CULTURA
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O GALEGO NO
ENSINO
Como breve introduçom a um artigo sobre a língua galega e o reintegracionismo que poderedes atopar de seguido, queremos, simplesmente, dizer que esta normativa do galego (tam legítima como qualquer outra) merece todo o respeito e compreensibilidade que podamos oferecer todos nós, como pessoas tolerantes num mundo de cultura, num mundo plural.
Tamém gostariamos de dar umha série de pautas para que esta normativa nom leve ao erro: isto é galego, polo tanto as pronúncias devem ser galegas, isto é:
-O -m final tem som velar como de costume (e nom som eme).
-O mh tem som velar em meio de palavra.
por exemplo: vim umha gata /'bih'uha'gata/
-O g (ante e e i), o j e o x têm a mesma pronúncia.
por exemplo: José foi jantar com um xeque e gente de Sam Genjo uns quantos pêxegos
/òo'se'fojòah'taRkuhuh'òekei'òehtedesah'òehòuuNs'kwahtus'peòegus/
-O ç pronuncia-se como o z e o c (ante e e i).
por exemplo: Gonçalo viu quinze cervos /goh'qalu'biw'kinqe'qerbus/ ou /goh'salu'biw'kinse'serbus/
-O s e o ss também se pronunciam igual.
por exemplo: Sandra tem interesse polas sementes /'sahdra'tehihte'resepulase'mehtes/
-O nh e lh equivalem ao ñ espanhol (ny catalám) e ao ll.
E desde esta introduçom queremos enviar umhas cantas mensagens:
+ Aos mestres e mestras que sigam apoiando a nossa língua desde a escola e que vá assolagando todas as áreas até que seja o veículo normal da vida escolar.
+ Às nais e pais, que lhes falen galego aos seus filhos e filhas, pois se Galiza nom morre é porque resiste graças à autoafirmaçom dos e das galegas.
+ Às crianças, e aos rapazes e raparigas, que falem galego, a língua dos vossos avôs e avoas, dos vossos devanceiros, a vossa língua, o idioma da vossa identidade.
Esta língua, que tantos atrancos teve e está a ter, é a base da identidade do Povo Galego. Vive a tua História, a tua Cultura e a tua Identidade: Vive a Galiza Falando Galego.
O REINTEGRACIONISMO GALEGO-PORTUGUÊS
por Bruno Ruival
1. Breve contextualizaçom histórica da evoluçom do espírito normativo
Deixando atrás os tempos nos que o galego era a língua literária por excelência em toda a Península Ibérica (séc. XII-XV) e também deixando atrás a sua decadência conhecida com o nome dos séculos escuros (séc. XV-XVIII), atopamo-nos no século XIX, onde o galego vai tentar voltar ser umha língua culta.
Para isto, era necessário inexcussavelmente, escrevê-lo. Eis o problema: numha sociedade apenas alfabetizada, na que a cultura se transmitia em língua castelhana, os privilegiados que sabiam escrever foram ensinados a fazê-lo, logicamente, nessa língua.
Ante este problema, mas sabendo que o galego era umha língua bem diferente do espanhol, optou-se por escrever o nosso idioma com a ortografia conhecida, a castelhana (pois ainda nom se conhecia a tradiçom galega medieval das Cantigas de Amor, Amigo e Escárnio), até que o galego fosse implantado na escola (aplicando, daquela, umha ortografia de carácter tradicional). Ainda assim, os escritores utilizárom rasgos característicos do galego tradicional, pois viam no português umha língua irmã e supugérom que o galego se escreveria igual. Pondal, por exemplo, escreveu com nh, j e -zon.
Já no século XX, os estudos sobre a língua acrescentam-se e vam-se diferenciando as duas tendências ortográficas: a reintegracionista, que defende o galego como variante de um mesmo sistema chamado galego-luso-afro-brasileiro e pretende expulsar castelhanismos desnecessários e recuperar as formas tradicionais que fôrom substituídas polas espanholas; e a autonomista, que vê o galego como língua independente (do português e do espanhol), é respaldada polo governo e pretende que o galego culto seja o que hoje temos como língua falada (com os seus vulgarismos, hiperenxebrismos e castelhanismos) e escrita com o sistema gráfico espanhol.
2. A normativa oficial
Se queremos umha Galiza na que se fale o idioma que lhe é próprio, isto é, que se normalize a língua galega, é necessária a fixaçom de umha normativa unificadora de todas as falas (tendo em conta também as de além-Minho, as únicas sem castelhanismos).
