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PERGUNTAS FEITAS COM FREQUÊNCIA
05. POR QUE MOORE NÃO TRABALHA MAIS PARA A DC?
A briga de Moore com a DC Comics surgiu do modo como a companhia
lidava com os royalties de Watchmen e, em uma menor extensão,
com o sistema de classificação de quadrinhos proposto durante
os anos oitenta, entre outras coisas.
No início dos anos oitenta, Moore foi o escritor da séria
A Saga do Monstro do Pântano, conhecida por suas histórias
distintas, inteligentes e totalmente provocantes. A série não
usou o código do The Comic Code Authority (um comitê
de censura da indústria de quadrinhos), o que mostrou um amadurecimento
da indústria de quadrinhos e pavimentou o caminho para a futura
linha Vertigo da DC, bem como outros quadrinhos voltados
para o público adulto.
A DC queria que Moore escrevesse outras histórias
alêm das do Monstro do Pântano. De sua parte, Moore
queria contar uma história independente da usual continuidade das
histórias em quadrinhos, que ele percebeu serem "limitantes
e chatas". Ele também queria trabalhar com o artista Dave
Gibbons.
Tudo isso foi reunido quando Moore concebeu uma história
épica envolvendo os super-heróis da MLJ-Archie Comics.
Incapaz de usar esses personagens, ele adaptou o storyline para comportar
os super-heróis da Charlton Comics, os quais a DC
já possuia os direitos.
A história da proposta de Moore, conhecida como Projeto
Charlton, envolvia o super-herói da Charlton, Capitão
Átomo, instigando um plano para salvar o mundo dele mesmo.
Ficou claro para os manda-chuvas da DC, após lerem a proposta,
que os personagens da Charlton não poderiam ser usados após
o fim da série. Dick Giordano, então editor vice-presidente
(que tinha sido anteriormente editor da Charlton), pediu para Moore
não usar os personagens da Charlton, que já tinham
aparecido oficialmente no universo DC (seu debute seria na série
Crise nas Infinitas Terras). Moore então refez levemente
os personagens e reescreveu a proposta no que se tornou a série
Watchmen.
Assim, os personagens da Charlton, Pacificador, Capitão Átomo,
Lady Fantasma e Nightshade, O Questão, Thunderbolt e Besouro
azul I e II se tornaram, respectivamente, O Comediante,
Dr. Manhattan, Silk Spectre I e II *, Rorschach, Ozymandias e
O coruja I e II **. No caso dos Minutemen, foram apresentados
ainda Silhouette*** e o Justiceiro Encapuzado****.
* Moore declarou que, Muito inspirada na tradição
da Lady Fantasma, a Silk Spectre I era voluptuosa ao extremo.
Embora em muitos pontos a super-heroína Nightshade tenha
inspirado a Silk Spectre II, Moore nunca gostou realmente
da Nightshade, pois achava a personagem enfadonha.
** Ao contrário da crença popular, o Coruja foi
baseado em um personagem criado pelo artista Dave Gibbons, que
o redesenhou como uma criança e então o adaptou na figura
inspirada no Besouro Azul.
*** Moore declarou ...Marlene Dietrich,
ou Nico...
**** É possível que seu personagem fosse similar ao personagem
da era de ouro dos quadrinhos, the Hangman, publicado pela MLJ/Archie
Comics.
Lançada em 1985, Watchmen (uma minissérie em 12
edições) tornou-se um extraordinário sucesso, e ainda
representa um dos pontos altos das histórias em quadrinhos. A série
ganhou resenhas entusiasmadas, vários prêmios da indústria
e atraiu muita atenção da mídia para Moore
e Gibbons, bem como para a direção da indústria
de quadrinhos em geral.
Os problemas começaram a surgir sobre a venda do merchandise baseado
na série, criado pela DC em 1986. A DC declarou que
o merchandise (venda de posters, bottons, camisetas etc.) era de caráter
promocional e não de caráter lucrativo
(N. do T.: Alguém deve ter ganho muito dinheiro vendendo
óleo de peróba para essa turma da DC) e, como tal,
Moore e Gibbons foram pagos com o mínimo de royalties,
referentes apenas à história em quadrinhos (na época,
algo em torno de 4% para cada um). Embora a DC tenha inicialmente
se recusado a resolver o problema, a disputa foi eventualmente resolvida.
Entretanto, toda essa situação deixou Moore com um
desagradável sentimento em relação à indústria
(N. do T.: E quem não ficaria?).
Outro ponto levantado na disputa foi a propriedade da própria
série. Supostamente, Watchmen foi feita sob um alegado contrato
de propriedade dos criadores, ou quadrinhos de autor (em oposição
aos contratos padrões de trabalho mediante pagamento, onde a empresa
solicita, DETALHADAMENTE, a criação do produto que
tem em mente), com os direitos da obra pertencentes a Moore e Gibbons.
