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1963
ENTREVISTA COM O AFÁVEL AL
Em 1994, Alan Moore, em um tom de brincadeira, é claro,
permitiu que seu alter-ego, o afável Al, fosse
entrevistado pelo repórter Tom Field para a COMIC TALK.
Veja trechos desta entrevista a seguir...
Eu vi o Sweatshop*, e ele fede.
Não, pense nesse cheiro - irrita os sentidos com seu ar quente
e úmido e seu odor pútrido de dias passados, quando o estúdio
de arte de hoje foi o açougue de ontem.
Mas sob a náusea está o poderoso odor de ...criatividade!
Porque? Por que você sente o cheiro do charuto do afável
Al, do bife a rolê do almoço do vibrante Rick,
do ponche do robusto Steve, do perfume da festiva Kooky
Kandi - e em toda parte você sente o ar de ação
da erfevescente Sweatshop!
Eu era o mais afortunado fã vivo a estar no meio de tal glória
de intestinos arrancados. E tudo tinha começado com um telefonema.
"Eu sou um grande fã", disse à Kooky Kandi
quando liguei para a Sweatshop, cujo número de telefone,
que não estava na lista telefonica, eu tinha arrancado do grande
Ed "O Imperador dos Quadrinhos" Evans pelo
desprezível preço de uma garrafa de bom vinho.
Eu expliquei a ele que eu lia quadrinhos desde que era um menininho lá
pelos anos quarenta e que agora, mesmo como um professor-substituto de
inglês em uma escola do meio-oeste para jovens infratores, eu seguia
meus heróis favoritos e sonhava com o dia em que poderia criar
minhas próprias aventuras quadricolores.
Eu posso falar - mesmo que por um momento - com o afável
Al?, perguntei, mas ele não estava no escritório.
"Não importa", eu disse. "apenas deixe-o saber
que eu também edito, em meu tempo livre, um pequeno fanzine chamado
Identidade Secreta que eu remeto a fãs de HQs do mundo
inteiro, e eu apenas esperava em conseguir uma rápida entrevista
com o afável Al e talvez com alguns dos Sweatshoppers..."
Você disse fanzine?", Kandi falou, e eu disse
que sim. Você disse do mundo inteiro?' ", ela falou,
e eu disse que sim.
De repente, o afável Al entrou no escritório,
e a próxima coisa que eu soube, era que ele estava no telefone
me convidando a visitar o Sweatshop e entrevistar o vibrante Rick
e o robusto Steve e todo o resto (inclusive Kandi)!
Na realidade, ele disse que me daria até mesmo um anúncio
grátis do Identidade Secreta nas quartas capas das suas
revistas, e ele me daria artes grátis de uma edição
especial da Sweatshop!
Ele é um grande sujeito, o afável Al - mesmo isso
sendo dito por ele!
Desfrutem comigo agora, por favor ...a uma visita à erfevescente
Sweatshop!!
*O termo Sweatshop (ao pé da letra, um lugar de trabalho
de onde se tira proveito de algo) é uma referência à
Marvel, também conhecida como "Casa de Idéias".
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Não há nada mais abrupto do que um sonho que se torna realidade.
Eu tinha acabado de acertar a minha visita à erfevescente Sweatshop
e estava para atravessar a porta quando Kooky Kandi Devine me parou
e sussurrou baixinho, "o Al o verá agora".
Eu iria conhece o afável Al!
Kooky Kandi me conduziu pelo estúdio de arte (que costumava
ser uma sala de abate), passando pelo departamento de produção
(que antigamente era um freezer) através de uma porta fechada que
separava o Sweatshop da espaçosa suite executiva do afável
Al.
Que energia! Você poderia sentir no ar, não só porque
o escritório do afável Al era o único com
ar condicionado naquela parte do Sweatshop, mas também por
causa da presença do afável Al.
Lá estava ele, sentado, atrás de uma enorme escrivaninha
de carvalho, bebericando em uma pequena garrafa de metal que ele mantém
sobre uma página de arte original de Horus. Antes de eu
pudesse falar, ele fez sinal para que eu chegasse mais perto. Assim que
comecei a me mover, as primeiras palavras dele para mim foram, "Não,
eu quis dizer a Kandi".
Assim que Kooky Kandi se sentou sobre um assento kozy ao
lado do afável Al, eu o bombardeei com minhas ansiosas perguntas...
Tom Field: Al, você poderia explicar como você
inrrompeu no campo dos quadrinhos e veio a criar os super-heróis
da erfevescente Sweatshop?
