Bênção Maior
Como Dar
Como Perdoar
Compreensão
Conduta Cristã
Conduta na Velhice
Intelectualidade
O Poder da Fé
O que Convém Fazer
Para Curar os Enfermos
Para que Sofrer
Para viver com sabedoria, o homem obedece a certos preceitos, sem os quais nunca poderia vislumbrar a felicidade. À primeira vista, parece-lhe melhor a liberdade total; mas, com o tempo, convence-se do contrário: a liberdade, com responsabilidade, abre perspectivas maiores à visão panorâmica do espírito, e este logo sentirá que o mundo não é tão pequeno como pensava, e que a bondade de Deus se avoluma diante de tanta ignorância humana, fazendo presente, para os filhos que o queiram, os meios de engrandecimentos sem limites.
Comungando sempre com o progresso, a disciplina é a segurança em todos os reinos da natureza. Vemos as pedras, solidificadas aos montões, nas serras, ofertarem meios fáceis de serem deslocadas para o trabalho de construção, pois se estivessem espalhadas pela superfície da Terra e nas profundezas dos oceanos, seria bastante difícil, se não impossível, ajuntá-las. A facilidade que encontramos decorre da obediência à lei da harmonia, da disciplina que, em espírito, poderíamos chamar de amor. Os homens ficam satisfeitos ao verem, no reino vegetal, as matas se agruparem em profusão, seguindo a mesma lei de afinidade, que não deixa de ser o amor, nos rudimentos do sonho. Os animais vivem em manadas, por lei da espécie, convívio que lhes permite melhor defesa e mais rápida evolução. Em todos os reinos, essa convivência com os semelhantes exige, necessariamente, uma disciplina, a que todos obedecem. Sem ela, viria o caos no seio das vidas.
Para o homem, essa disciplina é mais acentuada, com vistas ao progresso. A começar do índio, que vamos encontrar em tribos, com leis a respeitar. Existe já certa liberdade, porém sujeita a preceitos irremovíveis, sem o que seria desfeito todo o agrupamento da sociedade em formação, e não haveria progresso, nem teríamos civilização.
Os mais afamados projetistas e construtores da geração atual têm seus ancestrais nos homens rudes, que faziam sua choça de pau e barro batido. As grandes metrópoles têm suas reminiscências no povoadozinho indígena, e o mais afamado aparelho, que já alcança outros planetas, em viagens vertiginosas, tem alguma ligação com o tosco carro faraônico, puxado por animais. Tudo se interliga por necessidade, se não por afinidade ou, se quiserem, por amor. Tudo que vive no mundo imprescinde do amor, força de Deus, que desceu ao mundo nos cambiantes de várias virtudes.
Dos dez mandamentos transmitidos pelos mensageiros dos céus a Moisés, no Monte Sinai, o primeiro, baliza de luz imortal, é eterno. Passarão o céu e a terra, mas não passará esse ensinamento do mundo espiritual para o planeta: "Amar a Deus sobre todas as coisas".
Quando o povo encontrava dificuldade de praticar esse mandamento e impregnava os céus de lamentos, ignorando como amar a Deus, sem ferir os homens, o mundo espiritual compadeceu-se do povo que habita a Terra, aparecendo o Cristo, que abre as portas de luz para a humanidade, dizendo: "Não choreis por isso, vinde a mim os cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei. E um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei".
Se não amares ao próximo, nunca poderás amar a Deus, pois Ele, o Senhor de todos nós, esta em tudo e em todos. Não foi por outro motivo que Jesus disse: "eu sou o caminho, a verdade e a vida; quem não passar por mim, não irá ao Pai". Moisés, em cima do monte, levantou o dedo em riste, apontou o céu para o povo, dizendo: "Ama, povo meu, a Deus sobre todas as coisas, esse o primeiro mandamento".
E Jesus Cristo desce das alturas, confabula com os homens, chama-os de irmãos, vive com eles, e aponta para a Terra: "se quereis, meus filhos, conhecer a Deus, nosso Pai, um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros como eu vos tenho amado; somente assim, ser-vos-ão dados os meios de compreender e amar o Pai celestial". Dentre as bênçãos das virtudes, a maior é o amor.
Recompensa é o que todos esperam, quando começam a dar. Porventura não é assim que aprendem a distribuir verdadeiramente? Dar, como convém? Só com o tempo, forjado na têmpera do amadurecimento espiritual e destilando amor sem condições, é que poderás dar, dentro do padrão evangélico, sem te mesclares com o interesse comercial. Antes da razão, a natureza e os instintos nos ensinam, em trocas sutilíssimas, como deve ser dada alguma coisa, como se deve trocar, se assim podemos dizer, sem alterar a vida interna das coisas, sem colocar medidas e pesos, como interesse no que se vai receber. É verdade que tudo ocorre assim por não haver raciocínio, mas é por isso que as lições são belas. Flui dessa amizade, que consideras inconsciente, o interesse único de servir, de cooperar com o vizinho ou igual.
A obediência à lei é totalmente cumprida, sem o que não haveria vida e não compreenderíamos Deus. A planta recebe do sol, da água e do ar, uma cooperação espontânea, mas retribui com dádivas de compensação, sem comércio, sem exigências, sem alterar o mundo celular com seu engenhoso metabolismo. Ninguém foge às leis de recompensa, mas estas nunca devem ser dirigidas por quem dá; existe, para isso, a força de Deus, vibrando do átomo às galáxias, sem deixar despercebido um til que seja, da lei. Quando o ser espiritual ergue a mente, com o prêmio da razão, sente-se como um deus e, julgando erradas as leis, começa a dar-lhes novas direções, como se fosse um criador de coisas; é aí que a vida toma formas monstruosas, chegando a ponto de não parecer vida, mas expressar a morte. As fibras mais íntimas dos condutos da existência são torcidas pela vaidade e pelo orgulho, e só depois de os espíritos sofrerem as conseqüências das suas malfadadas vontades é que, pouco a pouco, vão compreendendo seus erros e começam a acertar.
