Educação Sexual.

" A descoberta da sexualidade "

Devido ao grande número de questões solicitando informações acerca do procedimento, que os pais devem tomar em relação às descobertas sexuais da criança, elaboramos uma série de respostas às mais freqüentes perguntas.

Como proceder com a criança quando manipula suas fezes ?

Vários pais ficam simplesmente horrorizados quando flagram a criança brincando com seus excrementos e, em alguns casos, chegam a repressões severas.

Tal atitude é errônea, pois, em uma das etapas do desenvolvimento da criança isto é perfeitamente normal.

Nada mais é que o interesse da criança em descobrir o mundo e seu corpo.

Para a criança, suas fezes nada têm de " sujo ", ou qualquer outra conotação que não a de sua " realização " ou sua " obra ".

Portanto uma " coisa " digna de ser " conhecida " e " explorada ".

A atitude ideal é que os pais não repreendam e sim procurem desviar a curiosidade da criança para outros estímulos.

Por substituição, o brincar com as fezes, pode ser transferido para o uso de argila, massa ou tinta (fezes limpas) e, desta forma não interferir no desenvolvimento e criatividade infantil.

A repressão pode, por um jogo associativo, levar a criança a um afastamento de seus genitais.

Isto porque, devido a proximidade da região anal e genitais, levar a criança a crença de que se as fezes são " sujas ", a região por onde são expelidas também são.

Se isto acontece, este afastamento pode perdurar por toda a vida e consequentemente trazer situações conflitivas no âmbito sexual.

Temos como exemplo disto, o caso do grande número de mulheres que julgam que sua vagina seja um órgão sujo e cujo odor é desagradável.

E quando a criança pergunta sobre a reprodução, como devo agir ?

De um modo geral as perguntas sobre reprodução são as primeiras a surgir na seqüência da curiosidade sexual.

São aquelas célebres perguntas que colocam os pais num " sufoco " e os deixam desconcertados.

Isto porque eles, os pais, também não tiveram esclarecimentos ou orientação adequada na sua época.

O ideal é ser honesto, não minta para a criança, fale com ela exatamente como acontece o fenômeno da reprodução.

Nunca protele o assunto com aquelas " justificativas ", bem típicas no sentido de " isto não é assunto para crianças " ou qualquer outra saída e nem venha com aquelas famosas histórias de " cegonha ".

Qualquer criança quando pergunta, já tem em sua mente uma parcela da resposta, portanto o melhor é esclarecer você mesmo, do que ela emendar a curiosidade com informações vindas de outras fontes.

Fica então bastante claro que transmitir informações " erradas ou mentir " é prejudicial para o desenvolvimento psicológico da criança.

Fale com ela em uma linguagem de nível adequada a ela ( isto você sabe ), não tente ser " científica " e nem se refira aos genitais utilizando apelidos.

Use os termos corretos ( pênis, vagina, útero, esperma, etc.) , nunca use aquelas expressões " coisa " ou " lá embaixo " para substituir os termos corretos.

Isto pode acentuar na criança a idéia de " proibição " ou " sujeira " relativas a sexualidade.

Quando falar sobre sexo com uma criança, faça da maneira mais natural possível, não deixe que ela pense que estas informações são " muito especiais ".

Se você conseguir isto, conseguirá que ela tenha um desenvolvimento psicológico mais sadio, livre dos comuns conflitos da sexualidade e, ao atingir a maturidade ela vai encarar o assunto naturalmente e vai ser muito mais consciente de sua sexualidade.

Lembre-se, uma pessoa consciente, dificilmente procede mal ou toma atitudes errôneas.

 

 

A manipulação dos genitais.

Como agir com a criança, quando a encontramos em plena atividade de manipulação dos genitais?

Em uma das etapas de desenvolvimento infantil esta situação é bastante comum, pois trata-se da curiosidade e interesse da criança, na descoberta do corpo e do mundo.

Descobrir o próprio corpo, para a criança, é uma atividade tão importante para seu desenvolvimento psicológico como a educação.

O corpo é o invólucro de nosso " SER ", portanto é através deste contato que a criança se descobre. Toma assim conhecimento de seu esquema corporal, das sensações e percepções que não são ainda avaliadas ou entendidas pela mente, mas são levadas até ela pelas percepções corpóreas.

O fato de a criança ter ou demonstrar um maior grau de interesse pelos genitais, se prende ao fato de; conforme vimos anteriormente; que para esta área se convergiu um quantum de tensões geradas pelas solicitações paternas ( controle de posturas, formas de sentar-se, proibições de tocar, etc.).

