Palavras de Luz, de Divaldo P. Franco p/Espíritos Diversos.

Evangelização Infantil

Qual a importância da evangelização da criança no Centro Espírita?

Divaldo: Da mais alta relevância, se dissermos que, quem instrui prepara para a vida, quem educa dá a vida, quem evangeliza fomenta a vida. Este "evangeliza", entendamo-lo à luz do Espiritismo, por ser a luz do Espiritismo que dá lógica e entendimento ao Evangelho. O Evangelho, puro e simples, é ministrado por outras doutrinas cristãs, mas a reencarnação e a comunicabilidade dos espíritos dão clareza e lógica, ao contrário de outras doutrinas evangélicas, preparando a criança para uma vida saudável no seu relacionamento futuro. Não se pode conceber uma Casa Espírita na qual as novas gerações não recebam a evangelização espírita, porque sem isto estaremos condenando o futuro a uma grave tarefa curativa das chagas adquiridas no trânsito da juventude para a razão.
Portanto, é imprescindível a presença da atividade do Evangelho à luz do Espiritismo, junto à criança e ao jovem.

***

O que dizer das aulas de evangelização em que predomina o conhecimento do Evangelho sem conteúdo espírita?

Divaldo: que é um trabalho muito respeitável, mas não é um trabalho espírita. Para que o seja, é indispensável que se encontram presentes os postulados essenciais conforme estão exarados em O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. Não podemos entender por que a criança e o jovem são capazes de compreender o Evangelho e não o Espiritismo, quando têm idéia clara de eletrônica, de cibernética, e de outras ciências muito mais complexas do que a Ciência Espírita, que é de fácil assimilação.

Os irmãos das igrejas reformadas, do Catolicismo, nas suas vária denominações, lecionam também o Evangelho, que é muito bom na sua parte moral, mas que não equaciona a problemática da existência humana, que somente pode ser entendida à luz da reencarnação. Não equaciona a realidade da comunicabilidade dos Espíritos, que somente através da mediunidade encontra parâmetros de lógica e sustentação. Não elucida a problemática da pluralidade dos mundos habitados, hoje reconhecida por boa parte dos astrônomos e dos astrofísicos de toda a Terra. E não resolve o problema do comportamento humano, porque libera ou escraviza a consciência através dos dogmas, dos formalismos e das suas atitudes místicas.
É indispensável colocar a Doutrina Espírita no Evangelho, para que a razão substitua a aceitação, e a lógica preencha o vazio do mitológico.

- Nunca é conveniente levar a criança a assistir reunião espírita de natureza mediúnica,... –

***

Como fazer, sendo preparado para evangelizar e não se sentindo seguro para o trabalho, já que no Centro Espírita é responsabilizado?

Divaldo: Todos nós somos inseguros daquilo que fazemos, exceto as pessoas presunçosas. A insegurança é um fenômeno natural, porque estamos sempre aprendendo, defrontando experiências novas. É compreensível que aquele que se inicia numa atividade encontre muitos conflitos na área que o desafia. A segurança virá como resultado normal da experiência, que irá adquirir com o tempo.
O conhecimento teórico não equipa uma pessoa com a segurança que a faça enfrentar as dificuldades naturais que lhe são desafio, com a mesma experiência daquele que opera todos os dias. A melhor maneira de o fazer, é começar. Começa-se inseguro e, lentamente, vai-se adquirindo confiança, que é resultado das experiência que se tornaram exitosas. Sem a experiência pessoal ninguém tem segurança de como fazer, porque não se transmitem experiências. Transmitem-se informações, que aplicadas nos levam à vivência dessas mesmas informações.

***

As crianças que estão sendo evangelizadas, de que maneira podem os pais ajudá-las, a fim de que a evangelização continue no lar?

Divaldo: Aos pais compete a observação das tendências, da natureza dos seus filhos para bem orientá-los e despertarem nos mesmos as qualidade que se contrapõem aos defeitos. Entretanto, isso deve ser feito quando os filhos são muito pequenos, e é justamente quando os pais são mais inexperiente, menos maduros. Então, quando vemos os resultados, o tempo já passou. Como agir? Por mais imaturos que sejam os pais, há, entre eles e os filhos, o largo período que já viveram. Nesse período, adquiriram as experiências das suas próprias vivências.

Há, em todo indivíduo, a tendência para o bem, porque somos lucigênitos. Esse heliotropismo divino nos leva sempre a discernir entre o que é certo e o que é errado. Se, por acaso, por inexperiência, não orientamos bem o filho na primeira infância, é sempre tempo de começar, porque estamos sendo educados até a hora da própria desencarnação.

Os pais que não lograram encaminhar bem os seus filhos, porque lhes faltava o equilíbrio do discernimento, quando se estava no período da formação da personalidade, podem recomeçar em qualquer instante, de maneira suave, perseverante e otimista através do exemplo e da vivência do amor.
Os pais podem ajudar a evangelização no lar, sobretudo pela exemplificação. É a exemplificação a melhor metodologia para que se inculquem as idéias que desejamos penetram naqueles que vivem conosco.

Se examinarmos Jesus, Ele disse muito menos do que viveu e viveu muito mais do que nos falou. A mim me sensibiliza muito uma cena que parece culminante na vida do Cristo. Quando Ele estava com Anás, o Sumo Sacerdote, que Lhe perguntou sobre Sua doutrina, respondeu Jesus, que nada falara em oculto e que ele deveria perguntar aos que O ouviram. Um soldado que estava ao lado do representante de César, agrediu-O, esbofeteando-Lhe a face.
Para mim, este gesto é dos mais covardes: bater na face de um homem atado. Então Jesus não reagiu. Agiu com absoluta serenidade.
Pacifista por excelência, voltou-se para o agressor e lhe perguntou: Soldado, por que me bateste? Se errei, aponta-me o erro, mas, se eu disse a verdade, por que me bateste? É uma lição viva, porque Ele poderia apelar ali para a justiça do representante de César; poderia ter-se encolerizado; ter tido um gesto de reação, mas Ele preferiu agir.

O lar é a escola do exemplo, onde lamentavelmente se vive reagindo. Vive-se de reações em cadeia; raramente se pára para agir.

***

Uma criança era dotada de mediunidade vidente aflorada. Quando jovem perdeu-a por algum tempo. Após freqüentar grupos de jovens espíritas e estudar a Doutrina é possível recuperar a sua vidência?

Divaldo: Sim e não. Na infância, as faculdades psíquicas são muito aguçadas, porque o Espírito ainda não está totalmente reencarnado. O cérebro ainda não absorveu toda a percepção extra-sensorial. Como há uma percepção mais aguçada que ainda não foi assimilada pelos neurônios cerebrais, várias faculdades se manifestam, já que é o próprio Espírito que vê, que ouve, que sente. À medida que ocorre o mergulho na indumentária carnal, vão diminuindo as possibilidades parapsíquicas até que ficam relativamente bloqueadas.
Mais tarde, a pessoa pode exercitá-las e, através do exercício, poderá recuperar essas percepções de acordo com as conveniências que foram estabelecidas pela lei de reencarnação para o progresso da própria criatura.

Há indivíduos que gostariam muito de ser médiuns vidente, médiuns com um campo muito amplo, sem darem-se conta das graves responsabilidades que disso decorrem, dos gravames, dos perigos e dos imensos testemunhos, que se fazem necessários.

