A Revolta de Canudos (1893-1897)
“Vestia
um camisolão azul, sem cintura. Tinha cabelos longos como Jesus e barbas
longas, nos pés calçava sandálias para enfrentar o pó das estradas... ”
(Trecho tirado da revista veja).
No governo de Prudente de Morais eclodiu um grande movimento de revolta
social entre os humildes sertanejos baianos. O líder dos sertanejos era Antônio
Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro. Esse homem,
senhor de fervorosa religiosidade, foi considerado um missionário de Deus pela
vasta legião de sertanejos que, desiludidos das autoridades constituídas
escutavam suas pregações político-religiosas.
Antônio Conselheiro era filho de uma família de pequenos proprietários,
enfrentou as dificuldades desde cedo, perdeu o pai ainda jovem, então abandonou
o estudo e fracassou como pequeno comerciante. Em 1870, abandonou o Ceará e foi
para o norte da Bahia, onde começou a fazer pregações.
Não compreendendo certas mudanças surgidas com a república, Antônio
Conselheiro declarava-se, por exemplo, contra o casamento civil e por isso foi
identificado como um fanático religioso e monarquista.
* A luta possível
Muita coisa
divulgou-se sobre Antônio Conselheiro e sua gente. Diziam que Canudos era um
lugar cheio de fanáticos, loucos, monarquistas e comunistas. Durante muito
tempo, a história tradicional repetiu essas acusações como se fossem verdades
absolutas, escondendo o principal motivo que unia os sertanejos de Canudo: a
vontade de escapar da fome e da violência. Uma vontade concreta de lutar contra
as injustiças do sertão.
A religiosidade foi a forma possível encontrada pelos sertanejos para
traduzir sua revolta social.
Conseguindo reunir um grande nº de seguidores, Antônio Conselheiro
estabeleceu-se em Canudos, um velho Arraial no sertão baiano. Em pouco tempo,
Canudos transformou-se numa das cidades mais povoadas da Bahia, com a população
com cerca de 30 mil habitantes.
Comandada por Antônio Conselheiro, a população vivia num sistema
comunitário em que as colheitas, os rebanhos e o fruto do trabalho era
repartido entre todos. Só havia propriedade privada dos bens de uso pessoal (
roupas, móveis etc. ). Também não existia cobranças de impostos nem a
autoridade policial. Não havia patrões nem empregados, nem ricos, nem pobres.
A prostituição e a venda de bebidas alcoólicas eram rigorosamente proibido,
os fazendeiros de toda a região passaram a temer o crescente poder de Antônio
Conselheiro e exigiram que o governo estadual acabasse com o Arraial de Canudos
e sua singular experiência de vida comunitária.
Como as tropas do governo estadual baiano fossem insuficientes para
esmagar Canudos, o governo federal do presidente Prudente de Morais entrou
duramente na luta. Mesmo assim, várias expedições militares do governo foram
derrotadas, porque desprezava o poder de luta dos sertanejos. Finalmente, um
poderoso exército de 7 mil homens foi organizados pelo próprio ministro da
guerra, e, depois de sangrentas batalhas, Canudos foi completamente destruído.
Era 5 de outubro de 1897.
A guerra de canudos, na qual, calcula-se morrer 15 mil pessoas, depois de
4 expedições militares, um ano de lutas intermitentes e uma resistência feroz
por parte de seus defensores. Canudo não se rendeu, exemplo único em toda a
história.
“Canudo não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até
o esgotamento completo. Expugnado palmo a palma, na precisão integral do termo,
caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, que todos
morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na
frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.
Forremo-nos (*) à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem
poderíamos faze-lo. Esta página imaginamo-la sempre profundamente emocionante
e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos. (... )
Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de destruir desmanchando-lhe as
casas, 5.200, cuidadosamente contadas.
Antes, no amanhecer daquele dia, comissão adrede (**) escolhida
descobrira o cadáver de Antônio Conselheiro. ”.
(Trecho retirado do vestibular UCG-98)
(EUCLIDES DA CUNHA. Os sertões. Rio de Janeiro, Ed. de Ouro, s. d.
p. 541. )
Profecias de Antônio Conselheiro
Em 1896 há
de rebanhos mil correr da praia para o sertão; então o sertão virará praia e
a praia virará sertão.
Em 1897 haverá muito pasto e pouco rasto e um só pastor e um só
rebanho.
Em 1898 haverá muitos chapéus e poucas cabeças.
Em 1899 ficarão as águas em sangue e o planeta há de aparecer no
nascente com o raio do sol que o ramo se confrontará na terra e a terra em
algum lugar se confrontará no céu...
Há de chover uma grande chuva de estrelas e aí será o fim do mundo.
Em 1900 se apagaram as luzes.