Estas tensões localizadas geram um maior nível de resposta aos toques, portanto, criam um maior interesse na criança.

Este tipo de manipulação está bastante distante do que pode ser classificado como masturbação e, é uma atividade normal que não deve de modo algum ser impedida pelos pais.

No caso de as manipulações se tornarem uma constante na vida da criança, a melhor medida é criar estímulos para desviar a atenção para outra atividade.

A manipulações são muito comuns, diante da TV, no repouso da tarde, etc. e, não devem ser punidas, pois podem gerar na criança idéias errôneas a respeito de sua sexualidade, vindo no futuro criar problemas de grande gravidade tais como: frigidez, ejaculação precoce, impotência, etc.

De um modo geral as manipulações causam maior dificuldade nos pais, quando ocorrem na menina, isto porque existe todo um esquema de diferenciação em torno da sexualidade feminina.

A posição dos pais de um modo geral é não admitir que a menina tenha ou sinta estímulos sexuais.

Isto ocorre devido ao processo educacional pelo qual passaram, o qual pretendia que a mulher fosse criada em torno das fantasias de um casamento e que até a realização desta fantasia ela fosse um " ser nulo, sem sentimentos, vontades ou necessidades " Tendo como garantia a " virgindade ".

Mas nossa sociedade deu passos muito largos no que diz respeito a sexualidade, passos estes que não foram acompanhados pelo desenvolvimento psicológico, portanto geraram uma situação conflitiva para os pais da atualidade.

Os filhos estão dentro de um padrão sexual que na época dos pais era considerado irregular e até mesmo insano.

Mas, e agora ?

Como agir, se vivemos dentro de dois padrões diversos e muitas vezes antagônicos; uma realidade social, liberal permissiva e até mesmo libertina em confronto com outra realidade psicoeducacional, cerceadora, repreensiva e nociva.

A anulação deste conflito de gerações só poderá ser conseguida através de uma boa educação sexual, em uma linguagem aberta e honesta entre pais e filhos.

Um tem muito para aprender com outro!

Através deste aprendizado mútuo poderemos chegar a um padrão médio de comportamento, onde haverá respeito pela individualidade humana sem posições distantes entre pais e filhos.

Creio que o ponto chave deste equilíbrio educacional deve começar exatamente quando começa o período das manipulações.

Este é o momento exato onde os pais devem começar sua auto educação para conseguir melhores frutos com os filhos.

 

José Roberto Paiva.

Trecho da apostila sobre Educação Sexual publicada em 1984.

Publicação revisada em 99

 

A curiosidade infantil & as diferenças sexuais

Como os pais devem agir diante da curiosidade infantil, em relação à diferença sexual entre menino e menina ?

Em outra matéria, já falamos sobre os aspectos psicológicos desta etapa e como a menina encara a situação de ela não possuir um pênis, assim como o menino.

Falamos, também, dos mecanismos de sublimação e compensação utilizados pela menina.

Agora vamos enfocar os aspectos externos desta situação.

Em uma etapa, a criança tem enorme curiosidade em relação a esta diferença anatômica e, é muito comum observarmos brincadeiras onde elas podem ter um contato mais direto com esta diferença.

São as brincadeiras de casinha, de médico, etc.

Grande parte dos pais quando encontra as crianças neste tipo de atividade fica impotente diante da situação ou acaba tomando atitudes agressivas.

Na realidade o que acontece é que eles encaram a situação como se fosse uma atividade libidinosa " entre adultos " e, não conseguem eliminar a " malícia " daquilo que estão presenciando.

As crianças quando estão neste tipo de atividade estão apenas satisfazendo uma curiosidade infantil e não estão, como muitos pensam, satisfazendo-se sexualmente.

O ideal, é, ao encontrar seu filh(a) neste tipo de atividade, procurar participar da ação, conduzindo as crianças a um diálogo esclarecedor, evitando assim posteriores situações.

Punir uma criança neste caso só trará problemas posteriores.

E quando esta curiosidade se estende ao olhar, por exemplo: em buracos de fechadura ou querer ir ao banho com os pais ?

Depois que a criança constatou esta diferença em outras crianças, é muito comum que sua curiosidade a leve ao interesse de ver esta diferença nos adultos.

O ideal é que os pais satisfaçam esta curiosidade, embora na maior parte das vezes, eles, os pais, não estão preparados para enfrentar a situação.

Se vocês, pai ou mãe, não se acha capaz de se despir perto de seu filho(a), sem o sentimento de vergonha ou qualquer outro sentimento que elimina a naturalidade da ação, é melhor que não o faça.

