JORGE AMADO Nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, em Itabuna, Bahia. Passou a infância em Ilhéus. Na adolescência, começou a trabalhar em jornais.
Publicou seu primeiro romance, "O país do carnaval", em 1931. E m 1933 casa-se com sua primeira mulher, Matilde Garcia Rosa. No mesmo ano publica "Cacau".
Em 1935 forma-se em Direito no Rio de Janeiro. Em 1945, entrou para a política como deputado federal de São Paulo pelo PCB. Jorge Amado foi o autor da lei, ainda hoje em vigor, que assegura o direito à liberdade de culto religioso. Casa-se com Zélia Gattai.
Em 1947, o escritor se exilou na França, pois o PCB foi declarado ilegal e seus membros perseguidos e presos. Viveu na europa até meados da década de 50. Ao voltar para o Brasil, afasta-se da política e se dedica apenas aos livros. Em 1961 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Por seus livros, recebeu diversas honrarias no Brasil e no mundo. Morreu em Salvador, em 6 de agosto de 2001, tendo seu corpo sido cremado, e suas cinzas enterradas no jardim de sua casa em Salvador.
Os livros de Jorge Amado já foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas. Eis a lista completa de seus livros:
O país do Carnaval (1931, romance)
Cacau
(1933, romance)
Suor
(1934, romance)
Jubiabá
(1935, romance)
Mar morto
(1936, romance)
Capitães da areia
(1937, romance)
ABC de Castro Alves
(1941, biografia)
O cavaleiro da esperança
(1942, biografia)
Terras do sem fim
(1943, romance)
São Jorge dos Ilhéus
(1944, romance)
Bahia de Todos os Santos
(1945, guia da cidade)
Seara vermelha
(1946, romance)
O amor do soldado
(1947, peça teatral)
O mundo da paz
(1951, guia de viagem)
Os subterrâneos da liberdade
(1954, romance)
Gabriela cravo e canela
(1958, romance)
A morte e a morte de Quincas Berro Dágua
(1961, romance)
Os velhos marinheiros
(1961, romance)
Os pastores da noite
(1964, romance)
Dona Flor e seus dois maridos
(1966, romance)
Tenda dos milagres
(1969, romance)
Tereza Batista cansada de guerra
(1972, romance)
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
(1976, romance)
Tieta do agreste
(1977, romance)
Farda, fardão, camisola de dormir
(1979, romance)
O menino grapiúna
(1981, memória)
A bola e o goleiro
(1984, infantil)
Tocaia grande
(1984, romance)
O sumiço da santa: uma história de feitiçaria
(1988, romance)
Navegação de cabotagem
(1992, memória)
A descoberta da América pelos turcos
(1992, romance)
Milagre dos pássaros
(1997, romance)
Abaixo, resumos, comentários e detalhes curiosos sobre alguns dos mais famosos livros de Jorge amado:
DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS
Resumo
Florípedes, a D. Flor do título, professora de culinária da escola Sabor & Arte (que se transforma malandramente no trocadilho saborear-te) perde seu marido Vadinho, malandro incorrigível, em pleno domingo de carnaval. De luto fechado, chorosa, recorda os altos e baixos desse relacionamento - que o leitor vai conhecendo em feedback. Mas, como ainda é jovem e bonita, desperta a atenção do corretíssimo farmacêutico Teodoro, com quem se casa. As diferenças entre os maridos são gritantes: se com Vadinho tudo era "louca vadiação", com Teodoro o sexo é regular e bem comportado; se com Vadinho o que sentia era emoção e insegurança, com Teodoro a solidez traz uma ponta melancólica de tédio. Até que o fantasma de Vadinho se intromete na cama de D.Flor e de Teodoro. Fantasia? Saudade? O romance não parece procurar respostas excludentes. Ao contrário, D. Flor é um livro que resolve, ou dissolve, o impasse do triângulo amoroso na possibilidade ambígua e inclusiva de dois amores para a desmedida do desejo humano. Numa leitura mais sociológica, a história de D.Flor aponta para o caráter complexo e contraditório da cultura nacional. Assim surge das páginas de Jorge Amado um Brasil rico em aspectos divergentes: país da abundância (as receitas baianas são um atrativo à parte) e da falta (a população pobre das ruas da Bahia), do erotismo desataviado, mas também do preconceito e da hipocrisia, país da cordialidade e da crueldade, da ordem e da desordem.
O romance foi escrito em Salvador, entre 1965 e 1966, e lançado pela Livraria Martins Editora, São Paulo, em maio de 1966.
