1a. Guerra Mundial
O DESENROLAR DA GUERRA
1914 - O
FRACASSO DO PLANO ALEMÃO
Violando
a neutralidade estabelecida pela Bélgica, os alemães inicialmente apoderaram-
-se de Liège, de 7 a 16 de Agosto, depois de Charleroi, de 21 a 23 de Agosto, e
de Mons, em 23 de Agosto. Em seguida, ganharam a batalha nas fronteiras
francesas, principalmente na Lorena (Morhange) e nas Ardenas, de 20 a 23 de
Agosto, forçando depois os exércitos franceses e o britânico de French a
baterem em retirada, primeiro até ao Aisne e depois para o sul do Marne. Mas,
de 6 a 13 de Setembro, Joffre, auxiliado por Gallieni, governador de Paris,
conseguiu, com a sua vitória no Marne, deter a invasão, o que provocou a
substituição de Moltke por Falkenhayn, a 14 de Setembro. Após os combates da
Corrida para o mar e do Conflito de Flandres de Setembro a Novembro, nos quais
se distinguiu Foch, coordenando, em nome de Joffre, a resistência belga, britânica
e francesa, fez estabilizar uma frente de 750km, desde o mar do Norte até à Suíça.
FRENTES RUSSAS:
Na Prússia oriental, os russos, tomando a ofensiva,
foram detidos por Hindenburg em Tannenberg, a 25 de Agosto, mas, na Galícia,
apossaram-se de Lvov, a 3 de Setembro, e obrigaram os austro-húngaros a
capitular nos Cárpatos, onde a frente se estabilizou. Na Sérvia, os austro-húngaros
foram rechaçados em todos os pontos, e os sérvios recuaram até Belgrado, a 13
de Dezembro.
GUERRA
NAVAL:
Os Aliados que tinham a hegemonia graças à Grã-Bretanha,
adquiriram o domínio dos mares e impuseram-se em bloco aos impérios centrais,
aos quais desejavam com muita ansiedade "asfixiar". Depois de ter
combatido os ingleses ao longo do cabo Coronel no 1º de Novembro, a esquadra
alemã do Pacífico (M. von Spee), permanecendo isolada no mar, foi destruída
em Falkland no dia 8 do mês de Dezembro.
NATAL
DE 1914:
Sem conseguir obter pelas armas a decisão rápida
esperada no oeste, a Alemanha teve que aceitar uma frente oriental, mas
conservando ainda a ofensiva. A França, cujas ricas províncias do norte e do
leste foram ocupadas, viu decrescerem os seus potenciais humanos e económicos.
Perdeu, primordialmente, 93 altos-
-fornos de um total de 123, 90% do seu potencial mineral de ferro e 40% do carvão.
Estabeleceu-se uma guerra de tipo totalmente novo, que envolvia o conjunto das
populações. Ela se prenunciava como prolongada e integral, nos planos económicos,
diplomáticos e principalmente morais.
1915 - O ANO INDECISO
Ao constatar o fracasso do plano
Schlieffen, Falkenhayn decidiu eliminar inicialmente a Rússia, para voltar-se
em seguida contra a França e a Grã-
-Bretanha. Em Maio, os alemães, ajudados no sul pelos austro-húngaros,
infligiram um golpe decisivo aos russos em Gorlice, na Galícia, obrigando-os
assim a evacuar a Polónia e a restabelecerem-se, em Setembro, numa linha que ia
desde Riga até à fronteira romena que cujo nome era Ychernovtsy.
NOS
BALCÃS:
A operação deflagrada pelos Aliados, em Fevereiro e
Março, a pedido da Grã-
-Bretanha e estimulada por Churchill, visando a forçar passagem pelo estreito
de Dardanelos, apoiar os russos e isolar os turcos, que há algum tempo ameaçavam
o canal de Suez, representou um fracasso. A Bulgária, entrando na guerra a 5 de
Outubro, provocou a derrocada da Sérvia, conquistando-a. Finalmente, os Aliados
desembarcaram em Salónica, em Outubro, numa Grécia neutra, mas dividida entre
simpatizantes dos Aliados (Venizelos) e dos alemães (o rei Constantino e o seu
cunhado Guilherme II).