Os nossos Mentores Espirituais, quando coordenam a nossa reencarnação, examinam em profundidade o que será melhor para a existência, como o que será pior, estabelecendo aquilo que se possa ou não suportar.
Daí não é lícito forçar o desenvolvimento de aptidões, para as quais, talvez, não se esteja moral e emocionalmente equipado par enfrentar as conseqüências dessa decisão.

***

Como enfrentar o desafio da educação da criança carente? O que nos aconselha no sentido de criarmos um trabalho com essas crianças de rua. Gostaria de saber se a merenda é prejudicial quando colocada como prêmio aos que freqüentam mais a evangelização?

Divaldo: A melhor maneira de enfrentar-se um desafio é começá-lo. Chamar um cooperador, mais um e formar um grupo.
É provável que muitos aqui não conheçam a história da célebre Universidade Mackenzie, de São Paulo.
Começou quando uma educadora americana notou, em São Paulo, na rua em que morava, um grupo de crianças vadias. Ela, que preparava muito bem broa de milho, pôs-se a atrair os meninos que ficavam à porta sentindo o cheiro, e começou a dar-lhes o alimento doce. Depois, resolveu que somente daria broas às crianças que viessem, no Domingo, pela manhã, para ouviram-na falar do Evangelho de Jesus.
Depois que vieram vários por causa da broa, ela explicou, que só participaria da reunião, para depois comer a broa, quem viesse tomado banho, de cabelo penteado e pés calçados. Mais tarde, ela notou que poderia fazer algo mais do que a broa. Teve a idéia de preparar um lanche mais substancial para atrair mais meninos de rua.
Eles aumentaram de tal forma que chegavam à hora em que ela estava na confecção do alimento.
Ocorreu-lhe estabelecer que, a partir da data X , somente teria acesso à aula de Evangelho, para depois comer, quem soubesse ler e escrever. E como eles não o sabiam, ela pôs uma mesa no fundo do quintal e abriu uma escola de iniciação alfabética. Hoje é o Mackenzie, que tem uma bela e longa história, inclusive, foi visitado por D. Pedro II que lhe fez uma expressiva doação.

Uma americana, Mary Jane Mac Leod Bethune, começou a educar crianças num depósito de lixo. A lei da segregação racial nos Estados Unidos era muito severa contra os negros. Ela era negra, havia ganho uma bolsa de estudos de uma costureira quaker, e, ao se formar não tinha alunos. Quando foi nomeada não havia escola. Ela então reuniu três caixões vazios de cebola, colocou-os embaixo de uma árvore, num depósito de lixo, convocou três descendentes de escravos e começou a ensinar-lhes a ler e escrever.
Oportunamente, quando Henry Ford foi a Osmond, uma praia da Califórnia, ela foi visitá-lo. Ao chegar à porta, foi barrada, porque, no hotel, negro não podia entrar, somente na condição de serviço. Ela subiu a escadaria de incêndio de nove andares, saltou a janela, tocou a campainha da porta, e, quando o mordomo veio abri-la, disse-lhe: Quero falar com Mr.Ford. O mordomo, que também era negro, respondeu: Mas ele não recebe negros! E falou-lhe baixinho: Como você se atreve a vir aqui? Ela reagiu bem alto: Eu tenho uma entrevista marcada com Mr. Ford, que assinalei por telefone. Eu sou Mary Jane.
Ouvindo-a, Mr. Ford redargüiu: Entre, senhora.
Quando ela se adentrou, ele, que era humanitário e acreditava na reencarnação, exclamou, surpreso: Mas eu não sabia que a senhora era uma negra!
Ela sorriu, elucidando: Não totalmente. Eu duvido que o senhor conheça dentes mais alvos e um olho mais brando do que o meu.
Ele a adorou, porque uma mulher que era superior a essas mesquinharias humanas merecia respeito. Perguntou-lhe:
- O que a senhora deseja de mim?
- Desejo que o senhor me ajude a construir a minha escola, a ampliá-la. Gostaria de levá-lo ao meu terreno, a fim de que o senhor construa comigo a escola dos meus sonhos. Ele aquiesceu. Desceu com ela pelo elevador por onde não pudera subir. Quando ela passou pela porta e o atendente a viu, ela ainda, só para surpreender, pegou o braço de Mr.Ford, com a maior intimidade. Sentou-se num carro coupé aberto, desfilando pela cidade de Osmond e olhando para todo mundo. Isso há mais ou menos sessenta anos. Era muita coragem!
Levou-o ao seu terreno. Quando chegou ao depósito de lixo, disse-lhe:
- É aqui, senhor, que eu quero construir a minha escola.
Ele, surpreso, retrucou:
- Aqui? E onde está sua escola?
Ela apontou:
- Ali.
- Senhora, ali é um depósito de lixo.
- Eu sempre me esqueço dos detalhes! Em verdade a minha escola está aqui na cabeça. Eu quero que, com o seu dinheiro, o senhor arranque daqui (apontou a cabeça) e a coloque ali. Ele deu-lhe, então, vinte mil dólares.
Essa mulher educou, até o ano de 1969, milhões de negros americanos. Tornou-se o símbolo da educadora mundial.

Quando o presidente Franklin Delano Roosevelt cancelou as subvenções por causa da guerra, ela lhe pediu uma entrevista na Casa Branca, e disse-lhe:
- O senhor não vai cortar as subvenções das minhas escolas.
Ele redargüiu:
- A senhora não se esqueça que eu sou o presidente.
E ela repostou:
- Nem o senhor esqueça que eu sou eleitora, e eu vou me lembrar.
Ela sentou-se. E a sua foi a única rede de escolas que não teve as subvenções canceladas naquele período.

Certa feita, ela estava numa cidade do Sul, onde a intolerância racial era muito grande e teve uma crise de apendicite. Foi levada de emergência ao hospital e colocada na mesa cirúrgica. Quando os médicos entraram e a viram, disseram: "Operar uma negra?" E saíram da sala. Ela pôs a mão no lugar dorido, olhou para a janela e orou: "O Senhor deve estar brincando comigo. Acho que o Senhor só me deu essa apendicite para me desafiar. Porque se o Senhor me ajuda a sair desta mesa, eu Lhe prometo que, na América, onde o Senhor me pôs na Terra, nunca mais morrerá ninguém de apendicite pelo crime de ser negro, porque eu não deixarei."
Levantou-se e ergueu uma Faculdade de Medicina. É uma das histórias mais lindas do século, mas, infelizmente, desconhecida dos brasileiros.

Quando estourou a guerra da Coréia, ela já era um vulto venerando no mundo. Foi conselheira da UNESCO e da ONU para assuntos raciais.

Outra vez, ela vinha atravessando o corredor para negros, no aeroporto de uma cidade do Sul. Um rapaz branco saltou a cerca, abraçou-a e chamou-a de mamãe. Então o colega reagiu: É louco? Como pode abraçar esta negra?
Ele explicou: É por causa desta negra que eu vou dar a minha vida na Coréia. Quando eu fui convocado para a guerra, em um país que jamais eu havia ouvido falar o nome, fui ao meu professor de geografia e perguntei: Onde é que fica mesmo essa Coréia? Ele mostrou no mapa uma região miserável, perdida, que eu não sei quem estava lá. E eu vou prá lá, porque me disseram que eu vou salvar a democracia, que eu aprendi com esta negra, que ama a todos os homens, sem perguntar o nome, a cor, a raça ou a crença.