Em 1976, foi lançada a adaptação cinematográfica do livro, estrelada por Sônia Braga no papel título, José Wilker como Vadinho e Mauro Mendonça como Teodoro. Foi um grande sucesso, e exibido também nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina.
Em 1987, a Rede Globo exibiu uma adaptação do romance como minissérie escrita por Dias Gomes, direção de Mauro Mendonça Filho, protagonizada por Giulia Gam (Flor), Marco Nanini (Teodoro) e Edson Celulari(Vadinho).
CAPITÃES DA AREIA
Resumo
Na década de 30, a cidade de Salvador, Bahia, é atemorizada por um grupo de garotos abandonados de várias idades que praticam furtos, os "Capitães da Areia". O delegado da cidade e o diretor do Reformatório Baiano prometem à imprensa que vão descobrir o esconderijo dos delinquentes e prendê-los. Mas o Padre José Pedro e Maria Ricardina, mãe de um menor internado no Reformatório, procuram o Jornal para dizer que lá os menores são tratados como animais e saem mais revoltados do que quando entram. Apesar de Maria Ricardina pedir ao Jornal que faça uma visita-surpresa à Instituição, o diretor do Reformatório é avisado com antecedência pela Redação do Jornal, e quando o repórter chega, encontra "uma instituição modelar", não poupando elogios ao Reformatório e ao seu diretor na manchete do dia seguinte.
Os Capitães se escondem em um velho trapiche abandonado numa praia, e são liderados por Pedro Bala, de longos cabelos loiros e uma cicatriz no rosto, que depois descobre ser filho de um líder sindical morto durante uma greve. Dentre os outros integrantes do grupo, estão: João Grande, o mais alto e forte de todos, mas de boa índole, o "negro bom", como diz Pedro Bala, segundo em comando; Professor, que é o intelectual do grupo, o único que sabe ler, além de ter grande talento para o desenho; Gato, que com seu jeito de malandro novato acaba conquistando uma prostituta, Dalva, e se tornam amantes; Sem- Pernas, o garoto coxo que serve de espião penetrando em casas de família se fingindo de órfão desamparado e triste para sondar os objetos de valor; Pirulito, que tem grande fervor religioso, e por isso considera levar uma vida de pecado, acaba se apegando ao Padre José Pedro ao conhecê-lo; Volta Seca, caboclo de olhar soturno, afilhado de Lampião, tem ódio dos policiais e o desejo de se tornar cangaceiro; Boa-Vida, tipo malandro, tenta possuir Gato à força quando este entra no grupo; Almiro, o menos ágil de todos, mantém relações sexuais com o negrinho Barandão, outro do grupo. Somente o Padre José Pedro e Don'Aninha, uma mãe-de-santo, conhecem o esconderijo dos garotos e os visitam regularmente, além de Querido-de-Deus, um capoeirista amigo do grupo, que dá algumas aulas de capoeira para Pedro Bala, João Grande e Gato;
Gato chega ao trapiche vindo de outro grupo de garotos abandonados, os Índios Maloqueiros de Aracajú. Boa-Vida logo se interessa de forma mal-intencionada pelo recém-chegado, e imediatamente se oferece para levá-lo pelas ruas de Salvador para que conheça a cidade. Roubam juntos, e Boa Vida dá o que conseguiu a Gato, que não percebe seu jogo de sedução. À noite, no trapiche, Boa-Vida oferece um lado do seu lençol a Gato. Quando todos dormem, Boa-Vida tenta possuir Gato, mas é violentamente rechaçado por este.
Don'Aninha procura os Capitães para pedir que recuperem a imagem de Ogum de seu terreiro de Cambomblé. A imagem foi apreendida pela polícia. Bala provoca o guarda para ser levado à delegacia onde está a imagem. Lá, encontra outros que estão para ser interrogados pelo delegado, entre eles "Mariazinha", um pederasta detido por fazer escândalo depois de cheirar cocaína, e um velho tremendo de medo e jurando inocência. Ao ser chamado, Bala inventa uma mentira e consegue ser libertado levando escondida a imagem de Ogum.
Gato, andando à noite pela rua de prostituição, vê Dalva e acaba se tornando amante dela, depois de agarrá-la à força.