A
OESTE:
Tratava-se sobretudo, para os franceses, de libertar seu
território, conseguindo "furar" uma frente que passava a 90km de
Paris. Contudo, os ataques ocorridos em Champagne, em Fevereiro, Março e
Setembro, e em Artois, em Maio e Setembro, fracassaram. Estes foram extremamente
violentos, especialmente para a infantaria francesa, mas, ao manter dois terços
das forças alemãs a oeste, contribuiram para evitar a derrocada russa.
GUERRA
NAVAL E OUTRAS FRENTES:
A ofensiva submarina alemã, que em 1914 começara a lançar-se
contra o bloqueio e a arruinar o comércio britânico, foi oficialmente
deflagrada em Fevereiro de 1915. Mas, os protestos americanos, devido ao
torpedeamento, em 7 de Maio, do navio britânico Lusitânia, que transportava
passageiros norte-americanos, obrigaram a Alemanha a adiar, no momento, aquela
forma de guerra. A entrada da Itália em cena, ao lado dos Aliados e ao declarar
guerra à Áustria-Hungria, em 20 de Maio, provocou a formação de uma nova
frente, que ia do Trentino ao Karst. Em Julho, os ingleses ocuparam todo o
Sudoeste Africano pertencente à Alemanha.
BALANÇO:
A Alemanha conseguiu afastar muito bem qualquer perigo
que ameaçasse sua frente de leste, mas a Rússia continuava a resistir; o czar
recusou por três vezes as ofertas que os alemães lhe propuseram de uma paz em
separado, o que levou Berlim, a partir daí, a aceitar a Revolução Russa. As
iniciativas dos Aliados foram decepcionantes, o que os fez considerar indispensável
coordenarem seus esforços. Um primeiro passo neste sentido foi obtido por
Joffre na conferência interaliada de Chantilly, em Dezembro.
1916 - O ANO DE VERDUN
Falkenhayn, tendo decidido deixar a situação "apodrecer" na Rússia, decidiu eliminar o exército francês, instrumento da força britânica no continente e que considerava seu princi-pal adversário. Assim, de 21 de Fevereiro até meados de Agosto, os alemães procuraram uma solução em Verdun através do esgotamento dos recursos humanos do exército francês, os quais, durante uma luta de trincheiras sangrenta, resistiram vitoriosamente sob o comando dos generais Pétain e Nivelle. De Outubro a Dezembro, as contra-ofensivas de Mangin libertaram toda a cidade (retomada de Douaumont e de Vaux). Esta batalha não impediu Joffre e Haig de deflagrarem, de Julho a Outubro, uma ofensiva contra o Somme, onde os ingleses utilizaram tanques de guerra pela primeira vez, em Flers, em 15 de Setembro.
A
LESTE:
Para socorrer Verdun e permitir a ofensiva aliada no
Somme, os russos, comandados por Brussilov, obtiveram, na Galícia e em Bucovina,
de Junho a Agosto, uma brilhante vitória, que seria a última do exército do
czar. Ademais, a entrada da Roménia na guerra, do lado dos Aliados, a 28 de
Agosto, pôs em perigo o abastecimento de trigo e petróleo da Alemanha,
provocando a substituição de Falkenhayn. Hindenburg e Ludendorff
substituiram-no, encarregando-o da conquista da Roménia (o que fez em três
meses), enquanto, em Verdun, decidiram passar à defensiva.