E por que Deus o permite? Esta é sempre a pergunta; mas esta é sempre, também, a resposta: deixa, porque são lições imprescindíveis à ascenção das almas; deixa, porque é errando que se acerta, em todos os ângulos da criação onde haja raciocínio, onde haja razão como ângulo supremo das conquistas dos espíritos.
A verdade é que o Evangelho veio ao mundo depois da razão desenvolvida, elastificada, com tendências para o amadurecimento; se assim não fora, o trabalho de milhares de espíritos, empenhados na execução da Boa Nova nos planos espirituais, estaria perdido. Ninguém efetua um plantio sem que as terras estejam em condições; as sementes só frutificam em terreno adubado, regado e cuidado. Isso aconteceu com as almas: como sementes divinas foram preparadas devidamente, tratadas e adubadas com todo carinho, pelos jardineiros espirituais para, quando amadurecidas, receberem a idéia das leis de Deus, trazidas pelo grande mestre de todos nós: Jesus Cristo. Agora, depois de árvores frondosas, usando todo o material ofertado pela vida, dão frutos que lhes convierem, contanto que respondam por eles. A princípio, são frutos venenosos; o uso da razão é torcido. Mas as conseqüências da dor fazem com que o coração oriente o raciocínio, que toma novos rumos, principalmente nas trocas de valores, de uns para com os outros. É o Evangelho pontificado.
Lembremo-nos de um velho aforismo: "Quando o poço está pronto, a água aparece". Um e outro representam a mesma coisa: ao amadurecer o espírito, o Cristo aparece em seu coração, como disciplinador das suas forças no grande transformismo íntimo, fazendo com que as almas retornem, mais conscientes, ao seu "dar" embrionário de quando pedra, de quando planta e de quando animal.
Antes, era a força de Deus mais presente no coração das coisas; agora, como senhor de si, dotado de razão ampliada, de consciência fermentada pela prática do bem e do amor, com a liberdade disciplinada nas áreas livres da vida, a alma pode e deve trocar os seus bens, sem, contudo, fazer exigências. Deve doar o que possui para doar, sem alterar seus sentimentos, à espera de algo em seu favor; deve compreender que é dando, sem medidas e sem espírito de usura, que se recebe melhor; que é dando, por caridade que se encontra a paz; que é dando, sem peso e por amor, que se encontra a felicidade. Mas nunca pensando que, por darmos, algum dia venha a nós o que se deu para outro reino.
Jesus mostrou a Seus discípulos a imagem perfeita dos seres aptos a ingressarem no céu, pegando uma criança, levantando-a nos braços e dizendo: "Contemplai, é dessas o reino dos céus; observai uma criancinha, que chamais inocente, e segui-a; aprendei o que nela existe de divino, que sereis anjos". Aí, qualquer coisa que deres em nome do Cristo tem esplêndido valor, porque aprendeste a dar com discernimento e amor. E para teu maior conforto, escuta novamente o que diz o Mestre, quanto ao conceito de dar:
O perdão sempre se constituiu motivo de comentário em todos os meios religiosos e familiares. Ele é o traço de união entre pessoas que se aborrecem umas com as outras. O perdão tem superioridade sobre a maledicência e a ignorância; é o senhor que o coração, formado no bem, anseia. Perdoar é começar a viver o céu, mesmo aqui na terra; é mostrar aos semelhantes que já se despediu do atavismo milenar dos que ofendem.
Antes de Jesus Cristo o perdão não era bem compreendido; falava-se nele nas escolas, nos lares, nos duelos, nas guerras, até mesmo nas casas onde a moral não existia como pedra angular da vida. O esquecimento de uma falta se dava com restrições; dependia muito do ofensor ou do ofendido, os quais perdoavam ou eram perdoados, mais ou menos prolongadamente, de acordo com o procedimento e estado de espírito do que ia abençoar pelo perdão. O modo pelo qual era entendido estava longe de chegar aos moldes ensinados pelo Cristo a Seus discípulos. Mas como o perdão também evolui, embarquemos nas asas dessa virtude singular, aproveitando suas paradas, e desfrutando das suas subidas e planuras no campo dos entendimentos humanos.
Mesmo na época dos ancestrais da humanidade, com todos os seus "porquês", era ele que dava ao sofredor algum alívio. Por conseguinte, abençoêmo-lo. De qualquer forma, o perdão, na terra, é o céu procurando ambiente nos corações para se instalar em definitivo, ensejando-nos o legado de Jesus. O grande nazareno, além de ensinar que deveríamos esquecer as faltas quando ofendidos e ajudar aos ofensores, instruir-nos também para caminharmos com eles, quando juntos no caminho. O perdão, antes de Cristo, era transitório e duvidoso, poderia durar meses ou anos, minutos ou horas, dependendo do perdoado e do bom ânimo do que se dizia dono da lei.
Nas épocas recuadas dos faraós, às vezes uma nação inteira recebia o perdão, cessando-se a subjugação: presenteava-se o faraó com uma linda jovem que, se gostava, concedia o perdão aos subjugados. É o sensualismo despertando o interesse e a embriaguez dos sentidos conduzindo à indulgência. Esse tipo de perdão não deixou de ser útil a milhares de pessoas, mas não é o verdadeiro, porque mesclado nele, vibra a troca, a usura do ouro e da carne. Quem não tivesse nada para oferecer, sofreria eternamente. Além do mais, a nação perdoada não esquecia o velho ofensor. Quando tivesse oportunidade, viria a campo para a desforra, porque junto ao indulto faltara o complemento do coração: o perdão sem exigências, o perdão sem busca de direito, o perdão sem espera de troca. Descansa o inimigo, mas nunca acaba a inimizade; paralisa um pouco o ódio, mas perdura a vingança; dá-se um pouco de vertência à ação democrática, mas não se abraça a verdadeira fraternidade.