Sem-Pernas, fingindo-se de órfão, penetra na casa de um casal de idosos, Ester e Raul. Ela se apega muito ao garoto, principalmente por lembrar de seu filho morto. A forma extremamente carinhosa com que Sem-Pernas vai sendo tratado pelo casal vai lhe provocando um remorso cada vez maior por estar ali para trair-lhes a confiança. Bala começa a reclamar da demora de Sem-Pernas para descobrir onde estão os objetos de valor. Após alguns dias, Sem-Pernas cumpre sua tarefa e abre a mansão aos Capitães para o roubo, mas antes de ir embora se vira, vê o quadro de Ester e sente muito remorso pelo que está fazendo. Chega ao trapiche totalmente deprimido. Almiro começa a debochar, e é furiosamente atacado por Sem-Pernas com uma navalha, tendo que ser contido pelos outros. Mais tarde, por estar usando as roupas ricas que ganhou de Ester, pede para trocar de roupa com Gato, e volta a usar trapos.
Bala, em uma conversa num botequim com Querido-de-Deus, João de Adão e a dona do botequim, Comadre Luísa, descobre que é filho de um sindicalista morto. Na mesma noite, no areal, persegue uma negrinha e tenta possuí-la à força. A negrinha resiste, por ser virgem, mas como Bala não está disposto a deixá-la, acaba cedendo. Depois, ao se desvencilhar dele, a menina roga-lhe pragas terríveis , e Bala sente grande mal-estar pelo que fez .
Após isso, a varíola ataca a cidade, e infecta Almiro. Sem-Pernas tenta incitar os outros a jogarem Almiro no meio da rua para que os funcionários da Saúde Pública o levem para o Lazareto - local onde os variolosos eram internados, e quase sempre morriam - , mas Almiro implora que não façam isso. Sem-Pernas, furioso, tenta enxotá-lo a pontapés, mas é violentamente impedido por Volta-Seca, que o ameaça com um revólver. Bala, ao chegar, não quer deixar que o menino vá para o Lazareto, mas o Padre José Pedro o convence que o melhor é levar Almiro à casa da mãe, para ser cuidado em segredo por um médico. Este, porém, denuncia a doença do menino às autoridades - tentando obter uma promoção para si- e Almiro acaba sendo levado para o Lazareto, onde morre. O Padre é denúnciado por tentar esconder o caso de varíola das autoridades, e é chamado pelo Cõnego do Arcebispado, seu superior, que o ameaça duramente, desprezando suas tentativas de regeneração dos Capitães da Areia.
Na segunda parte surge uma história de amor quando a menina Dora e Zé Fuinha, seu irmão pequeno, orfãos de pai e mãe, são encontrados perambulando na rua por João Grande e Professor, que os levam para o trapiche. Ao chegarem porém, são cercados pelos outros, liderados por Boa-Vida, Volta Seca e Sem-Pernas, que querem possuí-la á força, mas após uma luta corporal entre eles, chega Bala e os outros a deixam. Após o mal-estar inicial, os garotos começam a encarar Dora como uma espécie de mãe e irmã de todos, graças ao ar fraternal da menina, que cuida das feridas dos meninos, costura-lhes as roupas e se interessa pelos assuntos deles. Professor e Pedro Bala se apaixonam por ela, e Dora vai se apaixonando por Pedro Bala.
Logo, ela começa a participar de furtos com o grupo. Acabam sendo capturados, sendo Bala internado no Reformatório e Dora num Orfanato. Pela reação rebelde ao ser preso, Bala é tratado de forma desumana, sendo trancafiado em uma "cafua", uma diminuta solitária, onde passa fome e frio em meio a ratos e baratas, contrai uma infecção intestinal e começa a ter alucinações. Semanas depois, sai da cafua totalmente debilitado, e mesmo assim o Diretor do Reformatório ordena que Bala seja levado aos canaviais para o trabalho forçado. Numa noite, porém, pula pela janela do quarto com uma corda e, mesmo sendo denunciado por outro menor e com os guardas e cachorros ao seu encalço, consegue fugir. Junto com os outros Capitães resgata Dora, que a essa altura estava muito doente e enfraquecida, por também ter sido maltratada no Orfanato.
De noite, na praia, pela primeira vez juntos após a prisão, mesmo com Dora ardendo em febre e Bala relutando, ela pede que ele a possua, e se amam pela primeira vez. Ao amanhecer, quando Bala acorda encontra Dora morta, já fria a seu lado. Após o triste velório no trapiche, onde pela primeira vez, liderados por Pirulito, todos os Capitães rezam juntos, o corpo da menina é jogado no mar, conforme a tradição dos pescadores baianos. Bala, completamente desesperado, tenta se afogar junto com o corpo mas é resgatado pelo saveiro do Querido-de-Deus.