Ela escreveu mais tarde: Eu poderia Ter morrido naquele dia, porque minha missão, na Terra, havia acabado.

Começamos, na Mansão do Caminho, onde temos duas mil e quinhentas crianças, que têm o lanche garantido, mais ou menos, como narramos. Um dia demo-nos conta que, na rua, havia muitos meninos que não estavam na escola, e, por isso, não comiam.

Criamos, para eles, uma sopa, há três anos. Vieram os meninos e suas mães. Depois de um ano estabelecemos que só tomariam a sopa se viessem limpos. Como no bairro a dificuldade de água é muito grande, passaram a tomar banho conosco. Se vêm descalços, damos alpercatas. Se as perderem, não tomam a sopa. Porque, o perder aqui, é vender. Saem com as alpercatas e vendem-nas, a fim de ganharem novas no outro dia.

Depois, só tomam a sopa se estudarem. O interesse cresceu e hoje transformamo-la em almoço, pois já estão tendo aula normal. Têm a merenda às dez horas e o almoço ao meio-dia. Começamos com vinte, estamos com quase trezentos. Fazemos a evangelização, como introdução ao trabalho da educação.
Ao fim do ano, os que tiverem melhor aprendizado são matriculados na 1ª série da Escola Jesus Cristo. Este ano matriculamos quarenta e seis e no próximo teremos o dobro.

Começamos, pois, sem maiores preocupações. Iniciamos sob a copa de uma mangueira e sobre três caixas de cebola, na rua Barão de Cotegipe, 124. Eu tinha lido, então, a vida de Mary Jane. Hoje estamos com duas mil e quinhentas crianças internas, semi-internas e externas. Pretendemos ainda aumentar o número, e, dentro de alguns dias, inauguraremos uma escola de auxiliar de enfermagem, para, depois, uma escola de magistério.

***

Hoje é muito grande o envolvimento do jovem na política. Preocupado com as leis humanas, indiferente às Divinas. É um processo educacional? Como concilias as duas coisas?

Divaldo: Ocorre que o jovem padece constrição de uma sociedade que não tem sido susta para com os seus membros. Ele, não tendo recebido no lar a formação de uma educação nas bases reencarnacionistas, assim, tem buscado uma forma de cortar os efeitos através de leis que, infelizmente, não alcançam a causalidade. É perfeitamente justa a necessidade e a busca de engajamento do jovem na política, para equacionar o problema que ele apenas vê nos resultados negativos. A maneira de conciliar a situação é educá-lo para um saudável engajamento, não através do jogo dos interesses imediatos, mas ensinando-o a ser bom eleitor. Politizá-lo, conscientizá-lo.

Dizer-lhe que numa sociedade democrática, o voto é a grande arma do cidadão. No momento que ele esgrimir essa arma, não venderá a consciência aos corruptos, pelo contrário, os eliminará.
No mesmo programa, já referido, ouvi a resposta de um advogado, que me sensibilizou muito pela justeza da colocação. Ele falava de corrupção e dizia que só há corruptos porque há corruptores. Aqueles que se vendem, fizeram-se a alguém que é pior do que eles. Os corruptores quase nunca são justiçados, porque não denunciam a desonestidade, pois que ela é boa para acobertar-lhes as indignidades.

Da mesma forma, porque há o receptador, existe o ladrão. Este furta um aparelho, porque há alguém que o compra por qualquer preço. Não se pode punir o primeiro sem alcançar o outro. Aquele que não denuncia o ladrão e aceita-lhe o fruto da rapina, também furta. Se o ladrão oferece ao receptor uma peça valiosa e este a compra por valor inferior está furtando do outro delinqüente e não tem interesse de denunciá-lo porque também o é.

Assim, devemos politizar a mentalidade jovem, para que não venda o seu voto a amigos, a conhecidos, nem àqueles que se utilizam de expedientes escusos.
Iremos conscientizar os jovens, a fim de que não se vendam, votando com a consciência. Na Mansão do Caminho nós somos apolíticos. A nossa é a política do Evangelho. Procuramos educar de forma que as pessoas tenham consciência do seu voto. Lá não permitimos que se faça campanha eleitoreira.
Teremos que ensinar a atual geração, a fim de que ela esteja equipada para enfrentar a corrupção que se tornou clássica em a natureza humana. Não só no Brasil, porém em toda a parte.

***

Qual deverá ser a atitude de um evangelizador ao deparar-se com um jovem com tendências homossexuais, sabendo que o mesmo se encontra nessa situação sentindo amor por outro do mesmo sexo?

Divaldo: O problema é de ordem íntima. Não temos o direito de invadir a privacidade de ninguém, a pretexto de querer ajudar os outros.

Há uma preocupação em nós, de querermos salvar os outros, antes de nos salvarmos a nós mesmos.

Deveremos sempre ensinar corretamente o que a Doutrina nos recomenda. Se alguém vier pedir-nos ajuda, estendamo-la sem puritanismo, sem atitudes ortodoxas, porque o problema posto em pauta é de muita profundidade para uma análise de natureza superficial.

Se notamos que um dos nossos condiscípulos está numa fase de transição – e a adolescência, além de ser um período de formação da personalidade, é também de bipolaridade sexual – procuremos estimulá-lo para que canalize corretamente as suas emoções para a ação do bem, mas também sem castrar-lhe as manifestações do sentimento. Façamo-lo de uma forma edificante, e, quando as circunstâncias nos permitirem, falemos que as Divinas Leis estabeleceram, nas duas polaridades, a masculina e a feminina, o equilíbrio para a perpetuação da espécie.
O sexo foi feito para a vida; não a vida para o sexo.
Daí, o indivíduo que sinta qualquer distúrbio na área do comportamento sexual, considere que se encontra em um educandário da vida, para corrigir desequilíbrios que devem ser conduzidos para as disciplinas de uma vida feliz, deixando que cada qual faça a sua opção, sem o puritanismo que tudo condena e sem o modernismo que tudo alberga, porque cada um vai responder pelo uso que faz da existência conforme as suas resistências.
É muito fácil propor a alguém que suba a montanha, sem saber até onde vão as suas forças. Em Doutrina Espírita ninguém vive as experiências alheias, como em nenhuma outra. A nossa tarefa é a de exemplificar-ensinando, para que cada um faça o melhor ao seu alcance.



Área Mediúnica

Você acha que o estudo da Mediunidade deve ser feito somente nas reuniões mediúnicas?

Divaldo: Acho que, na sessão mediúnica, não há tempo suficiente para o estudo, porque a finalidade dela é a prática. Devem-se fazer reuniões de estudos normais, não só de mediunidade, mas também da Doutrina, enfocando os vários aspectos do conteúdo doutrinário.
Como antecipação da sessão mediúnica, leituras leves para predispor aqueles que irão participar do trabalho; diálogos, considerações suaves, que enriqueçam os que participam da tarefa com bom humor, idéias felizes, que produzam um relax, que diminuam o cansaço da atividade do dia, isso sim, Mas, um estudo antes, irá cansar as mentes para o momento da prática, porque todo estudo produz natural estafa. Exercendo-se a mediunidade depois deste, já haverá uma certa indisposição como efeito natural do esforço anterior.