Com Jesus Cristo tudo tomou forma diferente; o perdão tomou linha reta, ampliando, aqui e ali, todas as qualidades embrionárias que possuía. E os discípulos, ainda confusos acerca da indulgência, interrogam o Mestre: "Como perdoar? Até sete vezes?" Jesus, tomando a palavra, com ênfase discorre, e seus seguidores escutam: "Não, não só sete vezes, mas setenta vezes sete". O perdão, desse dia em diante, começou a tomar proporções sem limites; e acrescentou o Mestre que, para o perdão ser verdadeiro, não podia exigir, nem ser comerciado, nem ter opressão.
O perdão divino teria suas bases na verdadeira fraternidade; perdoar por amor à criatura e por respeito a Deus. Os discípulos saíram pelo mundo como mestres do perdão. E os chamados pelas consciências, por estarem preparados para compreender o Cristo, saíam em campo à procura dos mensageiros da luz, perguntando-lhes como deveriam perdoar. Todos eles, há quase dois mil anos, espalhados na terra e no céu, ensinam: o perdão não pode exigir, não pode gloriar, não pode comerciar, não pode envaidecer: tem de ser humilde, fraterno, caridoso, compreensivo e amoroso, estendendo-se em todos os caminhos de bênçãos e de trabalho, para que o Cristo de Deus se alegre conosco e nós, com a consciência. Se, às vezes, por invigilância, perdoares e ainda sentires rancor pelo irmão, torna a ler este texto evangélico:
Nos bastidores de todas as religiões há uma falta de compreensão enorme, cada uma querendo ser herdeira direta das qualidades de Jesus. A ignorância humana faz do grande Mestre um joguete, como se Ele fosse orientado pelos embotados raciocínios de vários seres desequilibrados. Falam de Moisés, que subiu ao monte para acalmar a fúria do seu Deus e, depois de mais de três mil anos, querem fazer o mesmo com Jesus. Reúnem um grupo de homens escorraçados de outras tribos religiosas, traçam planos envernizados pela vaidade e pela vingança, e afirmam, aos quatro ventos, que têm a chancela do Cristo.
Quantas dissidências, meu Deus, já surgiram, por falta de humildade e compreensão dos novos seguidores da doutrina cristã? Milhares e milhares... cada uma apresentando teorias as mais obscuras, nascidas das discórdias. Mas Jesus já previra isso, dizendo-nos para termos cuidado com os fariseus, que haveriam de disseminar-se como o pó, por todos os quadrantes da esfera terrestre.
Eis que aí estão eles, a proferir impropérios, a levantar seus castelos de certa beleza aparente, mas em cima da areia. Se vêem outros curando, em nome de Jesus, falam que é Satanás. Se vêem alguns dado pão a quem tem fome, anunciam, com todos os poderes que possuem que, da mesma forma, age o espírito do mal, para enganar até os escolhidos que, nesse caso, seriam eles.
Quando surgem explicações do Evangelho, suplantando as de todas as outras correntes juntas, asseveram, com eloqüência, que o espírito das travas faz-se sábio, veste-se de luz, para que a humanidade se perca. Fecham o coração e a inteligência, dizendo que ninguém se salva pelas obras, nem pelo muito saber; somente pelo arrependimento, e aceitando Cristo. Para esses, vale a palavra de Jesus: "cego que guia cego, ambos caem no buraco". Esquecem-se, esses irmãos, do Deus universal, do Cristo cósmico, que opera em toda parte e por todos os meios.
Todas as religiões são raios do mesmo sol, Deus. Cada uma, com o destino de aquecer em um lugar. Mas as divisões são trevas nascidas da pura ignorância humana, e talvez sejam necessárias, pois o próprio Cristo nos revela que é imprescindível o escândalo, mas acrescenta: "ai daquele que escandalizar". Também diremos: ai daquele que tentar enfraquecer uma doutrina planejada nas luzes espirituais. Até hoje, todos têm caído como frutos imprestáveis.
Quanto aos religiosos, cada um acha que está certo, no curto raciocínio que faz das leis de Deus, e, como fizeram os discípulos, querem proibir a quem cura em nome de Jesus. Ainda dispõem de tempo para irem contra os que consolam os desesperados. Ainda procuram empanar a explicação, em espírito e em verdade, dos escritos evangélicos. Graças a Deus, nunca conseguiram, e jamais conseguirão tal absurdo. Esquecem a verdade dos espíritos superiores de que todos, mas todos aqueles que tiverem como princípio o bem comum, se fundirão em um só saber, em uma só religião, em uma só ciência, porque adquiriram, por experiência com Jesus, a grande virtude denominada compreensão.
Se alguém está fazendo o bem, em nome de Jesus, no catolicismo, não o repilas, porquanto é também Seu discípulo. Se, porventura, alguns estimulam a caridade, em nome do Cristo, com a Bíblia nas mãos, não os repudies, pois estes, igualmente, procuram o Senhor.
Se procurares servir, sem recompensa, a todos, com compreensão, em torno do Mestre, eles, os outros seguidores no Nazareno, não te impedirão, porque não houve da parte de Jesus nenhum impedimento, quando alguém, que Ele não conhecia, operava em Seu nome.
Esforcemo-nos, para nunca fazer como procederam os discípulos, neste versículo:
Uma das coisas mais difíceis, nas relações com os nossos semelhantes, é dar conselhos. Quando o conselheiro não segue os preceitos que indica para os outros, gera uma grande desconfiança no irmão que está ouvindo, que passa a espreitar a vida que é levada pelo seu guia espiritual. Essa vida tem que ser reta, obedecer à conduta indicada, iluminada pela sinceridade. Se assim não for, o trabalho ficará perdido.
A palavra é o veículo daquilo que somos; os sons que articulamos, mesmo interpretados de maneira diferente da que sentimos, conduzem fluidos que nunca podem ser mudados. Eles levam a mensagem do sentimento íntimo de quem emite as palavras para o coração dos ouvintes, fazendo-os sentir a realidade do que pensa e vive o conselheiro.
