Associação dos Geógrafos Brasileiros

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AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E A GRIPE

Lucivânio  Jatobá

luciobr2@yahoo.com.br

 

                  As condições climáticas desempenham um papel fundamental no desencadeamento de surtos de gripe que assolam os diversos quadrantes do planeta, ao longo do ano.  E´ uma espécie de “determinismo geográfico” , e que homem, infelizmente, ainda não pode reverter.  Nos países situados na faixa das latitudes médias, onde as alterações sazonais do quadro térmico são mais enfáticas, as relações do andamento do tempo meteorológico com a gripe  são bem mais evidentes.

                O Estado de  Pernambuco, que se situa integralmente na faixa de baixas latitudes, portanto desprovido do ritmo das estações do ano, apresenta esses surtos associados claramente às oscilações barométricas , de umidade relativa do ar e, secundariamente, à queda de temperatura, aqui muito discreta. A expansão dos surtos de gripes sofrem, sem dúvida, a influência dos pássaros migratórios, mas esta é uma outra questão, que não será  aqui abordada.

                A gripe é uma infecção aguda, de etiologia viral, que se notabiliza pelo início súbito, com um quadro em que estão presentes a cefaléia, a febre, a mialgia e , em casos mais graves, a prostação. Os dados estatísticos mostram que há um aumento dessa virose, nos países temperados e nas regiões subtropicais, como o sul do Brasil, exatamente nos meses de inverno. Parece ocorrer, então, um declínio da imunidade das pessoas, nessa estação , que ficam, assim, mais suscetíveis à penetração oportunista do vírus “influenza”.

                No Recife, os surtos de gripe, que são, em geral, inteligentemente apelidados com o nome de alguém em destaque na mídia durante o ano, ocorrem em fevereiro e março, julho e novembro, e ,em todas essas épocas, se dão em nítida consonância com  sistemas atmosféricos que se instalam sobre a cidade.

                Em fevereiro e março, meses excessivamente quentes, o Recife é , geralmente, invadido por centros de baixas pressões , que se fazem acompanhados por aguaceiros convectivos e antecipados por elevadas temperaturas e acréscimo da umidade relativa do ar. É a época do avanço da chamada Zona de Convergência Intertropical, um sistema atmosférico planetário que, sobre o Nordeste brasileiro, age nos meses de verão e início do outono. O vírus da gripe, aproveitando a queda da pressão atmosférica, penetra mais facilmente no organismo humano, invadindo os tecidos,  propiciando a instalação da incômoda gripe.

                Em julho, sistemas frontais agem na parte oriental de Pernambuco, propiciando uma queda da temperatura, se bem que discreta, uma intensificação dos ventos e a ocorrência de chuvas frontológicas. Os vasos das narinas sofrem contração, o que facilita a entrada do vírus e das bactérias na faringe e na traquéia.

                Em novembro, o ar atmosférico, sobre o Recife, fica seco. E´ a ocasião em que  anticiclone subtropical (zona de altas pressões) , que se origina sobre o Atlântico Sul, entre o Brasil e a África, se instala com mais facilidade sobre a parte leste do Nordeste brasileiro. O surto de gripe, que então se inicia,  se associa a esse anticiclone   e à   inversão térmica que o acompanha. A queda da umidade, tão comum durante as passagens de um anticiclone móvel, torna seca as mucosas, o que propicia o aparecimento da gripe.

                Um pequeno surto de gripe aconteceu, no Recife,  no mês de dezembro do ano passado. Esse surto , muito provavelmente,  foi uma decorrência de um episódio, não muito comum , de um vórtice ciclônico ocorrido no Nordeste, que causou um pesado aguaceiro durante mais de três dias. A queda da pressão atmosférica detonou a gripe ,que , felizmente , não  teve uma patologia  tão intensa quanto a de março daquele ano, que colocou, literalmente, muita gente na cama.

                A Climatologia Médica, um dos ramos da Geografia Física que faz a interface com a Medicina, é hoje  uma disciplina que se destaca nos grandes centros médicos e geográficos do mundo. No Brasil, os currículos dos cursos de graduação em Medicina não contemplam , ainda,  esse conteúdo programático. Inúmeras doenças, e não apenas a gripe,  que afligem o ser humano, resultam da forte participação do andamento habitual do tempo.

 

Professor  de Geografia Física  do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE.

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