Meio Ambiente
OS FURACÕES QUE CHEGAM À FLÓRIDA
Os furacões que chegam à Flórida
Por: Idilio Gomes da Costa - De Miami, USA
Dois tipos de furacões chegam à Flórida nesta próxima temporada de
férias: os turísticos e os climáticos.
Está chegando a temporada de férias de julho e grande parte dos
brasileiros já começou a preparar ou já está com seus roteiros organizados.
Como acontece em toda temporada, o Estado da Flórida, nos Estados
Unidos, é um dos destinos mais procurados pelos brasileiros em busca de
novidades e diversão. Com razão. No ensolarado estado sulista
norte-americano estão localizadas as três principais cidades que atraem
turistas de todo o mundo: Miami, Orlando e Tampa. Para os brasileiros,
apesar de todo o fascínio e o clima cosmopolita internacional da Big
Apple, Nova York, Miami é ainda o principal portão de entrada de 95%
do fluxo turístico verde-amarelo. E por várias razões. Nessas três cidades,
o brasileiro se “sente em casa”, é como se tivesse viajado para uma outra
cidade brasileira, em qualquer região mais ao sul ou ao norte. E o que mais
facilita a vida do brasileiro que visita a Flórida é não precisar falar
freqüentemente no idioma inglês. Pelo menos nessas cidades turísticas.
Pode parecer incrível, mas dificilmente o visitante precisará esboçar
alguma palavra que não faça parte do vocabulário de Camões para solicitar
algo em Miami, Orlando ou Tampa. Malls, restaurantes, lojas, hotéis,
centros de atendimento, policiais, sempre há alguém atendendo no idioma
português ou, no mínimo, em espanhol, que o brasileiro entende bem. Em
outras palavras: aqui, o brasileiro “está em casa”.
Furacões - Entretanto, junto com esse “furacão” turístico de julho, outra
temporada chega ao Estado da Flórida, e esta para atormentar a vida de
visitantes e moradores - pelo menos durante seis meses: a temporada de
furacões, os verdadeiros. Oficialmente, a temporada de furacões no sul e
sudeste dos Estados Unidos (com predominância no Estado da Flórida, sul
do Alabama, Georgia e Carolina do Sul) começa em 1º de junho e se
estende até 30 de novembro de cada ano. O Andrew, que varreu o sul de
Miami e causou prejuízos de mais de 25 bilhões de dólares, aconteceu no
dia 24 de agosto de 1992. Deixou mais de 50 mortos, dezenas de feridos e
milhares de pessoas desabrigadas. Por isso, durante esses seis meses, as
autoridades e vários órgãos de apoio, auxílio e pesquisa nos âmbitos
municipal, estadual e federal (polícia, Guarda Nacional, Corpo de
Bombeiros, Cruz Vermelha, entre outros) ficam em constante estado de
alerta, sempre em contato com os peritos do National Hurricane Center, o
Centro Nacional de Furacões, na Flórida.
Quando detecta a formação de um furacão, o Centro pode fazer um
rastreamento e, ao mesmo tempo, uma previsão da rota que a tormenta
poderá tomar. Mas, mesmo com toda a tecnologia disponível, nem sempre
essa previsão poderá estar de acordo com as variáveis climáticas.
No caso do Andrew, segundo todas as previsões, era iminente a sua
passagem sobre a região de Miami Beach, mais ao norte da cidade. A
maioria das providências em relação ao abrigo das pessoas, principalmente
dos mais idosos, tinham sido tomadas para aquela área. Entretanto, poucos
minutos antes de sua chegada sobre o continente, ele desviou-se da rota
prevista e abateu-se principalmente sobre regiões mais densamente
povoadas como Kendall, Coral Gables, South Miami e Homestead. Um
outro exemplo: o Erin, o quinto de uma série de quinze previstos para
1995, chegou a causar um certo alvoroço no centro de Miami, no início de
agosto. Houve até corrida aos postos de gasolina (no melhor estilo
brasileiro), aos supermercados e aos depósitos de material de construção.
Toda a população o aguardava. Na última hora, desviou-se e resolveu
visitar a Flórida Central, onde está a cidade de Orlando, a Disneyworld e o
rato Mickey. Não houve notícias de acidentes graves e nem de vítimas
fatais, mas os prejuízos somaram mais de 130 milhões de dólares. É
furacão pra ninguém botar defeito! Para a temporada de 1997 está prevista
a formação de 21 furacões: Ana, Bill, Claudette, Danny, Erika, Fabian,
Grace, Henri, Isabel, Juan, Kate, Larry, Mindy, Nicholas, Odette, Peter,
Rose, Sam, Teresa, Victor e Wanda. A razão principal de se batizar cada
um deles com nomes curtos e de inconfundível audição é para facilitar a
comunicação entre centenas de estações meteorológicas, aeroportos, bases
costeiras e barcos no mar.