Fale abertamente com ela, explique que a nudez não é " feia ", mas, que em função de você ter tido outro tipo de educação, você não se sente bem agindo assim.

É melhor ser honesto com a criança.

Isto despertará nela um sentimento de segurança e confiança, dialogue com ela e você descobrirá que a criança é muito mais compreensiva do que você pode imaginar.

Outra saída é, quando for se banhar, deixe a porta aberta e permita que ela entre.

O fato de você estar se movimentando, diluirá um pouco de sua " vergonha " e facilitará as coisas.

Tenha sempre em mente, que quanto mais honesto você for em relação a educação sexual de seus filhos, mais ela estarão distantes de ter problemas futuros e estarão aptos a entender que sexualidade é uma condição natural e, uma forma de " comunicação entre duas pessoas que se amam ".

 

A masturbação na criança.

Como os pais devem agir diante da masturbação ?

Durante muito tempo, acreditou-se, que a masturbação fosse causadora de inúmeros problemas no desenvolvimento sexual.

Hoje, no entanto, ele é considerado um fato natural em determinada fase da infância e adolescência.

E, mesmo no indivíduo adulto, ela pode ser vista sem aqueles tabus, que a acusavam de causadora de tantos males.

Na criança, a masturbação faz parte de sua descoberta sexual, assim como o menino descobre o seu pênis, a menina descobre a vagina e todas as sensações associadas a eles.

A masturbação só se monstra negativa se os próprios pais, sem habilidade, resolvem reprimi-la, usando de ameaças.

Levada por um impulso mais forte a criança continuará a se masturbar, apesar de tudo, e acabará por misturar seu sentimento de prazer e satisfação com um complexo de culpa.

Podemos verificar que grande parte das " crianças problemas ", tem um foco conflitivo gerado pela tentativa dos pais, em reprimir a masturbação.

Na mulher adulta, podemos ver o reflexo desta situação, nos casos em que a mulher torna-se excitada diante de uma situação de angustia ou depressão.

Isto ocorre por que na infância, acabou associando-se o sentimento de prazer com o de culpa e sofrimento.

A melhor medida diante da criança que se masturba, é procurar suprir suas necessidades afetivas, pois ela só se masturba em função de um processo carencial.

É evidente, que isto não fará com que a masturbação seja eliminada de imediato, mas conseguirá a reduzi-la sensivelmente.

Uma criança feliz não se masturba com a mesma freqüência que a criança infeliz.

Outro ponto importante é conversar com a criança, procurando esclarecer toda sua curiosidade em relação a sua genitália.

Esta atitude trará nela um sentimento de segurança e confiança, reduzindo a curiosidade e a ansiedade.

Como os pais devem falar com a criança sobre seus genitais ?

Os pais devem ser sempre sinceros e usar os termos corretos, pois isto fará com que a criança elimine toda sua curiosidade e, com o seu desenvolvimento vá conhecendo concretamente seu aparelho genital e reprodutor.

Digo isto, porque, mesmo atualmente grande parte das mulheres não conhecem sua genitália nem seu funcionamento, chegando ao cúmulo de não saberem como ocorre uma menstruação, sabem apenas que ocorre.

Outro ponto, nunca se refira à vagina em termos comparativos com o pênis, ou como se ela fosse uma ausência de pênis.

Seja realmente mulher, quando for falar com sua filha.

Não dê aquelas explicações impregnadas de conceitos machistas.

A vagina é um órgão completo e não uma mutilação e, o clitóris não é uma miniatura de pênis, ela apenas é um clitóris, ele tem " personalidade própria ".

O que fazer sobre as brincadeiras sexuais ?

Podemos perceber, que geralmente os pais, não se preocupam, em deixar duas meninas brincando durante muito tempo em um quarto fechado, por exemplo.

Mas o mesmo não ocorre se estiver junto um menino.

A brincadeira dita sexual, nada mais é que uma passagem comum na vida de uma criança.

Ela é gerada pela curiosidade em ver espelhada sua sexualidade na outra.

Estas brincadeiras são etapas do desenvolvimento e, assim como a masturbação, elas podem ser sanadas através de um diálogo aberto e honesto e, que satisfaça a curiosidade infantil.

Se a criança sente que os pais a respeitam e compreendem seu interesse pelo sexo, ela não hesitará em questionar, e , este tipo de diálogo só trará benefícios para as duas partes.

Nunca se esqueça que uma pessoa que não tem dificuldade em relação à sexualidade é uma pessoa livre da possibilidade de tomar atitudes que lhe trarão conflitos.