O importante é viver antes de falar, para que a palavra encontre a segurança do coração. O cristão dos nossos dias não tem desculpas a dar, porque já se passaram dois mil anos de fermentação dos preceitos evangélicos, no laboratório do raciocínio e no céu do coração. A meditação foi prolongada, para tomarmos boas diretrizes.
O Cristo nunca pediu sacrifício total de um dia para outro. Todavia, não é por causa da misericórdia dessa tolerância que vamos esquecer de aplicar aquilo que é do nosso dever – o esforço próprio – todos os dias. Esperar que o tempo se encarregue disso, e que a natureza inconsciente selecione nossos caminhos, não deve ser pensamento do cristão. Está a cargo da sensibilidade interna fazer muita coisa, contudo ela só agirá com o comando mental, com a decisão tomada pelo espírito, pois a vontade é tudo nesse campo.
Querendo, andarás; querendo, falarás coisas úteis; querendo, reconstruirás a ti mesmo. O céu, na terra, depende desse reino em cada alma, e o esforço é imprescindível nessa conquista.
Quando encontrares um irmão que aconselha, vivendo, acata esse amigo e agradece a Deus, já que esse irmão representa uma dádiva dos céus para a terra, uma presença mais direta do Senhor, junto aos homens.
Falar muito, além do conveniente, tanto esgota o físico de quem fala, quanto desorienta a quem ouve. O policiamento das conversações pode e deve ser feito constantemente, para que elas construam, edifiquem e iluminem. O verbo é sagrado e a nossa vontade é divina; saber usar um e outro é compreender o chamamento do Cristo para a verdadeira vida. Eis as boas normas: falar pouco, mas sentindo; falar pouco, mas limpando, como se a palavra fosse água e sabão.
O apóstolo Paulo recomenda a todos retribuir o mal com o bem, porque este último tem o poder de isolar o primeiro. O perdão constitui a segurança para os ofendidos. "Regozijai-vos sempre, e orai sem cessar", preceitua a Boa Nova. O regozijo em tudo faz gerar em nós a humildade, a ponto de reconhecermos que ninguém recebe o que não merece. Orar sempre é procurar, através da prece, o ambiente espiritual, no sentido de resistirmos às tentações, afastando-as, com eficiência, do nosso caminho.
Não julgues os outros, porque não conheces bem os teus semelhantes; julga a ti mesmo, por conheceres melhor os teus atos. Não desprezes as profecias; elas, como árvores, ofertam frutos; necessário se fazer bom discernimento da escolha que fizeres. Abster-te de todo mal é prova de já conheceres, por experiência, sua ação degradante e subversiva.
Viva com o amor em todos os casos, em todas as horas, na certeza que ele te defende de todo o mal, preparando-te para o ingresso no reino dos céus.
Se, por acaso, surgirem em teu caminho variadas tempestades para te desviar do Cristo, não te dês por vencido. Mesmo enfermo, mesmo mutilado, mesmo caindo aos pedaços, mesmo morrendo, procede como escreve o apóstolo. Escutemo-lo:
O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, neste tópico, traz uma mensagem especial aos velhos, às pessoas de mais idade, que por bênção de Deus conseguiram chegar até aí, pois, a essas almas, a voz do Cristo atinge, por intermédio de Paulo, seu servo fiel nas profundezas do coração.
Homens de idade avançada! Escutai com interesse essa exortação da Boa Nova, em espírito e verdade; se no transcorrer da existência não conseguistes, na juventude, uma vida pura, ou mais ou menos correta, atentai para isto: procurai, doravante, abrir os olhos e apurar os ouvidos aos conselhos do Mestre: procurai refrear os instintos, amansar os impulsos, apaziguar o coração, impedindo que a paixão faça morada em vossas vidas. Meditai na caridade, extraindo dela o perfume da compreensão, e então podereis servir de instrumentos para a educação dos que vêm à vossa retaguarda: filhos e filhas, netos e netas. Que o vosso proceder revele, para os que vos ouvem e vêem, uma árvore de bons frutos; meditai no amor, para que essa virtude, pelo vosso esforço ingente, faça parte da vossa vida e seja um caminho benfeitor para os que vos cercam. Se, por acaso, na flor da juventude, esquecestes do amor fraterno, procurai, antes que passe o tempo, sentir essa virtude maior envolvendo o coração, para que ele desprenda a luz em todos os cambiantes, como se fora alimento para os que seguem vossas pegadas.
Sede simples e prestativos por onde andares, no sentido de espelhardes segurança para os que vos espreitam e confiam em vós. Porque, se quiserdes, sereis exemplos benfeitores para essas almas, que ainda vagueiam sem rumo. Se, quando moços, não chegastes à altura de serdes úteis, sem exigências, esforçai-vos agora; os cabelos brancos significam muitas experiências, e estas devem ser ofertadas, por amor, aos que se iniciam nos roteiros do mundo, e que, no amanhã, receberão os mesmos pedidos, pelos que estão degraus abaixo.
Homens de idade avançada! Não procureis ambientes de má fé, para vossas conversações, evitando que os jovens façam o mesmo, seguindo vosso exemplo. Sede respeitadores, pondo medidas nas palavras: elas devem ser temperadas com o sal da prudência, e revestidas do verniz da caridade, sem o que não teremos, no amanhã, homens de caráter e de bom senso. Se, até hoje por acaso, não conseguistes isso, não deveis ignorar que o querer é poder; iniciai logo vosso esforço, nesse campo de auto-educação, e começai a exemplificar, com bons costumes. Já pensastes se todos os velhos lutassem para a realização desse objetivo cristão? A batalha do bem é demorada, mas nunca vencida; a idade avançada representa um chamado para a renovação com Jesus Cristo.