***

O que dizer dos Centros Espíritas que têm, como Mentores, Pretos Velhos, Índios, Caboclos e outros Espíritos com esta nomenclatura?

Divaldo: Nós amamos muito a todos os Espíritos, mas numa escala cultural de valores, aqueles de nós que estagiamos nas faixas de fixação da personalidade, estamos ainda em processo primário de evolução.
O Preto Velho de hoje, pode Ter sido o intelectual de ontem. Mas o Índio de agora, não há de Ter sido o homem sábio do passado. Porque é um fenômeno socioantropológico evolutivo, em que a Lei não produz retrocessos. O homem culto, que exerceu mal o conhecimento, pode vir na área do analfabetismo, para desenvolver outros sentimentos, ou da escravidão, para santificar o amor. Porém não se faz necessário que fixe, no seu processo evolutivo, aquela faixa na qual esteve incurso, quando de uma das vezes do seu programa de crescimento espiritual.
Há de se notar, que esse atavismo é cultural-brasileiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, o fenômeno ocorre com os indígenas ali nascidos. Portanto, esta é uma herança da sociedade americana. Aqui não se comunicam Espíritos pele-vermelha, com a mesma facilidade.

Surgiu uma celeuma, na Inglaterra, quando M.Barbanell, um excelente médium de Londres, passou a receber uma Entidade, que se dizia chamar Silver Birch, "Flecha de Prata", que havia sido cacique de uma tribo pele-vermelha nos Estados Unidos. Esse Espírito revelava um alto conhecimento e dizia ser amigo de Barbanell, que fora, por sua vez, pele-vermelha anteriormente, quando nasceu aquela vinculação emocional e espiritual entre eles.
Daí, para transferirmos para o negro, ou o amarelo, ou o branco, ou o roxo... ser o Guia da nossa atividade, entra o fator animista-africanista, muito acentuado, da cultura brasileira. Não que achemos que o Preto Velho seja inculto. Se ele tem conhecimento não é necessário manter aquela postura, que lhe foi uma necessidade temporária. Se ele vem, falando, por exemplo, nagô, é uma perda de tempo, porque nós não o iremos entender. Se vem falando um português errado, torna-se um prejuízo porque nos ajuda a deformar a instrução, quando nos deveria auxiliar a melhorá-la. Então, temos visto, por exemplo, Pretos Velhos que vêm e se comunicam; se formos um pouco exigentes no exame da comunicação, vemos que o fenômeno é atávico, não é autêntico. Porque o sensitivo ou o Espírito, usa um certo linguajar que atribui ser de escravo e, em verdade, não o era. Se a Entidade é esclarecida, no Além, terá adquirido a arte de bem falar, porque o Espírito não fala pela boca do médium, mas, projeta a idéia e através do perispírito do intermediário a transforma em palavras, assim falando.

Há muito desconhecimento a respeito do fenômeno mediúnico. O médium pensa que o Espírito está incorporado, qual se fora a água na garrafa, assimilando a forma, o que dá margem a certas posturas.
Há em nosso comportamento espiritual um certo pieguismo que deve cessar. Por exemplo: por que não chamamos Dr. Bezerra ou outro Espírito, o branco velho? Por que o preto, tem que continuar preto no Além?
Por que não o chamamos amigo, irmão, Antônio, José, Abaluaê, seja lá qual for o nome? Sucede que, no fundo, ainda somos preconceituosos e desejamos manter escravos alguns Espíritos amigos. Demais, tenhamos em conta, que nem todo preto e velho foi bom na Terra. Muitos foram assassinos, rebeldes criminosos. E alguns ainda o são, como ocorre com muitos brancos velhos.

A evolução está em toda parte. Mas essas Entidades, às vezes, mantendo as lembranças, fazem-no por afetividade. Não é que devemos dar ao Espírito que foi civilizado o comando das Casas Espíritas. Essas entidades podem ser diretores de uma Casa Espírita, sem dúvida, mas a vinculação com o afro-brasileirismo dá-lhes mais um cunho africanista que espiritista, porque, ao lado disso, vêm as práticas animistas: o incenso, a rosa branca, a vela, a roupa branca... apresentam-se outras dependências que depõem contra o comportamento espírita, que independe de quaisquer aparências exteriores.

Não tenhamos, portanto, nenhum preconceito contra Espírito algum. Não os escravizemos às nossas paixões.
Várias dessa Entidades me apareceram e algumas se comunicaram por meu intermédio no começo do exercício da minha mediunidade. Aparecia-me um Espírito que se dizia Preto Velho quando eu me iniciei. Foi-me um grande amigo. Ajudou-me muito e ainda me ajuda. Um dia Joanna de Ângelis disse-lhe: "Se o meu amigo pretende o médium de que me utilizo, vai mudar de comportamento ou não poderá comunicar-se mais, porque não podemos perder tempo com frivolidades. Nosso tempo é muito reduzido."
A Entidade compreendeu a orientação e passou a comunicar-se com o nome que teve em outra encarnação. O Espírito é a individualidade, a soma da suas personalidades passadas, formando um tipo especial. Quando dá o nome, é para fazer-se identificar, para que se saiba de quem se trata. Daí quanto possível, evitemos fixações negativas, porque o mundo espiritual é muito sério. E todos marchamos para a unidade, não para o separatismo.

***

Como diferenciar em uma sessão, as manifestações anímicas, das mediúnicas? Quais as relações entre essas duas faculdades?

Divaldo: A palavra animismo foi criada pelo sábio russo, Alexandre Aksakof, quando publicou o livro Animismo e Espiritismo. Esse homem admirável fez uma análise profunda dos três fenômenos que ocorrem na área paranormal, e chamou-os de animismo, personismo e Espiritismo.
O fenômeno anímico que procede do próprio indivíduo. O fenômeno personista é o mesmo que animismo e personificação.
O médium pode bem aquilatar para distinguir, se estiver interessado. O doutrinador também pode descobrir quando ocorre um ou outro fenômeno, se conviver com o médium. Todos temos fixações, vícios de linguagem. Havendo, no fenômeno mediúnico, repetições dos vícios de linguagem, e os modismos fazendo-se exaustivos, o fenômeno é mais anímico que mediúnico.
Quando os estertores, as pancadas, os choques se repetirem em grande profusão, o fenômeno ainda é mais anímico, porque nervoso.

Quando, no fenômeno, ocorrem idéias que não são habituais ao médium, encadeadas, sem a contribuição do raciocínio, chegando prontas e enviadas em boa embalagem, o fenômeno é mediúnico. Porque não foi resultado de uma elucubração, de um trabalho da personalidade do sensitivo.
É o que poderíamos dizer sobre o assunto, na área dos fenômenos de natureza intelectual. Mas, só a honestidade de cada um e a convivência com seu doutrinador, assim como a observação e o estudo, é que irão dimensionar quando o fenômeno é anímico.

***

O que dizer da opinião que se popularizou de que todos nós somos médiuns?

Divaldo: É uma opinião correta. Como dissemos, isso não implica num compromisso para com a mediunidade, mas, sim de um dever para com a vida.
Canalizar essa força mediúnica em nosso benefício, buscarmos evoluir, sintonizarmos com as Entidades respeitáveis, ascendermos, a fim de harmonizarmos com as fontes da vida, é dever nosso.
É muito salutar essa certeza, porque nos ajuda a canalizar energias e faculdades que ignorávamos, e que, observando-as, detectaremos para o nosso próprio bem.

