AMON

AmonAcreditava-se que Amon estava presente em todas as coisas, podendo assumir diversas formas. Unindo-se a Ra, o deus passou a ocupar uma posição de destaque após a fundação da XII Dinastia pelo Faraó Amenemhet I, que tornou o Egito novamente um reino poderoso e unido.

A primeira referência conhecida ao deus aparece na pirâmide do famoso Rei Unas da V Dinastia, onde tanto ele quanto a sua esposa Amaunet são incluídos no rol dos deuses primevos associados com Nu - "Os pais e mães" que estavam "nas profundezas".

Amon era primitivamente um deus estritamente local, cujo culto foi absorvido pelos egípcios, e que passou por tantos estágios e desenvolvimentos que é impossível apreender o conceito tribal original, que provavelmente era vago e rudimentar.

Os egípcios interpretavam seu nome como "Aquele que Esconde a Si Mesmo", pois ele escondia sua "alma" e seu "nome", sendo ele a força efetiva invisível no vento.* Amon pode ter sido um deus do Mundo Subterrâneo, pois está ligado a Osíris como divindade lunar. Em seu caráter como Amon-Ra ele chegou a tomar o lugar deste deus como o juiz dos mortos.

Durante o Novo Reinado, os sacerdotes de Tebas atingiram as alturas da eloqüência em hinos dedicados ao deus Amon que exaltavam sua grandeza como o criador. Eses hinos, particularmente as estrofes do papiro Leiden 1350, objetivavam demonstrar que todos os elementos do universo físico eram manifestações de um protagonista solitário. Há uma confluência de todas as noções de criação para a personalidade de Amon, uma sintése que enfatiza como o deus transcende todas as outras divindades em ser "Mais Além do Céu e Mais Profundo que o Mundo Subterrâneo". De tempos em tempos os sacerdotes-poetas egípcios tentavam interpretar a inexplicabilidade de Amon. Seu mistério é contido em seu nome - devido à sua essência imperceptível, ele não podia ser chamado por nenhum nome. Sua identidade era tão secreta que nenhum outro deus conhecia seu nome verdadeiro.***

Amon era representado em várias formas:
Como um macaco; como um leão descansando com a cabeça ereta; como um homem com cabeça de sapo acompanhado por Ament, sua esposa com cabeça de serpente; como um homem com cabeça de serpente, enquanto sua consorte tem cabeça de gato; como um homem com o cetro real em uma mão e o símbolo da vida (ankh) na outra; como um homem com cabeça de carneiro.

amon-raAmon, o deus carneiro, era o oráculo mais famoso do Egito, tendo alcançado grande renome. Guerreiros o consultavam para saberem o resultado de batalhas, malfeitores eram denunciados pelo deus, e até mesmo assuntos de estado eram decididos sob seu auspício. Dizia-se que o deus respondia às perguntas balançando a cabeça, e muitas vezes escolhia pessoas apontando com seu braço.

Amon foi associado a diversos deuses, como indicam suas variadas formas animais. A cabeça de carneiro evidentemente deriva do deus Min, e é possível que a cabeça de sapo seja derivada de Hekt. Seu culto também apropriou-se do deus da guerra Mentu, que era representado como touro. Mentu, contudo, continuou tendo uma vida independente, devido à sua fusão com Hórus.**

A manifestação do deus como cobra era denominada Kem-atef "Aquele que completou o seu tempo"*

Amon foi associado ao grande deus sol durante a XI Dinastia, e como Amon-Ra ele finalmente foi elevado à posição suprema como deus nacional do estado, enquanto seu culto se tornou o mais poderoso do Egito.

Amon é sinônimo do crescimento de Tebas como capital religiosa, mas foi nos cinco séculos do Novo Reinado que Amon se tornou o deus mais importante do panteão egípcio (exceto por um eclipse de duas décadas, na qual o disco solar Aton do Faraó Akenaton se tornou a maior divindade). Amon, como o governante universal com seu título de "Senhor dos Tronos das Duas Terras" e "Rei dos Deuses", teve templos tão majestosos erguidos em sua honra que os rumores do esplendor de Tebas se espalhou por além das fronteiras do Egito, no mundo do compositor do épico grego, como no comentário de Aquiles sobre Agamemnon:

"Eu odeio seus presentes.
Nem que ele me desse dez vezes igual, e vinte vezes mais do que possui agora, nem que mais venha para ele de outro lugar... tudo o que é trazido à Tebas do Egito, onde as grandes possessões são guardadas nas casas, Tebas dos cem portões, onde através de suas portas duzentos homens guereiros vieram para lutar com cavalos e carruagens..."
Homero , Ilíada.

Amon era o deus "que deu origem a si mesmo" gerando-se antes de toda e qualquer matéria. Os intelectuais de Tebas devem ter lutado duramente para resolver este mistério. Sem muitos detalhes específicos sobre esse misterioso evento, a atmosfera da ocasião é evocada pela imagem do seu fluido se tornando unido ao seu corpo para formar um ovo cósmico. Após emergir, Amom formou a matéria primordial, o elemento do Ogdoad(1) do qual ele próprio é parte. Desta forma ele se torna "O primeiro que dá origem aos primeiros". Mas o universo estava escuro, silencioso e sem movimento. Aparentemente Amon foi o surto criativo de energia, que provocou o Ogdoad à ação. Em outras palavras, ele foi a brisa estimulante sobre o oceano primevo, mexendo-se em um vortex do qual o monte primordial iria emergir. Esta é uma sugestão tentadora, e o a noção de vento encontra ressonância na invisibilidade de Amon.***

O hino de Leiden dá uma outra versão, um tanto divertida, de Amon iniciando a atividade de criação. O cenário é o silêncio mortal do cosmo, através do qual ecoa a voz do "Grande Buzinador", que, sem nenhuma surpresa, "abre todos os olhos", causando comoção no cosmos. Amon tem a forma do ganso primevo colocando a criação em movimento com seu guincho agudo.***

A esposa de Amon era Mut(2), cujo nome significa "A Mãe", e ela devia se identificar com Apet. Ela era a "Rainha dos Deuses" e "Senhora do Céu". Como Nut, Isis, Neith e outras, ela era a "Grande Mãe" que deu origem a tudo o que existe. Ela era representada como uma leoa. A leoa como a gata, simbolizava a maternidade. Mut porta a dupla coroa do Egito, indicando que ela absorveu todas as demais "Grandes Mães" do Egito. Foi para Mut que Amenhotep III, o pai de Akenaton erigiu o magnífico templo de Karnak, com suas grandes avenidas de esfinges com cabeça de carneiro.**

O deus-lua Khonsu era considerado em Tebas como o filho de Amon e Mut, e em Hermópolis e Edfu ele era associado com Thot. No Hino de Unas, Khonsu foi enviado por Orion para matar a alma de deuses e homens, mito que explica porque as estrelas desaparecem perante a lua. Seu nome significa "O Viajante".**

 

(1) O Ogdoad é o grupo das oito divindades primordiais, divididos em quatro casais: Nu e Naunet, Heh e Hauhet, Kek e Kauket, e Amon e Amaunet.

(2) No Novo Reinado, Mut tornou-se a esposa de Amon, embora originalmente sua esposa fosse Amaunet, conforme o Ogdoad.


Fontes:
* The Gods and Symbols of Ancient Egypt - Manfred Lurker
**Egyptian Myths and Legends - Donald A. Mackenzie
*** Egyptian Myths - George Hart