Afável Al: Se você me permitir falar honestamente,
sahib, seu manuscrito redentor está salvando estes insensatos roteiros
da cambaleante Sweatshop, então sinto dizer que pareço
ter escassamente esboçado uma única história seriada
de super-herói no supremo cartão de pontos do céu
antes de sentar aqui em minha cadeira giratória no ápice
de 1963!!! Isso não quer dizer que eu não tenha ganho dinheiro
por escrever durante muito tempo, não senhor!! Pois desde a idade
de seis anos, eu sempre escrevia cartas de melhoras para meu barulhento
e místico tio Morrie Mooreheimer, e ele me enviava
dez dólares de volta pelo correio. Eu lhe escrevia cartões
de aniversário, cartões de melhoras e longas cartas nas
quais eu me esforçava em expressar meu temor e exaltação
por tal ser verdadeiramente divino que ele era se dignasse em existir
no nosso meio mortal. Assim deixe-me lhe contar algo, viajante: tudo aquilo
que escrevi eventualmente se pagou!! Depois de me esforçar com
estilo literário nestes primeiros trabalhos, como "Querido
tio Morrie, eu gosto de você muito mais do que meus pais
e eu poderia ter um carro esporte? Ou uma insignificante parte de seus
bens imóveis? Vamos almoçar". Eu estava fundando minha
própria companhia de quadrinhos! Vamos encarar, eu sou um sujeito
afortunado!! [risos]
TF: Você pode explicar a origem do U.S.A. e as outras
estrelas da erfevescente Sweatshop? Em seu livro Here Come the
Heroes, você se recordará estar criando o U.S.A.
na parte de trás de um guardanapo de restaurante. Ainda assim,
Ed "O Imperador" Evans diz que ele criou
o personagem por volta de 1941. Qual é a verdade sobre a história?
AA: [longa pausa] Bem, viandante, Ed "O Imperador"
Evans é um amigo muito querido e muito antigo meu. Muito, muito
querido. E muito, muito antigo. Muito, MUITO antigo. Alguns poderiam até
mesmo se inclinar para a vergonhosa posição de sugerir que
ele está ligeiramente senil, sua razão nublada por ressentimentos,
embora eu evite incitar tais lamentáveis calúnias. Basta
dizer que criei todas as nossas sessenta e três super-estrelas sozinho,
sahib, exceto pelo quase insignificante trabalho de escavar os sombrios
detalhes de design, conceito e nomes. Muito me ofende que Ed Evans,
que é, incidentalmente, um homem terrivelmente contrariado e amargo
com uma vida triste e vazia e por quem eu sinto tristeza, precisaria sugerir
que não foi eu o único responsável por criar estes
saltitantes personagens! Por que, personagens como Incorporação
Mistério, O Fúria e Johnny Behind, são
como filhos para mim! Eu os reconheço como reconheço meus
próprios filhos, Al Júnior, Al Filho e, hã,
você sabe, o outro, Al Alguma-Coisa. O que posso dizer, sahib?
TF: Onde Ed "O Imperador" Evans está hoje?
Ele ainda trabalhará novamente para você?
AA: Olhe, hã, quero dizer, não vamos enfatizar muito
o passado aqui, peregrino, você entende o que estou dizendo? Ed
tem uma confortável e pouco espaçosa acomodação
na West 24th Street, e pelo que sei, ele é o mesmo sujeito otimista
e iluminado que sempre foi. Um amigo mútuo cruzou com Ed
ainda outro dia e me falou que ele disse que estava "apenas feliz
de estar vivo" para quem eu só posso dizer "Amém,
amigo"! Quanto ao "Imperador" trabalhar novamente
para nós, embora não seja muito provável, não
há nenhuma necessidade de se preocupar, viandante! Nós temos
aproximadamente 8.000 páginas do trabalho do sujeito que podemos
reimprimir sempre que quisermos, possível e perfeitamente produzindo
publicações de prestígio que enternecem um comovente
tributo a obra-primas verdadeiramente modernas de um meio que nunca morrerá!!
Diferente de Ed "Imperador" Evans, que está a
quatro, talvez seis meses no topo.
TF: Me diz, qual a sua relação com Morrie Moorenheimer,
embora você dois tenham sobrenomes diferentes?
AA: Basicamente, ó Fiel, eu encurtei e mudei meu sobrenome
porque não queria que ninguém pensasse que eu era o tipo
de sujeito que comercializa com o sucesso de seu tio. Me desculpe, sahib,
mas essa é apenas umas dessas coisas pelas quais eu sinto muitíssimo!!
