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Rogério Ceni - Janeiro/99


Podem reclamar à vontade de Rogério Ceni, goleiro do São Paulo, 26 anos a completar no próximo dia 22. Ele está acostumado. "Já levei muita porrada", afirma, sem mágoa. Desde que virou titular, em 1996, este paranaense, criado no Mato Grosso, convive com polêmicas. Algumas ele mesmo cria. Logo no início da carreira, ficava de gravador em punho registrando as próprias entrevistas. Era para evitar que as suas declarações fossem deturpadas pela imprensa.


Rogério é uma figura singular no futebol. É um goleiro que bate faltas, veste-se com ternos e gosta de tango. "La Cumparsita é demais", conta com entusiasmo, apesar de não dar dois passos da dança sem tropeçar. "Não adianta. Fico travado", justifica-se. O atual preferido de Luxemburgo para a Seleção só se solta mesmo quando o assunto é futebol. Nesta entrevista, ele fala sobre a vergonhosa campanha do São Paulo no Brasileirão, reclama das besteiras ditas pelos jornalistas e até elogia as torcidas organizadas. Não gostou? Para Rogério, pouco importa: "Ou gostam de mim ou me odeiam".


Pergunta: - Na primeira metade de 1998, o São Paulo foi campeão paulista. Na segunda, quase foi rebaixado no Brasileiro. O que aconteceu?
Rogério: - No primeiro semestre, o grupo tinha um objetivo. Como o clube não ganhava um título desde a Copa Conmebol de 1994, havia essa obrigação de vencer. O time se aplicou. E tudo o que tinha para dar certo, deu. Você tabelava de costas, de calcanhar e a bola entrava no gol. Todo o mundo via que era a melhor equipe do campeonato. Por que caiu tanto no segundo semestre? Se eu soubesse, eu teria falado antes e tentado corrigir. Faltou concentração, pegada. A palavra exata eu não sei dizer, mas que faltou alguma coisa, faltou.

Pergunta: - Conquistar o Paulista não deslumbrou vocês?
Rogério: - Talvez não nos preparamos adequadamente no aspecto psicológico para o Brasileiro. No Campeonato Paulista, você pega um Palmeiras, um Santos, mas depois enfrenta um time menor em casa. Mesmo que empate com o Corinthians, você vai lá e, tchum, consegue três pontos na partida seguinte. Dá para respirar. No Brasileiro, se você é derrotado em casa, pega uma pedreira na partida seguinte. Fomos perdendo pontos e mais pontos até o momento em que não tinha mais como sair da situação.

Pergunta: - A contusão do Raí, logo no início do campeonato, afetou tanto assim como dizem?

Rogério:-No mesmo jogo contra o Cruzeiro em que o Raí se machucou (dia 9 de agosto, na terceira rodada), o Carlos Miguel também saiu contundido. Perdemos dois jogadores de organização. Sem falar no Denilson, que tinha ido para o Betis (da Espanha) e, para mim, sempre foi 60%, 70% do setor de criação do São Paulo. Ele partia para cima da defesa, conseguia faltas perto da área, provocava cartões amarelos adversários. Tinha sempre marcação especial de dois jogadores para conter o Denilson. Quer dizer, sobrava espaço para outros. O Raí substituiu o Denilson de uma maneira diferente. Ele chamava a responsabilidade para si.

Pergunta:-Não foi arriscado escalar o Raí na Final do Paulista, vindo direto do Paris Saint-Germain, da França?
Rogério:-Não para quem conhece o Raí. Ele é uma pessoa fora-de-série. O time tinha perdido a primeira partida das Finais contra o Corinthians e aquilo abalou a confiança. Antes do jogo, o Nelsinho (técnico do São Paulo na época) juntou a gente na sala de preleção. O próprio Raí disse que não queria tirar o lugar de ninguém. Mas todo o mundo foi a favor da sua escalação. Na reunião, é até compreensível que ninguém diga. Mas nem depois eu vi alguém resmungando pelos cantos. Porque era o Raí. Se fosse outro, talvez tivesse problema.