Furacões, o que são? - Tecnicamente, furacões são ventos de alta
velocidade que sopram de maneira circular em torno de um centro de
baixa pressão, conhecido como “olho do furacão”. O centro de baixa
pressão se desenvolve quando o ar quente e saturado se encontra com as
camadas de ar mais frias. Dessa forma, das bordas da tempestade, em
direção ao seu centro, a pressão atmosférica cai rapidamente e a
velocidade do vento sobe assustadoramente. Os ventos atingem sua força
máxima perto do ponto de mais baixa pressão. O diâmetro de uma área
afetada pelos ventos destrutivos de um furacão pode ultrapassar os 240
quilômetros por hora. Um onda de ventania prevalesce numa ampla área
de até 480 quilômetros de diâmetro. A força de um furacão é medida numa
escala de 1 a 5 pontos. O de categoria 1, considerado de baixa intensidade,
tem ventos de pelo menos 120 quilômetros por hora o mais forte e
também considerado o mais raro, categoria 5, tem ventos que excedem
250 quilômetros por hora. O Erin foi considerado de categoria 1 o
Andrew foi um furacão de categoria 4. As cifras envolvidas nos prejuízos
causados pelos dois podem ajudar a estabelecer um paralelo entre ambos.
Uma curiosidade: no centro do furacão, que pode ter em média até 24
quilômetros de diâmetro, os ventos param durante sua passagem, e as
nuvens ficam mais altas. Entrentanto, se o fenômeno estiver ocorrendo
sobre o oceano, as ondas permanecem violentas e podem afundar
pequenas e até médias embarcações. Os furacões se movem numa rota que
se assemelha a uma curva parabólica.
Apesar dos especialistas em meteorologia fornecerem uma indicação não
muito otimista para os próximos anos, com previsões de aumentos da
atividade de precipitações climáticas, cada vez mais intensas, as
autoridades das áreas mais afetadas também têm desenvolvido esquemas
de segurança voltados aos seus cidadãos e visitantes. Com a experiência
adquirida depois da passagem do Andrew, a cidade de Miami possui hoje
uma infra-estrutura que permite o acionamento imediato de medidas de
apoio, procurando minimizar os efeitos de um evento climático da
magnitude de um furacão. O rastreamento por satélite é eficaz e os
modernos aviões e equipamentos utilizados pelo Centro Nacional de
Furacões permitem previsões minuto a minuto da rota de um furacão.
Portanto, o turista em visita ao Estado da Flórida não precisa se preocupar
em relação à sua segurança. Precisa, isto sim, saber que um furacão é
coisa séria. Mas, mais séria ainda, é a capacidade inventiva do ser humano
para prevenir e salvaguardar a própria vida e a dos demais.
Precauções em caso de furacão - Para o turista que estiver no Estado da
Flórida, há alguns conselhos que poderão ser bastante úteis durante um
alerta de furacão. A principal recomendação é não entrar em pânico,
apesar de toda a gravidade que representa a passagem de um furacão pelo
local onde estiver.
O turista não deve se locomover de uma cidade a outra na última hora.
Isso pode aumentar o risco de colocá-lo em condições totalmente
desfavoráveis.
Como a grande maioria dos turistas brasileiros que visita a Flórida durante
as férias costuma ficar hospedada em hotéis, o melhor é seguir as
orientações fornecidas pelo pessoal de segurança do próprio
estabelecimento.
Caso haja necessidade de se proteger em um abrigo previamente
determinado pelas autoridades, os funcionários do hotel saberão indicar
qual o mais próximo.
O turista que for pego numa situação dessas, acompanhar o noticiário pela
televisão é fundamental. Se não souber inglês, deverá acompanhar pelos
canais de idioma espanhol: Univision ou Telemundo.
Além de seus documentos pessoais, o turista deve manter dinheiro vivo em
seu poder. Após a passagem de um furacão, a primeira coisa que
desaparece é a energia elétrica e, sem ela, as máquinas que liberam
dinheiro ou vendas através de cartões de crédito não funcionam. Portanto,
uma retirada de dinheiro em qualquer máquina ou banco antes da
precipitação do furacão é uma medida inteligente e necessária.
O turista que estiver de posse de um veículo alugado, abrigue-o num
estacionamento fechado e deixe-o lá até a passagem da tormenta.
Para o turista que está com seu vôo marcado para o mesmo dia em que há
previsão de chegada de um furacão, manter contacto com a companhia
áerea para confirmação ou não do vôo é muito importante.
Turistas com filhos pequenos devem evitar contaminar o clima com
insegurança e medo. Conversar com as crianças antes e durante a
passagem de um furacão poderá deixá-las tranqüilas e evitar traumas
futuros.
Um furacão pode demorar até 24 horas para passar. Portanto, uma
pequena provisão de doces, salgadinhos, água, gelo, biscoitos, frutas
secas, pão, leite em pó, café, chá e assemelhados ajudarão a passar o
tempo. Algumas revistas também devem ser incluídas, amenizam o clima
de ansiedade.
Idílio Gomes da Costa
idicom@ix.netcom.com
Miami, 08/jun/97