O
IMPASSE DA GUERRA DE DESGASTE:
Nos Balcãs, o exército sérvio, recomposto em Corfu,
atacou e invadiu Monastir (Bitola, a 19 de Novembro), enquanto os Aliados
estavam na Macedónia. No Médio Oriente, o rei Husayn, do Hedjaz, aconselhado
pelo inglês Lawrence, sublevou a Arábia contra os turcos. Estes forçaram os
ingleses a capitular em Kut al-'Amara, a 28 de Abril, e reiniciaram os ataques a
Suez. Na Alemanha, a oposição de Bethmann-Hollweg, que se negava a admitir o
aumento do número de inimigos do Reich, impediu o reinício da guerra
submarina. A frota alemã de alto-mar, comandada pelo almirante Scheer,
enfrentou a "Grande Armada" britânica de Jellicoe na Jutlândia, a 31
e Maio. Apesar do seu relativo êxito, os alemães nunca mais ousaram lançar
sua frota ao mar. Além disso, para eles, apenas uma utilização intensa de
submarinos poderia ser decisiva.
No final de 1916, apesar do seu fracasso em Verdun, a
Alemanha conservava ainda a ofensiva, procurando obter a decisão através de
outras formas de guerra. Em ambos os campos, as perdas tinham sido consideráveis
e as crises de comando constituiram a consequência dessa guerra de desgaste.
Todas as esperanças alemãs se depositaram em Hindenburg e, na França, Joffre
teve de ser substituído por Nivelle, em Dezembro.
1917 - O ANO INTRANQUILO
Diante da atitude defensiva
dos alemães, que, por medida de economia, encurtaram as suas linhas, em
Fevereiro, Nivelle convenceu os ingleses da ideia de uma grande ofensiva que,
rompendo a frente francesa, trouxesse enfim a decisão da guerra. Foi o completo
fracasso de Chemin des Dames, a 16 de Abril, que determinou uma grave crise
tanto na França quanto no seio do seu exército. Pétain, tendo substituído
Nivelle, em 15 de Maio, contornou-
-a com uma compreensão humana igual à sua firmeza, e conseguiu deflagrar
vitoriosamente alguns ataques limitados diante de Verdun, em Agosto, e em
Malmaison, em Outubro. De seu lado, os ingleses infligiram duros ataques ao
redor de Ypres, de Junho a Novembro, e depois em Cambrai, em Novembro, onde
empregaram 400 tanques.
O
CESSAR-FOGO DA FRENTE RUSSA:
A primeira revolução de Petrogrado terminou com a
abdicação do czar, a 15 de Março. Os governos do príncipe Lvov, procuraram
continuar a luta junto aos Aliados, mas o exército russo debandou em Bucovina,
em Julho, e os alemães apossaram-
-se de Riga, a 3 de Outubro. A tomada do poder por Lenine e os bolcheviques, em
7 de Novembro (revolução dita "de Outubro"), provocou a abertura de
negociações com Berlim. Estas levaram, em 15 de Dezembro, à assinatura do
armistício-tratado de paz de Brest-Litovsk, que constituiu uma grande vitória
para a Alemanha.
CAPORETTO:
Os alemães reforçaram as suas investidas contra os
italianos, a fim de reintroduzir na guerra uma Áustria exaurida e abalada
devido à oferta feita pelos Aliados ao imperador Carlos de uma paz em separado
(transmitida por seus cunhados, os príncipes de Bourbon-Parma). Vencidos em
Caporetto, a 24 de Outubro, os italianos recuaram até ao Piave, onde puderam
reconstituir-se com a ajuda de um corpo franco-britânico (Fayolle). No Médio
Oriente, os ingleses apossaram-se de Bagdad, a 11 de Março, e de Jerusalém, a
9 de Dezembro.
A
OFENSIVA SUBMARINA ALEMÃ:
Para dobrar a Grã-Bretanha, Guilherme II desencadeou no
1º de Fevereiro, uma guerra submarina decisiva, aceitando assim deliberadamente
a entrada dos E.U.A. na guerra, concretizada em 2 de Abril. As perdas da força
naval dos Aliados foram imensas (900.000t. em Abril, um recorde jamais alcançado
durante a Segunda Guerra Mundial), e vitória dos submarinos alemães
prolongou-se até ao inverno (70 no mar contra 130 em reparos), sem contudo
conseguir abater a Grã-Bretanha.