Se por acaso, quando moços, fizestes alguns danos, procurai, como velhos, repará-los sem esmorecimento, com bom ânimo, porquanto esse vosso esforço encoraja os jovens no bom combate. Como homens de idade, ao fazerdes parte de grupo de jovens que estejam na calamidade moral, fazei um gesto no rosto, desaprovando, porque esse estado de alma imprime no ambiente um certo respeito, que permanece, sem contudo, ofendê-los. Quando os moços estiverem com planos altruísticos, estimulai-os o mais que puderdes; se possível, andai com eles, escalando todos os planos, como principais interessados. Esta é a forma mais conveniente de plasmar, em corações na flor da idade, o bem, que nunca morre, como semente a renascer eternamente.
Se tendes tendências para a literatura e possuís Dom, não deixeis de escrever páginas que poderão ajudar à juventude em seus ideais e inspirações. Não sejais daqueles que combatem a evolução; pode-se ser um velho de corpo, mas renovado de alma. Rejeitai apenas o que a moral não aprova e o que a consciência adestrada no bem não consente; isso, no entanto, sem ferir os corações ma dinâmica da juventude. Os homens de idade avançada, refundidos pelo esforço no Evangelho do Mestre, não combatem as idéias; tiram delas, com o bom sendo já conquistado, as coisas boas, o que agrada aos jovens, que ficam certos de estarem também cooperando com a vida.
A alegria dos jovens é a de4 cooperar, de alguma forma, com a renovação das coisas; se quiserdes ajudá-los, esforçai-vos, do vosso lado, pelo aprimoramento das suas idéias. Sede sinceros, cuidadosos e prestativos, porque os jovens são bons amigos e é nas mãos deles que estarão entregues, por ordem da lei que tudo renova, a direção das coisas e dos povos.
Homens idosos! Procurai tornar-vos bons conselheiros para os jovens, em palavras e atitudes. A reencarnação poderá colocar-vos, amanhã, em posição inversa, como moços necessitados da orientação daqueles mesmos que aconselhastes ontem. Se ainda não podeis fazer nada nesse campo, em benefício da juventude, esforçai-vos um pouco e escutai mais uma vez, este versículo:
Supor que a alma evolua somente por um prisma é, certamente, querer aniquilar a grandeza de Deus. Supor que a sabedoria dos céus está arrumadinha dentro das páginas de um livro é muita ignorância, porquanto o saber do Senhor não tem limites. Só temos notícias daquilo que suportamos; de vez em quando as revelações têm que sofrer renovações, no sentido de atualizar seus princípios; isso não é corromper as coisas santas, é atualizar as verdades.
A inteligência tem uma grande função nos reajustes religiosos, nas seleções científicas e no aprimoramento filosófico; sem ela não haveria progresso. Contudo, é indispensável que seja auxiliada pelo coração. O sentimento do bem enriquece a inteligência, dando-lhe uma visão mais segura do princípio das coisas, seus valores e o respeito que merecem. A inteligência, sozinha, não realiza grandes coisas, pois ao tocar-lhe ou sentir-lhe os frutos, todos notam que falta algo.
O raciocínio aprimorado cria um pedestal, que ele mesmo, com o tempo, resolve derrubar, pois anseia por uma companhia que lhe fale mais ao íntimo. E essa companhia, só o coração lhe pode oferecer. O coração, por sua vez, no ritmo acelerado de sustentar a vida, busca senti-la. Sai em campo para encontrá-la e acha-a, essência do seu porfiado labor. Eis o ideal maior: quando os dois trabalham por um só objetivo, irmanam-se em plena fidelidade. Uníssonos, apresentam-nos o prelúdio da inteligência e do amor supremos. O Evangelho fala dos perigos da inteligência e, notadamente, da tibieza do coração; um e outro precisam educar-se, elevando as qualidades que possuem. Para tanto, receberão o complemento espiritual, desde que se disponham a estudar e analisar o Cristo.
Com Jesus, a inteligência toma dimensões incomensuráveis; o coração atinge valores incalculáveis. Mas sem esse enxerto divino, ser-nos-á difícil aproveitar totalmente essas duas forças. É, de fato, perigosa, a inteligência, sem o Mestre; no entanto, é quase inútil o coração sem Sua magnânima presença. Mas cada um, mesmo sob a influência do Cristo, tem ação diferente, na extensão da vida: um ensina, o outro educa; um amplia os conhecimentos, o outro distribui os valores; um discorre sobre as forças da natureza, o outro revela o amor de Deus para com todas as Suas criaturas.
Meu filho, fica sabendo que a inteligência deve servir como vislumbre prismático, para que, observando-a, encontremos a grande sabedoria de Deus; e não deves ignorar que os dotes de um coração deverão servir, para quem o possui, como brechas grandiosas, pelas quais poderão sentir o grande amor do Pai celestial, por todos os serem que existem. Não combatas a inteligência, mas dá-lhe boa direção; não desprezes o coração, mas aquece-o com o amor.
A Doutrina dos Espíritos, caminhando junto com a humanidade, dando a esta o vigor necessário, nunca esqueceu a conquista milenária do ser humano, que é a inteligência. Procura, por todos os meios, aprimorá-la; procura, por todas as formas, mostrar-lhe o cristianismo primitivo, para que ela sinta, com amor, a presença dos semelhantes. Demonstra, também, que a inteligência é um dos talentos a que se refere a parábola evangélica: a cada um foi dado, por misericórdia, um punhado de talentos, representados por faculdades que devem ser exercitadas, carreando valores imortais para os seus possuidores. Os talentos anunciados por Jesus, foram e são distribuídos entre os chamados e os escolhidos para servir na grande vinha do Senhor. Necessário se faz proceder, não como o último da parábola, enterrando os talentos, mas sim, como o primeiro: exercitando-os, multiplicando-os, para a glória de Deus e felicidade dos corações. Através da mediunidade, que o Espiritismo valoriza e educa, ampliamos os nossos conceitos sobre os talentos, cultivando a inteligência, intercambiando-a com o coração e o Cristo.