As brincadeiras sexuais

Até que ponto as brincadeiras sexuais entre duas crianças do mesmo sexo, podem influir, em um posterior comportamento, então, homossexual ?

Como já disse, as brincadeiras entre duas crianças do mesmo sexo , dita de caráter homossexual, são uma parte , do desenvolvimento psicológico da criança e, estas brincadeiras, só poderão ser " carregadas ou guardadas " até a vida adulta, se não houver diálogo, entre os pais e a criança ou, houver um processo repressor mais rígido.

Por exemplo: uma criança que é flagrada neste tipo de brincadeira, e sofre uma repressão severa ( contida de ameaças como já citamos ), tentará reprimir sua curiosidade mas, o impulso de descoberta será ainda mais forte e a levará a tentar novos jogos.

Se não houver diálogo como os pais, de uma forma que sua curiosidade seja eliminada e que ela sinta confiança em seus genitores, ela novamente assumirá esta atitude e consequentemente será ainda mais reprimida.

Esta repressão, fará com que haja um processo de " recalque " colocando este impulso e esta curiosidade num plano " pré - consciente na mente infantil ".

Isto ficará recalcado, até após a puberdade, quando então o impulso sexual volta a fazer parte da vida desta criança.

É evidente que o material recalcado virá a tona também.

Dependendo então, de como foi a seqüência do seu desenvolvimento ; seu meio ambiente; sua educação sexual e seu relacionamento com figuras do mesmo sexo; poderá então determinar na época, um comportamento homossexual ou uma curiosidade mais acentuada neste sentido.

Quando não, poderá determinar uma dificuldade em se relacionar com o sexo oposto.

Qual a importância do grupo misto, ou amigos de ambos os sexos na vida da criança ?

É muito importante, que a criança tenha a possibilidade de ter amigos dos dois sexos.

Isto à ajudará em seu desenvolvimento psicossocial e posteriormente na forma de assumir seu papel " sexual ".

Não digo " papel sexual " dentro dos conceitos machistas, mas sim um papel sexual livre de conflitos, preconceitos ou de qualquer outro ponto negativo.

Uma criança livre, para brincar será uma criança livre, para aprender.

A criança aprende, através dos brinquedos ou brincadeiras, a assumir seu papel de adulto, portanto uma criança que tem a possibilidade de ter um grupo de amigos, que complete sua existência e tem o apoio dos pais, que lhe dão a segurança necessária para seu desenvolvimento, será uma criança mais sadia, psicologicamente falando.

De um modo geral o grupo de amigos vem complementar as necessidades da criança e possibilitar a extrapolação daquilo que ela aprendeu dos pais.

Qual a importância da participação dos pais no brincar com as crianças ?

É evidente que é extremamente importante. Eles devem, não só participar das brincadeiras, mas sim de toda a vida infantil.

Pais participantes são sempre mais compreensivos e conhecedores das necessidades infantis e, torna-se claro que seus filhos serão crianças mais seguras e confiantes.

É importante frisar que esta participação não deve assumir um caráter catastrófico, ou seja, que venha a interferir na liberdade de ação da criança.

Um exemplo disto é o caso de pais que pretendem ser a " estrela " das festas ou brincadeiras, ou pretendem que os filhos sejam uma extensão de suas vidas.

Eles acabam por querer que seus filhos realizem seus próprios desejos inconscientes.

Qual é a importância do aparecimento dos seios, na vida da menina ?

O aparecimento dos seios, marca uma nova etapa na vida da menina.

Para ela é como se, já estivesse sendo; assim como mamãe; uma mulher.

É uma etapa muito difícil para a menina, pois ela vive um conflito, entre ser uma criança e ser uma jovem.

É uma época em que podemos ver as duas posições de uma forma bem clara.

Em determinadas horas a menina age como uma verdadeira criança, em outras suas ações são impregnadas da necessidade de parecer mulher.

O aparecimento dos seios, de um modo geral marca o fim da infância e início da puberdade ou pré-adolescência, etapa da qual procuraremos falar a seguir.

 

Questões sobre a sexualidade do jovem

Qual o período etário que a psicanálise classifica como adolescência ?

Neste ponto existe concordância em todas as escolas psicológicas ou psicanalíticas.

A adolescência tem seu início mais ou menos aos 11 anos e vai até aproximadamente 18 anos, quando então a classificação seria de adulto jovem.

Embora algumas escolas afirmem que após esta etapa ainda restem traços do comportamento anterior e que estes traços podem persistir até a passagem dos 30, tecnicamente ela termina, mesmo aos 18.

A psicanálise, apenas a divide em duas fases. Puberdade, de 11 aos 14 anos e após a adolescência em si.