BALANÇO:
Os alemães eliminaram a frente russa, mas com o êxito
da sua ofensiva submarina não foi decisivo. Na França, a crise moral e política
que se seguiu à dos exércitos levou Poincaré a confiar, em Novembro, o
governo a Clemenceau. O programa deste era: "Eu faço a guerra". Para
os Aliados, o exército norte-americano ainda não estava preparado para
intervir, mas a ajuda dos E.U.A. já se fazia sentir directamente nos domínios
naval, económico e financeiro. Se desejassem a vitória, os alemães deveriam,
portanto, terminar a guerra o mais breve possível.
1918 - A VITÓRIA DOS EXÉRCITOS DE FOCH
O plano de Ludendorff era decidir a guerra na França
antes do verão, isto é, antes do desenvolvimento maciço dos norte-ameri-
canos. Como necessitava de cerca de 700.000 homens que estavam na frente leste,
Ludendorff obrigou a Ucrânia e a Rússia (tratados de Brest-Litovsk de 9 de
Fevereiro e de 3 de Março), depois da Roménia (tratado de Bucareste, em Maio,
na Picardia), a abrir uma brecha de 20km entre os exércitos franceses e britânicos.
Esta brecha ameaçou Amiens. Diante do perigo, Lloyd George e Clemenceau
confiaram o comando único a Foch, em Doullens, a 26 de Março. Este,
coordenando a acção de Haig e Pétain, salvou Amiens. O general-chefe
conseguiu depois resistir às novas investidas de Ludendorff nas Flandres, em
Abril, desde o Chemin des Dames até ao Marne, em Maio, no Matz, em Junho, e
finalmente em Champagne, a 15 de Julho. Os alemães perderam a situação
ofensiva e, desta vez, a sorte mudou de lado. Foch, que agora dispunha de 16
divisões norte-ameri-
canas do general Pershing, lançou uma série de contra-ofensivas em Villers-
-Cotterêts, a 18 de Julho, na Picardia, a 8 de Agosto, e desde o rio Mosa até
ao mar, em Setembro, brigando os alemães a baterem em retirada em Gand, Cambrai
e Sedan. A 4 de Novembro, Hindenburg, que se separou de Ludendorff, viu-se
constrangido a ordenar a retirada geral para o Reno e a pedir aos Aliados, no
dia 7, um armistício, o qual foi assinado no dia 11 em Rethondes, depois de
abdicação de Guilherme II.
VITÓRIA
NOS BALCÃS E NAS OUTRAS FRENTES:
Franchet d'Esperey, colocado em Junho à frente do
comando dos exércitos aliados do Oriente (franceses, sérvios, gregos, ingleses
e italianos), encetou uma ofensiva decisiva na Macedónia, em 15 de Setembro.
Depois de obrigar a Bulgária a pedir o armistício, a 29 de Setembro, as sua
forças entraram na Roménia e ameaçaram a Turquia e a Áustria. Estremecida
inclusive pela vitória italiana de Vittorino Veneto, a 24 de Outubro, a Áustria
assinou o armistício em Pádua, a 3 de Novembro. A dupla monarquia foi destituída:
húngaros e tchecos declararam a sua independência, enquanto em Viena o
imperador Carlos abdicava e era proclamada a República da Áustria, sendo a sua
anexação à Alemanha recusada pelos Aliados.
Na Palestina os ingleses tomaram a ofensiva, em
Setembro, e apoderaram-se de Beirute, de Damasco e de lepo, a 25 de Outubro. No
dia 30, os turcos tiveram de assinar o armistício de Mudros. Finalmente, a 14
de Novembro, os alemães depuseram as armas na África oriental.
Em 1918, os Aliados, que haviam adoptado um sistema
lento mas seguro de comboio de navios, puderam lutar com mais eficácia contra
os U-Boot alemães. Embora estes afundassem mais de 2,7 milhões de toneladas de
navios aliados, não puderam impedir o transporte, para a França, de 2 milhões
de soldados norte-
-americanos. Cento e setenta e seis submarinos alemães foram entregues aos
Aliados, enquanto a frota de alto-mar alemã foi conduzida a Scapa Flow, onde
foi posta a pique em 21 de Junho de 1919.