Água Subterrânea
Desde os tempos antigos o homem já fazia uso da água subterrânea, nas regiões menos chuvosas, e
também procurou explicar a sua origem, cometendo vários erros, muitos dos quais perduram até os
dias de hoje. Entre os leigos impera a crença de que a água subterrânea circula como rios, chamados
quase sempre de "veias de água". É comum ouvir-se dizer que um poço é seco porque "não deu na
veia". É freqüentemente procurada pelo método da rabdomancia(do grego rhabdos, varinha), método
que acreditado pela grande maioria dos não-versados nas ciências geológicas.
Figura 1
Parte da água da precipitação atmosférica infiltra-se no solo, onde podemos distinguir duas zonas: a
saturada e a zona de aeração, ou subsaturada (figura 1). Acham-se separadas pela chamada
superfície piezométrica, designada também por lençol freático ou por nível hidrostático(expressões
atualmente em desuso), cuja profundidade varia com as mudanças climáticas, com a topografia da
região e com a permeabilidade das rochas.
A zona inferior é denominada zona de saturação porque todos os poros e interstícios da rocha se acham saturados de água. Reserva-se a expressão água subterrânea à água situada abaixo da superfície piezométrica. Aquela contida na zona de aeração dá se a designação de água edáfica(do grego edafos, solo).
A água edáfica pode apresentar-se sob três maneiras diferentes: água gravitativa é a que se escoa terra adentro, logo após a precipitação ou fusão das neves. À água aderida às partículas do solo por forças de adsorção, pode-se dar o nome de água pelicular, e a retida em interstícios microscópicos, presa por forças capitalares, é chamada de água capilar.
O excesso de água da zona saturada, proveniente das precipitações atmosféricas, migrará em direção dos vales indo alimentar as correntes de água. Graças à lentidão deste movimento pelo atrito às partículas rochosas aproximadamente a topografia, . Sendo alta a permeabilidade do terreno, a tendência é dela tornar-se mais plana, dado o mais rápido escoamento.
A velocidade com que a água subterrânea migra varia de alguns centímetros a 6 metros por dia. Excepcionalmente pode alcançar 120 metros por dia. O plano horizontal que tangência as partes mais baixas (não cobertas pelas águas, como são os leitos dos rios), que drenam uma determinada região, denomina-se nível de drenagem. Em regiões calcárias, graças à formação de cavernas subterrâneas, que são escoadouros naturais das águas de infiltração, o nível de drenagem é inferior ao nível dos rios, que muitas vezes desaparecem solo adentro nos chamados sumidouros, podendo nascer como fonte ressurgente longe do lugar da infiltração.
Nas regiões de Apiaí e Iporanga(Estado de São Paulo), conhecidas pelas belíssimas cavernas
calcárias, são freqüentes tais sumidouros. Quanto à superfície piezométrica na região da cidade de
São Paulo, observam-se profundidades que variam de poucos metros até mais de 30m abaixo da
superfície.
Em regiões mais secas ou muito permeáveis, desce até 100 metros, podendo haver variações da profundidade conforme a estação do ano, pois sabemos que, na época de estiagem, a grande evaporação e a ausência de chuvas determinam o abaixamento da superfície piezométrica. A profundidade máxima atingida pela água subterrânea é muito variável e depende essencialmente da rocha que a contém.
Em rochas cristalinas a capacidade de armazenar água diminui rapidamente em relação à profundidade enquanto que em rochas sedimentares, principalmente nas de origem clástica, se encontra uma certa porosidade mesmo em grandes profundidades (alguns milhares de metros), o que permite ainda o armazenamento de água subterrânea em tal região.
Nos extensos baixios, a água subterrânea não se movimenta; mas, onde houver elevações, o peso da
água das áreas mais elevadas faz com que se verifique a movimentação lenta da água em
profundidade, calcada pela pressão hidrostática. Esse movimento pode ser da ordem de grandeza de
alguns milímetros por ano. A água não se infiltra indefinidamente terra adentro, porque, nas regiões
mais profundas, tanto os poros como os capilares se vão tornando cada vez menores, fechando-se
graças à compressão causada pelo peso das rochas superiores. No planalto da cidade de São Paulo,
cujo embasamento é constituído de rochas cristalinas, o limite inferior da água subterrânea
aproveitável varia entre 100 e 250 metros em relação à superfície.