores!

 

ZÉ AZEVEDO: Isso seria óptimo, TIO CATINGA, é que andar um a cavar para seu lado, em terrenos que parecem fatias de queijo...leva-se o dobro do trabalho e as coisas ficam o dobro de caras...Assim, é melhor e acabam-se os problemas de caminhos  de marcos de águas, etc. etc.

 

TIO CATINGA: E as pessoas são mais ricas e mais felizes. Vamos para minha casa, vamos fazer uma festa...tenho um presunto, vamos comê-lo!

 

ZÉ AZEVEDO: Então eu levo daquelas azeitonas da Trapa que lá tenho e aquele queijo da Magalhã, que é uma delícia , não esquecendo aquele vinho do Roncão...que, digo-lhe,  é cá uma pólvora!...

                                     

SARINHA e FATINHA:    Viva o Lameirão!

 

Todos :  VIVA O LAMEIRÃO! VIVA O LAMEIRÃO!

 

( E cai o pano)

 

FIM

 

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