Havendo duas tendências filológicas, à hora de fazer umha normativa, o papel que deveria ter tomado o governo, democraticamente falando, seria o de obrigar aos lingüistas a chegar a um consenso, respeitando assim a pluralidade social, pois todas as partes estariam representadas.
O que se fijo foi introduzir o dia 3 de Julho de 1982 a normativa castelhanista na Real Academia Galega, numha sessom convocada com carácter sigiloso e sem conhecimento dos meios de comunicaçom, como bem se indicava na ordem do dia. Este feito sentou mui mal a alguns académicos e, sobretodo, às pessoas reintegracionistas, pois ao final houve filtrações, polo tanto, manifestações na entrada do edifício e os meios de comunicaçom dérom parte do acontecimento. Este atentado contra a tradiçom reintegracionista, contra a língua galego-portuguesa, contra umha grande parte da populaçom galega leva, antidemocraticamente, à sua marginaçom.
O Decreto de Normativizaçom da Língua Galega publicado no DOG o 20 de Abril do 1983 polo governo da Aliança Popular, volve atentar contra a liberdade de expressom, criaçom, cátedra e de investigaçom, iniciando-se umha persecuçom dos que nom empregam o galego macarrónico do governo galego da AP.
3. Reintegracionismo social
Estám-se-nos a negar muitas cousas. Há gente galega que quer triunfar em muitos âmbitos (música, cinema, literatura, etc.) e nom trabalham em galego, pois só seriam conhecidos a nível regional; entom, desenvolvem-se em espanhol, pois Galiza queda-lhes pequena. Quem nom gostaria de triunfar em galego? Bem é possível, de fazermo-lo nesta normativa que emprego agora.
Seríamos entendidos por portugueses, brasileiros, açorianos, moçambicanos, cabo-verdianos... e em galego! O intercâmbio cultural seria muito maior; contacto por via turística, laboral, universitária; mais comunicaçom meante cursos, excursões, emprego de bibliografia em galego nas universidades da Galiza e umha grande lista de vantagens que nom deveríamos recusar.
4. Reintegraçom ou desintegraçom
É de ingénuos pensar que umha língua minorizada, como o galego, tenha um futuro subsistindo por si só.
Atopamo-nos numha situaçom de tensom entre duas línguas e, dentro desse sistema de forças e tensões, o galego nunca vai quedar no meio (independente e imutável), com o tempo vai acabar integrando-se numha língua estranha (castelhano) ou noutra à que tradicionalmente estivo unida, pois era o mesmo (português).
Os castelhanismos abrem-se passo cada vez mais nas falas galegas substituindo as formas próprias polas castelhanas num processo de dialectalizaçom e colonizaçom do idioma, com respaldo político e académico com o único interesse de destruçom da nossa língua e da nossa identidade para, cada vez, quedarmos mais submetidos à cultura espanhola e acabar sendo umha regiom mais da Espanha, umha vítima mais do seu imperialismo. De nom recuperar o que temos perdido, que nom deixa de ser nosso, acabaremos integrando-nos no idioma espanhol como dialecto.
5. Galego = português
Poderiam haver dúvidas no tema de se o galego e o português seguem a ser a mesma língua.
Hoje, a determinaçom de se duas falas constituem umha mesma língua estabelece-se meante o cômputo estatístico das suas diferenças estruturais: a nível fónico, morfo-sintáctico e léxico-semántico, pudendo haver um máximo de um 25 % de diferenças dentro de umha mesma língua.
As divergências mais grandes existentes entre as falas galega e portuguesa atopam-se a nível fónico (sons). No português as vogais átonas (nom acentuadas) som mais relaxadas, quer dizer, quase nem se pronunciam. Também há três fonemas consonânticos que nom existem em galego ( /v/ de viagem, /z/ de casa e o / / de gente) e outros três galegos nom existentes no potuguês ( /tò/ de chuiva, /q/ de cervo e o /h/ de umha).
No discurso, se duas pessoas (umha galega e outra portuguesa) falam, de cada cem fonemas que utiliza um, três lhe som desconhecidos ao outro. Isto, ao ser recíproco, somam seis fonemas desconhecidos em total. Isto é a diferença fonética existente entre as duas falas (a modo esquemático o 6% de diferenças); ainda que por muito minucioso que se faça este estudo, nunca chegaremos à fronteira do 25%.
