O VINHO DA CEIA DO SENHOR - APENAS SUCO DE UVA? |
MARCOS 14:22-25
" 22 E, comendo eles, tomou Jesus pão, e, abençoando-o, o partiu, e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. 23 E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho; e todos beberam dele. 24 E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que por muitos é derramado. 25 Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até àquele Dia em que o beber novo, no Reino de Deus."
Análise:
Mas, que tipo de pão foi usado?
Deus havia orientado os judeus a usar "pães asmos" durante a Páscoa (Êxodo 12:8). Assim, os ‘pães’ que Jesus tinha à mão eram pães não-fermentados. Eram feitos de farinha de trigo, sem nenhum sal ou outro tempero. Acrescentar-se algo para melhorar o sabor anularia a sua qualidade de "pão de aflição". — Deuteronômio 16:3.
Na Bíblia, fermento geralmente indica pecaminosidade. Era acertado que o pão estivesse isento de fermento, porque o pão representava o corpo carnal, sem pecados, de Jesus. — Hebreus 7:26; 9:14; 1Pedro 2:22, 24.
Mas, que tipo de vinho foi usado?
Nos dias de Jesus, tomar vinho fazia parte da celebração da Páscoa. E verdadeiro vinho continuou a fazer parte da Ceia do Senhor, que substituiu a Páscoa. Alguns lembram que o fermento não era permitido nesta ocasião e concluem apressadamente que o “produto da videira” (versículo 25) servido na Ceia do Senhor só poderia ter sido não fermentado.
Mas, o que realmente nos interessa é o que dizem as Escrituras. Vejamos:
A Ceia do Senhor foi estabelecida imediatamente depois da Páscoa. Que tipo de vinho estava disponível nesta ocasião? Bem, encontramos as orientações divinas sobre a Páscoa em Números 28:16, 17:
" 16 Porém, no primeiro dia, aos catorze dias do mês, é a Páscoa do SENHOR. 17 E, aos quinze dias do mesmo mês, haverá festa: sete dias se comerão pães asmos."
(Note também: Êxodo 12:15: "Sete dias comereis pães asmos; ao primeiro dia, tirareis o fermento das vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado, desde o primeiro até ao sétimo dia, aquela alma será cortada de Israel." e Levítico 2:11: "Nenhuma oferta de manjares, que oferecerdes ao SENHOR, se fará com fermento; porque de nenhum fermento, nem de mel algum oferecereis oferta queimada ao SENHOR.")
Durante os mesmos sete dias em que não se comeria pão fermentado, o versículo 24 mostra que se oferecia diariamente a Deus uma "libação", isto é, uma "oferta de bebida" (A Bíblia Viva).
De que espécie era esta "libação" ou "oferta de bebida"? Tratava-se de bebida forte ou apenas suco de uva? O versículo 7 já havia explicado sobre o tipo de "libação". Note:
"no santuário, oferecerás a libação de bebida forte ao SENHOR".
Note como outras Bíblias vertem o que seria ofertado a Deus:
Alfalit: |
"libação de bebida fermentada" |
Viva: |
"vinho forte" |
Nova Versão Internacional: |
"bebida fermentada" |
Almeida Corrigia Fiel: |
"libação de bebida forte" |
Portanto, durante o mesmo período em que o consumo do pão não fermento era proibido, era uma ordem (versículo 2) divina terem disponível "a libação de bebida forte" ou "libação de bebida fermentada" para oferecê-la a Deus diariamente (versículo 24). Portanto, como você mesmo pôde comprovar, não é bíblica a idéia de que os israelitas evitavam vinho fermentado durante a Páscoa.
Considere também razões adicionais para Jesus ter disponível bebida fermentada na ocasião da Ceia:
1) Se fosse suco de uva, provavelmente se usaria a palavra grega "trudz", que tem este significado.
2) A colheita das uvas acontecia em fins do verão do ano, ao passo que a Páscoa só se deu na primavera seguinte, cerca de seis meses depois, e os judeus não tinham em geral os meios para preservar suco de uva por tanto tempo, impedindo a fermentação.
3) A própria história mostra que os judeus seguem até hoje a sua tradição, desde aquele tempo, usando suco de uva fermentado, ou verdadeiro vinho, com certo teor alcoólico.
4) O Dicionário da Bíblia, de Jonh D. Davis, (Publicado pela JUERP - Uma publicação da Convenção Batista Brasileira), diz na página 619: “'Fruto da vide', frase usada por Jesus por ocasião de instituir a Santa Ceia, Mateus 26:29, é expressão usada pelos judeus, desde tempos imemoriais, para designar o vinho que tomavam em ocasiões solenes, tais como, pela festa da Páscoa e na tarde de sábado (Mishna, Berakoth, 6.1). Os gregos também empregavam a mesma frase, como sinônimo de vinho capaz de embriagar, Heród. 1.211, 212."