É real, o comentário, que as escolas psicológicas ou psicanalíticas, nunca deram muita importância a esta fase ?

Sim, até bem pouco tempo, a adolescência era encarada como " um mal que o tempo cura " e de um modo geral o jovem era um elemento esquecido.

Só era percebido quando dava problemas, ser jovem era como um estado de " não ser " ou como disse Caetano " sem lenço, sem documentos, sem nada nos bolsos ou nas mãos ".

Assim era o jovem, sofrendo suas crises e fazendo suas contestações, sempre de uma maneira pouco percebida por nós, os adultos.

Então vieram as guerras, os movimentos hippies, as músicas, as contestações em massa e como numa conscientização geral, descobrimos a juventude.

Isto por que agora não era um " jovem problema " e sim um " conflito de gerações " e então as atenções acabaram se voltando ao " problema do jovem ".

Era como se eles tentassem gritar " nós existimos " assim como os movimentos feministas pretendem atualmente.

Digo isto por que a mulher e o jovem ocuparam o mesmo espaço social por muito tempo.

Como é a tal crise da puberdade ?

A puberdade é marcada pelo aparecimento dos caracteres secundários, ou seja, , dos pelos pubianos, aparecimento dos seios, da ejaculação , da menstruação e pelas mudanças hormonais sem contar com o crescimento mais acentuado desta etapa.

Junto com isto ocorrem as mudanças psicológicas e a puberdade é como um " luto " pela morte da infância.

Um conflito entre ser criança ou jovem.

Se a infância não for bem acompanhada, é evidente que este conflito torna-se mais acentuado e então podemos percebê-lo nitidamente nas tomadas de posição do jovem.

Em certas horas, ele age como um adulto, para em seguida tomar atitudes bem infantis.

É um período de altos e baixos. Um período ambivalente onde são revividas psicologicamente parcelas das etapas da infância.

As fantasias infantis vem novamente a tona e principalmente aquelas referentes a sexualidade agora podem ser, de certo modo, concretizadas.

 

 

 

 

Estas fantasias, são as tais, dos desejos da menina pelo pai ?

Sim, são aquelas da etapa do Complexo de Electra que já vimos em outras matérias.

O desejo da filha possuir o pai ( monopolizar seu afeto ) agora pode ser concretizado.

Mas como isto é proibido pelo seu censor, o Superego, este desejo então é recalcado e seus reflexos são percebidos pelo desejo de ser como mamãe, uma mulher e assim possuir um outro homem " substitutivo de papai " que pelas circunstâncias da educação e por fatores intra-psíquicos também é proibido, o que leva a menina ao decantado " amor platônico ".

Então este amor platônico nunca é concretizado, para que, psicológicamente aquelas fantasias infantis não sejam realizadas ?

A concretização do dito amor platônico, colocaria a menina em um conflito muito maior que o anterior, portanto, este é um amor realizado a distância.

E em uma grande parte das vezes não é nem mesmo necessário que ele " o objeto amado " saiba que está sendo amado.

Qual é a importância deste amor para o desenvolvimento da menina ?

Ele é muito importante por que é o marco inicial da aceitação de um novo papel ou uma nova posição, além de participar da solução do complexo de Electra.

É como a determinante básica da aceitação da adolescência ou do término da infância. É a solução do luto pela perda ( morte ) desta nossa parte (a infância).

Todos nós passamos por esta fase de amor platônico, ou isto não é geral ?

Sim, todos nós passamos por ela. Isto independe de sexo ou do processo educacional.

É uma etapa comum a todos, é uma parte de nosso desenvolvimento.

Em alguns o amor platônico é mais claro, em outros ele é bloqueado pelos processos censores, mas de um modo geral todos nos lembramos do nosso primeiro grande amor, nosso ídolo, nossa musa.

Ele é nossa primeira tentativa de extrapolação de nossos sentimentos e instintos sexuais, agora já dirigidos a um objeto consciente.

Como devemos nos comportar em relação ao interesse do(a) púbere,

em determinado garoto(a), um namoradinho(a) ?

Para alguns pais esta etapa é o caos. É o fim do mundo.

Isto ocorre por que eles depositam um quantum de suas próprias fantasias sobre os filhos.

De um lado eles desejariam ver suas fantasias realizadas através dos filhos, isto é inconsciente, e de outro eles temem a concretização das mesmas( suas próprias fantasias).

Como exemplo temos aquelas mães que cercam a garota de tal forma que elas entram em um período de crise existencial.

Podemos observar pelo fato, de nesta época a jovem ou o jovem de um modo geral, entram nas dificuldades escolares.