A situaçom do galego no sistema luso-brasileiro é comparável a do espanhol e o andaluz, venezolano, argentino, castelhano, mexicano... ou a do inglês das Ilhas Británicas e o americano, sul-americano, etc. Nesta ideia cumpre ter conta que, por exemplo, a um açoriano resulta-lhe tremendamente complicado entender-se com um português da cidade do Porto, e a um moçambicano é-lhe francamente fácil conversar com um galego.
6. Incoerências da normativa oficial
a) O galego que todos nós falamos é fruito, por um lado da sua livre evoluçom, e por outro da pressom do espanhol fronte o português antigo (ou galego-português). Castelhanismos do tipo amable ou nación fôrom incorporados substituindo às formas próprias galegas de sempre: amável e naçom. Isto passou também com os plurais do tipo animales e palavras como abuela ou pueblo. Nom obstante, o caso destas é diferente, pois ainda eram minoritariamente conservadas nalgumha zona de Galiza as formas tradicionais. Polo tanto, o ILG (autonomistas) recuperou animais, avoa e pobo. Pero se, em troca, estas formas fossem totalmente perdidas e nom quedassem restos na fala delas, o ILG sosteria como palavras galegas as formas faladas castelhanas, ao igual sucede com o caso de naçom e amável.
b) A segunda forma do artigo (come-lo caldo): este é um fenómeno da fala que nom deve representar-se na escrita, pois ademais, nom se dá nem em toda Galiza, nem num mesmo falante em todas as suas situações orais.
Esta mal chamada segunda forma do artigo resulta ser produto da pronúncia rápida, e basta umha pequena pausa para nom ser utilizada. É totalmente anti-pedagógica devido à uniom visual que se realiza entre o verbo e o artigo, separando a este da sua unidade semántica natural (o sintagma nominal), quer dizer, o artigo o vai pertencente ao peso do substantivo caldo e nom ao do verbo: Que comes? O caldo.
c) Assim como para umha mesma pronúncia do /b/ temos duas grafias b e v, por coerência etimológica (e com as demais variantes da nossa língua), também devemos utilizar o g o j e o x para o fonema /ò/. Isto harmoniza-nos com o resto de línguas romances ao conservarem estas grafias. Se os lingüistas acordassem nom utilizar estas grafias em correspondência ao som /ò/, entom deveriam suprimir os h (pois nom soam), os v (pois já temos os b), os c e escreveríamos com k e z como em euscara, etc, etc.
d) Também devemos usar o nh e o lh, pois o ñ e o ll, de origem castelhana, som resultados de umha evoluçom diferente.
Os fonemas / / e /l/ nas diferentes línguas romances fôrom sendo representados por diversas grafias, atendendo à etimologia da língua e às suas necessidades (cologne, em francês; Catalunya, em catalám; ignorante, em italiano, etc.).
A palavra ano, por exemplo, derivou desde annum a año em espanhol. O anho galego veio de anium. Igual foi com filium que passou a filho em galego. O eñe vem do ene duplo (nn) latino e o ene agá (nh) vem do ene i (ni) (que na Idade Meia passou a se escrever nh); de escrevermos com ñ e ll, estaríamos a ocultar a etimologia galega, socavando a identidade da língua, e polo tanto a sua história, dando a entender que o galego nasceu no século XIX, como fenómeno da vária e rica Espanha, e polo tanto, que Galiza também nasceu nessas datas negando-se-lhe o direito à sua história antiga.
e) Separaçom silábica. Em galego di-se séria, exactamente igual que área, isto é, as duas som esdrúxulas, polo tanto levam acento. Assim, dia ou cafetaria nom o levam por serem graves. Deste jeito, dividimos, por exemplo, Santiago em san-ti-a-go, ao igual que be-a-to.
7. Epílogo
Se queremos umha Galiza normalizada devemos ter umha normativa com a que nos sintamos identificados e que recolha a nossa história nacional. A reintegraçom é o caminho a seguir que assegura um futuro esplendoroso para Galiza, um galego mais próprio, mais nosso.
E como caminho, a reintegraçom deve levar-se a cabo num processo gradual no que, cara um fim concreto (umha ortografia como a que estou a utilizar), cumprem uns passos de mediaçom. Com este objectivo existe a normativa de mínimos, ou de concórdia, que pretende ir introduzindo pequenos rasgos gráficos do galego reintegrado, partindo da situaçom na que nos atopamos numha sociedade que, se conhece umha ortografia do galego habitualmente é a oficial.
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