Após isso, o grupo vai começando a se separar. Professor, entristecido com a morte de Dora, parte para o Rio de Janeiro e se torna um pintor de sucesso com quadros que retratam a vida pobre e sofrida dos Capitães da Areia e da menina, a quem também amava.
Sem-Pernas penetra na casa de Joana, uma solteirona, chamada no livro de "vitalina", uma mulher bem mais velha que ele, para espionar os objetos de valor, mas acaba tendo um relacionamento amoroso problemático com ela, que todas as noites o procura para ter relações, mas nunca completas, por receio do escândalo de uma gravidez. Após vários dias de relutância, ele acaba dando a chave da casa aos outros Capitães para o furto e foge, para fúria da solteirona e aumento da revolta interior do garoto com a sua vida.
Gato se torna uma malandro de verdade, vai embora para Ilhéus com Dalva, e lá se torna gigolô e vigarista procurado pela polícia.
Pirulito se torna frade e vai embora com Padre José Pedro, que finalmente consegue uma paróquia no interior, onde vai para continuar sua missão de ajudar os pobres.
Volta Seca parte para o sertão e lá encontra seu padrinho Lampião, tornando-se um dos seus cangaceiros, e começa a matar soldados. Sua crueldade nas torturas é tanta que um dos cangarceiros, revoltado, tenta matá-lo, mas este é morto por Lampião, que tem grande apreço pelo afilhado.
Sem-Pernas se envolve em um roubo frustrado com os outros Capitães, que conseguem escapar, mas ele, por ser côxo, fica para trás e é perseguido por guardas numa desabalada correria pelas ruas da Cidade Alta, até que acaba encurralado e se joga do Elevador Lacerda, morrendo.
Em Aracaju, Volta-Seca é preso, julgado e condenado por ter matado mais de 60 soldados, e sua frieza durante o julgamento causa revolta, despertando um debate entre a imprensa e os criminalistas sobre a natureza da índole de um criminoso.
João Grande torna-se marinheiro e parte num navio mercante.
Boa-Vida abandona o grupo e se torna mais um malandro arruaceiro das ruas de Salvador.
Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros até que, finalmente, os Capitães de Areia são apresentados por Querido-deDeus a organizadores de greve - entre eles o universitário Alberto, mentor intelectual da organização - e começam a tomar parte de movimentos grevistas. Pedro Bala é chamado para ajudar a formar outros grupos sindicais pelo país, e deixa a liderança dos Capitães para Barandão, que agora estará a frente não de ladrões, mas de um grupo de choque a favor de causas trabalhistas. Ao partir, se volta e olha pela última vez o trapiche à distância, vê aos garotos que gritam seu nome com os punhos levantados, como um grito de guerra - é a saudação típica dos Capitães da Areia - e, em meio a eles, parece ver também os que já partiram: João Grande, Professor, Gato, Pirulito, Sem-Pernas, Boa Vida, Almiro,e Dora, como que lhe dando forças para seguir em frente rumo a seu novo ideal.
Romance iniciado em Sergipe, em 1937, e concluído a bordo do navio Rakuyo Maru, no Oceano Pacífico. Lançado pela Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, em setembro de 1937. Traduzido para o alemão, árabe, croata, espanhol, francês, grego, húngaro, inglês, italiano, japonês, libanês, norueguês, russo, tcheco e ucraniano.
No teatro, diversas montagens adaptadas deste romance tem sido feitas. Na TV, a Rede Bandeirantes exibiu uma minissérie em 1989, direção de Walter Lima Jr., roteiro e adaptação de José Loureiro e Antônio Carlos Fontoura.
CURIOSIDADES SOBRE AS ADAPTAÇÕES DE CAPITÃES DA AREIA
A primeira versão para o teatro foi estreada em 1958 em Salvador, escrita por um padre. Em 1982, uma nova versão estrearia no Rio, com Roberto Batagglin interpretando Pedro Bala, e outros atores estreantes que depois se tornariam famosos, como Felipe Camargo, Hugo Gross e Roberto Bomtempo (que anos depois escreveria outra adaptação teatral deste livro).