Pergunta:-O São Paulo atuou melhor do que vocês esperavam?
Rogério:-O Denilson mudou de função e passou a jogar na frente, com o França. O Raí jogou no meio. O Denilson só com a preocupação de criar... Nossa Senhora! O Nelsinho montou uma linha de quatro atrás. No meio, havia um volante fixo, que era o Alexandre, mais o Carlos Miguel pelo lado esquerdo e o Fabiano pela direita, dois jogadores de extrema força. E ainda tinha o Raí solto no meio, com Denilson e França na frente. Se esse time fosse mantido, era bicho certo.

Pergunta:-Mas não foi e no final do Brasileiro você e o lateral Serginho estavam reclamando publicamente dos companheiros. Qual era o problema?

Rogério:-Existem coisas que não são aceitáveis: falta de vontade, você abusar, dar um drible a mais antes de definir. Nós discutimos antes e depois dos jogos. Fala, fala, cobra, cobra. Aí, já entra no lado da desatenção, da falta de concentração, de seriedade do jogador.

Pergunta:-De quem?
Rogério:- Não estou me excluindo de nada. Podem me cobrar, porque eu sei que isso vai me ajudar a crescer. Nunca vou entrar no campo de má-vontade.

Pergunta:-Pelo menos você se livrou de estar na goleada de 7 x 2 contra a Portuguesa. Como foi a reação dos jogadores após a partida?

-Não joguei contra a Portuguesa, mas tomei de 5 x 1 do Cruzeiro, pela Copa Mercosul. No vôo de volta de Belo Horizonte, um jogador quis dar porrada no comissário do avião, que fez uma brincadeira sobre o jogo. Mas não adianta discutir. Pior é brigar com um cara dentro de um shopping. Para evitar problemas, já cheguei a ir ao supermercado às três horas da manhã. Como eu moro sozinho, preciso fazer as compras da casa. Foi um jogo à noite, que nós perdemos. Pensei: "Vou aproveitar agora, pego um boné, boto uma jaqueta e não encontro ninguém". E não é que, mesmo naquela hora, dois caras me reconheceram? Pelo menos, eles só pediram autógrafos.

Pergunta:-A torcida tinha razão ao perseguir o Dodô?
Rogério:- O grupo precisa dar apoio. Eu falo para o Dodô que, se ele correr, estou com ele. Afinal, eu também dependo dele, do atacante. Mas o cara que pode tirar o Dodô dessa situação é ele mesmo. É ele que deve ver se tem algo errado e como suprir a falta de gols.

Pergunta:-Mas agredir o jogador, como aconteceu com o Dodô, é injustificável. É a torcida organizada passando dos limites ?
Rogério: -Já joguei com e sem torcida organizada no estádio. Não tem nada no mundo que anime mais a gente do que uma organizada. É bonito. Você vê uma Independente (maior torcida organizada do São Paulo) pulando e gritando... Isso mexe com o jogador. Você ganha a partida com esse apoio. Fiquei triste quando veio a proibição. (Em 1995, a Justiça baniu todas as organizadas dos estádios paulistas.) Mas tem o lado da violência. Será que se voltar a organizada não vai dar problema de novo? Pergunta:-Elogiar torcidas organizadas pode ser ruim. Você não teme ficar marcado com a imprensa por falar coisas do gênero?
Rogério:-Quanto mais burro o jogador, melhor para ele mesmo. Quanto menor a capacidade de analisar as coisas, de emitir opinião própria sobre o que está acontecendo, melhor para o jogador. Ele se mete em menos problemas. A partir do momento em que você tem consciência do que está acontecendo, fica difícil se esconder. Por tudo que já conquistei e pelo que o São Paulo me deu, sou um cara que torce pelo clube. Nunca ofendi, mas tenho a minha opinião. Levo porrada até hoje por isso. Sei que quem gosta de mim, gosta. Quem não gosta, odeia.