Nesta nova fase, com a revelação espírita, desaparecerão as mazelas morais, pelo próprio esforço conjugado da inteligência com o coração. E passarás a fazer sinais de novas conversões; passarás a fazer prodígios, no campo da caridade; passarás a produzir milagres de compreensão e de alegria, por influência dos espíritos puros, em nome de Jesus Cristo e de Deus. E já não acharás estranho ouvir isto:
Jamais apareceu alguém no mundo que conseguisse colocar limites à fé. O seu poder suplanta quaisquer fronteiras, que o homem, por ignorância, queira lhe impor. Não há criatura que posa viver sem fé. Muitos julgam não a possuírem, mas se enganam completamente. Ela vive centro de todos os seres, variando sua intensidade numa escala progressiva, e de acordo com a evolução espiritual de cada um. Dessa forma, espírito algum tem o mesmo quilate de fé que seu semelhante, indo sua variação, de parcela mínima, até o infinito. Porém, só Deus possui a totalidade dessa virtude.
Várias dúvidas persistem no meio humano. Pergunta-se em outros reinos, abaixo do homem, existe a fé. Deus não Se esquece de nada que foi criado e é sustentado por Ele. Porém, a fé mais pura ou menos pura só surge no ser quando já dotado de razão. Isso é da lei. Nos outros degraus evolutivos à retaguarda do homem há rudimentos da fé que, algum dia, irá brotar com a força da razão. É como se comparássemos o instinto do animal com a razão humana. Ambas as forças procedem da mesma fonte; mas, no ser humano, esse Dom já mostra claridades do aperfeiçoamento.
A fé, para o espírito, é tão necessária como o ar o é para o corpo. A ciência do mundo já quis destruir a fé dos homens em Deus e na vida que continua depois do túmulo. Jamais conseguiu e nem conseguirá, pois, ao invés de combatê-la, está avivando ainda mais, nas almas, essa certeza de que nada morre. Tudo viveu, vive e continuará a viver sempre.
As leis de Deus não podem ser mudadas. Há que compreendê-las. E sua descoberta requer muita ciência e bastante fé. Que o Senhor abençoe os homens, fazendo com que a ciência procure os olhos da fé, para não perderem muito tempo em vislumbrar Deus por onde passarem. Não existe outro caminho, e o tempo espera esse acontecimento. A ciência material representa a fé humana, enquanto a ciência espiritual, a fé divina. Necessário se faz que as duas se unam, completando-se para maior felicidade dos homens e do mundo.
Estudemos, com Jesus Cristo, o poder da fé.
Havia uma mulher que há doze anos estava desenganada pelos médicos, narra o Evangelho. Desesperada, ela tem notícias de que Jesus estava operando maravilhas e vai à procura do mestre, enfrentando todas as dificuldades, pois outros também O procuravam. Avança daqui, força dali, varando a multidão, até que consegue tocar na orla das vestes do Nazareno. Sente, então, um bem-estar estranho penetrar-lhe o corpo e alijar-se, demoradamente, em suas entranhas.
Cristo possuía, em torno de Si, um manancial de forças magnéticas indescritíveis. Era um potencial de luzes nunca visto nem sentido por seres humanos, porquanto o Mestre procedia de regiões divina. Mas o poder da fé levanta o padrão vibratório, nivelando-o em quem, pelo menos, tocasse Jesus e que já vivia em estado de perfeição espiritual. E a mulher tinha o mais alto grau de certeza quando os seus dedos, de leve, tocaram as vestes do Cristo; da poderosa aura do Mestre fluiu certa quantidade de magnetismo espiritual que, bafejando todo o seu ser, alojar-se como por encanto, no lugar enfermo, atendendo a seu pensamento que se fixava na região doentia, e restabelecendo o órgão em desequilíbrio.
Jesus, sentindo o fenômeno, pergunta: - "Quem tocou em mim?" Ao que, assustados, responderam os discípulos: - "O povo é que te comprime, Senhor".
Jesus não se dá por satisfeito, olha em torno para reconhecer quem o havia tocado e depara com a mulher que, meio trêmula, de joelhos, Lhe diz: - "Fui eu, Senhor".
O Mestre, olhando-a compassivo, deixa entreabrir os lábios com um leve sorriso e afirma: - "A tua fé te salvou. Vai em paz e fica libre de teu mal".
O poder da fé é sem limites e, assim reconhecendo-a, cientes de que ela dormita em nós, despertêmo-la. E já que não podemos tocar as resplandescentes vestes de Jesus, toquemos, com os dedos dos sentimentos, Sua roupagem evangélica, esperando provar a ventura de ouvir, a exemplo da mulher enferma citada no Evangelho: - "A tua fé te curou".
Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convém que sejam feitas. O mundo não poderia ser feito somente com as coisas de que gostas, porque nele vivem bilhões de espíritos reencarnados, com direitos, opiniões e gostos diferentes.
Se uma religião proíbe a carne como alimento, e te convém abaster-te de comê-la, faze-o, sem contudo, julgar a quem como, porquanto, em regiões trevosas há muitos vegetarianos e no campo da luz, como servidores fiéis do Cristo, há muitos e muitos que, quando no corpo físico, comiam carne nos seus repastos. Se a vida situou alguém na embriaguez permanente, não desdenhes dele, nem o maltrates, porque muitos dos embriagados, conhecidos como delirantes de vício, modificaram-se com maior rapidez do que muitos que nunca, naquela existência, levaram um copo com álcool aos lábios; mas há também o contrário. Ao conheceres um assassino, não o julgues como pária da sociedade, sem salvação aos olhos de Deus; muitos deles tornar-se-ão espíritos de luz, com pouco tempo; a força da regeneração transmita a ganga da alma em jóias preciosas de valore ilimitados, e alguns dos que se consideram portadores das leis ainda viajam nos campos das sombras, sem saberem quando o de que maneira poderão librar-se delas, mas encontra-se, também, o caso inverso.
