Medicina Ortomolecular Quer se Livrar de Estigma
Reportagem do jornal Folha de São Paulo (Alcino Barbosa Jr)
São Paulo - SP (20/08/2000)A medicina ortomolecular - especializada em corrigir os desequilíbrios entre as moléculas do organismo - quer se livrar do rótulo de alternativa (e cara) para mostrar que pode melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas, saudáveis ou doentes.
O princípio básico dessa especialidade médica é combater os radicais livres, que provocam oxidação em moléculas importantes do corpo humano, envolvidas em doenças graves como o infarto, os derrames cerebrais e o mal de AIzheimer (veja quadro abaixo).
"A medicina ortomolecular ainda não faz parte do currículo das faculdades médicas e também não tem um título de especialização fornecido por entidade médica, mas os seus conceitos científicos são sólidos e vão ser incorporados pela medicina convencional", afirma Guilherme Veucher, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Ortomolecular.
Apesar do avanço no conhecimento dos mecanismos dos antioxidantes, a medicina ortomolecular ainda não consegue responder com precisão a uma pergunta: quais são as doses e as combinações ideais desses suplementos?
"A dose mínima necessária de cada vitamina é conhecida há muitos anos, graças aos estudos sobre as carências dessas substâncias, como o escorbuto e a cegueira noturna", diz Virgínia Junqueira, professora de farmácia e bioquímica de geriatria da Unifesp.
"Mas o grande desafio, hoje, é descobrir o que chamamos de 'janela terapêutica', a dose em que as vitaminas passam a agir como antioxidantes, trazendo benefícios".
Segundo Luiz Roberto Ramos, geriatra e diretor do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp, as pesquisas para comprovar a eficiência desse tratamento são difíceis de ser conduzidas e têm apresentado resultados às vezes contraditórios.
"Por isso, as terapias com antioxidantes ainda são muito empíricas, ou seja, baseadas na experiência prática do médico e nos exames de sangue de cada paciente", afirma Ramos.
Os pesquisadores acreditam que usar mais de uma vitamina no tratamento traz mais benefícios do que ingerir altas doses de apenas uma delas. "Se você toma muito um único antioxidante, ele pode se tornar pró-oxidante".
As evidências que justificam o melhor efeito da mistura de vitaminas são baseadas em estudos com a população mediterrânea.
"A combinação de uma dieta rica em vegetais, peixes, aves e óleo de oliva, com uma atividade física constante, oferece concentrações ótimas de vitaminas. Por isso, essa população tem grande longevidade e menos doenças crônico-degenerativas", afirma Virgínia.
O colesterol, um dos responsáveis pelo infarto do miocárdio e pelos derrames cerebrais, também sofre ação dos radicais livres. "Isso favorece o seu depósito nas paredes das artérias", diz Ronaldo Leão Abud, pós-graduando em cardiologia do Instituto do Coração - SP.
O oxigênio está na base das reações químicas que produzem radicais livres. Quando ele reage com a glicose, no fenômeno da respiração celular, são formadas algumas dessas substâncias.
No entanto, os médicos ortomoleculares também usam concentrações e pressões altas de oxigênio para tratar algumas doenças. Para isso, eles prescrevem sessões em câmaras hiperbáricas.
"O oxigênio em altas pressões, por curtos períodos, estimula a função das enzimas antioxidantes", afirma Guilherme Veucher.
A pressão alta de oxigênio também tem efeito antibacteriano, o que explica seu uso em algumas infecções da pele e dos músculos.
OS PRINCÍPIOS DA MEDICINA ORTOMOLECULAR
O que é?
Especialidade médica que procura restabelecer o equilíbrio molecular do organismo.
Seu objetivo é diminuir os efeitos adversos dos radicais livres, usando os antioxidantes.Radicais livres
• Substâncias químicas com grande capacidade de provocar oxidação (ligação com oxigênio), danificando as moléculas normais do organismo.
• São produzidos naturalmente por todas as células aeróbias, por meio da queima de glicose pelo oxigênio, durante a geração de energia celular.
• Alguns deles fazem parte de funções normais do organismo, como a dilatação dos vasos sanguíneos ou o combate a bactérias; outros são produzidos por acidente.Antioxidantes
• Substâncias que combatem os radicais livres, diminuindo seu poder de reação química.
• Alguns deles são vitaminas (A, C e E), outros são enzimas (proteínas que aceleram reações químicas) e os demais são substâncias raras no organismo, como o selênio e o zinco.
• As vitaminas não são produzidas pelo organismo humano; precisam ser obtidas pela dieta.
• A quantidade mínima de vitaminas necessárias na dieta já é conhecida, mas a dose ideal, que tem efeito antioxidante, ainda não foi determinada com precisão.Estresse oxidativo
• Situação de desequilíbrio entre os radicais livres e os antioxidantes, o que predispõe a doenças.
• Pode ser causado por excesso de radicais livres ou falta de antioxidantes.Fatores que aumentam o estresse oxidativo:
• Alimentação pobre em vitaminas
• Atividade física vigorosa (ex: atletismo e musculação)
• Estresse psicológico
• Cigarro
• Bebidas alcoólicas
• Radiação
• Poluição ambiental
• Certos medicamentos
• Metais pesados (ex: chumbo, cádmio)
• Transplantes de órgãos
• Excesso de cobre e ferro
• Infecções
• lsquemia*
• Reperfusâo**As doenças
Os radicais livres estão envolvidos na causa ou agravamento de alguns males:
• Envelhecimento das células
• Infarto
• Derrames cerebrais
• Doença de Parkinson
• Mal de Alzheimer e outras demências
• Câncer
• AIDS
• Endometriose
• Catarata
• Degeneração da mácula**** Baixo fluxo de sangue em determinado órgão
** Restabelecimento do fluxo de sangue após isquemia
*** Morte de células no centro da retina, o que provoca cegueiraFontes
Guilheme Deucher, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Ortomolecular
Virgínia Junqueira, professora de farmácia e bioquímica da disciplina de geriatria da Unifesp
Luiz Roberto Ramos, diretor do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp
José Valdaí de Souza, pós-graduando em biologia molecular do Centro de Biotecnologia da UFRGS
Ronaldo Leão Abud, pós-graduando em cardiologia do Instituto do Coração da USPSites selecionados
Associação Médica Brasileira de Oxidologia: www.oxiline.com.br (oferece artigos científicos e informativos para download)
IMPB On Line: www.radicaislivres.med.br (revista eletrônica do Instituto de Medicina Preventiva e Bioestabilidade, que também traz artigos)