Em 1971, o cineasta norte-americano Hall Bartlet rodou a versão para o cinema, com o título "The Sandpit Generals". O filme, falado em inglês, com atores americanos pouco conhecidos , foi todo rodado nos Estados Unidos, só incluindo algumas curtas tomadas de paisagens na Bahia. Teve a participação de Eliana Pitmann no elenco. Mas não foi um sucesso nas bilheterias, até porque a história foi bastante "enxugada" e os diálogos excessivamente simplificados (ou seja, sem palavrões ou aquele modo de falar típico dos baianos). No Brasil, este filme passou na TV Globo com o título "Dora", e também não obteve sucesso, já que não teve praticamente nenhuma divulgação e passou em um horário avançado na madrugada. Recentemente, uma versão brasileira estava para ser rodada, mas foi cancelada por problemas de direitos autorais. Transcrevemos abaixo uma notícia sobre isso:
PROJETO DE CAPITÃES DA AREIA NO CINEMA É CANCELADO
Texto retirado do site Os Artistas
O escritor baiano Jorge Amado, um dos autores mais bem sucedidos do país, já teve quase todos os seus livros adaptados para a TV, cinema ou teatro. Todos se recordam do sucesso de Sônia Braga em "Dona Flor e seus dois maridos" nas telas do cinema na década de 70. No mesmo período, ela interpretou Gabriela,na novela homônima da Rede Globo de Televisão, contracenando com o inesquecível ator Armando Bógus.
Outros romances de Amado tem sido regularmente adaptados para o audiovisual, como a recente versão da Globo para o livro "Mar Morto", que virou uma novela com o título "Porto dos Milagres", escrita por Agnaldo Silva.
O livro de maior sucesso, porém, é "Capitães da Areia", traduzido para vários idiomas e sempre recordista de vendas. Conta a história de meninos abandonados na Salvador da década de 30, claro que de forma romanceada, e impregnada de imagens e personagens típicos da Bahia, como é a característica de todos os livros de Amado.
Capitães da Areia foi queimado em praça pública ao ser lançado na década de 30, por ser considerado subversivo (Amado era simpatizante do Comunismo, e isso é bem claro na menssagem final deste livro, quando o líder do bando, Pedro Bala, larga a marginalidade e se torna líder grevista, formando tropas de choque para combate em greves).
Este livro recebeu inúmeras adaptações, algumas bastante competentes e fiéis ao livro, outras com menor qualidade. A mais recente foi uma versão para o teatro dirigida por Pedro Vasconcelos e estreada no Rio em 2002, tendo ficado por algumas semanas em cartaz.
O dramaturgo carioca Carolino Bezerra iniciou em 2002 um projeto para levar Capitães da Areia para as telas, naquela que seria a primeira versão cinematográfica em português, já que, até hoje, por incrível que pareça, só houve uma versão em inglês, interpretada por atores americanos, rodada em Los Angeles em 1971, e que nem chegou a passar nos cinemas brasileiros.
Bezerra diz que "o projeto é antigo, já existia desde 1990, mas só recentemente pude tocar adiante". Segundo ele, o filme seria uma superprodução, "já que é uma história de época que exigiria cenários e figurinos adequados". Entre os detalhes que o dramaturgo nos deu sobre o projeto, o mais interessante foi a lista de nomes que foram cotados para o provável elenco, incluindo pesos-pesados da dramaturgia nacional, como Sebastião Vasconcelos (que seria o Padre José Pedro), Paulo Autram, Nélson Xavier (interpretando Lampião), Elizabeth Hartmann, e a internacional Sônia Braga. Para interpretar os garotos do bando, foram cogitados Vinícius de Oliveira (que trabalhou com Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil, e interpretaria Pirulito, o menino religioso do bando), Daniel Ávila (o Bruno da novela "Agora é que São Elas" da Globo, que seria Pedro Bala), Sérgio Hondjakoff (galã do seriado "Malhação", que seria Gato, o garoto amante de uma prostituta), Lui Mendes (o Jefferson de "A Próxima Vítima", que faria o malandro Boa-Vida), além de outros nomes desconhecidos do público da TV.
Também estavam nesta lista outros artistas conhecidos, como Tony Tornado, que seria o estivador João de Adão, Solange Couto e até Suzana Alves (ela mesma, a ex-Tiazinha) , que seria Dalva, a prostituta amante de Gato.
Como o projeto é antigo, Bezerra lembra que dois artistas já falecidos chegaram a estar cotados: Carlos Eduardo Dolabella, que seria o delegado de polícia, e Jorge Lafond, que faria uma participação rápida como um homossexual preso.
Bezerra iniciou a preparação do roteiro, mas em Maio de 2003 a família de Amado teria avisado á produtora que os direitos autorais do livro já estavam vendidos e que não haveria a possibilidade de uma adaptação para o cinema.
"Fiquei triste, pois tenho certeza que seria uma grande filme, que estava sendo preparado com toda minúcia e fidelidade a obra do autor e, assim como o livro se tornou um marco da literatura, certamente o filme também se tornaria um marco do cinema brasileiro ", lamenta Bezerra.
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