São as séries que tem o maior índice de repetência, que é gerado por estes conflitos.

Esta preocupação é inútil, primeiro por que nesta época o garoto está mais preocupado em demonstrar sua força, seu poder, etc. e todas suas manifestações afetivas, em relação a figura feminina, são contidas de um alto grau de agressividade, o que mantém as garotas afastadas.

Isto ocorre por que a garota pretende um parceiro seguro, forte e ao mesmo tempo carinhoso e terno.

Qualidades que são encontradas em garotos de uma faixa etária superior a dela e com interesse em garotas mais velhas.

Os namoros desta idade não passam de olhares e trocas de bilhetinhos ou então as fofocas das turmas.

Qualquer problema que possa surgir os pais estarão aptos a resolvê-los, desde que eles sejam " amigos " de seus filhos, deixando um pouco de lado o " papel de pais " e todos os poderes adquiridos com ele.

Nesta época o jovem precisa mais de um pai amigo, que de um pai orientador .

Como é ser mais amigo que pai ?

É descer do pedestal e rasgar as fantasias adquiridas com aquelas baboseiras no estilo " ser mãe é padecer no paraíso " de "papai sabe tudo " e outras tantas.

Ser pai, é ser humano, é padecer aqui mesmo, é sair do tal paraíso e estar presente nas necessidades dos filhos e nas próprias, é claro!

É ser forte no momento certo e ser fraco também, é ser homem ou mulher em todos os sentidos para poder dar um modelo real para os filhos.

É estar presente no aqui e agora. É como disse o Chico: " é ser uma realidade menos morta " " é criar seu próprio pecado e seu próprio veneno."

É a cura e o evitar outros males.

Mas, este descer do pedestal não faria acabar a autoridade paterna ?

É o que muitos imaginam.

Pensam que isto romperia os laços de família.

Mas, isto não ocorre por que cria maior proximidade entre pais e filhos e diminui aquela ansiedade de contestar , muito comum do jovem.

Reduz também a necessidade de " esconder fatos ", pois facilita o diálogo entre eles.

E a masturbação, como deve ser vista ?

Deve ser encarada como um fato normal.

Ela é a expressão da sexualidade do jovem.

Quando um jovem se masturba, nada mais está fazendo do que assumindo a si próprio, assumindo sua sexualidade.

Esta masturbação é remanescente das manifestações infantis, daquele auto-erotismo, daquela bissexualidade.

Ela é o primeiro passo para a vida sexual normal, portanto não deve ser encarada com patologia.

A masturbação ocorre em quantidade paralela a ansiedade existencial.

O jovem menos ansioso, usa menos a masturbação por que precisa menos desta válvula de escape para suas tensões.

Qual é a forma mais comum de masturbação na jovem ?

Na jovem é a estimulação clitoriana. O clitóris ainda é a fonte de prazer sexual ou a válvula de escape da ansiedade.

São raros casos de introdução de objetos na vagina para masturbar-se. Isto por que ainda é forte o conceito de virgindade e a introdução poderia ocorrer a perda dela.

No jovem é a manipulação do pênis até a ejaculação.

 

 

 

 

 

O PAI E A MÃE SÃO MAIS IMPORTANTE COMO AMIGOS.

Pais que são amigos, não tem necessidade de impor, ele não precisam cercear, para garantir seu sucesso educacional.

Grande parte dos adolescentes com problemas, tem pais que são verdadeiros " monstros ".

Daqueles que punem ao menor deslize.

No entanto, parece que estes filhos são as que mais " deslizam ".

Isto acontece porque não existe aproximação, não existe amizade nem liberdade.

Só imposições, só normas, que acabam sendo infringidas.

O pai que é amigo, está presente no momento em que o filho precisa. Está ali para dar a sua mão. Está ali para ajudar, não para punir.

Se o pai é muito punitivo, é claro que ele será menos solicitado.

Portanto ele será sempre o " último " a saber.

Ele não inspira confiança, e só pode receber desconfiança.

"Educação Sexual".

Estamos, na atualidade, vivendo um momento de transição, no que se refere, a normas e padrões morais.

Saímos de uma etapa onde, vivíamos sob um padrão moral rígido, alicerçado em princípios que desabonavam tudo que se referisse a sexualidade.

Nas últimas décadas, sofremos uma verdadeira revolução sexual. Começou com a década de 60.

Com o advento da pílula e os movimentos liberacionistas, demos a primeira guinada.

Já se falava em liberdade sexual, que, em confronto com os princípios morais da época, criou o primeiro abalo na estrutura da família.

