VERÃO DE 38
Picos nevados, pinheiros muito verdes, campos floridos, papoulas vermelhas, telhados, a cidade no fundo do vale...lembranças vivas em minha mente...
...verão quase findo, calor ainda, setembro próximo, ansiava voltar à civilização; naquele ano me livraria das amarras, abandonaria o olhar severo de meu pai, o sufoco exagerado de minha mãe, esqueceria a zanga da família por não fazer o bar mitzvá, um ano se passara, o velho nunca me perdoara...bar mitzvá, por que? é quando você se torna homem, diziam...só isso?...é para agradar aos seus pais...só isso?...respostas inconsistentes, bobas, eu era um rebelde, um safado, um cínico, um preguiçoso, abandonei o rabino, as rezas, o estudo do hebraico, o Talmud...já me sentia homem, agradar meu pais não era uma das minha prioridades, haviam outras...parar de me masturbar, sentir uma mulher de verdade debaixo de mim, isso sim...agora na pensão de tia Mica, nas fraldas dos Carpatos, ela, viúva ainda chorosa, sua única virtude uma filha, loura sadia , camponesa robusta que emitia odores do sexo...eu desfrutava de seus seios, entre as pernas dela meus dedos pouco ágeis ainda, ela guardava sua virgindade para o casamento...boa menina.
No décimo dia, Regina apareceu, seu companheiro junto, se hospedaria durante um mês , ele só apareceria nos fins de semana...era alta para os padrões da época, um e setenta talvez, rosto oval, olhos verdes, cabelos cortados à lá garçonne, uns vinte e poucos anos, sapatos de salto alto, bem alto, meias de se seda com risco de costura atrás...como gosto de pernas assim...até hoje!...gamei, todos perceberam, até a velha alemã que vivia recitando Goethe , até a viúva, até o cachorro cego...os odores da camponesa aumentaram, eu só tinha olhares para Regina...um dia aproximou-se, convite para passeio, visita às lojas, confidências, o namorado casado, ela do café chantant, tentativa minha no escuro do cinema em abraçá - la, me procure quando tiver vinte anos, falou com doçura, não insisti.
Ele não apareceu na pensão como de costume, Regina recolheu - se no quarto, a pensão entristeceu, a alemã deixou Goethe sossegado, a camponesa sorria.
Ando pelo jardim, jasmins perfumados, noite estrelada, ao longe os picos nevados vigilantes, pedriscos debaixo dos sapatos atritam , monótonos, irritantes...entro, pausa em frente à porta, bato de leve, sem resposta, torço a maçaneta, no quarto chiado de disco dando voltas sem fim, desligo a vitrola, um telegrama, leio...sou um covarde, perdão, Herman ...ela aparece, nenhuma palavra...me aguardava? meu pai olhava, minha mãe sorria...Star Dust inunda o quarto, ela se aproxima, se aninha, dança lenta...desliga a vitrola, se senta na beira da cama, tira a combinação, se deita, corpos se tocam...delicada, paciente, me guia...coloca dedos longos sobre os meus lábios, o uivo morre na garganta, afrouxo o corpo, amoleço, ela sorri...até que enfim, até que enfim, como é bom!...
...a luz da madrugada entra pela janela...Regina minha rainha, ainda não fiz vinte anos...saio.
Sol , céu azul, dia lindo, ela é linda, eu sou lindo, lindo, lindo...a porta aberta, entrei, vi a arrumadeira, a cama feita...Regina?...patrãozinho , ela se foi, um carro veio buscar ela, nem tomou o café...
No dia seguinte voltei a Bucarest, na semana seguinte estava em Londres.