***

Você acha necessária a implantação de uma metodologia científica para a comprovação dos fenômenos ocorridos nas reuniões mediúnicas? Como isso se daria?

Divaldo: Não acho necessário. A fase da comprovação do fenômeno mediúnico há houve. A investigação científica deve ser feita hoje como desdobramento daquela. Não mais para comprovar o confirmado. Se a sessão mediúnica vai ser transformada num laboratório, perde a finalidade a que se destina.
Se se deseja um laboratório de pesquisa, que se crie uma reunião específica para tal, a fim de que os médiuns que ali compareçam saibam, anteriormente, que vão ser investigados. Na reunião mediúnica tradicional eles vão servir a uma determinada finalidade moral-espiritual de atendimento aos desencarnados, no programa estabelecido pelos Mentores da Casa.



Área Doutrinária

Como você explica Instituições que adoram livros de Roustaing, cujos conceitos colidem com a Codificação de Kardec? Como se comportar diante da comunidade nessa controvérsia?

Divaldo: O Espiritismo não tem pessoas que pensem por outras. O apóstolo disse: "Examinai tudo e retende o que é bom." Uma Casa Espírita onde não se estuda a Codificação não é, portanto, espírita. Desde que estude somente outras obras, é uma casa vinculada àquelas teorias, e não à Doutrina Espírita. Cada um se comportará diante da controvérsia conforme a sua aptidão e capacidade de digerir o assunto em debate. É questão de livre-arbítrio, porque ninguém pode impor a outrem determinados comportamentos culturais e intelectuais. Se à pessoa parece lícito conhecer o tema, é válido fazê-lo. Se parece que lhe violenta a razão, que não o aceite.



Questões sobre temas gerais

Qual a tarefa de quem deseja trabalhar para a solução dos problemas sociais?

Divaldo: Buscar conhecer as suas causas geradoras, a fim de erradicá-las. Fomentar leis de justiça social e lograr recursos que contribuam para a dignificação da criatura humana, mediante uma política de valores dignos e enobrecedores, que lhe conceda trabalho, saúde, educação, alimentação, recreio...
Para o espírita é também subir o morro para conhecer a problemática dos infelizes e minimizá-la.
Eu conheço muita gente que faz jogging, cooper, e quando pedimos para visitar doentes, aplicar passes ou se mover na ação da caridade, responde: "mas eu não tenho tempo." E gasta duas horas diárias fazendo exercício. Quando lhe pedimos para tirar este adorno daqui para ali, não pode, Porém, pode andar doze quilômetros, porque o médico assim recomendou. Fazer um trabalho doméstico é movimentar-se, porque o jogging, o movimento acelerado, não é apenas correr na rua. É também mover-se dentro de casa, limpando móveis, atendendo à cozinha, desde que uma dona de casa que se movimenta normalmente, chega a caminhar de oito a nove quilômetros diários, em uma residência de cinco cômodos, assim dizem as estatísticas. A pessoa, no entanto, quer caminhar para mostrar a todos aquele sacrifício, mas não quer Ter deveres e obrigações domésticas, porque está doente, cansada ou ociosa, sem crítica de minha parte, em relação ao jogging, cooper.

***

Como educar um sentimento, um afeto, uma emoção que não pode ser cultivada?

Divaldo: Pelo exercício mental. Se a razão diz que esse sentimento é pernicioso ou, pelo menos, é perturbador ou inútil, aplicar a razão à emoção e canalizar as forças para os sentimento superiores que defluem das emoções elevadas. Não há uma técnica específica, senão aquela que é resultado da disciplina.
Não se considerar que se tem o direito a viver as experiências perturbadoras somente porque hoje estão em moda. Tampouco pensar: como os outros se permitem uma vida irregular, por que não a própria pessoa?
A Doutrina nos ensina, que tudo quanto não edifica, perturba. Com essa visão racional, aplica-se o crivo da edificação dos desejos e dos hábitos a tudo quanto pode levar o ser a encarceramento na área da paixões dissolventes.
Primeiro, exercitando a mente e colocando-a nas emoções superiores, porque onde estejam as aspirações, aí estará o sentimento. Nas palavras de Jesus: Onde esteja o sentimento, o desejo, aí estará o coração.
Depois, mediante exercício de consciência lúcida.

***

Que fazer para controlar o instinto agressivo nervoso ante uma agressão?

Divaldo: Realizar um treinamento. Comecemos treinando-nos nas pequenas coisas. Toda vez que tivermos vontade de dar uma resposta grosseira, tentemos sorrir e contemporizar. Se alguém nas dá uma indireta e podemos rebatê-la com uma boa alfinetada, tornemos a sorrir, achando que o agressor não está bem.
Não disputemos o campeonato para ver quem é o pior dos licitantes. De treinamento em treinamento, quando vier a agressão, estaremos tão acostumados a não reagir, que passaremos a agir.

Chico Xavier, em uma bela carta que a mim sensibilizou muito – não foi a mim dirigida – disse que não consegue compreender como é que, entre aqueles que pregam a Doutrina Espírita e dizem vivê-la, tem encontrado os exemplos mais dolorosos da sua vida! Não têm sido os estranhos, os adversários que o levaram a momentos de grande dor, mas sim, companheiro de fé, até mesmo amigos muito queridos. E narra que, oportunamente, um amigo espírita pediu-lhe para ser intermediário de uma mensagem, que ele logrou psicografar. Tinha ele certeza de que se tratava do Espírito solicitado. Após lê-la, porque a mensagem não apoiava o que o companheiro esperava, e que era errado, esse rasgou-a e jogou-lhe os pedaços na face, dizendo que era de sua elaboração. Ele não soube como pode preservar o sorriso nos lábios e a serenidade no coração. Chegando, porém, à casa, chorou copiosamente, porque, mesmo que fosse irregular, o amigo não tinha o direito de agredi-lo, porquanto lhe havia pedido a mensagem e Chico assim o fizera. E continuou: noutra oportunidade, um companheiro muito querido, sem um motivo aparente real, escarrou-lhe na face. Ele teve forças para, diante de todos, não aceitar o ultraje e continuar conversando como se nada tivesse acontecido. Chegando à casa, e dominado pelas lágrimas, Emmanuel apareceu-lhe e, quando ele apresentou-lhe o problema, o Mentor respondeu: De outra vez que alguém te escarrar na face, olha para o lado e dize: parece que está chovendo. E limpa o rosto. Isso é da gente chorar, porque há aqueles que escarram exteriormente, mas os que escarnecem interiormente a toda hora, sendo que alguns, por mais precipitados, atrevem-se a unir ao sentimento interior o gesto externo.
Mas Chico Xavier logrou isso pelo treinamento. Ninguém alcança a montanha sem caminhar vagarosamente pelo vale.

Joanna me disse, há muitos anos: Quando alguém te atirar lama, não fiques teimosamente à frente, porque ela te baterá na face e te sujará por alguns minutos. Quando alguém o fizer, sai do caminho. A lama passa e quem a jogou fica de mãos sujas. Nunca revides, para que não fiques enlameado também. Quando vires alguém que está com os pés sujos de barro, não lhe apontes a imundície, porque esse alguém acaba de sair do pântano e lá adiante vai lavar-se, ficando limpo. Tem, porém, piedade de quem ainda não entrou no lodaçal, porque, talvez, lá entrando, não saia.