Aparentemente, isso jamais aconteceu e, embora Moore e Gibbons
recebecem os magros royalties da série, a DC apoderou-se
da marca registrada e dos direitos autorais de Watchmen. O mais
interessante é que, caso a série deixe de ser impressa por
mais de um ano, os direitos autorais passarão para Moore
e Gibbons (atualmente, a encadernação de Watchmen
encontra-se em sua décima primeira edição).
No início de 1987, Moore estava bastante insatisfeito com
a DC Comics, mas ainda não tinha intenções
públicas de deixar a companhia. Em Fevereiro daquele ano, a DC
repentinamente determinou que eles iriam adotar um tipo de classificação
para seus quadrinhos Para Leitores Maduros, algo que Moore
não aceitou muito bem.
O artista Rick Veitch, frequente colaborador de Moore,
disse, No inverno de 1986, a DC tentou instituir um sistema
de classificação para toda sua linha de quadrinhos. Essa
ação aparentemente foi realizada pelo crescente desconforto
com o nível de conteúdo adulto em alguns de seus quadrinhos,
principalmente aqueles escritos por Alan. Eles fizeram seus planos
sem se importarem em informar ou envolver Alan ou qualquer um de
dos criadores que trabalhavam para eles naquela época.
De algum modo, Frank Miller soube de todos esses rumores
e falou para mim e para Steve Bissette sobre isso, um dia ou dois
mais tarde na convenção de Ohio. Dentro de uma semana, uma
petição, protestanto contra esse sistema de classificação,
começou a circular entre a comunidade criativa. Ela foi publicada
no The Comics Buyers Guide, uma semana ou duas depois, e também
foi bem divulgada no The Comics Journal um pouco mais tarde.
Quando Alan ouviu sobre isso, ele atingiu o seu limite ...LITERALMENTE!,
continua Veitch. Ainda me lembro do telefonema que recebi
dele e, rapaz, ele estava se mijando pra isso! REALMENTE se mijando!!
Ele falou que a coisa toda era uma afronta pessoal, e acho que ele ficou
magoado e ofendido pela DC nem ao menos se importar em pedir sua
opinião sobre o assunto. Esse foi o início de sua saída
da DC...
Moore ficou muito insatisfeito com a classificação
das edições, e a DC acabou despedindo o então
editor Marv Wolfman (o escritor de Crise nas Infinitas Terras
e também da melhor fase dos Novos Titãs), por se
posicionar contra a DC. Embora a DC eventualmente tenha
retrocedido em seu plano de classificação, Moore
considerou toda a ação uma imperdoável violação
de princípios, e optou em encerrar seu vínculo empregatício
com uma companhia tão intimidadora e retrógrada.
Moore declarou que nunca mais iria trabalhar para a DC após
completar qualquer contrato remanescente com a companhia (leiam-se: A
Piada Mortal e V de Vingança, que eram seus únicos
projetos incompletos).
Em 1989, após finalizar V de Vingança, Moore
deixou a DC.
De acordo com Moore, "eu fiquei cuspindo sangue e veneno
até que conseguisse me arrastar para fora do edifício. Aquilo
foi muito ruim sob vários aspectos. Principalmente devido ao fato
de que eu criei Watchmen, mas a DC é dona de Watchmen,
e eles possuem V de Vingança (observação;
Moore não recebe royalties sobre as impressões de
V de Vingança) e todo o trabalho que fiz enquanto trabalhava
lá, e isso não me agradou. A gota d'água foi eles
fazerem algo tão idiota quando impor uma política de classificação
com a qual não concordei. Assim, eu dei meia-volta e caminhei em
direção à porta de saída".
Moore admite que, na época, estava de mal humor durante
o seu relacionamento com a DC, ...o que não ajudou,"
diz Moore, "mas eu também tinha convicções
muito fortes em relação àquilo. Nós não
temos que classificar as HQ's. Eu não acho que as classificações
fizeram algum bem ao cinema; eu não penso que fariam algum bem
também para os quadrinhos. Assim, foi este o motivo do porquê
eu deixar a DC; embora isso não fosse realmente o motivo,
era parte dele. A outra parte era que a DC possuia todo meu trabalho.
Essa foi o real motivo que trouxe a esta terrível e cruel conclusão".
Embora simpatizante à Moore, a maioria dos fãs sente
que a DC gostaria de trabalhar novamente com ele se caso pudessem
fazer as pazes (já se passaram 12 anos). As condições
de trabalho são melhores e é improvável que a DC
pudessea enganar Moore novamente. O interessante é que Moore
tecnicamente trabalha novamente para a DC, já que a WildStorm
Productions (para qual o Moore escreve os quadrinhos de sua
linha America's Best Comics) está sob a guarda da DC,
embora Moore não tenha nenhuma conexão direta com
eles.
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