Se possuis vultosa fortuna, e com ela movimentas meio mundo, não julgues os que nada têm, acreditando que os pobres o são de tudo, até da graça de Deus; existem muitos que foram pobres na terra, mas a resignação, a humildade, o esforço no bem, mesmo em situação penosa, fizeram-nos chegar à plenitude espiritual; e muitos ricos, que esbanjaram fortunas e mais fortunas no mundo, pensando que continuariam com as mesmas riquezas depois da morte, enganaram-se, sofrendo e chorando no vale das sombras, querendo retornar, sem poder, ao corpo físico, mesmo que seja na miséria, e até mendigando de porta em porta; mas há casos, igualmente, do reverso da medalha. Se observares mulheres que se degradaram mais do que os animais, também não as julgues; ora por elas, porque há casos em que, de uma hora para outra, às vezes às portas da morte física, elas se transformam no coração e, com pouco tempo, estão nas lides do Cristo, não raro ajudando aos próprios julgadores. Os que se julgaram muito puros vão encontrar dificuldades no mundo espiritual, de ajudarem, qual elas auxiliam, com desembaraço; como há, também, o contrário.
Se a tua consciência julga que não deves fazer determinada coisa, não a faças, mas não queiras distribuir essa regra para as consciências alheias, por não estarem todas as pessoas no mesmo nível espiritual que o teu. Todas as coisas são lícitas, mas nem tudo pode ser feito por todos; cada um faça o que lhe convém fazer, eis a melhor maneira de se viver em paz com a consciência. Muitos dos que vivem distribuindo conselhos a mancheias, vivem em muitos casos, carecendo deles. Não procures ninguém para orientar; caso venham ao teu encontro, faze o que puderes, e cuida de ver o limite de ajudar. A maior ajuda é a que cada um dá a si mesmo. Tolo é aquele que se transforma em espelho, para ver os defeitos dos semelhantes, fazendo-se de magistrado; cuidado, porque alguém pode estar focalizando-o, com o mesmo interesse.
Jesus já asseverava, há muito tempo, que "não é o que entra pela boca que macula a alma, e sim o que sai do coração". Isso não quer dizer que podes tomar estanho derretido e veneno em altas doses; tudo, como diz o Evangelho, é como convém fazer, nas doses certas; tudo é útil, tanto para o corpo, quanto para as almas; o exagero é que perturba os espíritos, onde estiverem. As regras evangélicas, somente os espíritos superiores as compreendem e vivem; da sua escala para baixo, tanto a compreensão quanto a vivência são relativas à posição espiritual em que cada um se encontra. Nem Deus, nem Jesus Cristo vai amaldiçoar a quem ainda não conseguiu viver todas as virtudes da Boa Nova; e a tolerância e o amor pregados pelos céus? Isso é o que não falta, porque há milhares de anos os mentores espirituais vêm tendo e continuam a ter para com todos nós; somente o completista vive e prega em verdade o Evangelho.
Porventura podemos exigir de uma criança a mesma coisa que um adulta já aprendeu, em toda sua existência? Seria isso justiça? O que convém fazer é aquilo que podemos realizar. O que nos convém fazer é o que a consciência ditar ou aprovar. O que nos convém fazer é cumprir com os deveres, onde eles nos chamarem. Mas sempre no reto pensar, na reta consciência e no reto proceder. E nunca, mas nunca, esquecer de nos esforçarmos para atingir as culminâncias de todas as virtudes evangélicas, pois é com e através dos próprios esforços, que pisaremos de degrau e galgamos os cimos da superioridade. Mas antes disso acontecer, se alguém te convidar para alguma coisa, sê metódico e prudente, sabendo que tudo é lícito, mas nem tudo convém que seja feito.
Enfermidades sempre existiram no mundo, algumas desafiando os poderes curativos da plantas, sem contudo, desmoralizar a ciência. Os homens do saber conhecem casos em que intervieram poderes maiores que a ação terapêutica conhecida. A solução ainda vibra em outros campos, não atingidos pelas pesquisas dos especialistas.
A dor se constitui num fenômeno não explicado pela medicina , dentro dos seus objetivos. Mas o futuro nos dará resposta às nossas indagações, explicando a missão da dor no corpo humano. Quase todos os gênios do mundo acreditam em Deus. Porém, perguntam-se: porque Ele deixa a dor instalar hospitais, abrir indústrias de medicamentos, e apodrecer homens, Seus filhos, nas sarjetas? Se cremos n'Ele, só poderemos aceitá-LO como mais sábio que os sábios, mais gênio que os gênios, mais justiceiro que a justiça, mais verdade que as verdades, mais amor que os amores. Não sente, no entanto, as misérias dos homens? Por que será que Deus recorre a esses paliativos, de remédios para remediar, de consolos para consolar? Com a inteligência de que é dotado, não poderia acabar com as enfermidades e com as tristezas? Certo que sim.
A ciência do mundo é, por natureza, fria e desconfiada, por não ter encontrado ainda a resposta a essas interrogações, em razão de seu desinteresse pela ciência divina que, certamente, lhe permitiria conhecer o porquê da dor, os objetivos do desequilíbrio humano, e as lições aprendidas pelos espíritos com o aguilhão na carne. Procura, irmão da ciência, estudar o porquê da vida, e ser-te-ão apresentadas as outras coisas, por misericórdia da própria vida.
Todo o saber do homem é expressão mui pálida da ciência divina. Estuda, analisa, compara, e verá outros ângulos a carrear luzes para tuas pesquisas. Viajar à Lua e a outros planetas trará muitas alegrias aos homens, mas viajar nas regiões desconhecidas do coração e conquistá-lo para Cristo, representará mais alegria nos céus. Paralelamente, há duas espécies de cura: uma, transitória, a cargo da ciência da Terra, e a outra, divina, incentivada no mundo espiritual e executada pelo próprio enfermo, tendo em mãos somente uma receita: o Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo. Os remédios, encontrá-los-ás na flora mental e no laboratório do coração.