São atitudes simples que poderemos exercitar. Quantas vezes tenho ouvido pessoas ironizar-me de uma forma que eu ouça! E eu escuto. Vou procurando fazer de conta que se trata de uma pessoa enferma. Não porque eu não mereça, mas porque a pessoa poderia Ter a nobreza de me dizer diretamente e não de tomar uma atitude inconseqüente. Aprendi isso nos sanatórios psiquiátricos. Já os visitei inumeráveis. Sempre noto que toda vez que o Diretor, ou outro médico vai levar-me ao pátio ou à sala dos agitados, os doentes, com raras exceções , começam a dizer: Dr. Eu já estou bem. Quando é a minha alta? Ele responde: Está bem! Está ótimo. Amanhã. E vai passando, porque sabe que tal comportamento é natural nos doentes.
No momento da agressão, eu digo para mim mesmo: quiçá, estejamos num grande sanatório em que todos somos doentes. Aqueles que agridem, são os que estão piores, querendo uma alta que ainda não merecem. Cabendo aos que estão menos mal dizerem também: deixa prá lá. Está bem! Porque eles vão ficar bons e quando tal suceder passarão pelo pátio, enquanto outros agitados far-lhes-ão a mesma coisa.
Daí é necessário treinar.

***

Como o evangelizador pode contribuir para a evolução espiritual de uma criança excepcional?

Divaldo: Inicialmente, a criança excepcional não estará na classe das crianças normais, suponho. Não lhe será o lugar adequado, porque ela irá perturbar o trabalho junto às crianças consideradas normais.
Teremos que criar uma classe especial para ministrarmos, quanto possível ao grau de entendimento do excepcional, o conhecimento da realidade do Espírito. Mas teremos em vista que a excepcionalidade não é do Espírito. São limites orgânicos impostos pelas próprias dívidas ao ser em evolução.
Toda instrução que lhe dermos será arquivada no perispírito e irá beneficiar o Espírito. Ainda que na Terra, acalmando-se, a criança que estiver num quadro neuropatológico muito acentuado, tendo melhores momentos de lucidez, avançará mais na área da razão. E quando se libertar da injunção expiatória, recobrará o patrimônio recém-adquirido.

Essas patologias graves, que chegam a deformar, como o mongolismo e outras, estão enquadradas no capítulo das expiações, defluentes de suicídios ou de crimes de largo porte que não foram alcançados pela justiça terrestre e a consciência culpada insculpiu no hoje organismo deficiente.
O nosso trabalho é de amor!

Quando encontro a mãe de um excepcional, sempre a parabenizo. Digo-lhe, porque ela priva muito mais com o filho limitado do que o pai, que normalmente tem atividades externas. Há pais, entretanto, que são de uma abnegação comovedora. O suicídio cometido por aquele Espírito, é fruto de um relacionamento pais e filho no passado, que não deu certo. E acrescento que os pais de hoje, quiçá, hajam sido os autores intelectuais daquele gesto tresloucado. De acordo com o grau de limitação da excepcionalidade, faço o seguinte paralelo: Imagine que vocês pertenceram a uma classe abastada socialmente, por genealogia ou clã, e seu filho ou filha se apaixonou por alguém de uma classe denominada inferior; ou tomou determinada atitude que vocês enfrentaram com rebeldia, levando o ser, por capricho de vocês, a uma atitude de fuga. Adveio o suicídio. O desesperado foi a mão que a intolerância da família armou.
Então é natural que ele, tendo sido vítima das circunstâncias, renasça nos braços daqueles que o levaram ao ato desesperador, para que o amor a todos santifique, diminuindo os efeitos, e as bases afetivas se refaçam nesse inter-relacionamento evolutivo. Assim, eu parabenizo e acrescento: Não posso avaliar o que é ter um filho com problemas nervosos. Uma criança que bate no rosto da mãe toda hora, que morde, que escouceia, que grita toda a noite e que cala todo o dia. Ser pai e mãe de um filho assim credencia-os a parabéns, porque é um resgate que os liberará de dores muito mais terríveis no além da morte.

Daí, a criança excepcional deve receber um tratamento evangélico-espírita em caráter de excepcionalidade, com muito amor, com muita ternura e, sobretudo, com a terapia psíquica da boa palavra, estimulando-a a liberar-se do cárcere para que guarde as informações e seja feliz além da vida.

***

Que diferenças existem entre Kardecismo e Espiritismo?

Divaldo: Depreende-se que o conceito de Kardecismo, que não existe na Doutrina Espírita, é o resultado da análise das várias opiniões de Allan Kardec ao examinar a resposta dos Espíritos no contexto da Doutrina. Ou o próprio estudo que o codificador faz de temas que ele abordou com as Entidades Venerandas e, posteriormente, desdobra nas obras subseqüentes.
O Espiritismo e uma doutrina global q se formos agora fazer um desdobramento entre aquela que foi ditada pelos Espíritos e aquela que resulta das opiniões pessoais do próprio Codificador, teremos uma fragmentação que o próprio Allan Kardec francamente não desejava. E ao fazer o enriquecimento doutrinário das questões abordadas e discutidas pelos Espíritos, ele objetivava dar uma maior amplitude ideológica àqueles postulados que são essencialmente dinâmicos.
Preferimos, pessoalmente, considerar o Espiritismo um todo e não valorizar ao que alguns estudiosos mais recentemente consideram Kardecismo, que seria uma conseqüência da Doutrina Espírita. E como vemos Allan Kardec embutido no contexto doutrinário de Espiritismo, dissociá-lo seria dar margem a futuras interpretações que somente iriam fracionar cada vez mais o pensamento unitário da própria Doutrina Espírita.

***

Que rumos você apontaria para o Espiritismo neste final de década com o Terceiro Milênio?

Divaldo: Os rumos do Espiritismo foram traçados pela equipe do Espírito Verdade, mas, para o Movimento, poderíamos sugerir que o estudo e aprofundamento dos postulados espíritas nunca fossem deixados à margem; que se considere sempre o Espiritismo como um todo, sem a preponderância de uma de suas facetas em detrimento das outras. Allan Kardec foi muito claro ao dizer que o Espiritismo é uma ciência de observação, e uma filosofia comportamental com seus efeitos éticos-morais que nós acrescentamos em características religiosas. Alguém, em uma imagem muito feliz, estabeleceu que o Espiritismo pode ser considerado como uma mesa trípode. A amputação de uma dessas pernas impedirá que a mesa fique em equilíbrio. A super valorização de uma delas também dará danos que são lamentáveis.

O Espírito Emmanuel, respeitável sob todos os aspectos em que seja considerado, primeiro, pelo conteúdo extraordinário de contribuição ao desdobramento dos postulados espíritas, sem haver dado margem ao emmanuelismo – ademais, a dignidade ilibada do médium Francisco Cândido Xavier, dá, não a autoridade, mas uma consideração que merece respeito -, quando aquele eminente Espírito diz que se pode comparar o Espiritismo a um triângulo equilátero, em que a sua base repousa na moral religiosa, um dos seus ângulos na ciência e o outro na filosofia, fazendo no vértice uma abertura na direção do infinito que engloba o conhecimento geral.
E, então, se nos for lícito apresentar alguma sugestão de rumo, tendo-se em vista o Terceiro Milênio, para os que mourejamos no Movimento, o estudo, o desdobramento, a análise diante do conhecimento contemporâneo, daquilo que Kardec nos apresentou, deve estar sempre dentro dos nossos mais elevados interesses; tendo a coragem de, no dia em que a ciência demonstrar qu3 um conceito se encontra ultrapassado, sem qualquer dano para o conjunto, deixar esse conceito à margem e acompanhar a ciência. Porque, ainda segundo o Codificador do Espiritismo, ipsis litteris, "o Espiritismo não disse a primeira palavra, tampouco dirá a última em torno do conhecimento."