Depois vieram a mini-saia, tangas, topless, sexo livre, divórcio, cinema e revistas pornô, agora já chegamos ao nu frontal, ao sexo explícito nas telas e revistas, fala-se, em sexo grupal, casamento aberto.

E nós, como ficamos?

Será que todas estas mudanças, não justificam a importância e a necessidade de se realizar programas de Educação Sexual.

 

 

 

Tradição & Família

Ficou bastante claro, que os princípios em que fomos educados, falhou.

Falhou, porque, colocava a sexualidade humana, como uma coisa a parte. Éramos educados, como se sexo não existisse.

Nós, homens, aprendíamos na rua, com os mais "sabidos", e carregávamos falhas e deficiências por às vezes, toda a vida.

Nós, mulheres, aprendíamos "alguma coisa" às vésperas do casamento. Achavam, que assim ficaríamos inocentes. Confundiam "ignorância com inocência".

A insatisfação sexual e o desnivelamento alicerçado em princípios machistas, acabou gerando grande parte da desagregação da família e rompimento de casamentos.

Falhamos, disso estamos cientes.

Agora, precisamos pensar em nossas crianças e jovens, que constituem a maior parte, de nossa atual população.

Se não educarmos, como vai ficar a família, no futuro?

Quem deve educar?

Podemos colocar, que uma parte, deve caber, aos veículos de ensino.

Aquela parte mais básica, as noções gerais. Aquela parte que nos ensina, as diferenças, as funções, a anatomia, a procriação, etc.

A outra parte, cabe a família, aos pais. Que podem e devem de uma maneira amiga e natural, gerar segurança aos filhos. Podem e devem facilitar o encontro, da identidade pessoal e sexual, provendo os filhos, de segurança e afeto.

Como educar?

A educação sexual de ocorrer de maneira natural, sem ser colocada como um tema muito especial ("embora seja!"). Ela deve fazer parte, do dia-a-dia, da família.

Devemos como pais, reavaliar nossos filhos, estando sempre presente para ajudar a esclarecer dúvidas, sendo honestos, em reconhecer nossos próprios erros. O exercício da paternidade deve ser sempre alicerçado no exercício da amizade.

Primeiros passos.

Se educar sexualmente, é educar afetivamente, podemos então começar a educação, desde o momento do nascimento.

Nada é melhor, para uma criança, do que nascer em um lar bem constituído, e, em uma atmosfera de harmonia e afeto entre os pais.

Na infância formam-se todos os padrões comportamentais e sentimentais da criança. Com a criança, os pais também tem a oportunidade de reencontrar a emoção afetiva, muitas vezes "esquecida", ou "reprimida", pelas circunstâncias e pressões dá vida.

A condição sexual da criança.

O primeiro passo, de uma boa educação sexual, consiste, na plena aceitação da condição sexual da criança.

É fato corriqueiro, pais desejarem filho homem ou mulher, conforme preferências ou circunstâncias, formando-se no ambiente familiar, um clima de expectativa.

Às vezes, espera-se ou deseja-se um menino e nasce uma menina, ou vice-versa, ocorrendo uma decepção, que pode ser compensada e aceita, ou então continuar atuando em planos mais profundos da afetividade, repercutindo na vida familiar e no desenvolvimento da criança.

A criança deve ser educada, como "uma criança" e não como um "papel sexual".

Menino ou menina, devem ser educados sem "excessos de diferenciação", pois, desta forma, a criança pode aceitar a sua condição sexual naturalmente.

Não devemos nunca reforçar, ou proibir, as atitudes e brincadeiras de uma criança, baseados nas: "coisas de menino ou de menina", "brinquedos exclusivos para menino ou menina".

Estas diferenciações, só criam expectativas na criança, quanto a um "papel sexual", impedindo, que ela se desenvolva de uma maneira natural.

Se uma menina brinca com um "carrinho ou então chuta uma bola", isto não vai torna-la no futuro, "menos mulher" ou" mais masculina".

Se um menino, "chora, brinca com uma boneca", ou se utiliza de outros, ditos "brinquedos de menina", isto não vai torná-lo menos homem "ou "afeminado".

A criança, quando age desta forma, está apenas "reconhecendo, descobrindo, aprendendo", e, isto faz parte, de seu desenvolvimento natural.

O início da sexualidade.

A sexualidade da criança, existe desde o momento do nascimento, embora não se manifeste nas regiões genitais.

A sexualidade é o próprio " impulso de vida ", ou a " energia vital ", é aquela " mola " que impulsiona a criança para seu desenvolvimento, é aquela " vitalidade " comum da criança.

O primeiro local, onde esta energia se manifesta, é pela boca.

Pois é pela boca que a criança, tem seus primeiros contatos com o mundo, é, com a relação "boca/seio".

É através da boca, que o bebê recebe," o alimento e o afeto ", cedidos pela mãe.

Quando a mãe, oferece o seio ao filho, não está apenas, lhe dando o alimento necessário, à sua sobrevivência. Está, transmitindo amor, afeto e segurança.

O contato corporal, " mãe / criança ", é o ponto de partida, é a base, para uma boa formação, da estrutura da personalidade deste novo ser.

O bebê deve e precisa ser acariciado, ter muito contato corporal.

Devemos " namorar " o bebê, pois todo contato e estímulos afetivos, que ele recebe, constituirão sua estrutura.

Este contato não cabe só a mãe, o pai deve também " pode e deve " participar.

O pai deve também, " pegar o bebê no colo ", deve " acaricia-lo ", deve participar de seu desenvolvimento desde o início, pois é uma figura de uma importância, para a formação, da identidade sexual da criança.

Isto independente da criança ser, menino ou menina.

Outras questões

Para a psicanálise, qual seria o valor simbólico dos seios ?

A psicanálise atribui, que para a menina os seios seriam uma forma de compensar a ausência do pênis.

Teriam elas, desta forma, " algo " que fosse " saliente " e " percebido ".

Tal fato era observado em jovens que desfilavam, tendo os seios " agressivamente " erguidos, assim como dois " pênis ".

Esta noção, é evidente que já foi superada.

Fez parte de uma época e de uma etapa do estudo psicanalítico.

Época esta, que os seguidores da psicanálise estudavam a mulher como um " não ser homem ", isto é, sempre comparativamente.

Atualmente, os seios são uma espécie de linha demarcatória entre a puberdade e infância e seu valor, ou importância, estão diretamente ligados com as expectativas da menina em relação a " ser mulher ".

Assim como seu modelo referencial, " a mãe ", e posteriormente outras mulheres que ocupam o lugar de símbolo na vida da menina.

Nesta época, a menina começa a se preocupar com o uso do sutiã, assim como mamãe e para ela é motivo de orgulho ter mais seios que a coleguinha e sempre procura deixá-los percebidos pelas que não possuem.( isto se ela foi educada sem repressões)

Dependendo da evolução da menina, eles, os seios, podem ser uma fonte de sentimentos de inferioridade.

Quando sua filha estiver nesta fase, converse com ela sobre os seios, não faça como certas mães que quando se percebem do interesse da menina pelos seios desfazem o interesse dela temendo o despertar da sexualidade.

Existe dificuldade para a mãe, em aceitar que sua filha esteja "virando mulher " ?

É evidente que sim. Quase todas as mães sentem conscientes ou inconscientemente os reflexos destas dificuldades.

Aceitar esta posição da filha á aceitar sua sexualidade e isto se torna um tanto difícil porque poucas são as mulheres que não tem dificuldades em relação a própria sexualidade.

Quais são os pontos mais importantes que uma mãe deve perceber em relação a filha ?

As mães devem perceber e procurar evitar as projeções de suas dificuldades sobre as filhas.

Devem ter sempre em mente, que elas não são sua " posse " ou uma extensão de suas vidas.

São e devem ser respeitadas como indivíduos.

Muitas mães não conversam com as filhas sobre estas dificuldades e utilizam-se da justificativa, de que não tiveram este tipo de oportunidade na sua época ou que, " se eu começar a falar sobre sexo com minha filha eu vou acabar despertando mais interesse nela ".

Este tipo de dificuldade é muito comum, e a melhor solução é dialogar com ela, mesmo que você a deixe perceber que tem dificuldade em falar sobre determinados assuntos.

Isto só fará com que você consiga a confiança da sua filha e juntas poderão descobrir muito de vocês e, consequentemente ser mais amigas.

" Sua filha precisa mais de você como amiga do que como uma conselheira."

Em que situação, os pais devem recorrer a um especialista, para esclarecer-se em relação a sexualidade dos filhos.?

Não é possível, determinar, um tipo específico de situação, pois sendo de um modo geral assunto " delicado ", podemos afirmar, que a procura de um especialista, deve ser efetuada diante de qualquer dúvida.

Não é preciso, que a criança apresente alguma patologia , o terapeuta não só trata dos problemas, como também atua de forma preventiva procurando elaborar possíveis pontos de conflito.

 

José Roberto Paiva.

Trecho da apostila sobre Educação Sexual publicada em 1984.

Publicação revisada em 99

 

Voltar