Apocalipse Desvendado

O Apocalipse foi escrito em grego, embora seu presumível autor fosse judeu. Este fato derruba a hipótese cabalística pois se o Apocalipse fosse um livro cifrado, escrito em códigos, teria sido composto, originalmente, em hebráico - a lingua materna de João - e não em grego, a lingua estrangeira de seus opressores. No entanto, como ele escolheu morar em Éfeso, deve ter achado mais conveniente dar aspecto local à narrativa.

Daí a razão pela qual as prefigurações mitológicas, os simbolos, as visões épicas, as monstruosidades quiméricas, bem ao gosto da cultura grega clássica, invandem as páginas da Revelação. Personagens da Mitologia Grega vestem novas roupagens, assumem papéis de heróis, como Deméter - "a mulher vestida do sol." - ou encarnam demônios como o Kraken que faz o papel de uma besta "acorrentada sob as águas por mil anos".

Este João, a quem nos referimos, era um dos apóstolos, sem dúvida alguma, mas não era o evangelista. Era, também, sacerdote pois, segundo Polícrates de Éfeso, portava a placa de ouro que o identificava como mestre e instrutor. Eis a autoridade de onde emanou a sua pretensão sádica de que aquele texto excêntrico fosse "lido diante da assembléia..."

Neste julgamento biográfico deverá se levar em conta a avançada idade de João durante a qual, certamente, já se manifestavam os fenômenos de senilidade e demência. É possível que, por causa disto, o livro tenha sido escrito sem sucessão lógica e linear de acontecimentos, revelando a presença de uma mente delirante, hora portando reminescências proféticas antigas, hora esculpindo monstros mitológicos profusamente adornados de chifres e olhos...

O atestado para o fenômeno alucinatório é dado pelo próprio João quando jura que as aberrações monstruosas - que não são privilégios apenas do demoníaco, mas também do divino - possuem existência real. Estes sintomas - excessão ao limite da realidade, acompanhado dos surtos de variação de humor - poderão levar o psiquiatra, ao receber em consultório um tal escritor(João) como paciente, a considerá-los próprios à personalidade psicopática!