***

Observa-se paralelamente à difusão do Espiritismo, um avanço de outras correntes espiritualistas na sociedade. Como você vê o interesse de alguns espíritas nessas filosofias? Há riscos de confusões e distorções doutrinárias?

Divaldo: É natural que, à medida que aprofundemos o conhecimento espírita, a nossa capacidade de percepção amplie-se cada vez mais. E é natural que estejamos abertos a toda e qualquer contribuição que objetive a transformação para melhor da criatura humana, do seu progresso diante de si mesma e da consciência cósmica.

Esse fenômeno é esperado. Com a abertura imensa do Ocidente em relação ao Oriente, e daquele em relação a este, as idéias viajam de um para o outro lado com muita facilidade, e o espiritualismo oriental está vindo responder às ansiedades tecnológicas do homem contemporâneo, a quem a tecnologia deu muita comodidade, mas não logrou transmitir a paz. É perfeitamente válido que nós, os espíritas, alarguemos a nossa vista em torno do espiritualismo em geral, com o Espiritismo em particular. E tenhamos muito cuidado para que, estudando as várias correntes espiritualistas, não deixemos de conhecer em profundidade o Espiritismo; porque temos observado que o fascínio que exercem as vária colocações espiritualista, através dos seus ritos, das suas expressões atávicas, dos seus modismos, produzem muito impacto em nossa mente sonhadora e em nosso sentimento ambicioso. E pelo desconhecimento das bases da Doutrina Espírita, que não tem culto, não tem ritual, não tem formalismo, não está vinculada aos atavismos clericais do passado, venhamos a colocar esses novos cultos e esses novos ritos como parte integrante do próprio Movimento Espírita. Esse é um perigo, um cuidado que devemos Ter em nossas Casas, para que as práticas que não são espíritas não venham a ser introduzidas no Movimento Espírita, levando-as, assim, àqueles que virão depois de nós. Recebemos o Espiritismo das mãos imaculadas de homens e mulheres como Bezerra de Menezes e Anália Franco, Eurípedes Barsanulfo, de médiuns extraordinários como Frederico Júnior e Yvonne Pereira, como Zilda Gama e Francisco Cândido Xavier. E apóstolos do conhecimento espírita, aqui na Bahia, como José Petinga, Manoel Philomeno de Miranda, o admirável Cel. Ricardo Machado e tantos outros trabalhadores que dignificaram a Doutrina e no-la entregaram ilibada, sem que enxertos e ideologias canhestras nela estivessem colocadas. Assim, poderemos examinar tudo, como diz o apóstolo, reter o que é bom, mas, ao falarmos e ao divulgarmos a Doutrina Espírita, que o façamos conforme os seus postulados.

Por experiência pessoal, viajando muito a serviço do Espiritismo, temos visto várias áreas da Psicologia aplicada ao progresso do homem, hoje na visão da psicossíntese de Assaglioli, na visão da Psicologia Transpessoal, na área da Psiquiatria, particularmente da terapia das vidas, das vivências, das emoções passadas, conforme as várias escolas, da Psicanálise ou da Ioga, do Tao, do Taoísmo, do Bramanismo, e, aprofundando na medida do possível a análise desses postulados, confesso, de público, nada encontrei que superasse a clareza e a simplicidade da Doutrina Espírita.

Procurando mesmo sentir esses postulados, para transmitir em seminários onde é estabelecida uma pauta com algumas dessas correntes, embora sempre afirmando ser espírita militante e que, qualquer tarefa que realize, fa-la-ei sob a visão da Doutrina Espírita. Poderei fazer a abordagem, porém dando uma visão espírita. Cada vez mais descubro que o Espiritismo responde aos anseios da criatura humana. Pena que às vezes não saibamos encontrar nele as respostas, mas aí estão, em germe, todas elas, para as inquietações da criatura humana. Estando em Zurique, já por três vezes, fazendo seminários ao lado do museu de Carl Gustav Jung, tendo tido oportunidade de, em Londres e em Viena, dialogar com discípulos de Freud, a apresentar-lhes a Doutrina Espírita na visão escorreita com que nós a recebemos na Codificação, essas pessoas respeitáveis admiraram-se de que houvesse uma doutrina na qual a simplicidade está na claridade do pensamento e na sua imensa profundidade, sem nenhuma necessidade de ademãs, de complexidade ou de adesões a contributos outros, muito valiosos para quem ainda não conhece o Espiritismo.

Oportunamente, há alguns anos, uma entidade internacional respeitável que aprendemos a amar e a valorizar, convidou-nos para fazer parte do seu grupo de profitentes, e, como aqueles convites eram repetitivos, tive a ocasião de dizer a alguns dos intermediários: não posso aceitar. Reconheço dessa entidade um campo extraordinário de benefícios para a criatura humana, mas já encontrei o Espiritismo. Para usar uma linguagem tosca: sou alguém que estava ao sol e à chuva. Adotei um chapéu para me defender da situação calamitosa, dos momento climáticos. Isso foi o Espiritismo: o meu chapéu. Colocar um outro chapéu sobre esse é assumir uma atitude ridícula. Mas para aqueles que ainda não encontraram o Espiritismo, aí está essa sociedade, essa entidade extraordinária. Porque ela, paralelamente ao Espiritismo, produz efeitos saudáveis para a criatura humana. E como os compromissos que me vinculam ao Espiritismo são muitos, se eu aderir a qualquer outro ramo do conhecimento, terei que falhar em algum, porque não se serve bem a dois senhores. Eu seria ali um mau adepto ou passaria a ser um mau servidor para trabalhar. Com isto quero dizer que, na minha opinião pessoal ( que não é grande coisa) encontrei no Espiritismo o tudo que diz respeito ao essencial a uma vida feliz e ao equacionamento de todos os problemas que passaram pela minha vida. Espero que para os outros haja sido a mesma coisa.

***

Por que tantas crises nos lares? Por que tanto desamor?

Divaldo: O homem está doente e como efeito, neste período de transição, ele exterioriza os estados de desequilíbrio. A ciência e a tecnologia, que tanto contribuíram para o progresso intelectual e para as conquistas pessoais do homem e da sociedade, não equacionaram o problema da consciência, o problema do ser.

Depois de mais de seis mil anos de pesquisas na área da ciência, logramos atingir o ápice. Mas ainda não tivemos a coragem de atingir o ego, de criar uma transformação real, profunda. Porque o progresso intelectual é horizontal, poderemos realizá-lo através da absorção de experiências e conhecimentos, pela repetição, pelo exercício. Mas o progresso moral será através da reencarnação, em que corrigimos uma aresta, adquirimos uma experiência para corrigir uma outra faceta em um outro detalhe, caindo e levantando. Daí a grande crise que em nós registramos e na sociedade: é a crise do homem perante si mesmo.

