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ESCULTURAS
DE ADILSON MARCELINO:
UMA RELEITURA DO TEMPO E DO ESPAÇO
Ao direcionarmos o olhar para
as esculturas do artista plástico Adilson Marcelino, entramos em
contato com uma arte de expressão contemporânea, que se modela
pelo ferro, em sua condição de minério rememorado.

O artista possui uma estética individual, que se potencializa a
partir das relações com um tempo congelado, que se infiltra
no espaço, deixando seus fragmentos. Esses fragmentos revertem-se
em metonímias, demarcando o intervalo entre o tempo versus
o objeto que se constrói no espaço: a escultura em si. A
resultante poética dessa tensão é a expressão
de procedimentos da arte contemporânea, que se manifesta por meio
de uma busca pelas origens: o primevo, que renasce pelas mãos da
criação.
Na criação de Adilson Marcelino, em muitos aspectos, podemos
presenciar a influência da vanguarda Futurista, principalmente,
nas relações de desconstrução e reconstrução
do ferro, em uma dimensão poética, que é dada pelo
trabalho de re-montagem de um objeto utilitário, em desuso, colocado
em um novo arranjo, elevando-o ao estatuto de obra de arte. Assim, o ferro
transmutado traz para o nosso olhar os primórdios da terra, em
sua mineralidade eternizada, que, por sua vez, metamorfoseia-se
em seres alados, em sua maioria, como pode ser visto na série Predador.
Ao aprofundar o olhar, nossa memória primeva é reascendida
e somos tomados pelo sonho de Ícaro, que se concretiza, principalmente,
na obra Predador III. Seguindo uma construção retilínea,
pequenas esculturas infiltram-se ao redor da série Predador,
colocando-nos frente a uma poética que resgata o tempo, por meio
do objeto, remetendo-nos ao jogo tensivo entre a vida primordial versus
a máquina, pela origem do material. Por outro lado, esse jogo tensivo
rememora as origens a partir de signos de um tempo eternizado no espaço.
No conjunto, a obra de Adilson Marcelino se completa pelo círculo
do tempo, que se prende a um espaço flagrado por um sentido: um
mundo habitado por uma memória-essência, levando-nos a um
estágio de contemplação, em que é possível
revivermos as origens da criação, em sua perfeição.
Aparecida do Carmo Frigeri Berchior
Mestre e doutoranda em Literatura Comparada pela UNESP, São José
do Rio Preto
Professora e Diretora Acadêmica das Faculdades Integradas Fafibe
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