A marcha da água
Os antigos filósofos, observando o grande volume de água de rios como o Nilo, Reno e outros,
imaginavam que as chuvas eram insuficientes para alimentar tão consideráveis massas de água. Esta
idéias errôneas perduraram até o século XVII, ocasião em que Pierre Perrault mediu a quantidade de
chuva durante três anos na cabeceira do Sena. Tendo também medido o volume de água no referido
rio, chegou à conclusão de que apenas a sexta parte se escoava e o restante era evaporado. Hoje em
dia o estudo da vazão dos rios e da precipitação pluviométrica tornou-se de grande importância para
a força hidroelétrica, controle das inundações, irrigação, navegação fluvial, recarga da água
subterrânea, etc.
As águas das precipitações atmosféricas sobre os continentes, nas regiões não geladas, podem tomar
três caminhos que são: evaporação imediata, infiltração ou escoamento. A relação entre essas três
possibilidades, assim como das suas respectivas intensidades quando ocorrem em conjunto(o que é
mais freqüente), depende de vários fatores, tais como clima, morfologia do terreno, cobertura vegetal
e constituição litológica. Em regiões muito acidentadas, como na Serra do Mar, a tendência é para o
escoamento imediato das águas para os riachos e rios. Em terrenos permeáveis, como os arenosos,
predomina a infiltração, fato verificado nas extensas savanas do Amapá ou nas regiões arenosas da
Bacia do Paraná onde as chuvas, ainda que muito intensas, se infiltram rapidamente. A cobertura
vegetal desempenha um papel importantíssimo. As matas fazem diminuir o escoamento imediato,
permitindo ao solo uma absorção e infiltração lenta e eficiente. Grande parte da água fica retida nas
folhas das árvores, que ao mesmo tempo impedem o choque direto da gota de água no solo. As
folhas das árvores e a trama das raízes constituem excelente proteção contra a erosão, grande inimiga
do solo arável e das pastagens. Estas também, quando bem formadas, retardam o escoamento, mas
em muito menor escala. Segundo A. Engler, em terrenos morfologicamente e litologicamente
idênticos, nas regiões cobertas de mata, a infiltração é de 40%, enquanto naquelas cobertas de
pastagens é de apenas 20%. Por outro lado, o escoamento imediato dá-se justamente ao inverso do
caso anterior, isto é, 20% nas matas e 40% nos pastos. Fácil é imaginar-se a importância da
cobertura vegetal em relação a inundações, reserva de água no subsolo, combate à erosão, etc.
A fim de dar uma idéia da quantidade de água que se evapora anualmente, citemos alguns dados
obtidos no Ceará. Para o açude Lima Campos, em 1934, a evaporação total de cerca de 2,28m. Para
o açude Forquilha, em 1934, a evaporação total foi de cerca de 1,96m, e em 1935, de 2,12m. De um
modo geral, as parcelas de evaporação dos meses de verão, em média, 1,5 a 1,8 vezes maior do que
as parcelas do inverno. Estes dados referem-se à bacia hidrográfica de Quixeramobim, Ceará, entre
os anos de 1912-1931, citados por P.de Castro.