A Doutrina Espírita faz uma proposta: você é um ser imortal, despido da transitoriedade carnal. Considere a vida física, a existência corporal uma experiência breve, como um floco de neve que à luz do dia vai derreter. Observe que a sua vida não encontra causalidade real no berço, nem terminará na injunção cadavérica. É nesse contexto que você está, no meio de duas experiências: a do passado e a do presente, vivendo hoje o que fez de si ontem, trabalhe agora porque você pretende ser alguém. Atenda esse real interesse pela transformação legítima de seus objetivos, pensando diariamente em si, amando-se. Porque se criou um conceito falso de amar ao próximo, esquecido de como a si próprio se deve amar, de perdoar aos outros, como a si próprio se deve perdoar.

O indivíduo castrado por religiões do passado, à porta da Doutrina Espírita com inúmeros conflitos de comportamento e de consciência, não se perdoa ser gente, ser humano, falhar. Ele não se perdoa porque se equivocou, ou bloqueia a consciência para não pensar nisso e aliena-se, ou traz um complexo de culpa, marchando para os estados paroxísticos da depressão ou da exaltação, tombando em estados ainda alienantes. Ou então ele adquire uma postura de cinismo, até o momento em que a consciência rompe as barreiras do bloqueio e ele se descobre frustrado, seguindo para o suicídio indireto, quando não diretamente. O Espiritismo, atualizando o pensamento de Jesus, diz que temos o direito de errar. O erro é uma experiência que não deu certo e nos ensina que não devemos mais tentar aquela experiência. Afirmava Confúcio: "Com os bons aprendemos virtudes, com os maus aprendemos a não fazer as atitudes negativas que eles mantêm." Assim, temos o dever de nos amarmos, porque, quando apenas amamos aos outros, projetamos a sombra, a imagem. Estamos fugindo de nós e não estamos a amar, estamos transferindo biótipos, modelos, e exigindo que os outros sejam aquilo que nós somos. Então o Espiritismo diz: ame-se a si mesmo, dê-se a oportunidade de ser feliz. Torne-se feliz, viva hoje, aqui e agora. Aproveite cada instante de sua vida, lembrando-se que o ponteiro do relógio volta ao primeiro lugar, nunca, porém, na mesma circunstância. Cada momento tem a sua significação. O ser é o objetivo essencial. O homem moderno apresenta-se aturdido por conflitos, a Psicologia desenvolve muito bem as causas que os desencadeiam, mas na visão espírita eles reduzem-se ao desamor por si mesmos.

E então nós deveremos amar. E se alguém disser que é necessário desprezar o corpo, desprezar a vida, não se vestir, não se calçar, não tomar banho, isso é estado paranóico. Temos que viver consoante os modismos, usar o que a sociedade coloca em nossas mãos para formar o progresso, mas considerar que nós apenas usamos, não somos isso. Como muito bem disse um amigo um dia em que lhe perguntei: Olá Dr., como está? "Estou doutor, logo mais quando eu desencarnar, não serei mais nada." Então nós não somos isso, estamos trabalhando para ser a realidade do espírito que navega em águas de possibilidades para o futuro.



Assistência Social

Qual o principal objetivo do trabalho assistencial no Espiritismo?

Divaldo: O de promover o homem, libertando-o, não dos efeitos da miséria que o leva ao sofrimento, mas das suas causas geradoras.
Objetivando, o Espiritismo, a transformação moral do homem, está implícito que este se encontra vinculado a erros por ele mesmo praticados e dos quais se deve libertar pelo esforço que desenvolva em favor da sua própria felicidade.

Assim, a maior ação que se pode realizar é a de ajudar o indivíduo a encontrar as raízes do seu erro, para poder libertar-se dele, enquanto não logra o cometimento de se liberar das causas passadas, aquelas que o levaram a delinqüir, tornando-o um atormentado ou sofredor. A nós cumpre a assistência socorrista, que lhe dá os meios para, se bem aplicados, atingir aquelas metas essenciais. Daí, a assistência social, a caridade material, sem a caridade moral da iluminação do beneficiado, serem paliativos cujos efeitos logo desaparecem, porque, não erradicadas as causas, permanecem-lhes as conseqüências. Allan Kardec foi de uma propriedade, de uma sabedoria inigualáveis; ele estabeleceu que o egoísmo é o câncer que corrói o organismo social, e que o homem sofre os efeitos da sua própria atitude. Conscientizar o indivíduo para as suas responsabilidades é a primeira tarefa da ação espírita no trabalho do socorro e da caridade.

Assim, toda vez que empreendermos a tarefa socorrista, tenhamos em mira a iluminação do socorrido, a fim de que ele não gere novos fatores desencadeadores de problemas para o futuro. Na velhice, na fase de senectude, em que o indivíduo já não dispõe de tempo para reparar os erros passados, nem para criar meios de reabilitar-se deles, tem lugar a ação da beneficência generosa. É a caridade gentil, que alberga a dor, mas que também prepara o indivíduo para os futuros cometimentos reencarnacionistas.

Tive a ocasião de conhecer uma senhora de oitenta e dois anos, que se matriculara numa Universidade de terceira idade. Perguntei-lhe: A que a senhora aspira, fazendo agora um curso universitário, que talvez não venha a concluir? Ela respondeu: "Eu aspiro ao futuro." Eu indaguei: Qual o futuro? Ela redargüiu: "Da próxima encarnação. Estou preparando-me para armazenar conhecimentos de que me recordarei quando voltar, já fazendo, agora, parte que me cumpre desempenhar na primeira e na segunda infância. Terei esses períodos mais rápidos e mais lúcidos, tornando-me, quiçá, um gênio precoce."
Ela está muito bem fundamentada na ética da reencarnação. "Nunca é tarde para aprender", como diz o velho provérbio árabe, "sempre é cedo". Então, mesmo diante de enfermos na fase terminal, de idosos que marcham para a desencarnação, poderemos colocar as luzes do futuro, preparando-os para a sua etapa de amanhã.

Trata-se de uma terapia preventiva. Eu me lembrei da insigne Maria Montessóri, recebendo a visita de uma dama rica, que lhe perguntou: "Professora, em que idade eu devo começar a educação de meu filhinho?" E a célebre mestra, criadora da "Casa dei Bambini", em Roma, retorquiu-lhe: "E qual a idade de seu filhinho?" A dama respondeu: "Tem um ano." E Montessóri concluiu: "Vá depressa, porque você já perdeu o melhor período da vida para educar seu filho, que é este que está passando."

Sabemos, graças à Psicologia infantil, que os primeiros anos de vida são os de formação do caráter e da personalidade. E sabemos, à luz da Psicologia reencarnacionista, que o Espírito, nesse período, ainda não tendo mergulhado totalmente na matéria densa, com o seu psiquismo ainda não estando revestido inteiramente dos neurônios cerebrais, tem a melhor fase para absorver o conhecimento, que mais tarde se manifestará nas expressões da memória e do discernimento, através da razão, quando o indivíduo começar a pensar. Assim, a tarefa de iluminação tem regime preferencial, a de educação tem primazia.

Pelas minha mãos escreveu, oportunamente, Amélia Rodrigues: "Quem instrui prepara para a vida. Quem educa dá a vida. E quem evangeliza salva vidas." Que seja nossa a tarefa da educação pela instrução e pelos hábitos, à luz do Evangelho, para que a vida seja fomentada e se torne Vida.

Retorna