ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE VILA REAL: as duas trintenas.

 

Por:  Eduardo Ribeiro Alves*

 

            É na Assembleia Municipal, onde o debate das ideias, dos projectos e das diferenças deve(ria) acontecer. Na sua constituição há sempre dois grupos distintos: um deles formado pelos presidentes de junta das freguesias do município (lugares de inerência) e o outro formado pelos eleitos directos. O grupo dos presidentes de junta é sempre  minoritário (diferença de um elemento). No caso de Vila Real, o dos presidentes de junta tem trinta elementos e o dos eleitos directos trinta e um: duas trintenas muito especiais.

            A trintena dos presidentes é constituída (na generalidade) por cidadãos simples, que vivem o seu dia a dia no mundo rural, pouco preocupados com as verdadeiras  querelas ou ideologias políticas, as quais para eles se resumem a um esforço admirável de conseguir o melhor para as suas freguesias, sabe-se lá com que sacrifício e em que circunstâncias!  É um grupo silencioso, que raramente solicita a palavra nas reuniões da Assembleia Municipal, (ao que consta por medo de que a sua freguesia venha a ser prejudicada!). É uma trintena de cidadãos corajosos, que se esmera em sacrifícios pelas suas freguesias, muitos deles de quatro em quatro anos renegociando a recandidatura, em troca duma ou outra exigência de relevo. Conhecem bem o sistema (sussurram mesmo que está cada vez mais podre!) e sabem que para conseguirem o que pretendem...necessitam dum bom estômago para tudo digerir, dum sorriso de candura para solicitar, dum coração aberto até para os trabalhadores municipais e sobretudo  duma boca selada e de orelhas moucas!

            A outra trintena é porém bem diferente. Na sua maioria é constituída por cidadãos da urbe, que se dedicam e vivem faustosamente (d)a política. Dirigem normalmente as estruturas concelhias dos partidos políticos, que representam e alguns deles possuem mesmo invejáveis currículos políticos, profissionais ou mesmo académicos. É esta outra trintena, que normalmente se engravata das palavras, rebuscando discursos eruditos, plenos de formalismo regimental, mas limitados ao chocarreio da cidade. Daí que não se sintam incomodados, ao ouvirem dizer (descaradamente!) que «...a cidade é de todos e as aldeias de quem lá vive!» e que as Festas do Concelho são as «festas da cidade!»

Por vezes, a trintena dos presidentes até parece dormitar, por tanto distarem as palavras pinoquianas desses grilos falantes, dos autênticos e reais problemas das suas freguesias!

Será que, se um dia estes grilos falantes se calassem e dessem a voz aos presidentes, seria também este o Plano e Orçamento para todo o concelho, que se aprovaria?

 

           



* Deputado da Assembleia Municipal de Vila Real.

 

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