TF: Você freqüentemente escreve sobre seu segurança
Klaus Shreck e pela moça sexta-feira Kooky
Kandi Devine (que, pelo que vejo, é totalmente dedicada a você).
Quem são eles, e de onde eles vieram?
AA: Bem, Kuddly Klaus é um sujeito agradável
e de bom temperamento que chegou neste país logo após a
última guerra, procurando por trabalho como especialista de segurança
e trazendo algumas excelentes referências, viadante! E deixe-me
falar honestamente com você, Ó Fiel: Klaus dá
tudo de si em seu trabalho, e o elogio por muitos dos pequenos detalhes
extras que são todos idéias dele, como essas ataduras onde
ele fez as iniciais da Sweatshop! Por outro lado, Kooky Kandi
tem uma impressionante carreira como uma promissora atriz modelo de Hollywood,
como demonstrou em seu clássico cult Kandi Does Kansas!
Depois disso ela suportou um trágico e breve matrimônio com
ninguêm menos que o vibrante Rick Veitch, que terminou quando
ele teve sua carga de trabalho inesperadamente triplicada, o que significa
que ele jamais deu um lar para sua adorada esposa! Teria sido uma dificil
e traumática tempestade de problemas para Kooki Kandi, não
fosse o fato dela achar uma nova carreira para si como minha secretária
particular nessa época! Não há mais nada a dizer!
TF: Você estava presente durante as audições
de Kefauver sobre HQs por volta dos anos cinqüenta. Que papel
você assumiu ao defender a indústria de HQs?
AA: Bem, eu gosto de pensar que habilmente evitei a ameaça
da forte censura externa que foi aplicada à indústria, que
sugeria que devíamos trazer um código de conduta tão
perveso que seria impossível para qualquer um nos censurar mais
adiante!! Isso mostrou a eles! Eu estava numa auto-nomeada comissão
que traçou este novo código de conduta, e tive a certeza
que todos os assuntos legais foram resolvidos. Por exemplo, como fiquei
secretamente enfurecido pelo modo de como o U.S.A. foi parodiado
como U.S. Melvin na Mad Comics da EC, eu adicionei
em uma cláusula que diz, "Nenhum título de quadrinhos
que tenha um título de três letras que significe insano
ou 'mentalmente desequilibrado será permitido". Oh,
sim... e enviei muitas cartas anônimas ao comitê declarando
que meus rivais empresariais eram viciados de narcóticos que abusavam
de seus filhos e filhas! Sempre fazíamos essas brincadeiras uns
com os outros. Heh, era uma época divertida!
TF: Seus rivais juramentados dizem que o segredo de seu sucesso
é que seus quadrinhos são "muito fáceis de odiar".
Como você responde isso?
AA: Eu sei o que os deles são, mas o que os meus são?
TF: O que é um anti-prêmio, e como um fã pode
ganhar um?
AA: A resposta para ambas as suas ansiosas questões é
que realmente isso não existe, caro galhofeiro... e você
pode descontar isso no banco!!
TF: Pelo fato de você empregar um arte-finalista cego, John
"Arte-finalista-sem-Medo" Totleben, você consideraria
em criar um super-herói inválido? Ou um herói das
minorias? E que tal personagem femininas escritas para mulheres reais?
AA: Seriamente, sahib, me vejo como um pioneiro quando aparecem
estes difíceis e freqüentemente tocantes tópicos. A
maioria dos críticos concorda que meu retrato pungente e cheio
de emoção dos efeitos incapacitantes da acne sofridos pelo
Planeta é um potencial candidato ao premio Pulitzer,
e como o Planeta também é luminosamente verde, pode-se
dizer que ele é de uma minoria étnica!! Com relação
a seu outro ponto, se as mulheres começarem a escrever HQs,
quem vai fazer o café, pelo amor de Deus?? Jesus!!
TF: Que conselho você daria a alguém que queira trabalhar
na erfevescente Sweatshop?
AA: Primeiro, caro bajulador, você tem que escrever muitas
cartas para nossas seções de cartas falando sobre todo o
tipo de trivialidade sobre nossas personagens, o que francamente nem nos
importamos, já que não lembramos nem de nós mesmos.
Então, quando você sair da escola, venha trabalhar para nós,
e lhe pagaremos com HQs! Fique aqui desejando bastante que mais
alguém morra ou seja demitido, e lhe faremos um editor, a quem
começaremos a pagar com camisetas da Incorporação
Mistério! Simples assim, sahib!
TF: Se a indústria de quadrinhos fosse acabar amanhã,
o que faria você?
AA: Por quê? O que você sabe sobre isso?
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