O fenômeno da dor explica a existência mais positiva de Deus, mormente nas horas supremas, quando despertam, no ser humano, grandes qualidades espirituais. Quando os moradores de um edifício são cientificados de que o mesmo será demolido, por necessidade, extravasam o ódio e a incompreensão. No entanto, depois de pronto o novo prédio, quando convidados a residir novamente naquele lugar, abençoam os engenheiros, da mesma forma que antes odiavam os demolidores. Quem necessita viver no mundo das formas é obrigado, por lei que rege a evolução, a percorrer variadas fases, todas passageiras, e para formar e deformar, aparece o fenômeno da dor, único que nos mostrará Deus mais de perto.
O cavalo selvagem só se amansa, quando o peão trepa em seu lombo, com chicote e esporas, aplicando-lhe taladas e riscos, de onde surgem a dor e o sangue, na velha simbologia da mansidão. O homem representa no mundo um animal com necessidades bastante extravagantes, cuja educação só se faz pela dor, que cessa quando não é mais necessária.
Enquanto isso não chega, busquemos remediar nossos males. Lembremo-nos de quantos procuravam Pedro e João, principalmente quando os apóstolos iam entrar no templo famoso de Salomão, para orar. A multidão cercava os discípulos em busca da cura. Eram os tais enfermos que, havendo recorrido a todos os meios terapêuticos sem resultados positivos, procuravam as curas espirituais. Mas nem sempre eram todos atendidos. Somente aqueles já livres do fardo, e com suavidade do jogo. Os outros eram almas que necessitavam da dor como processo de evolução, razão por que Cristo dizia a muitos: "vai e não peques mais, para que não aconteçam coisas piores", certificando assim, que a dor é gerada pelo erro.
Consciente disso, errando, encontrarás coisas piores. Os discípulos curavam os que já estavam com o arma limpo pela dor e pelo tempo. E os fenômenos funcionavam como provas da glória de Deus. Para que nos tornemos instrumentos das curas divinas, é necessário que a boca só fale o bem, que as mãos só façam a caridade, que o coração só irradie o amor de Deus, e que os pés só andam com Cristo. Desse modo, poderás curar as chagas de todas as ordens, dizendo, como falou Simão, junto à porta formosa:
O sofrimento constitui um ponto de interrogação para a Ciência e o "por que sofremos" paira no ar, desafiando não somente os cientistas, mas toda a humanidade, exceção feita àqueles dados ao misticismo mais profundo. A medicina tem a missão de debelar o sofrimento, pouco conseguindo, até hoje, no campo das curas, por não poder atingir as causas, que são de dificílimo diagnóstico. A enfermidade é condição natural das almas em evolução e o espírito, na sua jornada ascendente, passa por fases numerosas; a cada uma delas somam-se muitos sacrifícios, correspondendo a muitos sofrimentos.
A ciência médica, com o perpassar dos anos, adota a psicologia como agente nas interrogações demoradas; usa a psicanálise, a psiquiatria. Nos dias correntes está quase adotando a parapsicologia, ou criando uma similar, no sentido de aprofundar-se mais ainda nas causas das enfermidades. É a dor que faz com que ela caminhe em todas as direções, em busca de socorro que lhe possibilite debelar os males. Deus não deixará esse esforço em vão; dará ajuda a todos os empreendimentos que visem o alívio dos que sofrem, desde que não interfiram no carma individual, força poderosíssima que não respeita nenhuma das fórmulas medicamentosas nem qualquer método terapêutico, porque o próprio carma é a bênção do elixir da verdadeira cura.
Os ramos "psis" da medicina estão em direção certa, mas andando devagar. O espiritismo cristão espera que eles cheguem perto, para que possa ajudá-los, dar-lhes a mão, nesse roteiro difícil da procura das causas de todas as doenças. As portas de pesquisas da Doutrina Espírita são largas, ampliando conceitos, dando visão mais segura a todos os estudiosos do assunto, para uma solução definitiva na cura das dores e no entendimento de duas conseqüências. A ciência médica nunca consegue, em campo nenhum, curas definitivas. Sua grandiosa missão é remediar males, é dar alguma esperança, o que já corresponde a muita coisa; e a cura verdadeira está na ciência interna, no remédio elaborado pelo coração com as mãos sábias da inteligência, servindo como livro divino, escrito por Deus, para consultas às fórmulas medicamentosas.
Existem dois roteiros da dor: a dor-evolução e a dor-provação; uma e outra têm o mesmo objetivo: melhorar as condições do espírito, sem o que não haverá felicidade. Os pais da medicina escolhidos pelo mundo sofreram, e os que aí estão sofrem enfermidades prolongadas, problemas de todas as ordens e desinquietações ininterruptas. Se assim não fora, não haveria um motivo para as grande descobertas. O ser humano ainda precisa do guante da dor; só ela o impulsiona para a frente e para o alto. A sua missão termina quando começa a superioridade do espírito. Mas, enquanto isso não chega, todos os remédios e diagnósticos são paliativos.
A bondade de Deus é tamanha, que vendo o sofrimento dos Seus filhos passar dos limites de suas forças, por misericórdia dotou igualmente as religiões com o poder de aliviar os enfermos, despertando nas almas forças tais, com as quais poderás aliviar a ti mesmo, como também acelerar o progresso, objetivando a verdadeira cura. A alma não é criada com o corpo; por isso os homens são desiguais e cada um carrega aquilo que é expressando, no mundo físico, o que foi antes de tomar novo corpo. É na ciência da reencarnação que poderemos encontrar as raízes de muitos males; essa é a operação da lei da justiça: respondemos por todos os nossos atos. Quando alguém aparece no mundo sem uma perna, só encontrarás a causa na lei da reencarnação. Se alguém surgiu na Terra sem os olhos, só poderás diagnosticar o "porquê" da cegueira, como justiça, analisando as vidas passadas. Se alguém se apresenta com enfermidades incuráveis no seio de família sã, somente sentirás alívio quando conheceres os processos das vidas múltiplas.
Se estiveres incluído em alguns desses dolorosos dramas, meu filho, reveste-te de compreensão e tolerância, porque só tendo caridade contigo mesmo é que aliviarás os teus fardos e suavizarás os teus jugos. Quem disse o que se segue abaixo foi o maior Mestre de todos os tempos: