Aproveitamento da água subterrânea


O abastecimento de água potável e industrial no Brasil realiza-se mais comumente com o aproveitamento das águas superficiais (rios, lagos, etc.), ao contrário de outras regiões, onde a fonte principal de abastecimento é a água subterrânea, cujo uso elimina as inconveniências de um tratamento caro e permite um abastecimento local fácil.

Nas regiões de pluviosidade intensa encontra-se normalmente água subterrânea em quantidade variável, conforme as condições geológicas. As rochas sedimentares de caráter arenoso ou conglomerático são em geral boas como reservatório, sendo também altamente permeáveis, ao contrário dos sedimentos argilosos. As rochas cristalinas, tanto magmáticas como metamórficas, contêm água nas fendas finas e capilares, dando vazões geralmente menores do que os sedimentos arenosos. Uma exceção a esta regra constituem as lavas basálticas, que apresentam zonas vesiculares. Estas, quando atravessadas por diáclases ou fendas, ou quando alteradas, são ótimas provedoras de água.

A tabela 1 traduz os resultados de sondagens para água, obtidos nos últimos anos no Estado de São Paulo.

Rochas cristalinas(gnaisse, granitto, etc.) Rochas sedimentares da Bacia de São PauloArenitos mesozóicos no interior de São PauloLavas basálticas

Vazão média dos poços produtores

Vazão máxima

Nível hidrostático

Profundidade média dos poços

% dos poços com vazão inferior a 1000 l/h

4.000 l/h

23.000 l/h

11m

150m

20%

9,00 l/h

60,000 l/h

5 m

80 m

30%

14,000 l/h

300.000 l/h

25m

200m

10%

9,000 l/h

60.000 l/h

20m

70m

20%

Tabela 1

 

Pelos dados dessa tabela chega-se às seguintes conclusões:

1) As rochas cristalinas (que ocupam a parte oriental do Estado de São Paulo) são fornecedoras de água em quantidade média. A percentagem de poços secos diminuirá se a localização do poço for adequada, mas estes devem atingir uma profundidade relativamente grande, de cerca de 150m. Em certos casos (são relativamente raros) tem-se produzido água à profundidade de até 200m, fato verificado nas proximidades da Via Anchieta.

2) A distribuição de água subterrânea nas rochas sedimentares da bacia de São Paulo é bastante irregular. Ocorrem camadas lenticulares de areia e cascalho, ótimos provedores de água. Por outro lado, em certas regiões predomimam sedimentos argilosos, impermeáveis, com pouca ou nenhuma capacidade para o fornecimento de água.

3) Os arenitos mesozóicos são quase infalíveis para a obtenção de água, explicando-se esta constância pela sua homogeneidade granulométrica tanto em extensão como em profundidade. Acentuamos que a parte ocidental do interior do Estado de São Paulo, apesar de gozar dessas condições, tem sido, contudo, pouco aproveitada. As vazões médias desses arenitos são as mais elevadas de todo o Estado.

4) As lavas basálticas são boas provedoras de água em profundidade relativamente pequena. A vazão tem-se demonstrado boa, sendo pequeno o número de pocos secos. Na região semi-árida no Nordeste brasileiro vem se executando um programa de perfurações para água subterrânea, tanto nas áreas cobertas por sedimentos, como nas áreas cristalinas, onde predomimam gnaisses. Nestas últimas perfuraram-se 4000 poços, cuja profundidade média é de 60 metros. A média das vazões é ao redor de 300 litros por hora. Nas áreas sedimentares, por sua vez, foram perfurados 12000 poços, mais comumente em arenitos e calcários. A profundidade média é de 150 metros e a média das vazões é de 20000 litros por hora, o que vem demonstrar a importância humana da pesquisa geológica para a água subterrânea.

De alta importância para o homem do litoral é o comportamento da água subterrânea doce na região praiana. De um modo geral, a água doce subterrânea avança até a beira-mar. Este lençol de água doce flutua sobre a água salgada mais pesada, que por sua vez, pode penetrar debaixo da água doce, rumo ao continente. Assim é possível a obtenção de água doce por meio de poços relativamente rasos, mesmos na praias. Deve-se, contudo, evitar que a água salgada subjacente seja atingida, ocasionando a contaminação da água doce.

A figura 1 ilustra uma perfuração realizada em São Vicente- SP, que forneceu água doce até a profundidade de 34m. Abaixo desse nível a sondagem atingiu a água salgada, dando-se a mistura das duas águas e inutilizando o poço.

Figura 1