O FERMENTO Fermento é a substância acrescentada à massa de farinha ou a líquidos para provocar a fermentação; especialmente uma parte da massa fermentada, reservada para fazer pão. Este tipo de agente fermentador é especificado pela palavra hebraica se´ór (“massa lêveda”; Êxodo 12:15) e pela palavra grega zý·me (“fermento”; Lucas 13:21). A coisa levedada era designada pela palavra hebraica hha·méts. — Levítico 2:11. |
Alguém talvez pergunte: "Se na Bíblia o fermento é símbolo de algo ruim, como Jesus poderia ter usado vinho fermentado na Ceia para representar seu sangue?" Tendo em vista a evidência direta dos vários versículos de Números 28 analisados acima, discernimos que a fermentação produzida naturalmente na vinificação não é classificada na mesma categoria como a fermentação produzida na massa de farinha por um aditivo, o levedo, a saber, fermento ou massa lêveda. Em concordância com isso, O Dicionário da Bíblia, de Jonh D. Davis (Publicado pela JUERP - Uma publicação da Convenção Batista Brasileira), afirma na página 619: “Dizem que pelo fato de ser proibido o fermento durante os sete dias da festa pascoal, o vinho usado nessa solenidade não devia ser fermentado. A argumentação não procede. A fermentação vinosa nunca se chamou fermento.” Isso significa que a fermentação em si mesma, com sua capacidade de permear, não é o fator determinante, ao ponto de representar uma condição boa ou má, quanto ao seu significado simbólico. Antes, o fator determinante é aquilo que o ser humano acrescenta para causar a fermentação. Contudo, o mosto de uvas ou de certas frutas tem a capacidade de fermentar naturalmente — independente da adição de fermento. O sangue de Cristo não necessitava de qualquer acréscimo, de modo que é adequado o vinho puro, fermentado naturalmente, em vez de vinhos reforçados com brande (tais como o Porto, o xerez ou o moscatel) ou acrescidos de aromatizantes ou ervas (vermute, Dubonnet, ou muitos aperitivos). Diante disso, Jesus podia corretamente usar vinho naturalmente fermentado em representação de seu sangue. Assim como não se estaria celebrando plenamente a Ceia do Senhor se usássemos pão fermentado, não estaríamos fazendo o que Jesus ordenou se utilizássemos outro tipo de bebida, tal qual suco de uva. Somente o vinho naturalmente fermentado é símbolo real a ser usado na Ceia do Senhor. |
Alguns tem crido que as seguintes palavras de Paulo indicam que a bebida usada na Ceia do Senhor era embriagante:
1 CORÍNTIOS 11: 20-22, 26, 27, 33, 34
“ 20 De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a Ceia do Senhor. 21 Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome, e outro embriaga-se. 22 Não tendes, porventura, casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? (...)
26 Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha. 27 Portanto, qualquer que comer este pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. (...)
33 Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros. 34 Mas, se algum tiver fome, coma em casa, para que vos não ajunteis para a condenação.”
Análise:
Meditou no que leu? Agora, responda-me uma coisa: Foi por tomar suco de uva não alcoólico que alguns ficaram embriagados? Ora, ninguém ficaria embriagado por tomar puro suco de uva... Por que não? Simplesmente porque o puro suco de uva não é fermentado. Não sendo fermentado, não provocaria embriaguez. Por isso é chamado corretamente de suco de uva. Se fosse fermentado, não seria puro suco de uva. Seria vinho inebriante. Caso alguém beba exageradamente suco de uva, o máximo que conseguirá é uma baita dor de barriga! Assim, é lógico crer que a bebida mencionada no relato seja, de fato, inebriante. Caro leitor, imagine aquela cena: Paulo diante de cristãos que se excederam no beber em ocasião tão especial como é a Ceia do Senhor. Isso era uma "vergonha" (versículo 22)! Se até mesmo o simples consumo de bebida alcoólica fosse errado, então esta seria uma excelente oportunidade para Paulo objetar à qualquer quantidade de tal bebida e falar fortemente em favor da bebida não-inebriante, ainda mais neste evento singular, não seria? Mas isso não foi feito! Paulo recomendou aos discípulos que "esperassem uns pelos outros" (versículo 23), e a não "comer antecipadamente a sua própria ceia" (versículo 21) como fizeram. Embora Paulo repreendesse àqueles que se embriagavam no beber, em nenhum momento condenou o tipo de vinho usado, e sim o modo como foi usado. Logo, o tipo de vinho (mesmo sendo inebriante) não mostrava ser o real problema. |
Por que Paulo falou sobre "casas para comer e para beber" e "esperar uns pelos outros"? É básico perceber que os irmãos repreendidos estavam usando "antecipadamente" (versículo 21) "este pão" e "bebendo este cálice" (versículo 26), isto é, os emblemas que seriam usados para a Ceia. Não esperaram o início da Ceia para comerem e beberem. Logo, quando os demais irmãos chegavam, talvez não houvesse suficiente pão e vinho para todos. Certamente isso não mostrava amor da parte deles. Se realmente estavam com fome e sede, deveriam ter vindo de casa alimentados. [Ao escrever isso, lembrei-me de um irmão que disse animadamente: "Hoje é o casamento de fulano... Não vou nem almoçar nem jantar para poder comer lá...".] Uma vez estando presente à Ceia, ninguém deveria comer e beber simplesmente para matar a fome ou a sede físicas — como se a pessoa estivesse num piquenique ou num restaurante. O certo era aqueles discípulos "esperem uns pelos outros" para comerem daquele pão e beberem daquele mesmíssimo vinho inebriante que estavam disponíveis ali, porém, segundo os limites divinos, em profundo respeito pelo significado importantíssimo daquela ocasião. |
Ora, mesmo que o vinho da Ceia fosse apenas suco de uva não-fermentado, de forma alguma isso seria PROVARIA que Jesus e seus discípulos não tenham bebido vinho fermentado em OUTRA ocasião!
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