Pergunta:-E os seus problemas com a imprensa?
Rogério:-Usei gravador em entrevista. Você fala uma coisa e o cara bota outra no jornal. Tira uma palavrinha no meio da conversa e muda o sentido. Até provar o contrário, 100 000 pessoas já leram. Mas não adiantou. Desceram o cacete, me chamaram de cacique Juruna (deputado federal da década de 80 que também usava o gravador diante dos repórteres). O jogador tem culpa também. Ele fala uma besteira e depois desmente.

Pergunta:-As pessoas que criticam tanto entendem do assunto? ?
Rogério:-Quando o assunto é goleiro, fala-se muita besteira. O jornalista acha que defesa difícil é aquela plasticamente bonita. Cansei de ver comentários na TV de jogadores, que não foram goleiros, chamando uma defesa de milagre. A imprensa valoriza os que saltam.

Pergunta:-Atravessar o campo inteiro para bater uma falta é ser simples?
Rogério:-Nunca fiz isso para aparecer. A coisa que mais gosto é bater na bola. Em 1996, eu e o Zetti (hoje goleiro do Santos) resolvemos treinar cobranças de falta. Ele levantava a bola e eu chutava, e vice-versa. Era uma jogada ensaiada. Até que a gente percebeu que nunca iria fazer isso em campo. Um dos dois tinha que estar na reserva! Quando havia uma falta perto da área, eu, lá do banco, incentivava o Zetti a bater. Como ele não ia, falei: "Se você não bater, um dia eu vou fazer um gol assim". E comecei a treinar.

Pergunta:-Você já tinha o dom de bater faltas ou pegou a prática treinando?
Rogério:Quando cheguei ao São Paulo nem sabia chutar tiro-de-meta direito. Eu até jogava razoavelmente na linha, mas não sabia repor a bola. Hoje, boto a bola no peito de um jogador no meio-campo. Em dez bolas, acerto nove. A outra passa perto.

Pergunta:-Foi fácil aceitar a ordem do técnico Mário Sérgio, que proibiu as suas cobranças de falta?
Rogério:-Acatei com naturalidade. Por dentro fiquei constrangido, pensei que podia bater, mas respeitei.

Pergunta:-E não ler jornais também, como ele recomendou aos jogadores?
Rogério: -Ele não disse para não ler. Não estou defendendo. Ele falou: "Se fosse vocês, para evitar desgastes, evitaria os jornais, pois, nessa fase, só vai ter coisa ruim". Ele não disse: "Se eu pegar alguém aqui, vai ter".

Pergunta:-Como foi a experiência com Wanderley Luxemburgo na Seleção?
Rogério:-Ótima. Quero ser o goleiro do Brasil na Copa de 2002. Penso nisso desde que fui convocado pela primeira vez, em 1997.

Pergunta:-Com Luxemburgo, o visual terno e gravata, que você tanto gosta, está em alta. Não é contraditório dizer que prefere não aparecer e usar no dia-a-dia ternos?
Rogério:-Gosto de me vestir. É como bater falta. Não uso para aparecer. Tenho dezesseis ternos e me sinto bem com roupa social. O jogador devia cuidar mais da imagem. Ele seria melhor tratado. Você é o espelho para o torcedor, o orgulho para essa pessoa. Os jogadores deveriam pensar nisso.

Pergunta:-Para quem cuida da imagem como você, deve ser duro conviver com a calvície, não é?
Rogério:-Cabelo caindo é triste. A devastação aqui foi nos últimos dois anos. O Velloso (goleiro do Palmeiras) fez um implante e ficou bem legal. Mas não sei se eu faria. Como é o nome daquele remédio recente, uma das grandes descobertas da medicina no século?

Pergunta:-O Viagra?
Rogério:-Não! O cabelo vai caindo, mas o resto ainda está beleza.



Andrei